sábado, 23 de fevereiro de 2013

“Não dá para continuar com um Estado organizado como no século XIX”



Para Pochmann, é válida comparação entre os dois projetos que surgiram no País após a ditadura: o neoliberalismo do PSDB e o desenvolvimentismo do PT. Foto: Twitter pessoal



 Rodrigo Martins, CartaCapital
 
“Em discurso no ato de comemoração dos dez anos do PT à frente do governo, na noite de quarta-feira 20, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva mandou um recado à oposição ao declarar que os adversários “podem juntar quem quiser” que não vão derrotar Dilma Rousseff nas eleições de 2014.
De acordo com Lula, os rivais políticos do PT estão fragilizados, “sem valores e sem propostas”. “Não temos medo de comparação, inclusive debate sobre a corrupção. Todo mundo sabe que têm duas formas de a sujeira aparecer: uma é mostrar, a outra é esconder. E eu duvido que tenha um governo na história deste país que criou mais transparência e mais instrumentos de combate à corrupção do que o nosso”.

As críticas se dirigiam ao senador mineiro Aécio Neves, virtual candidato do PSDB à Presidência, e também ao ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, ambos ciosos das comparações feitas pelo PT com o governo anterior, do PSDB. Aécio chegou a elaborar um documento intitulado “os 13 fracassos do PT”, no qual cita, entre outras críticas, a suposta “maquiagem fiscal”da política econômica do governo.

Durante a festa, o PT distribuiu 1,5 mil cartilhas com os avanços obtidos por seus governos, reforçando os contrastes com a gestão tucana. Os dados exaltam o êxito inegável de Lula e Dilma. A inflação cresceu num ritmo bem menor, o PIB per capita avançou quatro vezes mais, as reservas externas passaram de 37,8 bilhões para 373,1 bilhões de dólares e a produtividade aumentou 13%, diante da estagnação verificada nos anos FHC.

Apesar de o Brasil continuar entre os 12 países com pior distribuição de renda no mundo, a desigualdade recuou 11,4% nos últimos 10 anos. Enquanto o desemprego cresceu perto de 58% nos oito anos de governo tucano, na gestão petista diminuiu 38,9%. E o fenômeno foi acompanhado de uma valorização real do salário mínimo de 70%, ante um crescimento pouco menor que 30% na gestão do PSDB.

Um dia antes de os números serem oficialmente divulgados, FHC reagiu às críticas pela internet. “A gente deve comemorar a vitória do Brasil, e não ficar o tempo todo olhando para trás. Isso é coisa de criança, parece picuinha”, afirmou, em vídeo de 48 segundos.

De acordo com o economista Marcio Pochmann, presidente da Fundação Perseu Abramo, a comparação é válida por expor dois projetos distintos que surgiram no País após a ditadura, e com experiências concretas de governo: o neoliberalismo do PSDB e o desenvolvimentismo do PT. “Se antes o Estado era visto como o principal responsável pelos problemas da Nação, ele passa a ser visto como parte da solução”, afirmou, em entrevista a CartaCapital.

Na avaliação do economista, o Brasil enfrentou três décadas de regressão econômica e social, uma trajetória só interrompida com a eleição de Lula.

“Nós, brasileiros, sabemos bem qual é a maior década da nossa história recente. É precisamente a década que começamos a trabalhar agora, a década da esperança e do otimismo”, resumiu a presidenta Dilma Rousseff durante a festa.

Para marcar os dez anos de governo, o PT planeja ainda realizar uma série de 13 seminários, em diferentes capitais brasileiras, para fazer um balanço de suas gestões. O primeiro encontro será em Fortaleza, em 28 de fevereiro, com o tema “Políticas de bem-estar, direitos e desafios da inclusão social”. O debate deve reunir a ministra Tereza Campello, do Desenvolvimento Social, e o vice-presidente do PSB, Roberto Amaral.

Ao término de cada um dos seminários, os organizadores pretendem criar um documento com o diagnóstico dos palestrantes. Depois, os textos serão compilados em livro. As narrativas não devem, porém, ficar circunscritas ao registro histórico. “No próximo ano, haverá o congresso nacional do PT e certamente esses debates devem orientar na formulação de novas diretrizes do partido”, explica Pochmann, que discorre a seguir sobre os avanços e desafios do PT à frente do governo.

CartaCapital: O PT celebra dez anos no poder e preparou uma cartilha em que compara sua gestão com a experiência do PSDB. Por que explorar esse contraste, em vez de elencar só os avanços e os dasafios futuros?

Marcio Pochmann: Após a redemocratização, houve dois grandes projetos em disputa e com experiências concretas de governo. Um deles é o neoliberal, iniciado no final do governo Sarney que se fortalece com Fernando Collor, Itamar Franco e Fernando Henrique Cardoso. A partir de 2003, com Lula, emerge outro projeto, o desenvolvimentismo. Se antes o Estado era visto como o principal responsável pelos problemas da Nação, ele passa a ser visto como parte da solução. Há um discurso que simplifica demais o debate eleitoral, apresentado como uma mera disputa entre personalidades. O que há de fato é uma disputa entre diferentes projetos de nação.

CC: O que representaram esses 10 anos de governo petista?

MP: Possivelmente, os historiadores vão olhar para esse período como o decênio que mudou o Brasil. Antes de Lula, vivemos três décadas de regressão econômica e social. Em 1980, o Brasil era a oitava maior economia do mundo, mas mantinha um em cada dois brasileiros na pobreza. Em 2000, a economia brasileira caiu para a 13ª. Posição no ranking mundial, e a proporção de pobres praticamente manteve-se inalterada. A concentração de renda também aumentou. Em 1980, cerca de 50% da renda nacional era composta de salários.

Em 2000, os rendimentos dos trabalhadores correspondiam a 39%. Inviabilizou-se a criação de mercado interno. O número de desempregados quintuplicou, atingindo 11 milhões de trabalhadores. O que salvou o Brasil dessa trajetória foi a política, a capacidade de se construir uma maioria em torno de um projeto diferente de nação.

CC: O que mudou com a eleição de Lula?

MP: O processo de distribuição de renda passou a ter um papel fundamental. No período neoliberal, o crescimento era visto como uma coisa espontânea, natural das forças do mercado. Se não tiver inflação ou intervenção do Estado, naturalmente o mercado cresceria e criaria oportunidades. Se isso não ocorre como o planejado, o Estado é o problema. A partir de 2003, a lógica era outra. Ao combater o desemprego, elevar o salário mínimo, facilitar o crédito e distribuir renda, o Brasil passou a ter um mercado interno de fato, com a inclusão de 40 milhões de cidadãos.

CC: Essas iniciativas não existiam antes?

MP: Segundo a perspectiva neoliberal, era impossível construir um País para todos os cidadãos. Uma nação para três quintos da população já estava de bom tamanho. Veja, por exemplo, o tamanho dos nossos aeroportos. São pequenos demais para a dimensão do nosso país, mas eram adequados para aquela pequena parcela da sociedade que podia viajar de avião. Se o Brasil não tivesse ampliado o seu mercado interno, talvez os aeroportos não estivessem sobrecarregados hoje. Quando se começa a crescer, os gargalos aparecem. E cabe ao Estado superá-los.

CC: De que forma?

MP: Há estímulos, como a redução dos juros e as novas formas de concessões, para ver se conseguimos destravar a economia e aumentar a capacidade produtiva. Mantém-se um inegável processo de transferência de renda no governo Dilma, mas com uma natureza um pouco diferente. Ela se dá com a redução dastaxas de juro. Certamente, os bancos e os rentistas vão lucrar menos. Mas a população terá mais poder de compra. Reduzir o preço de energia elétrica não interessa às empresas do setor, mas dá um alívio para a indústria. Antigamente, qual era a receita? Privatizar as empresas públicas para pagar os ativos financeiros, os juros da dívida.

CC: Os tucanos sustentam que vários programas de distribuição de renda foram iniciados em sua gestão, e não com o PT.

MP: FHC também tinha o Bolsa Escola e se preocupou com a valorização do salário mínimo. Mas as medidas tiveram alcance limitado. Ao final do governo, o Bolsa Escola atendia cerca de 5 milhões de famílias. Hoje, o Bolsa Família gira em torno de 14 milhões. Em oito anos do governo do PSDB, o salário mínimo teve um aumento real de 29%. Nos dez anos de Lula e Dilma, cresceu 70%. Uma coisa é você pagar um salário maior em um cenário de forte desemprego. Outra é pagar salário maior quando há 18 milhões de trabalhadores a mais com carteira assinada.

CC: Hoje, qual é o maior desafio do Brasil?

MP: O Estado tem dificuldade para mover os investimentos de forma eficiente. O maior desfio é a reforma do Estado. Getúlio Vargas lançou as bases daadministração direta nos anos 1930. Duas décadas depois, sua estrutura já estava sucateada. Daí as angústias de Juscelino Kubitschek ao lançar o projeto de construção do capital e impulsionar o desenvolvimento do País, na tentativa de avançar “50 anos em cinco”. Ele criou então as formas de administração indireta, com a regulamentação das empresas estatais, autarquias, sociedades de economia mista. Mas, após a redemocratização, não tivemos outro avanço.

CC: Continuamos com a mesma estrutura de 60 anos atrás?

MP: O que houve nas décadas de 1980 e 1990 foi a dilapidação do Estado brasileiro, com as privatizações de empresas públicas e a transferência de responsabilidades para organizações e ONGs.

CC: O que há de errado no Estado?

MP: Há várias fissuras. Tome os exemplos do setor cultural e bancário. Suas políticas são voltadas para os mais ricos. Onde estão equipamentos culturais públicos, os museus, os teatros, as bibliotecas? Nas periferias? Não, estão no centro das grandes capitais. Os bancos públicos estão na Avenida Paulista e nos bairros abastados. Mas é possível ter uma estrutura diferente. É o caso da política assistencial. Não são os ricos que ganham Bolsa Família, que dependem da Previdência Social. Só que não há um padrão de atuação do Estado. Ele distribui recursos com políticas assistenciais, mas o pobre continua pagando mais impostos que o rico, proporcionalmente.

CC: O que fazer?

MP: Não dá mais para continuar com um Estado organizado como no século XIX, no qual cada setor pensa no seu problema específico. A educação cuida dos problemas da ignorância, a saúde se volta para as doenças. O que é uma questão matricial organizada por problemas? Identificam-se os desafios e como cada ministério e departamento pode contribuir. Uma ação efetiva, sistêmica, intersetorial. Se o Estado é grande indutor da economia, ele precisa se organizar melhor para o País crescer.”

Sustentabilidade, Marina Silva?




Cabe o questionamento se realmente a criação de mais um partido – ressaltando que são cerca de 30 registrados atualmente -, autodenominado "diferente", é realmente a solução para as mazelas que afetam os nossos sistemas partidário e eleitoral

Álvaro “Varetinha” / Brasil 247

Após um longo período de ensaios, movimentações e articulações políticas, finalmente Marina Silva deu o primeiro passo para a constituição do seu novo partido, com o lançamento oficial da Rede Sustentabilidade recentemente em Brasília. Ao lado da protagonista, algumas figuras que batalham contra o ostracismo partidário a que foram relegados, tais como Heloísa Helena, Walter Feldman, Domingos Dutra e Alfredo Sirkis. A próxima tarefa dos candidatos a lideranças da nova sigla que surge é conseguir pouco mais de 500 mil assinaturas em ao menos nove estados para o registro oficial da legenda junto ao TSE.

Embora batizado de "Rede Sustentabilidade", não é raro ouvirmos quem utiliza da alcunha de "Partido da Marina". Diferentemente de um partido de massas como o PT, que surgiu no bojo dos movimentos sociais e até mesmo do PSDB, caracterizado na ciência política como um partido de quadros, oriundo de uma ruptura de uma ala mais progressista do PMDB contra o "quercismo", presenciamos a gestação de uma agremiação estruturada sobre caráter personalista.

Marina Silva, ex-ministra do meio ambiente do governo Lula por seis anos, talvez muito mais pela simbologia de sua origem humilde nos seringais acreanos que propriamente pela eficiência de sua gestão frente à pasta. Após perder muito espaço nos bastidores do PT para então ministra da Casa Civil Dilma Rousseff na corrida pela indicação a sucessão presidencial, encontra no PV um suporte para sua aventura eleitoral. Uma recepção calorosa. Após a surpreendente marca de quase 20 milhões de votos em 2010, Marina demonstrou (mais uma vez) não ser nem um pouco habilidosa nos embates internos e sem conseguir conquistar o controle da máquina partidária dos verdes, deixou o partido pela porta dos fundos. É no embalo dessa trajetória que está prestes a surgir a Rede Sustentabilidade.

Sobre seu posicionamento no campo ideológico, a declaração mais enfática de Marina Silva foi: "Nem direita, nem esquerda. Estamos à frente. Nem oposição, nem situação. Precisamos de posição". Um tanto quanto obviamente contraditória, o máximo que conseguiu nessas poucas palavras foi se igualar ao ex-prefeito de meio-expediente de São Paulo, Gilberto Kassab, quando na fundação do recém criado PSD afirmou que a agremiação não seria de esquerda, direita ou centro. Embora muito mais virtuoso na articulação de sua legenda, Kassab esteve dentre os prefeitos mais mal avaliados da última gestão, dividindo seu tempo na criação da nova sigla juntamente com a administração da maior cidade da América Latina.

O partido de Marina é amorfo. Aliás, pelo sucesso incontestável da campanha virtual da ex-verde na última eleição presidencial, em que mobilizou um grande contingente de apoiadores, sobretudo, nas plataformas de redes sociais é que se omitiu a palavra partido do nome da nova legenda, substituindo-o por rede. A fórmula adotada é a criação de um partido que negue ser partido, a utilização de um instrumento que rejeita sua essência. Para conduzi-los eis que surge uma figura puritana, de caráter assumidamente messiânico, uma vez que alguns setores já a tratam como missionária.
Cabe o questionamento se realmente a criação de mais um partido – ressaltando que são cerca de 30 registrados atualmente -, autodenominado "diferente", é realmente a solução para as mazelas que afetam os nossos sistemas partidário e eleitoral. Em que um partido arquitetado para acomodar interesses pessoais e eleitoreiros poderia contribuir para o desenvolvimento do Brasil? Na verdade, o surgimento da Rede Sustentabilidade atende a expectativa de grupos políticos municipais derrotados na disputa interna de poder em partidos com maior expressão, sedentos pelo controle de uma máquina partidária pelos benefícios da barganha política que dessa situação provém. Não há dúvidas de que a contribuição de Marina seria muito mais honesta se ela empregasse o mesmo esforço que faz para a criação de um "partido mais do mesmo" em um movimento pela reforma política.”

"COM A QUEDA DOS JUROS, O BRASIL PERDEU O CHARME?"


ATAQUES A GABRIEL CHALITA NA FOLHA DE SÃO PAULO DE HOJE (23/06/2013) DEMONSTRAM QUE O PSDB JÁ PERCEBEU QUE CORRE UM SERIO RISCO DE SER DERROTADO EM SÃO PAULO EM 2014.


Gabriel Chalita com Fernando Haddad e o Vice Presidente Michel Temer. 
Na eleição para Prefeito de São Paulo de 2012 Chalita obteve 13,6% 
(833.255 votos) que foram decisivos no segundo turno para 
Fernando Haddad vencer o tucano José Serra.

Não é surpresa que o ataque a Gabriel Chalita na Folha de São Paulo tenha acontecido um dia depois que o Presidente da Câmara dos Deputados, Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN) em visita ao Ex Presidente Lula e tenha ouvido dele que rejeita totalmente qualquer tipo de ação contra o Vice Presidente Michel Temer como companheiro de chapa de Dilma Roussef na eleição presidencial do ano que vem. A declaração de Lula serviu para aparar de forma definitiva qualquer tipo de aresta que possa ter existido com o PMDB devido a boatos que davam conta nas ultimas semanas que o PT poderia optar por compor a chapa presidencial com o PSB.

A união do PMDB com o PT na eleição para o Governo de São Paulo no ano que vem não é desejada pelo PSDB e seus aliados, principalmente uma parte da mídia comprometida com os tucanos, porque representa uma real possibilidade de derrota do PSDB depois de quase vinte anos de poder, especialmente pelo fato de que o Governo Alkimin atravessa uma crise de credibilidade que tem no seu fraco desempenho na área de segurança um dos principais pontos devido ao recente crescimento da criminalidade em São Paulo.

Como todos nós sabemos a permanência do PSDB por tanto tempo no poder em São Paulo, de 1995 até hoje em 2013, se deve basicamente ao fato de que foi articulada uma aliança, ainda no Governo Covas (1995 a 2001), dos tucanos com os principais grupos empresariais que controlam a mídia no Estado de São Paulo. O papel da mídia tem sido fundamental na longevidade dos governos tucanos em São Paulo exatamente porque cabe a esta imprensa o papel mobilizar os seguimentos da opinião pública conservadores que tem sido a principal resistência a uma vitória oposicionista nas ultimas disputas pelo Governo de São Paulo.

Também é importante lembrar que o PMDB, partido que poderia ser mais uma alternativa no campo oposição em São Paulo, tem sido a principal vítima dos constantes ataques desta mesma mídia que hoje atacou Gabriel Chalita ao longo de todos estes quase vintes anos, além de ter ficado dividido em um processo que impedia que fosse estabelecia uma aliança única do PMDB tanto no plano federal quanto estadual e, isso só provocou o encolhimento do PMDB em São Paulo, na contramão em relação à média que o PMDB tem mantido em todo Brasil que o qualifica como uma das principais forças políticas do Brasil, além de ter se transformado em um dos principais sustentáculos político do Governo Dilma, em pé de igualdade com o próprio PT.

Somente depois que a aliança com o PT se tornou uma realidade oficial em 2010 com a chapa Dilma Roussef / Michel Temer vitoriosa é que o PMDB de São Paulo pode finalmente ter uma direção estadual afinada com a direção nacional no sentido de construir uma ação política única. Isso teve e está tendo reflexos aqui em São Paulo que já puderam ser constatados na ultima eleição, com destaque para a Prefeitura de São Paulo onde o apoio do PMDB e de Gabriel Chalita foram decisivos para que Fernando Haddad derrotasse José Serra no segundo turno da eleição para prefeito no ano passado.

Quando ataca Gabriel Chalita com fatos já requentados há muito tempo o PSDB mostra suas garras e de que será capaz de tudo para não ser desalojado do Palácio das Bandeirantes.

Gabriel Chalita precisa ser defendido agora, pois o ataque a ele foi também ao PMDB de São Paulo.

Foi um ato de desespero que demonstra que o PSDB pode ser derrotado com ação decisiva do PMDB,

Cenas cubanas



http://p2.trrsf.com.br/image/fget/cf/407/305/images.terra.com/2013/02/22/mundo-geral-yoani-brasil.JPG 
A visita da dissidente Yoani Sanchez merece um minuto de reflexão e debate.
Conheço militantes com uma história respeitável e uma postura de coragem confirmada que defendem a tentativa de boicotar a visita da blogueira.
Mas discordo dessa visão.
Mesmo no Palácio do Planalto de Dilma Rousseff já se define a perseguição de militantes da juventude do PC do B e de fatias do PT contra Yoani Sanchez como uma nova edição da Operação Tabajara, aquele quadro trapalhão que fez história entre os Cassetas & Planetas.
Vejamos o enredo da história:
1. O conselheiro político da embaixada de Cuba convoca uma reunião secreta, para organizar uma espécie de boicote contra aquela que se tornou a mais conhecida dissidente do regime cubano;
2. Entre os presentes, encontra-se um funcionário do Planalto que tinha ido à embaixada para outro compromisso, mas é colocado de improviso num encontro reservado;
3. Outro convidado só estava ali para espionar e fornecer informações supostamente secretas para o inimigo – como se veria mais tarde, quando a revista de maior circulação do País publicou uma detalhadíssima reportagem sobre o evento;
4. Mesmo com a divulgação de toda a história com antecedência, a operação foi mantida, transformando-se num show de constrangimentos;
5. Ativistas e militantes que tentavam boicotar os eventos marcados para recepcionar Yoani foram obrigados a justificar por que achavam que tinham o direito de atazanar a liberdade de expressão da dissidente e, ao mesmo tempo, defender sua própria liberdade de expressar-se contra ela;
6. Candidata a fazer uma visita em situação de semi-obscuridade, Yoani tornou-se protagonista destacada no debate político. Em condições normais, dificilmente se poderia imaginar que fosse capaz de polarizar uma discussão política no País. Mas Yoani até se sentiu no direito de dar pito no governo brasileiro, reclamando que ele não dá importância aos direitos humanos em Cuba.
Não vamos ser ingênuos. Yoani Sanchez é uma adversária das conquistas da revolução cubana e, de uma forma ou de outra, recebe sustentação de instituições estrangeiras que pretendem estimular uma transição socialmente regressiva em seu país.
Compreendo, então, que se queira debater a atuação de Yoani Sanchez e seus aliados. Por trás dela, há uma operação de vulto, capaz de mudar a relação de forças no continente, mais favorável a Washington. Perfeito.
O debate não é este, porém.
Dilma e Lula têm mantido uma política correta de não-intervenção em assuntos internos da vida cubana. Seu governo tem feito o possível para construir uma liderança alternativa a Washington no continente – com resultados inegáveis, mesmo para observadores adversários.
Essa atuação implica em respeitar as decisões internas de todos os países, inclusive do governo cubano e tratá-las no plano das relações entre estados soberanos.
Lula e Dilma não param de tomar porrada da oposição conservadora por causa disso.
Imagine quantos pontos Dilma perdeu junto a essa turma ao lembrar que quem lhe pedia para falar de direitos humanos em Cuba deveria, antes, perguntar a Washington sobre a masmorra de Guantánamo.
Mas a postura do governo brasileiro só é defensável porque implica em respeitar os direitos democráticos dos dissidentes.
Por essa razão Brasília deu a Yoani autorização para vir ao Brasil e não colocou nenhum obstáculo a sua visita.
Desse ponto de vista, pouco importa o que o governo do Raul e Fidel Castro pensa de Yoani.
Importa garantir que, em visita ao País, ela possa usufruir das liberdades asseguradas pelas leis brasileiras. Soberania é um conceito de mão dupla. Vale para Cuba e também para o Brasil.
O bullying contra Yoani só ajuda os adversários de Dilma e de Lula a dar verossimilhança à permanente campanha para apontar supostos traços autoritários num governo que respeita a liberdade como poucos, ampliou direitos dos fracos e necessitados e jamais modificou a constituição para atender a interesses próprios.
A experiência política universal ensina que os governos que pretendem falar em nome do cidadão comum devem ter uma postura exemplar de respeito à democracia e à liberdade. A razão é simples: os mais fracos e desprotegidos são os primeiros a serem feridos quando os direitos democráticos são atingidos. Cedo ou tarde, são os principais prejudicados. É uma questão de relação de forças, vamos combinar.
Não custa lembrar que essas comédias cubanas não são inéditas.
Nos anos 60, o governo Goulart teve uma postura corajosa de resistência às pressões do governo John Kennedy para que rompesse relações com o governo de Fidel. Enfrentou ameaças diretas do governo americano e, conforme o professor Muniz Bandeira, essa postura independente foi decisiva para que a Casa Branca resolvesse ajudar o golpe de 1964 com todos os recursos que possuía: dinheiro, publicidade milionária na mídia e auxílio militar.
Mas Jango também tinha adversários internos.
Aliados de Fidel Castro chegaram a montar campos de guerrilha no País, num radicalismo que levou o próprio Goulart – adversário resoluto das pressões americanas contra a revolução cubana – a denunciar o fato a Havana, como uma traição. Chato, né...
A queixa de Jango é que em Washington lhe arrancavam o couro por ajudar a revolução cubana e, em troca, era golpeado por quem deveria demonstrar um pouco mais de consideração.
(Curiosidade: Che Guevara, a caminho de se tornar o mito, discordava dos guerrilheiros brasileiros, por considerar que a luta armada era inviável contra um governo democrático.)
Nós sabemos quem ganhou com isso, utilizando cada um desses episódios em sua propaganda, para assustar e confundir o cidadão comum, aquele que compreende o valor da liberdade e o respeito às regras democráticas e é capaz de se mobilizar em sua defesa. Embora fosse um defensor da democracia, os adversários acusavam seu governo de preparar um golpe – tentando, por isso, justificar a conspiração militar de 64.
Este é o ponto. Defender a mais ampla democracia é obrigação – eu diria privilégio – de quem fala em nome da maioria.

Partido e governo

A ideia do PT já se fixava na cabeça de Lula quando o entrevistei pela primeira vez no começo de 1978. Presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo e Diadema, representava a vanguarda de um movimento operário em plena mudança. A reforma partidária engendrada pelo Merlin do Planalto, Golbery do Couto e Silva, na segunda metade de 1979, facilitou-lhe a tarefa.

Discrepância. Os governantes foram fiéis aos planos iniciais. O partido nem tanto
Discrepância. Os governantes foram fiéis aos planos iniciais.
O partido nem tanto.
Foto: B. Salgado/ Estadão Conteúdo
Singular personagem, Golbery. Única, a seu modo. Fiel do maniqueísmo da Guerra Fria, inventou a ideologia destinada a sustentar o golpe de 1964, estranhamente impregnada por um pretenso, e de fato impossível, propósito democrático. Foi retirado da cena com o fim do curto mandato bienal de Castelo Branco, e só voltou ao governo no período de Ernesto Geisel. Partiu para a demolição do regime que contribuíra a criar, “lenta, gradual, porém segura”, sem que o próprio Geisel tivesse clara noção a respeito.
Enredo singular como a personagem. Mantido na chefia da Casa Civil por Figueiredo, Golbery deu prosseguimento ao seu plano, primeiro com uma anistia ardilosa que não foi “ampla, geral e irrestrita”, depois com a reforma partidária, cujo objetivo era estilhaçar a oposição reunida no MDB do doutor Ulysses, subitamente capacitado a se aproveitar daquelas pretensões democráticas e, a despeito de pressões, ameaças e riscos, a desempenhar um digno e importante papel.
De todo modo, a entrevista de Lula publicada na edição da primeira semana de fevereiro de 1978, deixou Golbery impressionado e muito interessado nos movimentos do astro nascente. Quando Lula ficou preso durante a greve do ABC de 1980, nas dependências do Dops, o mago planaltino enviou a São Paulo dois cavalheiros engravatados com a incumbência de entrevistar o preso no tom de uma conversa de amigos, peripatética, mas sutilmente inquisitiva. Apresentavam-se como subordinados do “cacique”, não melhor especificado, e queriam saber das ideias e tendências políticas do líder metalúrgico.
Golbery sairia do governo em agosto de 1981, em consequência das bombas do Riocentro e da tentativa de Figueiredo e de Octavio Medeiros de emperrar, se possível de vez, o processo de abertura. Da reforma eleitoral resultaram o PMDB de Ulysses, o PP de Tancredo Neves, o PDT de Brizola, a quem a legenda tradicional, PTB, fora sumariamente furtada para ser entregue a Ivete Vargas. E o PT de Lula, que dia 20 deste fevereiro celebrou dez anos de governo.
Longa caminhada, de êxito total. A busca do poder é o alvo de qualquer partido e se eleições fossem convocadas hoje, é mais do que certo que o PT continuaria folgadamente onde se encontra. Como dizia Raymundo Faoro, “eles querem um país de 20 milhões de habitantes e uma democracia sem povo”. Referia-se aos senhores da casa-grande. O governo Lula e agora o de Dilma Rousseff empenharam-se e se empenham para que os milhões se multipliquem às dezenas. E, quanto ao eleitorado, colhem os frutos de sua ação.
É do conhecimento até do mundo mineral que o Brasil progrediu nos últimos dez anos como jamais se dera na sua história, e fique claro que na sua desfaçatez, na sua parvoíce, na sua hipocrisia, a mídia nativa situa-se, queira ou não, em estágio anterior ao mundo mineral. Quem sabe, o magma primevo.
Não evito a seguinte consideração. Uma peculiar discrepância instala-se, na minha visão, entre partido e governo. O PT nasceu à sombra de um ideário político de franco esquerdismo, afinado com os tempos, no Brasil e no mundo. Sobretudo no Brasil, entregue à ditadura. Ao amadurecer, o partido soube adaptar-se às mudanças globais. Hoje pergunto aos meus meditativos botões se os avanços dos últimos dez anos se devem ao PT ou aos governos Lula e Dilma.
Governos do PT? Meus botões não são de cautelas, afirmam: mérito dos governantes, além do mais forçados a alianças nem sempre aprazíveis, a bem da governabilidade. Lula, divisor de águas. Dilma, firme continuadora. À época do surgimento do PT, imaginei um grande, versátil, inteligente partido de esquerda, capaz de produzir mudanças profundas sem maiores conflitos, como se deu em outros cantos do mundo, onde anéis saem dos dedos graúdos somente sob pressão.
O PT não foi essa agremiação ideal, e muitas vezes portou-se como as demais. E muitas vezes ofereceu munição de graça à feroz obsessão da casa-grande. E muitas vezes exibiu inúteis divergências intestinas, a lhe exibirem a fragilidade, quando não a má-fé. E muitas vezes levou a cargos de governos quem não merecia. É a voz dos meus botões.
Mino Carta
No CartaCapital

quinta-feira, 21 de fevereiro de 2013

Em ato do PT, Lula afirma que resposta a críticos será reeleição de Dilma em 2014




Lula e Dilma, no ato comemorativo de aniversário do PT e dos 10 anos do partido à frente do governo federal (R. Stuckert Filho/PR)

Em comemoração de dez anos de governos petistas, ex-presidente afirma que quer comparações com gestões anteriores no campo social, econômico e também no tema corrupção

Eduardo Maretti, Rede Brasil Atual

O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou ontem (21) que a resposta que o PT deve dar aos seus críticos será a uma nova vitória da presidenta Dilma Rousseff em 2014. Não é a primeira vez que Lula afirma manifesta que a atual presidenta tem sua preferência para disputar a reeleição em 2014, Mas foi a mais defesa mais categórica até aqui, num dia em que o partido foi bombardeado por críticas como que setores da imprensa tentaram se antecipar à festa. “Eles podem se preparar, podem juntar quem eles quiserem, porque, se eles têm dúvida, nós vamos dar como resposta a reeleição da Dilma em 2014", afirmou, ao lado da presidente.

Lula fez discurso contundente, misturando críticas à oposição e bom humor. Provocou os jornalistas presentes afirmando que quando critica a cobertura da imprensa, dizem que é atacado; e quando a imprensa o ataca, dizem que e crítica. Comentou o discurso de Aécio Neves (PSDB-MG) na tribuna do Senado, que elencou “13 erros” dos governos do PT, e convocou o s senadores do partido a se fartarem com o debate do tema no plenário da Casa. No final do ano, Aécio teve o nome lançado para em disputa em 2014 por Fernando Henrique Cardoso.

O ex-presidente tucano havia demonstrado irritação com a agenda petista do dia, já que a festa previa elencar resultados alcançados nos últimos dez anos a serem comparados com a gestão do PSDB. FHC havia dito que o PT precisa crescer, parar de ficar fazendo comparações, e fazer propostas para o futuro. Lula rebateu. Disse que as comparações são necessárias, e que devem ser feitas em todas as áreas: social, econômica, externa e, inclusive, na corrupção.

Sobre o início do período de uma década de governo do partido, disse que em 2003, no começo do primeiro mandato, "tinha a convicção de que não podia errar, porque eles são implacáveis. Eles não gostam de governo de esquerda e de governo progressista", afirmou.

O ato comemorativo do PT deu início a uma série de seminários que serão realizados no país, em parceria com o Instituto Lula e a Fundação Perseu Abramo. Importantes lideranças da legenda, entre parlamentares, ministros, prefeitos e governadores, marcaram presença. Lideranças do PR, PSB, PCdoB, PSD e PDT, integrantes da basse alidada, também discursaram.

 O auditório do hotel Holiday Inn ficou lotado, havia ainda centenas de pessoas do lado de fora acompanhando o evento pelo telão e mais de 60 mil pessoas acompanharam pela internet, segundo os organizadores. O evento fez parte das comemorações dos 33 anos de fundação da legenda. O próximo ato será realizado dia 28, em Fortaleza.

Em sua fala, Lula mencionou os índices sociais e os que mostram a evolução do emprego, e o sucesso da política econômica de sua gestão e de Dilma para dizer que os dados estão deixando os adversários "inquietos".

A presidenta Dilma fez um discurso longo e recheado de números e estatísticas para respaldar, no discurso, "a escolha pelo social" dos governos petistas. Ironizou as dúvidas sobre a redução da energia elétrica, divulgadas pelos partidos de oposição e por setores da mídia quando do anúncio da medida, e disse que esse discurso midiático-político continua.

"O mesmo tipo de previsão equivocada e tendenciosa começa agora a se repetir em relação à capacidade do Brasil de aumentar seu ritmo de crescimento e manter a estabilidade econômica. Repito: nossos fundamentos estão cada vez mais sólidos", garantiu a presidenta. Segundo ela, o seu governo, que enfrentou "uma das maiores crises internacionais da história, está mais do que preparado para enfrentar os desafios do presente e do futuro".

perspectivas favoráveis para a economia nos próximos trimestres



Kelly Oliveira, Agência Brasil
 
“Apesar da moderação da atividade econômica no final do ano passado, o Banco Central (BC) vê perspectivas favoráveis para os próximos trimestres. De acordo com o Boletim Regional, publicação divulgada hoje (21), vários fatores contribuem para essa perspectiva, como o “vigor do mercado de trabalho”, com redução das taxas de desemprego e aumento do rendimento médio real.

O relatório também cita as projeções para a produção agropecuária, as perspectivas de melhora do ambiente externo e o impacto de medidas econômicas adotadas no país. No ano passado, o governo implementou uma série de medidas para tentar aquecer a economia, como concessões de rodovias e ferrovias, aumento no limite de contratação de operação de crédito para estados, redução de impostos, entre outras. Além disso, o Comitê de Política Monetária (Copom) do BC reduziu a Selic até outubro, ao menor patamar já registrado. Em novembro, o comitê decidiu manter a Selic em 7,25% ao ano, o que também ocorreu em janeiro deste ano.

De acordo com o Boletim Regional, o Índice de Atividade Econômica do Banco Central (IBC-Br) cresceu 0,5% no trimestre encerrado em novembro, em relação ao finalizado em agosto, quando variou 1,5%, no mesmo tipo de análise. Os dados dessazonalizados (ajustados para o período) também mostram redução do ritmo da atividade econômica nas regiões do país no final do ano. No Sul, a variação do indicador regional passou de 3,8% para -0,8%; no Sudeste, de 0,9% para -0,2%; no Centro-Oeste, de 0,4% para -0,7%; no Nordeste, de 1,3% para 1,2%; e no Norte, de 0,7% para 0,1%.

Os dados do Boletim Regional se referem ao período até novembro do ano passado. Ontem (20) foi divulgado o IBC-Br, que indicou a expansão de 1,64%(sem ajustes) da economia, em 2012. O BC ainda não tem projeção para o crescimento da economia em todo este ano. Mas espera expansão de 3,3%, no período de quatro trimestres encerrado em setembro de 2013. O mercado financeiro projeta expansão de 3,08% da economia, em 2013.”

Aécio se esquece do povo


Aécio mostra leves sinais de calvície
 e falhas de memória:
povo ficou fora de seu discurso

(Foto: Fabio Rodrigues Pozzebom/ABr)
O provável candidato tucano à Presidência, senador Aécio Neves, bem que tentou marcar um ponto na sua campanha eleitoral: quis contrapor os "13 fracassos" do PT, explicitados no discurso que fez na quarta-feira no plenário do Senado, à festa promovida pelo partido governista para marcar os 10 anos em que está no poder.
Tudo ficou na tentativa, porém.
Não fosse o fato de que os discursos de Aécio costumam ser um encadeamento de obviedades, nada que perdure além dos enfadonhos minutos da alocução, um simples aparte do senador Lindbergh Farias (PT-RJ) reduziu a pó de traque todo o  esforço do oposicionista para ganhar os holofotes:
"Em mais de 30 minutos de discurso, pessoa, gente, inclusão, miséria, isso não foi colocado em pauta. Mais de 40 milhões de brasileiros entraram na classe média. Em relação à miséria, vamos conseguir chegar a perto da erradicação da miséria do nosso país. Vossa Excelência também não falou de emprego", afirmou o petista, que completou dizendo que o discurso do tucano não era competitivo para quem pleiteia disputar a Presidência, pois o tucano não havia sequer mencionado nele as palavras povo, pessoas, gente, emprego e miséria.
Mais tarde, na festa do PT, o ex-presidente Lula desafiou os tucanos a comparar os dois governos, o do PT e o do PSDB.
Aproveitou ainda para lançar a candidatura da presidente Dilma Rousseff à reeleição, acabando com as fofocas de colunistas e "analistas" de que ele estaria morrendo de vontade de concorrer novamente, em 2104, à Presidência.
Foi uma quarta-feira didática.
Expôs claramente duas maneiras antagônicas de governo.
Aécio não poderia ter sido mais convincente sobre o que é o PSDB, nem Lindbergh - e depois Lula -, sobre as prioridades do PT.
Isso sem falar da recepção calorosa que os congressistas da oposição, incluindo o notório Jair Bolsonaro, prepararam para a blogueira cubana que veio ao Brasil esculhambar o regime de seu país.
Todos sorridentes, todos imbuídos da sagrada missão de lutar pela liberdade.
Que figuras!
Que hipócritas!

Falem mal, mas falem de mim


Há 500 anos (1513), Nicolau Maquiavel (1469-1527) escreveu “O Príncipe”. O livro passou de proscrito a célebre. Seu autor, de renegado, passou a ser reverenciado, com direito a estátua na “Galleria degli Uffizi” (Galeria dos Ofícios), em sua cidade natal. Mais do que relembrar a ocasião do quingentésimo aniversário, é bom entender como o maquiavelismo eternizou Maquiavel.
“O Príncipe” não era um livro propriamente dito. Era um manuscrito. Livros eram ainda coisa rara e cara, em uma época em que a palavra impressa engatinhava e poucos sabiam ler. Não era destinado ao público em geral, mas a uma pessoa em particular, o governante de Florença, Lorenzo, chefe dos Médici, rica e poderosa família que havia retomado o domínio sobre a cidade, afastado seus adversários, dado fim à república e iniciado uma espécie de principado. Aproveitando a oportunidade, Maquiavel escreve sobre principados. Lorenzo di Piero de Medici era neto do Lorenzo a quem se conhecia como “O Magnífico”. Maquiavel não se fez de rogado e conferiu a mesma magnificência ao neto, o que ainda hoje dá margem a confusões sobre a qual dos Lorenzos ele se referia.
Maquiavel havia caído em desgraça. Por conta de seu anterior papel político proeminente de Segundo Chanceler daquela cidade-estado, sua figura estava nublada pela desconfiança. No cargo diplomático, ele era um informante e um negociador de conflitos e interesses decisivos. “O Príncipe” era uma carta de intenções pela qual Maquiavel mostrava suas credenciais de conselheiro qualificado e sua missão de servir ao poder.
Naquele momento, era improvável que Maquiavel ganhasse qualquer projeção maior que a de alguns de seus ilustres conterrâneos. Como literato, nunca seria um Dante, o autor de “A Divina Comédia”. Entre seus contemporâneos, havia o célebre Amerigo Vespucci, aquele que desfez a ideia de que as terras achadas por Cristóvão Colombo seriam as costas da Ásia, sendo na verdade um Novo Mundo - descoberta que renderia a “Américo” a homenagem de ter seu nome associado ao novo continente, a América. Maquiavel, ao contrário, arrastava-se para ser reabilitado.
“O Príncipe” só se tornaria público em 1532, quando seu autor já estava morto. Não tardaria a se tornar um livro proibido pela Igreja Católica, entrando para o “Index Librorum Prohibitorum” (“Índice dos Livros Proibidos”). Maquiavel atribuía a Roma e ao Papa uma péssima influência sobre a Península Itálica, um fator de divisão, e citava o Papa Alexandre VI (Rodrigo Bórgia) como “exemplo” de como o baluarte da moral e dos bons costumes era capaz de usar a violência, o dinheiro e a manipulação para manter-se no poder.
“O Príncipe” sequer é a obra melhor estruturada de Maquiavel, comparada aos "Comentários" (“Discorsi”) que fez tendo por pano de fundo a história da República Romana (baseada no relato do historiador romano Tito Lívio), que, mesmo incompleto, se revela um tratado bem mais sistemático sobre a política.
Hoje, Maquiavel é mais conhecido do que Dante e Vespúcio. O feitiço agraciou o feiticeiro. A fama de proibido o ajudou a tornar-se popular, assim como seu sentido mais prático e menos erudito. Seu desvendamento dos métodos usuais da política tornou o livro obrigatório para a direita e a esquerda, para liberais e marxistas. A análise crua e dura tecida a respeito dos poderosos passou a ser um guia obrigatoriamente reconhecido pelos próprios poderosos e pelos que ousavam combatê-los. Napoleão leu “O Príncipe”, e suas anotações aparecem publicadas em uma edição muito popular nas bancas de jornais e revistas. Revolucionários, de Rousseau a Gramsci, atribuíram a Maquiavel revelar segredos que até então permaneciam entre quatro paredes.
A certidão de nascimento da ciência da política
Para além da fama, a grande questão é a de saber se Maquiavel permanece ou não atual. Pelo menos três atributos essenciais ajudaram à sua sobrevida.
O primeiro é que a obra maquiavélica contribuiu para que a política passasse a ser tratada como um objeto de investigação específica. “O Príncipe” acabou se tornando a certidão de nascimento de uma ciência da política. Gregos e romanos também têm obras fundamentais, mas sua política era indistinta da vida social (a “polis”) e pensada como um assunto da Filosofia e da História, e não como uma disciplina autônoma. Maquiavel tem uma visão filosófica e histórica, mas por suas mãos a política ganhou vida própria e regras particulares. Como renascentista, ele resgatou a tradição clássica, mas criou algo novo.
Seu grande embate não era com os clássicos, e sim com seus contemporâneos, principalmente, com o moralismo e a pregação religiosa. Os mandamentos de “não roubar”, “não matar”, “não usar o santo nome em vão”, “não levantar falso testemunho” (não mentir) eram bons para a imagem, mas não eram as regras da política. Aliás, tais mandamentos eram descumpridos por todos na luta pelo poder, a começar pela própria Igreja.
Em geral, se tem a ideia errônea de que Maquiavel prioriza os métodos cruéis, ardilosos, infames – e todos os demais adjetivos encontrados como qualificativos de “maquiavélico”, em qualquer dicionário. O pensador florentino deixava claro que eles eram usuais daquela época, dispensando sua recomendação. Cita inúmeros exemplos a esse respeito. Na verdade, propõe comedimento e se esforça por dizer que tais métodos não deveriam ser utilizados indiscriminadamente, pois poderiam se mostrar contraproducentes. Mesmo a violência tinha regras e deveria aguardar por sua ocasião.
Em um momento em que todos os poderosos e aspirantes a poderosos se comportavam como leões, até os Papas (o de 1513, por coincidência, se chamava Leão X), ele dizia que as ocasiões muitas vezes requeriam raposas. Portanto, menos violência e mais astúcia. Para a barbárie das disputas políticas da época, o livro tinha até um papel civilizatório.
Os fins e os meios
Em “O Príncipe”, não existe a frase de que os fins justificam os meios. Nem existe a ideia de que qualquer meio serve para se chegar à vitória. Maquiavel fez uma lista de recomendações sobre os métodos e apontou que alguns tinham um alto custo para o governante e poderiam gerar um ódio generalizado contra sua pessoa. Sendo assim, deveriam ser evitados, pois levariam à ruína, e não à glória.
É mais apropriado dizer que, para Maquiavel, o critério de certo e errado, na política, é o êxito. Não é o vale tudo. Se os métodos empregados não permitem chegar e se manter no poder, não são bons métodos.
“Trate o príncipe, pois, de vencer e conservar o Estado. Os meios que empregar serão sempre julgados honrosos e louvados por todos”.
É esta última frase que deu origem à interpretação de que os fins justificam os meios. Interpretação errada. Para Maquiavel, o meio empregado faz toda a diferença para a vitória ou a derrota. É o emprego correto dos meios que ele define como virtude (“virtú”) na política. Fazer a coisa certa no momento certo (a “fortuna”, ou oportunidade) daria ao príncipe um destino grandioso.
Outro atributo importante do livro foi ter cravado o conceito de Estado e ter estabelecido uma distinção que, por muito tempo, foi decisiva para explicar grandes diferenças entre regimes políticos. “O Príncipe” abria suas explicações dizendo que, até então, todos os Estados (com maiúsculas) tinham sido ou repúblicas ou monarquias (principados). Depois que as monarquias foram derrubadas ou amainadas pela constitucionalização de seus poderes, a distinção entre presidencialismo e parlamentarismo passou a ser a mais usual.
O terceiro atributo genial de “O Príncipe” foi ter sido pioneiro na análise do poder como exercício da representação. A permanência no poder dependia de que o líder fosse a encarnação de uma vontade coletiva. Só conquistaria grandeza se seus projetos fossem ousados o suficiente para angariar respaldo entre suas elites e, mais relevante, apoio popular, inclusive contra elites que abrigavam seus adversários em potencial. “O mundo é formado por pessoas comuns”, dizia. É essa dimensão que deu a Maquiavel certa imagem de pensador democrático. Ele foi resgatado por Rousseau, no século XVIII, como aquele que ensinou ao povo como os príncipes governavam e que expôs a perversidade por trás do absolutismo.
A atualidade de Maquiavel
O que permanece atual em Maquiavel é sua compreensão realista da política. Sua lição fundamental é a de que o ofício do cientista político é o de desvendar. Para tanto, é preciso identificar os atores em disputa, apontar seus métodos de ação, evidenciar o papel e a orientação dada por suas lideranças políticas, desnudar os interesses envolvidos.
O pensador de Florença proporciona uma visão dinâmica do poder. O resultado da ação política depende não só da posição e dos recursos dos grupos sociais em luta, mas da correção das decisões tomadas por atores centrais e da reação que elas desencadeiam.
O povo reaparece em Maquiavel como o ator político fundamental, em torno do qual orbitam todos os demais. A sorte (ou “fortuna”) dos contendores depende de sua capacidade de dar voz e sentido de Estado às aspirações populares.
Podemos ainda nos servir de Maquiavel para apostar que toda crise aguda de regime é acompanhada de um processo de desmascaramento da velha política. Métodos perversos, bastante conhecidos, passam a gerar estranhamento e revolta popular quando seus resultados se mostram pífios e incapazes de garantir adesão em larga escala.
A alta dose de realismo oferecida por Maquiavel não deixa de ser um ingrediente básico para qualquer nova utopia política. Por isso, “O Príncipe”, 500 anos depois, ainda é uma leitura que vale a pena.
Antonio Lassance é cientista político e pesquisador do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA). As opiniões expressas neste artigo não refletem necessariamente opiniões do Instituto.

terça-feira, 19 de fevereiro de 2013

A rede sem peixes de Marina




A ex-senadora que sonha com a presidência da República criou uma seita, não um partido político

Leonardo Attuch, Brasil 247

Concebido por seus idealizadores para ser o grande fato político de 2013, o partido Rede Sustentabilidade, da senadora Marina Silva, corre o risco de se transformar num retumbante fiasco. Até agora, são apenas três os deputados que se deixaram fisgar pelo projeto de Marina: o maranhense Domingos Dutra (ex-PT), o carioca Alfredo Sirkis (ex-PV) e o paulista Walter Feldman (ex-PSDB). Muito pouco para uma legenda que tem pretensões presidenciais e planeja repetir, em 2014, o desempenho de Marina em 2010, quando ela conquistou quase 20 milhões de votos pelo PV.

Ainda que os propósitos sejam totalmente distintos, a comparação com o PSD, de Gilberto Kassab, é inevitável. Em pouquíssimo tempo, o partido do ex-prefeito de São Paulo montou uma bancada de 52 deputados federais, uma das maiores da Câmara dos Deputados, garantindo o direito de beliscar recursos do Fundo Partidário.

Qual a diferença básica? Kassab, um político, montou um partido voltado para as necessidades de políticos tradicionais – e, portanto, impuros – que buscam janelas de oportunidade para ocupar o poder, conquistando-o pelo voto ou, simplesmente, aderindo a qualquer governo. Marina, uma líder de natureza messiânica, montou uma seita para atrair fiéis que ela define como "sonháticos". Só pessoas puras.

E o que essa seita propõe? Marina diz que talvez nem todos possam ter um automóvel, mas todos podem ser mais eruditos. Ao ser colocada diante de questões difíceis, como a união de pessoas do mesmo sexo, ela tergiversa e sai pela tangente, propondo plebiscitos – o que provocou o fim do seu diálogo com grupos LGBT.

A ex-senadora acreana tem o apoio de dois bilionários, Neca Setúbal, do Itaú, e Guilherme Leal, da Natura, mas é improvável que ela, com sua postura sectária e personalista, tenha papel relevante na próxima disputa presidencial. Não será novidade e terá tempo de dizer apenas uma mensagem no horário eleitoral: "Meu nome é Marina".