Em uma época em que ocorre um crescimento exponencial do número de delações, instrumento que valoriza uma das piores facetas do ser humano, a imprensa de direita utiliza expedientes cada vez mais cínicos para defender seus aliados e atacar seus adversários.
Se empresas envolvidas com corrupção de servidores doaram para seus aliados, alegam se tratar de sentimento cívico e por achar que seriam bons gestores, já quando a doação é para adversários são triangulações de propinas.
Se situações semelhantes de pagamento de propina para servidores acontecem durante governo de seus adversários são chamadas de corrupção e há envolvimento de agentes políticos. Já quando ocorrem em governos de aliados é denominado cartel, e o estado é só um ingênuo enganado por tubarões.
O cinismo avança quando esses veículos apostam no tudo ou nada por não verem horizonte em um mundo onde governantes não são seus capachos para os salvarem economicamente de administrações desastrosas, onde empresas de comunicação abdicam por questões políticas daquele que pode ser considerado seu maior patrimônio: a credibilidade.
Em vez de apostar no profissionalismo e resgate de sua credibilidade, jogam tudo na radicalização da desinformação, crendo que apenas eliminando seus adversários e colocando aliados nos seus lugares podem manter o seu poder, mas não muda a realidade que sua credibilidade está se derretendo progressivamente.
Apostando no lacerdismo como mote, estimulam e forçam delações contra adversários, mas se deparam com um efeito colateral: seus aliados têm pés de barro e também são alvos de delatores. A solução foi criar as figuras do “delator do bem” e o “delator do mal”.
Se o delator atingir seus adversários é o “delator do bem”, este é endeusado a ponto de não admitir que possa ser contestado. Sua palavra não precisa estar acompanhada de provas e podem ser alçados à condição de heróis. Se o delator atinge seus aliados é o “delator do mal”, a postura é de descrédito, vira alvos de ataques, boatos de ligações com adversários são então criados para parecer que a delação foi por motivos políticos.
O “delator do bem” também tem o poder olímpico de “desmentir” os “delatores do mal”. Recentemente o advogado do doleiro Youssef, advogado que trabalhou para o PSDB do Paraná, foi convocado pela imprensa para negar pelo seu cliente, declarações de outros delatores (o policial Careca e o laranja da Labogen) que envolveram políticos tucanos. A sua palavra foi considerada decisiva para encerrar precocemente qualquer repercussão das declarações dos “delatores do mal”.
Se você se surpreende com o nível do cinismo nas figuras do “delator do bem” e “delator do mal”, o que diria ao saber que também foram criadas as figuras da “tortura do bem” e “tortura do mal”?
Advogados de presos da lava-jato denunciam o clima de Guantánamo nas detenções da Polícia Federal em Curitiba, com extensões de prisões temporárias e preventivas sem qualquer prova efetiva contra os réus para forçar delações nos moldes do que interessa aos condutores das investigações. A imprensa trata as reclamações com desdém alegando se tratar de chicana jurídica para atrapalhar investigações (que se resumem a forçar delações).
Confrontados com a investigação ocorrida na Venezuela, onde um delator ajudou nas investigações para abortar uma tentativa de golpe de estado, e como consideram o governo da Venezuela adversário da sua política editorial entreguista e pró-EUA, abraçaram automaticamente as teses dos advogados dos golpistas venezuelanos que são idênticas aos dos encarcerados da Lava-jato: Delação forçada por meio de tortura psicológica.
Estamos convencidos que para eles a Guantánamo do Juiz Moro e da PF do Paraná se pratica a “tortura do bem”, como no fundo acreditam que foi o que aconteceu no Doi-Codi e outros porões da ditadura, já a “Tumba” da SEBIN venezuelana seria um horror onde se pratica a “tortura do mal”, e qualquer delação só poderia ser fruto da degradação em que vivia, a ponto de entregar quem o governo queria.
Não há interesse ou disposição para se preocupar com dilemas éticos na era do cinismo.
O olhar sobre o cotidiano da imprensa no Brasil, por meio da qual o cidadão pode acompanhar o desempenho de suas representações institucionais, tende a esconder uma realidade espantosa: a extinção da política. Esse fenômeno alcança outros campos que compõem tradicionalmente o chamado espaço público, como a cultura, a economia, a religião e outras formas pelas quais os indivíduos se interligam em comunidades no mundo contemporâneo.
O ambiente midiático nacional se oferece como um imenso laboratório para teses sobre a relação entre a sociedade e seus símbolos. Os perfis ideológicos são substituídos pelas pesquisas de opinião sobre cada tema da agenda pública.
Uma das hipóteses que podem ser facilmente constatadas é a de que a realidade foi substituída por simulacros, no sentido que o filósofo francês Jean Baudrillard (1929-2007) deu ao termo: praticamente tudo que compõe o noticiário e as opiniões veiculadas pela mídia tradicional são cópias de elementos que não existem mais na realidade.
A política, por exemplo, desapareceu completamente de seu habitat natural — os corredores do Congresso Nacional, as sedes de entidades republicanas e suas projeções no território comunicacional continuam lá, mas lá já não se faz política. Em seu lugar se desenvolve um jogo com características de um comércio que simula a realidade das negociações de poder. O Estado, cujo controle representava o objeto final desse jogo, passou a ser um meio pelo qual os protagonistas buscam um novo objetivo: o de ganhar o poder de permanecer no poder.
Nesse universo-simulacro, também a cultura, a religião, a economia, assim como a sexualidade, a individualidade e as autonomias, são substituídas por símbolos e signos que formam uma realidade paralela, distanciando cada vez mais o ser humano da vida real. Tudo se transformou num programa de “realidade virtual”, e o que a mídia nos apresenta é esse conjunto que se tenta passar por real.
O tema abrange toda a complexidade da vida cotidiana, por isso temos que restringir nossa observação, por enquanto, ao campo da política. Já analisamos simulacros da economia e poderemos observar também simulacros da cultura, da religião e de outros aspectos da vida comum.
A dança das siglas
Os partidos jogam para a imprensa, que faz o agenciamento da opinião pública. Eventualmente, uma ou outra dessas agremiações, criadas sem o respaldo de um programa capaz de sensibilizar grandes contingentes de eleitores, perde o volume de apoios necessário para se manter no jogo. O que fazem seus controladores? Criam nova sigla, adaptando-se ao que lhes parece ser um nome com mais potencial para arregimentar agentes capazes de conquistar correligionários.
No fundo, o sistema funciona como um grande esquema de pirâmide, que periodicamente precisa quebrar aqui e ali, deixando muitos protagonistas sem teto. Os mais espertos se movem rapidamente para a casa mais próxima, de preferência uma que possua em sua sigla a letra que combina com seus posicionamentos anteriores.
A legislação favorece escancaradamente a criação de partidos por quem já está no jogo, e dificulta o surgimento de agremiações com origem mais autêntica na própria sociedade. O caso da Rede Sustentabilidade, projeto da ex-senadora e ex-ministra Marina Silva, é típico: formulado no seio do movimento ambientalista, que evoluiu para um conceito mais amplo de sistema que inclui a busca da sustentabilidade econômica e social, além da ambiental, o sonho de Marina Silva foi contaminado pelo pragmatismo dos partidos que participam do simulacro de política. O que se viu foi uma candidata idealista emaranhada em contradições e apanhada em posicionamentos conservadores que decepcionaram muitos de seus apoiadores.
E o que a imprensa tem com isso?
O papel da mídia tradicional é fundamental nesse processo, porque é no ecossistema midiático que se constrói esse simulacro e é a imprensa que conduz o jogo. Esse processo evolui na medida em que corrompe as bases do sistema representativo, até o ponto em que a mídia substitui a sociedade e os partidos passam a ser tributários do sistema da comunicação.
Ao contrário do que nos faz crer, o sistema da imprensa não interpreta a realidade — ele cria um simulacro, que se torna verossímil porque seus signos fazem sentido. Quem sonha em representar a sociedade — ou uma parcela significativa dela — precisa ter coragem de romper essa dependência, comunicar-se diretamente com o público e esquecer a imprensa.
"Em uma reunião no Planalto com a bancada do PT no Senado, ministro do Planejamento, Nelson Barbosa, sinalizou que o governo planeja aumentar a tributação sobre grandes fortunas: 'Nós colocamos que seria muito importante que tivéssemos também medidas que atingissem quem tem renda maior na sociedade, seja na área de impostos ou outras medidas. E ele [Barbosa] disse o seguinte: estamos estudando e vai haver medidas que vão atingir o andar de cima', afirmou a senadora Gleisi Hoffmann (PR) Brasil 247 O governo planeja aumentar a tributação sobre grandes fortunas nas próximas medidas de ajuste fiscal. É o que sinalizou o ministro do Planejamento, Nelson Barbosa, na quarta-feira (25), em uma reunião no Planalto com a bancada do PT no Senado. Segundo a senadora Gleisi Hoffmann (PR), em reportagem da ‘Folha de S. Paulo’, Barbosa disse que haverá ação sobre os mais ricos.
"Nós colocamos que essas medidas eram importantes, que achávamos que deviam ser feitas algumas adequações [nos ajustes já anunciados], mas que seria muito importante que tivéssemos também medidas que atingissem quem tem renda maior na sociedade, seja na área de impostos ou outras medidas."
"E ele [Barbosa] disse o seguinte: estamos estudando e vai haver medidas que vão atingir o andar de cima."
A medida faz parte das reivindicações do PT para apoiar o pacote fiscal do governo. O partido se mostra reticente à revisão da concessão de direitos trabalhistas, como o seguro-desemprego e o abono salarial (leia aqui)."
Uma das maiores sacanagens do capitalismo, em minha opinião, é criar necessidades. Ou seja, fazer você acreditar que precisa de alguma coisa e então passar a não viver mais sem ela. Outra, pior ainda, é conseguir convencer as pessoas de que algo antigo, durável e que funciona perfeitamente na verdade é obsoleto e portanto deve ser substituído. Ambas as situações ocorreram com os filtros de barro no Brasil.
O filtro de barro é, segundo especialistas, a maneira mais segura e eficiente de se filtrar a água de beber que existe. Ela sai do filtro 95% livre do cloro, parasitas, pesticidas, metais como ferro, chumbo e alumínio e o que é melhor, fresquinha, porque a cerâmica diminui a temperatura da água em até 5 graus centígrados. É ainda o único filtro de água que recebe a classificação P-I do Inmetro, capaz de reter partículas de 0,5 a 1 mícron (os demais só acima de 15 mícrons). Uma façanha “tecnológica” do tempo da vovó.
No entanto, a partir da década de 1990, fomos convencidos do contrário: que o filtro de barro era ineficiente e até mesmo “cafona”, e que a melhor água para o consumo humano é a engarrafada, pela qual desde então pagamos dinheiro, em vez de utilizar a que vem da torneira, pela qual também pagamos, e 2 mil vezes mais barato.
O truque da água engarrafada nos fez cair como patinhos. Como a indústria de bebidas sabia que a curva ascendente dos refrigerantes tinha tempo para terminar –já que uma hora as pessoas iam se dar conta de que fazem mal para a saúde–, passou a investir em engarrafar e vender a pura, leve e saudável água. Quem tem algo a dizer contra ela? Resultado: o comércio de água engarrafada é hoje um negócio multibilionário. Só a Nestlé, a maior vendedora de água do planeta, fatura 9 bilhões de dólares anuais com um produto que nem sequer precisa fabricar, basta retirar do subsolo. A multinacional suíça é dona de mais de 70 marcas de água mineral, inclusive as famosas Perrier e S.Pellegrino.
Na região Sudeste do Brasil, de acordo com números do IBGE, até a década de 1990 mais de 70% das casas possuíam filtros de barro. “Havia inclusive um item na construção, no canto da cozinha, a cantoneira, feita apenas para abrigar o filtro, como se fosse um objeto artístico ou de decoração”, lembra o economista Julio César Bellingieri, autor de uma tese de mestrado na Unesp sobre a indústria da cerâmica em Jaboticabal, terra dos filtros de barro. As fábricas foram atraídas para lá no início do século 20 em virtude de uma abundante jazida de argila na região.
Segundo Bellingieri, o filtro de cerâmica existe no Brasil desde 1910, quando começa a ser produzido por famílias de imigrantes italianos e portugueses. O tradicional filtro São João, de barro vermelho e com vela porosa que ilustra esta reportagem, foi criado entre 1926 e 1928 pela Cerâmica Lamparelli, de Jaboticabal. Em 1947, quatro irmãos da família Stéfani adquiriram a fábrica e continuaram a produzir os filtros com o mesmo nome e aparência até hoje. Com a queda da procura pelos filtros a partir da década de 1980, as demais fábricas faliram e a Cerâmica Stéfani se tornou a maior produtora de filtros de cerâmica do País e quiçá do mundo.
A Stéfani chegou a vender 80 mil filtros de barro por mês, mas quase fechou na última década, diante da concorrência da água engarrafada. Acabou contratando um executivo, Emilio Garcia Neto, para recuperar a empresa, que há quatro anos saiu do vermelho e atualmente exporta filtros de cerâmica para 45 países, 8 deles na África. “Tem gente que acha o filtro antigo, outros acham vintage”, brinca Emilio. A Stéfani fez algumas modificações no design de alguns filtros, substituindo a parte de cima por plástico, mas o São João continua um clássico. 50% do processo de fabricação ainda é feito manualmente.
(Propaganda do filtro São João. Fonte: Julio César Bellingieri)
O economista Bellingieri não sabe afirmar com certeza, mas é possível que o filtro de barro, neste formato, seja invenção brasileira. Já se usavam na Europa filtros de louça e cerâmica, mas iguais aos daqui, de barro vermelho, não –talvez sejam uma evolução das moringas, de origem indígena. Quando foi lançado no mercado, na década de 1920, o filtro de barro chegou a ser símbolo de status. “O público-alvo do filtro São João era formado por indivíduos com uma renda mais alta. Se o público consumidor da Cerâmica Lamparelli fosse ordenado em cinco ‘classes’ de ‘poder de compra’, poder-se-ia dizer que o filtro São João era comprado pelas classes A e B; as classes C e D compravam uma talha com torneira ou um ‘filtro reto’; e a classe E comprava um pote ou moringa sem torneira”, escreveu o pesquisador em sua ótima tese.
Durante os anos 1980, os filtros de barro passaram a sofrer a concorrência dos filtros de carvão ativado, que pareciam a coisa mais moderna do mundo, mas que não purificam a água melhor do que os filtros de barro –e sem usar energia elétrica. Nos anos 1990, as classes média e alta começam a substituir a água filtrada pelos galões de água mineral entregues em domicílio e o velho e bom filtro de barro é aposentado de vez. “A partir dos anos 2000 a venda de água mineral chega ao auge e passa a ser considerado ‘coisa de pobre’ ter um filtro em casa”, diz Bellingieri.
Este aspecto do “status” conferido a quem toma água mineral é curioso. No documentário Bottled Life (2012), do diretor suíço Urs Schnell, se comenta como jovens do Paquistão foram seduzidos pela ideia de que tomar água em garrafinha é cool, e assim a Nestlé conquistou mais um mercado. O documentário investiga o controle da multinacional suíça sobre a água mineral bebida em vários países do mundo, inclusive nos Estados Unidos.
Lá, a Nestlé é dona da marca de água mais vendida do país, a Poland Spring. Em uma passagem do filme, moradores de Fryeburg, no Maine, resolvem proibir que a empresa extraia a água para vender porque estaria poluindo o rio da cidade, e a Nestlé incrivelmente vai à Justiça… contra os cidadãos. E ganha. Em Nova York, a água mineral em garrafinha Poland Spring também é campeã de vendas e virou símbolo do life style saudável e esportista dos novaiorquinos –sendo que, ironiza uma especialista no documentário, eles têm na torneira, grátis, a água limpíssima que vem das montanhas Catskill…
É chocante ver como o chairman da Nestlé, o austríaco Peter Brabeck-Lemathe, fala com jeito de galã e voz melíflua sobre a “importância” da água para o planeta como se fosse um ambientalista, enquanto a empresa explora o líquido para gerar lucro. Ninguém na Nestlé deu entrevista ao documentarista em nenhuma parte do mundo. (Vale a pena assistir, está no Netflix. Nunca mais você vai comprar nada da Nestlé depois, muito menos água.)
No Brasil, um grupo de moradores da cidade de São Lourenço, em Minas Gerais, e o Ministério Público se mobilizam contra a exploração do Parque das Águas da cidade pela Nestlé há 14 anos, sem sucesso (leia aqui reportagem da Agência Pública sobre o caso).
Na Europa, é comum as pessoas beberem água diretamente da torneira. Em São Paulo, como em algumas capitais do Brasil, a água que vem da torneira pode ser consumida, embora seja mais aconselhável que passe antes pelo filtro. A questão é que a indústria de bebidas nos convenceu que só a água de garrafinha é “segura”, ainda que na verdade não saibamos muito bem a origem dela. É um esquema que, como sempre, copiamos dos Estados Unidos. Em 2010, a ambientalista Annie Leonard criou este documentário onde explica como isto ocorreu.
Agora pensem em São Paulo, uma megalópole cuja região metropolitana concentra 20 milhões de habitantes, consumindo água mineral engarrafada sem parar e que agora está passando por uma falta d’água histórica. Não é de ficar com uma pulga atrás da orelha que estes dois eventos possam estar relacionados?
O Brasil é hoje o quarto maior consumidor de água mineral do mundo –só fica atrás dos EUA, México e China. São 7,1 bilhões de litros de água engarrafada por ano, quase 3 bilhões deles só em São Paulo. O consumo de água mineral cresce 10% por ano no país e, em 2014, com a Copa do Mundo e a seca, a ABINAM (Associação Brasileira da Indústria de Água Mineral) fazia previsões de chegar a um consumo de 14 bilhões de litros. Como saber se retirar essa água toda do subsolo não está causando alguma espécie de desequilíbrio?
“Na minha opinião há, sim, uma correlação, mas não há como provar porque simplesmente não existe fiscalização eficiente da água mineral no Brasil”, diz o economista Pedro Portugal Júnior, autor de uma tese de mestrado na Unicamp sobre as empresas de água mineral. “Temos um problema institucional: aqui, a água mineral é considerada um minério, como o ferro, a bauxita, e portanto é fiscalizada não pelos órgãos que regem os recursos hídricos, mas pelo DNPM (Departamento Nacional de Produção Mineral). E o próprio DNPM admite que estes números sobre o consumo são subestimados”.
De acordo com Portugal, as águas minerais deveriam ser integradas à gestão de recursos hídricos o mais rápido possível para que a fiscalização seja descentralizada. “Agora, por exemplo, está chovendo pouco. E se há uma estiagem, o DNPM tinha obrigação de exigir que as empresas diminuíssem a extração”, defende.
Pois o que está acontecendo em São Paulo é o contrário. As empresas de água mineral, que já são isentas do pagamento do PIS/Cofins desde 2012, receberam um presente de Geraldo Alckmin no início do mês de fevereiro: por decreto e atendendo ao pedido da ABINAM, o governador de São Paulo colocou a água mineral na cesta básica e concedeu uma redução no ICMS de 18% para 7% sobre o galão. Quer dizer, enquanto os paulistas choram com a falta d’água, o setor comemora a seca. A expectativa é que a redução do ICMS estimule a produção e que extraiam ainda mais água mineral do exaurido solo de São Paulo.
Se na cidade do México, outra gigante populacional e enorme consumidora de água mineral, o solo está afundando 2,5 centímetros por mês devido à retirada de água dos subsolos, por que São Paulo não sofreria nenhum efeito dessa exploração toda? Será coincidência que a falta de água seja mais grave nos Estados do Sudeste, onde mais se consome água mineral engarrafada no Brasil? Tentei fazer estas perguntas à ABINAM e não fui atendida. Tampouco o DNPM respondeu a meus questionamentos. Não encontrei estudos sobre o impacto da extração de água mineral em São Paulo, mas o professor de Geociências da USP, Reginaldo Bertolo, me tranquilizou dizendo que o volume é “relativamente irrisório”. Será?
Entrevistei o hidrogeólogo José Luiz Albuquerque Filho, chefe do Laboratório de Recursos Hídricos e Avaliação Geoambiental do IPT (Instituto de Pesquisas Tecnológicas), a quem expus minhas dúvidas.
Socialista Morena – Como mensurar o impacto ambiental em São Paulo da retirada de toda esta água mineral?
José Luiz Albuquerque Filho –O impacto ambiental vai estar associado ao local da extração. Se o proprietário seguiu as orientações técnicas, se explorou com racionalidade, teoricamente não teria impacto. Agora, em situações clandestinas, pode haver algum tipo de impacto, sim. O problema é a dificuldade de fiscalizar. Se retiram água da beira de um riacho, por exemplo, é fácil ser pego pela fiscalização. Mas uma fonte de água mineral é possível esconder com uma facilidade imensa.
SM – O senhor achou correto que o governador Geraldo Alckmin tenha reduzido o ICMS da água mineral, estimulando o aumento da produção, em plena seca?
JLAF –Qualquer decisão que for tomada neste momento tem que ter muito cuidado porque pode ser um tiro no pé. Talvez não precisasse ter baixado, porque o mercado está aquecido. O governador fez uma medida popular, apostando que o preço da água engarrafada irá cair. Mas será que eles vão mesmo baixar o preço?
SM – As chuvas foram suficientes para repor as reservas?
JLAF –Não. Estou muito preocupado. A chuva está passando, os mananciais estão a meia carga e há dois volumes mortos que foram utilizados no Cantareira e precisam ser repostos. E a gente não ouve falar em um plano de contingência, de emergência. Isso não vai dar certo. As pessoas com maior poder aquisitivo poderão recorrer à água mineral, aos caminhões-pipa. Mas e quem mora na periferia? Vai cavar um buraco no fundo da casa e tomar a primeira água que brotar, o que é um perigo. Mas é natural que procurem uma solução. Ninguém fica sem água.
Pelo sim, pelo não, aqui na minha casa não entra mais garrafão algum. O governo, se fosse responsável, deveria estimular os cidadãos a fazer o mesmo. E viva o filtro de barro.
(Jornal do Brasil) - A agência de classificação de “risco" Moody´s acaba de rebaixar a nota de crédito da Petrobras de Baa2 para Ba2, fazendo com que ela passe de "grau de investimento" para "grau especulativo".
Com sede nos Estados Unidos, o país mais endividado do mundo, de quem o Brasil é, atualmente, o quarto maior credor individual externo, a Moody´s é daquelas estruturas criadas para vender ao público a ilusão de que a Europa e os EUA ainda são o centro do mundo, e o capitalismo um modelo perfeito para o desenvolvimento econômico e social da espécie, que distribui, do centro para a "periferia", formada por estados ineptos e atrasados, recomendações e "notas" essenciais para a solução de seus problemas e a caminhada humana rumo ao futuro.
O que faz a Petrobras ?
Produz conhecimento, combustíveis, plásticos, produtos químicos, e, indiretamente, gigantescos navios de carga, plataformas de petróleo, robôs e equipamentos submarinos, gasodutos e refinarias.
De que vive a Moody´s ?Basicamente, de “trouxas” e de conversa fiada, assim como suas congêneres ocidentais, que produzem, a exemplo dela, monumentais burradas, quando seus "criteriosos" conselhos seriam mais necessários.
Conversa fiada que primou pela ausência, por exemplo, quando, às vésperas da Crise do Subprime, que quase quebrou o mundo em 2008, devido à fragilidade, imprevisão e irresponsabilidade especulativa do mercado financeiro dos EUA, a Moody,s, e outras agências de classificação de "risco" ocidentais, longe de alertar para o que estava acontecendo, atribuíram "grau de investimento", um dos mais altos que existem, ao Lehman Brothers, pouco antes que esse banco pedisse concordata.
Conversa fiada que também primou pela incompetência e imprevisibilidade, quando, às vésperas da falência da Islândia - no bojo da profunda crise europeia, que, como se vê pela Grécia, parece não ter fim - alguns bancos islandeses chegaram a receber da Moody´s o Triple "A" (ilustração), o mais alto patamar de avaliação, também poucos dias antes de sua quebra.
Afinal, as agências de classificação europeias e norte-americanas, agem, antes de tudo, com solidariedade de “classe”. Quando se trata de empresas e nações “ocidentais”, e teoricamente desenvolvidas - apesar de apresentarem indicadores macro-econômicos piores do que muitos países do antigo Terceiro Mundo - as agências “erram” em suas previsões e só vêem a catástrofe quando as circunstâncias, se impõem, inapelávelmente, seguindo depois o seu caminho na maior cara dura, como se nada tivesse acontecido.
Quando se trata, no entanto, de países e empresas de nações emergentes, com indicadores econômicos como um crescimento de 400% do PIB, em dólares, em cerca de 12 anos, reservas monetárias de centenas de bilhões de dólares, e uma dívida pública líquida de menos de 35%, como o Brasil, o relho desce sem dó, principalmente quando se trata de um esforço coordenado, com outros tipos de abutres, como o Wall Street Journal, e o Financial Times, para desqualificar a nação que estiver ocupando o lugar de "bola da vez".
Não é por outra razão que vários países e instituições multilaterais, como o BRICS, já discutem a criação de suas próprias agências de classificação de risco.
Não apenas porque estão cansados de ser constantemente caluniados, sabotados e chantageados por "analistas" de aluguel - como, aliás, também ocorre dentro de certos países, como o Brasil - mas também porque não se pode, absolutamente, confiar em suas informações.
Se houvesse uma agência de classificação de risco para as agências de “classificação” de risco ocidentais, razoavelmente isenta - caso isso fosse possível no ambiente de podridão especulativa e manipuladora dos "mercados" - a nota da Moody´s, e de outras agências semelhantes deveria se situar, se isso fosse permitido pelas Leis da Termodinâmica, abaixo do zero absoluto.
Em um mundo normal, nenhum investidor acreditaria mais na Moody´s, ou investiria um cent em suas ações, para deixar de apostar e aplicar seu dinheiro em uma empresa da economia real, que, com quase três milhões de barris por dia, é a maior produtora de petróleo do mundo, entre as petrolíferas de capital aberto, produz bilhões de metros cúbicos de gás e de etanol por ano, é a mais premiada empresa do planeta - receberá no mês que vem mais um "oscar" do Petróleo da OTC - Offshore Technologies Conferences - em tecnologia de exploração em águas profundas, emprega quase 90.000 pessoas em 17 países, e lucrou mais de 10 bilhões de dólares em 2013, por causa da opinião de um bando de espertalhões influenciados e teleguiados por interesses que vão dos governos dos países em que estão sediados aos de "investidores" e especuladores que têm muito a ganhar sempre que a velha manada de analfabetos políticos acredita em suas "previsões".
Neste mundo absurdo que vivemos, que não é o da China, por exemplo, que - do alto da segunda economia do mundo e de mais de 4 trilhões de dólares em ouro e reservas monetárias - está se lixando olímpicamente para as agências de "classificação" ocidentais, o rebaixamento da "nota" da Petrobras pela Moody´s, absolutamente aleatório do ponto de vista das condições de produção e mercado da empresa, adquire, infelizmente, a dimensão de um oráculo, e ocupa as primeiras páginas dos jornais.
E o pior é que, entre nós, de forma ridícula e patética, ainda tem gente que, por júbilo ou ignorância, festeja e comemora mais esse conto do vigário - destinado a enfraquecer a maior empresa do país - que não passa de um absurdo e premeditado esbulho.
O Brasil é um país que se dividiu. O intenso e quente clima político hoje nas ruas, e dia 15 de março vamos ver onde essa coisa toda vai dar, é apenas um lado da coisa toda.
O que está em questão não é apenas a corrupção na Petrobrás, os escândalos políticos, a Dilma que jogou seu governo no buraco, a economia que aponta tempos difíceis pela frente, a inflação que vai corroendo o salário de gente que vive de salário, o divórcio da classe política em relação à sociedade e seus graves problemas, a esquerda que faliu e virou apenas caixa de som berrando, dia sim outro também, contra a corrupção no governo FHC, como se ela não estivesse pra completar dezesseis anos no poder.
Esses são problemas do dia a dia. Uma hora ou outra se resolvem, de um jeito ou de qualquer jeito.
A questão de fundo é mais grave. O que está em jogo é o fato de que o Brasil é um país conservador, tradicional, de caráter religioso, interiorano, que entende a família como o esteio da sociedade e de onde, e apenas ai, é possível consertarmos as coisas. Esse país, conservador e tradicional está sob o ataque sistemático, diário, de forças ditas progressistas, que querem acabar com tudo isso.
Essas forças estão no poder federal a quase vinte anos, com previsão de ficar vinte e quatro anos. Mudando leis, modificando comportamentos, estimulando fracionamentos e divisões, criando todo tipo de ardil no sentido de fazer com o país o que o povo em geral não quer, nunca quis.
Ser de esquerda no Brasil é uma aberração em relação ao que é nossa cultura, ao que ela representa e como se formou. O descontentamento todo difuso sentido pelas pessoas no seu dia a dia, a bagunça, a desobediência, a falta de disciplina, a falta de hierarquia e ordem, o desrespeito generalizado, o fim da infância e a sexualização acelerada de crianças e jovens. Até a maneira como comemos no Brasil é uma evidência da divisão do país. Não há nada, desde uma escola pública e no que elas se transformaram, passando pelas famílias cada vez mais disfuncionais, que não esteja ligado a cultura de esquerda e progressista implantada entre nós desde o período militar.
O Brasil precisa se reencontrar com seu passado com suas grandes virtudes e sabedoria, nossa sociedade não aceita mais o caminho por onde nos empurraram nesses últimos 20 anos.
Luciano Alvarenga em seu blog: http://lucianoalvarenga.blogspot.com.br/2015/02/o-carater-conservador-da-cultura.html#.VO91WvnF_T8
Jamais a América do Sul se põe ao abrigo de quatro males: um golpe de Estado, uma ditadura de esquerda, uma ditadura de direita e uma goleada de uma seleção europeia. Há pouco, dizia-se que o Brasil corria o risco de uma venezuelização pela esquerda. O chavismo rondava o país. Agora, com a Venezuela dando mostras de que pode se tornar, de fato, uma ditadura, o Brasil corre o risco de uma venezuelização pela direita. Lá como cá o desejo da direita é de golpe de Estado pelas vias brandas, pero no mucho, do impeachment, de novas eleições ou de uma transição. Lá, pelo que parece, Maduro está caindo de podre. Aqui, Dilma está verdinha no segundo mandato. A oposição, porém, passadinha de lacerdismo não quer esperar mais longos quatro anos.
O lacerdismo é o mal do Brasil. Carlos Lacerda sonhava com golpes de Estado. Apoiou os que deram errado e foi cassado pelo golpe que ajudou a dar “certo”. A oposição brasileira que pede o impeachment de Dilma quer provas contra o prefeito de Caracas, preso por Maduro por suposta conspiração contra o governo. Por que não quer provas contra Dilma? Estou naquela fase em que não ponho a mão no fogo, pois sempre queima, claro, independentemente da honestidade ou desonestidade dos envolvidos. Maduro tem tudo para ser ditador. O prefeito de Caracas tem tudo para ser golpista tanto que já foi. O governo Dilma pode estar atolado no petrolão. Por que, num caso desses, o presidente do DEM, o pretenso moralizador José Agripino Maia, não estaria atoladinho no escândalo do Detran do Rio Grande do Norte? Não sei. Continuo acreditando em provas.
Sou bobo velho. Sei que, dependendo dos casos ou envolvidos, elas são um mero detalhe.
Maduro vai cair cedo ou tarde. Quando o vejo com aquele abrigo de treinador de futebol de quinta divisão com as cores da bandeira da Venezuela, torço que caia logo. Canastrão. Assim a Venezuela deixará de ser pauta. Os 90% de miseráveis retornarão às suas periferias, a democracia formal será restabelecida e ninguém mais se interessará por um país fulminado pela queda do preço do petróleo, que voltará a financiar apenas os ricos. Alguém fala do Haiti? A Coreia do Norte não sai da boca do povo. É uma ditadura nojenta dominada por um ditador maluco. A Arábia Saudita, outra ditadura nojenta, não atrai tanta atenção. Por que será? Deve ser pela mesma razão que o caso HSBC não dá tantas manchetes. Ou isso já é teoria da conspiração?
Por mim, derrubava todos. Ando louco da vida. A passagem do ônibus aumenta quase o dobro da inflação. A correção da tabela de imposto de renda, pouco mais da metade. O governo de esquerda quer engolir direitos trabalhistas, que a direita finge defender. É muito para a minha cabeça oca. Quero bola no chão. Quando será que direita e esquerda no Brasil vão se acostumar com a regra do jogo: perde, espera quatro anos, tenta de novo. O PSDB se parece cada vez mais com a UDN. Só falta um Carlos Lacerda.
O Corvo era um inescrupuloso brilhante. A turma de hoje só cabe no primeiro qualificativo.
Os interesses são os mesmos: tirar o “trababalhismo” do poder, mesmo que seja pelo golpe, e privatizar a Petrobras. A diferença é o tamanho dos escândalos. As cifras de hoje constrangem às de ontem.
Na última semana, um objeto muito luminoso e rápido cruzou o campo de visão do telescópio solar SOHO e quase mergulhou na atmosfera do Sol. Era um cometa diferente, não pertencia a nenhum grupo conhecido, mas pode se tornar visível nas próximas semanas.
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Batizado provisoriamente de SOHO-2875, o cometa surgiu no campo de visão do telescópio LASCO C3 no dia 18 de fevereiro e durante três dias deu um verdadeiro show na frente das lentes.
SOHO-2875 apareceu pequeno e tímido no canto superior direito da imagem e a cada cena divulgada dava a impressão clara de que mergulharia no Sol, como acontece com a esmagadora maioria dos cometas da família Kreutz. No entanto, o objeto não se comportou como o esperado e para a surpresa de todos contornou o disco solar e ressurgiu ainda mais forte e brilhante após ser ofuscado pela estrela.
Para os especialistas, esse estranho cometa foi bastante interessante por duas razões. A primeira é que a rocha não parece pertencer ao grupo de cometas conhecido como família Kreutz, um agrupamento de fragmentos que se dispersaram no espaço após a ruptura de um cometa maior ocorrida há alguns séculos.
A segunda razão é que a maioria dos cometas descobertos pelo satélite SOHO e que chegam muito perto do Sol não sobrevivem à viagem e são vaporizados pelo intenso calor. Esses objetos são conhecidos por "sungrazers", pois parecem mergulhar no Sol.
Cálculos orbitais feitos pelo pesquisador Karl Battams, ligado ao observatório naval dos EUA, indicam que no momento de maior aproximação SOHO-2875 chegou a menos de 3.5 milhões de km do Sol, o que pode indicar que se trata de uma rocha bastante maciça.
Na segunda-feira, a União Astronômica Internacional, através do site Minor Planet center, oficializou a descoberta de SOHO-2875, que passou a ser chamado oficialmente de C/2015 D1 (SOHO).
Após cruzar o campo de visão do telescópio, SOHO-2875 seguiu viagem e se afastou bastante do Sol. Isso significa que dentro de alguns dias já poderá estar ao alcance de telescópios terrestre situados no hemisfério norte do planeta.
Artes: no topo, imagem em alta resolução do satélite SOHO mostra o cometa SOHO-2875 durante passagem à frente do coronógrafo, ao mesmo tempo que uma gigantesca ejeção de massa coronal é observada na face oposta do Sol. Acima, vídeo mostra toda a passagem do cometa na frente das lentes do telescópio. Créditos: SOHO, Apolo11.com.
A questão é esta: por que os sites das grandes empresas jornalísticas deram apenas fotos em que aparecem apanhando os antipetistas que foram atazanar os manifestantes pró-Petrobras ontem no Rio?
Isso se chama torcida. Isso se chama descaro. Isso se chama trapaça. Isso se chama antijornalismo.
O objetivo é transmitir a analfabetos políticos vítimas de manipulação a sensação de que o Brasil está se transformando numa Venezuela.
A rigor, o que aconteceu foi o seguinte. Imbecis parecidos com os que hostilizaram Mantega no Einstein – sem a menor consideração pela mulher que se trata de câncer – foram vandalizar num ato que não era para eles.
Como os ânimos estão exaltados, houve brigas. As fotos que circulam na internet (não nos sites) mostram gente de vermelho – petistas – batendo e apanhando.
O que é uma aberração é que só foram publicadas fotos em que os petistas apareciam como agressores.
É como se num jogo de futebol duas torcidas brigassem. Corintianos e são-paulinos, por exemplo. E só fossem chegassem aos leitores imagens de corintianos atacando.
Falei outro dia do diretor de mídia digital da Globo, Erick Bretas, um sem noção que prega no Facebook a cassação de 54 milhões de votos de Dilma com argumentos que incluem “reportagens” – logo de quem – da Veja.
O principal produto digital da Globo é o G1, e então é presumível que Bretas o comande de perto.
Como um militante antipetista edita um artigo sobre o confronto de ontem?
Bem, é só ver o G1.
E qual é o mundo retratado por alguém que queira abertamente a deposição do governo?
É a distopia infernal que você vê todos os dias no G1. A escolha dos assuntos é inacreditavelmente mórbida. Quem leva a sério – e os analfabetos políticos são presas fáceis – conclui que o Brasil acabou.
Só há coisas ruins. Disse outro dia: se fosse uma pessoa, o G1 seria diagnosticado facilmente com depressão cava.
Navegue por portais que são referência no mundo. Em nenhum deles você vai encontrar tanta notícia ruim concentrada.
Pode haver um pouco de inépcia editorial aí, mas o grosso mesmo é manipulação.
Você pode observar, hoje, a Globo se encaminhando para onde a Veja está já há alguns anos.
Nem sempre a Veja foi este simulacro abjeto de jornalismo. Num certo momento, a revista começou a publicar colunas de Diogo Mainardi, textos digitais de Reinaldo Azevedo – e terminou no lixo que é.
A Globo parece ir pelo mesmo caminho. O pudor vai sendo deixado de lado, e é neste quadro que você vê a ascensão de “jornalistas” como Bretas e a supressão de fotos que ajudam a entender os lastimáveis confrontos de ontem.
A culpa quase irreparável do PT foi não ter feito nada, em doze anos, para coibir o serviço sujo da mídia.
Sequer o dinheiro copioso e fácil da publicidade federal foi submetido a uma revisão.
O resultado é que, mesmo com audiências cada vez menores em face da internet, foi crescendo o dinheiro publicitário oficial em empresas como Globo e Abril.
Esse dinheiro financia o pelotão de colunistas, editores, comentaristas dedicados a defender privilégios e mamatas que levaram o Brasil a ser um campeão mundial da desigualdade.
O PT não quis brigar com os barões da mídia. O problema é que a recíproca jamais foi verdadeira.
Publicar fotos seletivas das brigas de ontem é apenas uma demonstração a mais do espírito bélico dos barões – que aliás estão muito mais para coronéis do que para qualquer outra coisa
Um alerta aos entusiásticos adeptos do "impitimam" da presidenta Dilma: o cenário mais provável se tal desejo se concretizar não será nada favorável a eles ou aos tucanos e seus satélites, instigadores dessa insensatez. E muito menos à imensa maioria da população. O novo Brasil nascido do golpe urdido desde a ida dos trabalhistas a Brasília, em pouco tempo teria a dimensão e os graves problemas de duas décadas atrás. O quadro seria mais ou menos esse: 1) Meses de paralisação dos trabalhos legislativos - é bom lembrar que o "impitimam" é um processo político, travado no Congresso. 2) Centrais sindicais ligadas à esquerda, tendo a CUT à frente, associações de classe e estudantis, organizações da sociedade civil e setores partidários da esquerda, capitaneados pelo PT, reagiriam à tentativa de tirar Dilma da Presidência. Os protestos envolveriam desde atos pacíficos até greves de segmentos mais politizados, como, por exemplo, petroleiros, bancários e metalúrgicos. A atividade econômica seria fortemente afetada. 3) Decidido o impedimento da presidenta, seguir-se-ia mais um tempo para que o novo chefe do Executivo, o peemedebista Michel Temer, compusesse o seu governo. 4) Aí, seria travada uma outra batalha sangrenta, pois o PSDB, patrocinador-mór do processo iria se julgar no direito de abocanhar um grande quinhão ministerial, entrando em choque direto com o PMDB, o partido do novo presidente da República. 5) Resolvido o impasse, a reação dos setores sociais ligados à esquerda continuaria, com consequências imprevisíveis. 6) Dependendo do comprometimento de Lula nesse processo, poderia até mesmo haver a adesão, nas manifestações contrárias ao "impitimam", de massas populares, principalmente no Nordeste e regiões mais pobres, onde a figura do ex-presidente é cultuada à devoção. 7) Haveria a intervenção, para conter os protestos, das truculentas PMs estaduais, que não sabem sequer atuar sem violência em manifestações pacíficas. O resultado seria catastrófico, com um saldo de vários mortos e feridos. 8) É muito provável que a instabilidade política e social perdure vários meses, com reflexos óbvios sobre a economia. Empresas seriam afetadas, haveria aumento do desemprego, da inflação e cortes em programas sociais. 9) É ainda provável que o PMDB se acerte com o PSDB e outros partidos da direita para garantir um mínimo de governabilidade. Mas a calmaria duraria pouco - afinal, todas as siglas já estariam movendo suas peças para a campanha presidencial de 2018. 10) Mais uma probabilidade: o engajamento de Lula na reação ao "impitimam" poderia lhe render um processo criminal - a direita golpista ficaria com a faca e o queijo na mão para, além de tudo o mais, cassar os direitos políticos do ex-presidente. 11) Se o contrário ocorresse, ou seja, se Lula estivesse apto a concorrer à Presidência em 2018, ele entraria na disputa como sério candidato a vencê-la. Se ele fosse impedido, as esquerdas não teriam um nome forte. A corrida seria, então, entre tucanos e peemedebistas. 12) No meio de toda essa confusão, PMDB e PSDB continuariam guerreando entre si nos bastidores. Os peemedebistas não aceitariam, de forma alguma, que os tucanos entrassem com amplo favoritismo na campanha presidencial. O jogo, desde sempre sujo, ganharia formas abomináveis. 13) Toda essa fúria anticorrupção que se vê hoje por parte do juiz Moro, alguns delegados da PF, Ministério Público, promotores e pelo oligopólio da imprensa, acabaria do dia para a noite. Afinal, eles teriam conseguido o seu objetivo, que era criar no país um forte caldo de insatisfação com "tudo que está aí". 14) O regime de partilha para a exploração da camada de petróleo do pré-sal seria substituído, rapidamente, pelo de concessão, como querem as petroleiras internacionais. O sucateamento intencional da Petrobras justificaria a sua entrega aos concorrentes. 15) Caixa Econômica Federal, Banco do Brasil e BNDES deixariam de ser indutores do crescimento econômico. Virariam meros participantes da disputa mercadológica. 16) A tensão social, com o desemprego em alta, atividade econômica reduzida, retração do crédito, enxugamento do Bolsa Família e outros programas congêneres, e paralisação de obras de infraestrutura e de moradia popular (Nossa Casa, Nossa Vida), aumentaria. 17) Aos líderes do novo Brasil restaria usar, como sempre fizeram, os meios de comunicação para convencer a população de que tudo está muito melhor que antes. Além disso, dar ordens para que a repressão policial se encarregasse de descer o sarrafo em quem ousasse enxergar uma tempestade nessa bonança. 18) As minorias seriam ainda mais discriminadas, pobres moradores nas periferias ainda mais perseguidos, pretos ainda mais segregados. 19) O campo estaria aberto aos justiceiros, sociopatas, fascistas em geral e fundamentalistas evangélicos, que passariam a exercer plenamente seus preconceitos, intolerância e ódio de classe. 20) Por fim, o novo Brasil reeditaria o modelo da Casa Grande e Senzala: um país com mercado de consumo formado por 10% da população e no qual o restante 90% disputaria, selvagemente, as sobras do banquete. A isso se daria o nome de meritocracia, mas na verdade, viveríamos sob as leis do pré-capitalismo.
Nos três principais jornais do País, Folha de S. Paulo, Globo e Estado de S. Paulo, a cena de destaque é a mesma: o confronto, ocorrido na tarde de ontem, entre militantes do PT e simpatizantes do impeachment da presidente Dilma Rousseff.
O episódio ocorreu no Rio de Janeiro, pouco antes do ato em defesa da Petrobras e do modelo de partilha do pré-sal, em que o ex-presidente Lula afirmou: "Eu quero paz e democracia, mas se eles querem guerra, eu sei lutar também" (saiba mais aqui).
As imagens estampadas nos três jornais prometem acirrar ainda mais os ânimos.
Eis a legenda da Folha: BRUTALIDADE - Em ato da CUT e do PT em defesa da Petrobras perto da Associação Brasileira de Imprensa, no Rio, petista agride homem que pedia o impeachment de Dilma.
Legenda do Estado: Pancadaria no Rio - Em ato de petroleiros no Rio, que teve agressões entre manifestantes, o ex-presidente Lula disse que Dilma Rousseff 'não pode ficar dando trela' sobre as investigações na Petrobras e 'tem de levantar a cabeça'.
Legenda do Globo: Intolerância - Homens com camisa do PT partem para a briga com manifestantes que pedem a saída de Dilma em frente à ABI, no Rio, onde aliados do governo fizeram ato.
A intolerância denunciada pelo Globo tem sido estimulada pela política de criminalização do PT, estimulada pelos meios de comunicação — em especial pelos veículos da família Marinho.
Resultado disso foi a agressão sofrida pelo ministro Guido Mantega, no Hospital Albert Einstein, em São Paulo, de onde foi expulso aos gritos de 'vai pra Cuba' e 'filho da puta'.
Aonde isso vai parar, ninguém sabe. Mas as imagens de ontem, estampadas nos jornais de hoje, certamente elevarão a temperatura do dia 15 de março, dia em que estão previstos protestos pelo impeachment da presidente Dilma Rousseff.
"É como se vivêssemos numa sociedade completamente polarizada, na Espanha da Guerra Civil", avalia Milton Lahuerta, professor da Unesp, em declaração ao jornal Estado de S. Paulo. "Estamos vivendo um momento de acirramento do debate político, decorrente de um processo eleitoral que terminou mas parece continuar", afirmou Marco Antonio Teixeira, professor da FGV.
Barbara Gancia cobra explicação do Einstein sobre agressão a Mantega
A jornalista Barbara Gancia cobrou uma explicação do Hospital Albert Einstein sobre a agressão sofrida pelo ex-ministro Guido Mantega (leia mais aqui). Confira, abaixo, o texto postado por Barbara em seu Facebook.
Para o dr. Claudio Lottenberg, presidente da Sociedade Beneficente Israelita Albert Einstein, que, no último domingo, na modestíssima opinião desta datilógrafa que vos fala, ocupou o espaço da página 3 da Folha de S. Paulo (Tendências/Debates) com a distribuição de ufanismos a instituição que dirige, estatísticas soporíferas e metáforas de gosto duvidoso sobre saúde do corpo e vitalidade do país ("cancro da corrupção"; "ganância fiscal que aumenta a obesidade de órgãos públicos esclerosados" — fala a verdade? —; "Brasil precisa de terapia intensiva com o apoio de todos que possam colaborar para sua recuperação"), pois então, para este discípulo de Hipócrates tão cioso do seu dever sagrado e tão averso ao exercício do poder por meio da política, para ele eu tenho algumas questões incisivas (uia!):
Caro senhor doutor presidente:
1) Já foram identificados os indivíduos que hostilizaram ao ex-ministro Mantega e sua mulher, que foi ao hospital na terça-feira para ser submetida a tratamento contra o câncer?
2) Que providências os senhores estão tomando, foi registrado Boletim de Ocorrência?
3) A direção do hospital está ciente de que, caso este comportamento brutal for tolerado e nenhuma medida tiver sido tomada contra quem o praticou, isto irá significar que a Sociedade Beneficente Israelita Albert Einstein compactua com a irresponsabilidade, a escalada da violência e o desrespeito à ordem pública?
O senhor entende, dr. Claudio, que o Einstein não pode consentir, porque isso significa que ele se colocará do lado dos inconsequentes que querem ver o circo pegar fogo sem medir as consequências para as instituições?