sexta-feira, 3 de fevereiro de 2017

Partidos Social-Democratas europeus que adotaram a Terceira Via Neoliberal estão rachando e se enfraquecendo!

Partidos Social-Democratas europeus que adotaram a Terceira Via Neoliberal estão rachando e se enfraquecendo! - Marcos Doniseti!

Pedro Sánchez defende reformas moderadas para promover mudanças na economia e na sociedade espanholas. Mas ele foi derrubado do cargo de Secretário-Geral do PSOE pelas lideranças mais conservadoras do partido. Agora, ele disputará as eleições primárias que o PSOE convocou para este ano e tentará voltar ao cargo, com o apoio dos eleitores do partido.

As velhas e tradicionais legendas social-democratas europeias que aderiram à Terceira Via Neoliberal de Tony Blair e Anthony Giddens estão rachando e se enfraquecendo cada vez mais.

Estes são os casos do PSOE (Partido Socialista Operário Espanhol), do PSF (Partido Socialista Francês), do Partido Trabalhista britânico e do Partido Democrático italiano.

A única exceção a este processo é o PSP (Partido Socialista Português), que lidera um governo progressista moderado de coalizão bem sucedido em Portugal.

1) Espanha - PSOE: O partido, liderado por Felipe González, foi o segundo mais votado na eleição para o Parlamento espanhol e acabou permitindo que o Partido Popular (Direita neoliberal), vencedor da eleição, mas que não conseguiu a maioria absoluta, continuasse governando a Espanha.

Assim, o PSOE acabou abrindo mão de fazer uma aliança com o Podemos, liderado por Pablo Iglesias, que conquistou uma votação muito próxima à do PSOE na eleição para o Parlamento espanhol.
Felipe González fez o tradicional PSOE adotar as políticas neoliberais da Terceira Via e ajudou na manutenção do governo do PP (liderado por Mariano Rajoy), o que provocou grandes divisões e conflitos no partido. 
Isso gerou uma grande crise no PSOE, que levou à renúncia de Pedro Sánchez do cargo de Secretário-Geral depois que a maioria dos líderes da legenda ficaram contra a sua liderança. 

Com isso, o PSOE está cada vez mais dividido entre suas alas mais conservadoras (liderada por Felipe González) e as mais progressistas (lideradas por Pedro Sanchéz).

Em algum momento esta divisão poderá levar a um racha ou a um brutal enfraquecimento do partido, que poderá perder seus eleitores mais conservadores para o PP ou para o Ciudadanos, e os seus eleitores mais progressistas poderão debandar para o Podemos.

E este racha poderá acontecer ainda em 2017, quando o PSOE irá realizar eleições primárias para escolher o seu novo líder. 

2) França - PSF: Já o segundo (o PSF) governa a França, mas tem um Presidente da República (François Hollande) que fez um governo totalmente neoliberal e que é tão impopular que sequer tentou a reeleição. A reforma trabalhista, extremamente impopular, que Hollande impôs acabou sendo rejeitada pela maioria dos deputados do próprio PSF.
François Hollande fez um governo neoliberal e impôs uma reforma trabalhista extremamente impopular. Seus baixos índices de aprovação levaram-no a desistir da reeleição. No entanto, o seu ex-ministro da Economia (Emmanuel Macron) é o favorito para vencer a eleição presidencial.  
E agora, nas primárias do partido, os eleitores do PSF literalmente se rebelaram contra as políticas neoliberais de Hollande e escolheram Benoît Hamon, da ala mais esquerdista da legenda e que é um forte crítico do governo francês, para ser o candidato à Presidente da República.

Isso fez com que uma parte dos eleitores de Manuel Valls, ligado a Hollande e que é um defensor das políticas deste, se disponha a votar em Emmanuel Macron, candidato independente e de perfil mais moderado e centrista, abandonando a candidatura de Hamon.

Assim, existe o risco de Hamon (que tem 16% nas pesquisas) não passar para o 2o. turno (que contará com a presença mais do que certa de Marine Le Pen, que lidera as pesquisas com 26% das intenções d voto) pois também temos a presença de um candidato mais à Esquerda, que é Jean-Luc Mélenchon (líder da Frente de Esquerda), obtém 10% dos votos.

Assim, a divisão entre as duas candidaturas mais progressistas poderá fazer com que o 2o. turno seja disputado entre a Extrema-Direita (Marine Le Pen) e um direitista (o neoliberal Fillon ou o moderado Macron).
Emmanuel Macron (ex-ministro da Economia do governo de Hollande e que saiu do Partido Socialista) foi o maior beneficiado pelo escândalo que atingiu fortemente a campanha do direitista Fillon e tornou-se o favorito para vencer a eleição presidencial francesa. 
Somente uma eventual união, já no 1o. turno, entre Hamon e Melenchon é que poderia evitar esse desastre histórico para as forças mais progressistas da França de ficar de fora do 2o. turno da eleição presidencial.

3) Reino Unido - Partido Trabalhista: Já no Reino Unido, o novo líder do Partido Trabalhista, Jeremy Corbyn, enfrenta as fortes resistências dos deputados da legenda, quase todos comprometidos com as políticas Neoliberais da Terceira Via de Tony Blair, enquanto que a base política e eleitoral trabalhista, na sua maioria, rejeita tais políticas.

Inclusive, a maior parte do eleitorado trabalhista votou a favor do Brexit, contrariando totalmente a posição dos deputados da legenda, favoráveis à manutenção do Reino Unido na União Europeia.

Assim, Corbyn fica numa corda bamba, tendo grandes dificuldades para liderar um partido tão dividido.

Somente uma nova eleição para o Parlamento britânico, que levasse o eleitorado trabalhista a renovar inteiramente o seu quadro de deputados, com a eleição de parlamentares comprometidos com as políticas progressistas e keynesianas preconizadas por Corbyn, é que poderiam resolver esse impasse.
Benoit Hamon (à direita) derrotou Manuel Valls nas primárias do Partido Socialista Francês, defendendo propostas como a criação de uma Renda Básica Universal e a taxação das riquezas geradas pelos robôs da 4a. Revolução Industrial. 
Mas elas não acontecerão tão cedo e, enquanto isso, Corbyn e os deputados trabalhistas vão intensificando os conflitos, agravando o racha interno.

O fato do Partido Conservador ter uma Primeira-Ministra, Theresa May, que adotou uma política mais nacionalista e que é bastante dura nas críticas ao Neoliberalismo, poderá levar os divididos e rachados trabalhistas a sofrer uma nova derrota na próxima eleição para o Parlamento, que irá acontecer apenas em 2020;

4) Itália - Partido Democrático: Governa a Itália atualmente, mas o então Primeiro-Ministro, Matteo Renzi, foi derrotado em um referendo a respeito de propostas de mudanças no sistema político do país, no qual 60% dos eleitores votaram contrários às mesmas. Isso provocou a renúncia de Renzi que, no entanto, continua sendo uma importante liderança do partido. 

O governo Renzi também promoveu a adoção de reformas neoliberais, bastante impopulares, e o PD também está dividido sobre as políticas que deveria adotar. 

Além disso, o partido que mais cresce na Itália e que lidera as pesquisas mais recentes, neste momento, é o 'Movimento 5 Estrelas' (liderado pelo humorista Beppe Grillo) e que combina, em seu programa, propostas mais progressistas (fim das políticas neoliberais e de arrocho), com outras mais conservadoras, fazendo ainda duras críticas à União Europeia. 

Assim, o 'M5S' tem grandes chances de vir a liderar um futuro governo na Itália. 
Matteo Renzi (à esquerda) foi derrotado no referendo italiano, onde o 'Não' para as suas propostas de reforma constitucional foi vitorioso 60% dos votos, provocando a sua renúncia. O 'M5S' (liderado por Beppe Grillo) condena as políticas neoliberais (adotadas por Renzi) e é o partido que mais cresce na Itália. 
5) Portugal - PSP (Partido Socialista Português): Este foi o único caso de recuperação vitoriosa por parte de um tradicional Partido Socialista europeu que tivemos nos últimos anos.

Na eleição para o Parlamento português que se realizou no final de 2015, as forças políticas mais progressistas acabaram conquistando a maioria absoluta.

Apesar da divisão dos deputados entre quatro partidos (Socialista, Comunista, Verdes e Bloco de Esquerda) os mesmos conseguiram fechar um acordo e elegeram Antonio Costa (PSP) para Primeiro-Ministro.

Com isso, as políticas neoliberais e de arrocho foram enterradas e o salário mínimo voltou a ter aumentos reais.

Desta maneira, Portugal retomou o crescimento econômico e está conseguindo reduzir o desemprego.

Por isso mesmo é que, segundo uma pesquisa divulgada em Janeiro deste ano, mostra que se a eleição para o Parlamento português fosse realizada neste momento, os quatro partidos progressistas (Socialista, Comunista, Verdes, Bloco de Esquerda) que governam o país teriam, no total, 54,6% dos votos (conquistaram 50,75% dos votos em 2015), contra apenas 36,9% da oposição formada pelos partidos PSD/CDS-PP (Direita Neoliberal; conquistaram 38,4% dos votos em 2015). 

Assim, a maioria parlamentar dos partidos progressistas ficaria maior caso a nova eleição fosse realizada agora. 

Como se percebe, a defesa ou a rejeição de políticas neoliberais está dividindo, rachando e enfraquecendo os principais e tradicionais partidos da Social-Democracia europeus. A única exceção entre os mesmos é o do PSP, pelas razões que apontei.

Tais partidos enfrentam um dilema: Eles deverão manter o seu apoio às políticas neoliberais, que são cada vez mais impopulares na União Europeia e que estão provocando sucessivas derrotas eleitorais para tais legendas? 

Ou então eles devem retomar projetos e ideias mais progressistas, de perfil keynesiano, tal como fizeram em suas origens (quando eles foram fundamentais na construção do Welfare State na Europa Ocidental no Pós-Guerra), como desejam promover, por exemplo, Jeremy Corbyn, Benoit Hamon e, em menor grau, Pedro Sánchez?
Jeremy Corbyn foi eleito o líder do tradicional Partido Trabalhista britânico (Labour Party), mas as suas propostas social-democratas e keynesianas enfrentam uma forte resistência dos deputados da legenda, que são defensores da Terceira Via Neoliberal de Tony Blair e Anthony Giddens, provocando fortes divisões entre os Trabalhistas. 

Links:

Benoit Hamon recupera propostas progressistas para o Partido Socialista Francês:


A fratura da Esquerda europeia:


Direção do PSOE entrega o governo espanhol para o PP:


Pedro Sanchéz lança candidatura para liderar novamente o PSOE:


O momento de Emmanuel Macron:


Portugal: Partidos que apoiam Antonio Costa teriam 54,6% dos votos em eleição para o Parlamento, contra apenas 36,9% da oposição (Direita Neoliberal):


Portugal: Taxa de Desemprego diminui para 10,2% com o fim das políticas neoliberais e de arrocho:


Portugal: Taxa de Desemprego era de 12,2% no final de 2015:


Emmanuel Macron ultrapassa Fillon no 1o. turno e derrotaria Marine Le Pen, no 2o. turno, com 65% dos votos:

via: http://guerrilheirodoentardecer.blogspot.com.br/2017/02/partidos-social-democratas-europeus-que.html

Números tornam evidente: liberação do FGTS é presente para ricos e bancos


fgts1

É espantoso como a imprensa brasileira esconde o óbvio e dependemos que um banco estrangeiro – o Santander – levante os números para mostrar o que é tão evidente que foi apontado aqui no próprio dia do anúncio da liberação das contas inativas do FGTS: o grosso do dinheiro não vai para aliviar os trabalhadores ou reaquecer o consumo e a economia, vai é engordar os fundos de investimento regidos pelos bancos e corretoras e alimentar a especulação com juros.

Os dados do banco espanhol, publicados hoje pelo Estadão (por enquanto só na edição impressa)  são incontestáveis.

Dos estimados R$ 41 bilhões que hoje estão na conta do Fundo, para financiar habitações, saneamento e infraestrutura,  a metade –  R$ 20 bilhões – serão liberados para apenas  100 mil cotistas – 1,2% do total –  que  têm saldo superior a R$ 17,6 mil, ou 20 salários mínimos de dezembro, data de referência dos valores.

Isso que dizer, na média ( que ainda não é a mensuração correta, porque a pirâmide sempre concentra valores mais altos nas mãos de menos pessoas)estes felizardos levam, cada um R$ 200 mil, que serão ávidamente disputados pelo sistema bancário.

O grupo intermediário – com direito a saque  de valores entre cinco a 20 salários mínimos de dezembro (R$ 3,5 mil a R$ 17,6 mil)  concentra outros 37%  do valor total, embora corresponda a apenas 5% do total  de inscritos.

E a multidão de 9,5 milhões de trabalhadores –  ou 94%  dos cotistas – têm saldo entre zero e R$ 3,5 mil, que dá uma média- com todas as ressalvas que se fez, antes à precisão da média, nestes casos –  de R$ 736 por cabeça. Esse é o dinheiro que vai para “limpar no nome” no Serasa, acertar o carnê, pagar as contas atrasadas…

É tão pouco que o próprio Santander diz que ” mesmo na hipótese altamente improvável de que todos os recursos sejam destinados ao pagamento de dívidas, o impacto seria “limitado”que, ainda que com essa ” premissa extrema, o efeito máximo ficaria longe de ser considerado significativo”, dizem os analistas do banco.

 No caso extremo e improvável em que trabalhadores usassem todo o dinheiro inativo para quitar dívidas, o comprometimento da renda das famílias cairia até 0,60 ponto porcentual e a inadimplência diminuiria até 0,15 ponto.  (…)Nesse cenário improvável, o comprometimento da renda das famílias com dívidas cairia de 22,2% em novembro para algo próximo de 21,6%.

O efeito sobre o consumo, claro, será também pífio.

Mas os gerentes de banco já estão sendo orientados a oferecer aplicações generosas (para os clientes e mais ainda para as instituições financeiras) para os que tiverem valores expressivos a sacar.


Como se escreveu aqui, mesmo sem números que permitissem uma estimativa mais detalhada como a do Santander, era um cenário antevisto, sobre o qual faltou à reportagem (reportagem?) dos jornais solicitar o perfil das contas inativas para traçar com precisão o retrato  do que todos sabiam e quase ninguém escreveu: “O destino do dinheiro grosso, como sempre no Brasil, é o mercado financeiro.” 

Sanguessugado do Tijolaço Fernando Brito
via: http://gilsonsampaio.blogspot.com.br/2017/01/httpwwwtijolacocombrblognumeros-tornam.html

quinta-feira, 2 de fevereiro de 2017

SOMOS VÍTIMAS E PROTAGONISTAS DE UMA SOCIEDADE DOENTE


"Errar é humano. Botar a culpa nos outros,
também." (Millôr Fernandes, humorista)
.
O ser humano tem uma capacidade impressionante de adaptação e submissão às condições adversas de vida, a ponto até mesmo de rejeitarem as possibilidades de melhora de vida propostas. 

Atualmente no Brasil (e na maior parte no mundo), as pessoas convivem apaticamente com claros sintomas de que a sociedade está doente. Ao invés de se rebelarem contra tal situação, preferem fechar-se numa concha individual de pretensa proteção, à espera da solução dos problemas por parte de outrem, como se coubesse apenas aos entes chamados vagamente de autoridades a responsabilidade de apagarem os incêndios que não cessam de surgir.  

Os indícios de patologias sociais são flagrantemente constatáveis, bastando para isto abrirmos a porta das nossas casas ou ligarmos a televisão. 

Por que somos obrigados a erigir muros em volta das nossas casas e (os que temos maior poder aquisitivo) sobre eles colocar cercas elétricas, ou (os menos favorecidos) aqueles feios cacos de vidros, enquanto os favelados dispensam muros, pois não possuem quase nada que alguém possa cobiçar? 

Por que não podemos ver a diversidade da arquitetura urbana, que, a partir dos muros, mais parece um tedioso e repetitivo bloqueio visual dos emparedados (agora, em São Paulo, sem a arte dos desenhos em grafites, que quebravam um pouco tal monotonia)?     

Por que nos grandes centros urbanos somos obrigados a passar horas e horas no congestionamento de veículos para ir ao trabalho e para dele voltar, seja em ônibus ou carros particulares, aspirando gás carbônico que, além de poluir o ar que respiramos, produz o chamado efeito estufa, criando uma barreira na atmosfera que contribui para o aquecimento do planeta?

Por que nossos rios e mares são poluídos com o lixo que descartamos de modo displicente e irresponsável, além de neles jogarmos dejetos industriais altamente poluentes e de termos uma deficiente coleta do lixo, cujo destino final são os aterros anti-sanitários?

Por que se estabeleceu entre nós a cultura de buscarmos sempre sobrepujar os nossos semelhantes nas mais variadas situações do cotidiano, como se fôssemos adversários uns dos outros numa competição fratricida, que acaba sendo o salvo-conduto para a prática da  beligerância coletiva? 

Por que cometemos a pequena corrupção e recriminamos a corrupção sistêmica (desde que praticada por nossos adversários ideológicos)?  
Por que somos obrigados a pagar um plano de saúde caro, cujo atendimento muitas vezes nos é negado em momentos cruciais por uma burocracia qualquer, ou a nos sujeitar ao atendimento médico do SUS, cuja ineficiência é notória? 

Por que na periferia das cidades as pessoas são obrigadas a viver em ruas mal pavimentadas, sem esgotamento sanitário e drenagem contra alagamentos, além de terem de viajar em ônibus precários e vagões abarrotados?

Por que somos obrigados a conviver com tão extremado nível de violência, expresso, p. ex., nas mortes por balas perdidas e na assustadora frequência de assaltos a caixas eletrônicos, num país que outrora era conhecido pela cordialidade do povo e convívio pacífico das várias etnias?

Por que assistimos à volta de doenças como tuberculose, hanseníase e febre amarela, além do recrudescimento da dengue e do surgimento de viroses como zika e chikungunya?  

Por que ainda temos elevado índice de analfabetismo e (o que é tão grave quanto!) grande parte da população sendo considerada analfabeta funcional, incapaz de interpretar um texto, por mais simples que seja, ou de redigir um recibo?

Por que somos obrigados a tomar conhecimento, pelo noticiário, dos repetidos episódios de desvio de verbas da merenda escolar por políticos corruptos?

Por que somos obrigados a aceitar taxas de juros do cartão de crédito que atingem até 480% ao ano, quando a inflação anunciada se situa atualmente na casa de pouco mais de 6% ao ano?

Por que temos de suportar a constante anulação dos direitos adquiridos (como a redução dos valores da aposentadoria por parte do sistema de previdência social estatal, ao mesmo tempo em que passa a exigir cada mais tempo de contribuição do candidato à mesma aposentadoria?

Por que uma condenação penal por qualquer crime pode significar inclusão obrigatória como soldado do crime organizado, ou a morte num presídio, sem que o estado garanta a incolumidade física do apenado, função e responsabilidade de sua incumbência, fato que significa uma condenação à criminalidade ou à pena de morte não oficializada? 

Por que temos (principalmente os jovens) de conviver com o fantasma do desemprego, que obriga um pai e/ou uma mãe de família, a passar fome junto com seus filhos, sob risco de despejo por falta de pagamento de alugueis, quando estão aptos a um emprego, mas este lhes é negado? 

Por que somos obrigados a consumir vegetais e frutas contaminadas com agrotóxicos que causam câncer, tudo em nome de melhora da produtividade para maximização dos lucros?

Ufa! 

Seriam ainda muitas as citações possíveis de fatos inerentes à miséria social que à qual a maioria da população é submetida no atual estágio da vida brasileira, em contraste com o admirável desenvolvimento tecnológico, capaz:
— de produzir embriões humanos ou clones de animais pela engenharia genética, como se fossem xerox de papel;  
— de produzir drones minúsculos ou gigantes, capazes de transportar pequenos objetos ou seres humanos;  
— da comunicação imediata auditiva e visual em todos os quadrantes do mundo, via satélite;  
— dos robôs com inteligência artificial;  
— dos veículos que trafegam sem motoristas pelas ruas e avenidas;  
— das naves interplanetárias capazes de pousar em planetas distantes com transmissão instantânea de informações; etc., etc. etc. 
Entretanto, o contraste entre os ganhos do saber da humanidade e a miséria social antes referida é flagrante, e deriva de um modo de relação social cuja superação é tema tabu; e que sempre foi ruim, mas que agora se tornou absolutamente insuportável, por obsolescência completa de sua forma e conteúdo, mas que continua a ser praticado. 

Mas, a permanência deste modelo de relação social cruel e falido pode ser explicada a partir de alguns fatores principais, quais sejam:
— a força coercitiva institucional, que mantém pela lei e pela força manu militari o atual status quo 
— a inconsciência social sobre a negatividade da mediação social reificada que lhe é subjacente;  
— a adaptação comodista dos indivíduos sociais à opressão que lhes é imposta; 
— o medo do novo e do desconhecido.
A miséria, por si só, não se constitui em fator de emancipação. Ao contrário, é fator de submissão, por um lado, e de promoção da barbárie na sua forma mais cruel e opressora, por outro lado. Caso a miséria fosse indutora da emancipação, a África com seu quase 1 bilhão de habitantes, seria um bom exemplo. Não é.  

Neste sentido, os países desenvolvidos, ora atingidos pela crise do capitalismo e com seus altos níveis de escolaridade e consumo em fase de perdas, devem representar uma luz no fim do túnel. 

Que o digam as crescentes e altamente participativas manifestações contra a estupidez de um Donald Trump, que, com sua visão microeconômica da economia aplicada à administração pública, está apressando a morte de um sistema moribundo chamado capitalismo.
 
https://naufrago-da-utopia.blogspot.com.br/2017/01/somos-vitimas-e-protagonistas-de-uma.html

UM NOVO 1968 PODE ESTAR COMEÇANDO


O protesto dos estudantes contra a palestra ultradireitista...
Esta notícia é atual:
.
"O campus da Universidade da Califórnia em Berkeley foi fechado nesta quarta-feira (1) em meio a um protesto violento contra uma palestra do editor do site de extrema-direita Breitbart, Milo Yiannopoulos.

...A polícia ordenou que os manifestantes da universidade se dispersassem e, de acordo com a rede de TV americana CNN, pelo menos um incêndio foi iniciado pelos manifestantes".

Este trecho de um ótimo artigo da revista Cult, assinado por Sean Purdy (professor do departamento de História da USP), nos mostra o papel histórico que tal universidade desempenhou na década de 1960:
                                                                                                              .
"A primeira grande mobilização do movimento estudantil nos Estados Unidos aconteceu na Universidade da Califórnia em Berkeley em 1964-1965 sobre o direito dos estudantes de organizar atividades políticas no campus, já que, nos anos 1950, os administradores dessa renomada universidade pública haviam banido tais atividades.

No outono de 1964, estudantes abertamente organizaram atos no campus em solidariedade ao movimento negro para desafiar as proibições. O aluno Jack Weinberg foi preso pela polícia e uma manifestação espontânea de 3 mil estudantes cercou o carro da polícia, proibindo-o de partir por 32 horas. Por dois meses, estudantes continuaram organizando grandes atos e manifestações sob a bandeira do Movimento pela Livre Expressão. Em dezembro, alunos ocuparam o principal prédio da administração da universidade. A polícia entrou e mais de 700 alunos foram presos.
...veio na sequência das manifestações de repúdio a Trump. 

Em janeiro, a universidade suspendeu os líderes da ocupação, provocando uma greve estudantil e manifestações amplas que efetivamente fecharam a universidade. Logo depois, a administração da universidade cedeu e atividades políticas foram permitidas no campus.

O Movimento pela Livre Expressão obteve uma vitória importante, inspirando a organização estudantil no país inteiro. Com a aceleração da guerra no Vietnã, a SDS e outras organizações montaram campanhas nacionais contra a guerra e contra o serviço militar obrigatório".

Estamos passando por momento semelhante, com uma difusa insatisfação entre os jovens dos EUA e Europa, cientes de que a crise econômica colocará enormes obstáculos no seu caminho para a inserção profissional e sucesso nas futuras carreiras. 

Os avanços autoritários pipocam em várias nações e a recém-iniciada presidência de Donald Trump vai na contramão de quase tudo que é belo, digno e justo na face da Terra, ameaçando tanger a humanidade para uma nova Idade Média ou mesmo para o extermínio (em função de seus desvarios ambientais).

Não é utópico trabalharmos com a hipótese de que os EUA novamente se dividirão entre uma embotada e intolerante parcela reacionária e uma ampla frente comum de pessoas esclarecidas e idealistas, dispostas a deter a marcha para a insensatez trumpiana. 
Trump poderá bisar o papel da Guerra do Vietnã: o de aberração contra a qual os melhores se unem.
Sendo que, desta vez, a correlação de forças não será maioria silenciosa x minoria estridente, mas, provavelmente, meio a meio (não esqueçamos que a o apresentador de reality show só ganhou permissão para tocar o terror graças ao estapafúrdio sistema eleitoral estadunidense, pois foi sua hilária adversária quem obteve maior quantidade de votos).

E, com os rigores que se abatem sobre a Europa, tudo leva a crer que uma escalada de protestos estudantis e outras manifestações de inconformismo contra as políticas de Trump repercutirá instantaneamente no velho continente, alavancando o ressurgimento, em larga escala, da contestação jovem.

Um novo 1968 não só é possível, como pode já estar começando.

https://naufrago-da-utopia.blogspot.com.br/2017/02/um-novo-1968-pode-estar-comecando.html

ESCOLHA DE FACHIN PARA RELATOR DO PETROLÃO TERÁ SIDO UM JOGO DE BITS MARCADOS?


Foi uma reviravolta do destino...
Edson Fachin era o mais conveniente para substituir o falecido Teori Zavascki como relator do mensalão por ter perfil eminentemente profissional e ser um dos ministros mais discretos, não podendo, em princípio, ser acusado de pretender favorecer qualquer parte envolvida ou que possa beneficiar-se de suas decisões.

Mais: era o preferido da presidente do Supremo Tribunal Federal, Carmen Lúcia, que deu sinal verde para que trocasse de turma, colocando-se em situação de ter seu nome sorteado.

Então, evidentemente surgirão suspeitas de que o computador estava viciado, de que se tratou de um jogo de bits marcados.

Bem, não serei eu a acusar a mais alta corte do País de ter feito batota, como naqueles sorteios do jogo do bicho em que a bolinha que convinha a algum banqueiro era mantida no congelador durante horas, de forma que quem enfiasse a mão no saco percebesse de imediato ser aquela a que ele deveria apanhar.

Mas, que houve um certo direcionamento, lá isto houve. Presumo até que tenha sido bem intencionado.

Primeiramente, o herdeiro dos processos da Lava-Jato, segundo o Regulamento Interno do STF, deveria ser o ministro que o presidente Michel Temer indicasse para a cadeira que vagou com a morte da Zavascki. Está lá no artigo 38, dedicado a substituições:
IV – em caso de aposentadoria, renúncia ou morte:
a) pelo Ministro nomeado para a sua vaga [as opções b e c são irrelevantes]
...que deve ter surpreendido até o próprio Fachin.
Mas, como o nome do próprio presidente da República já andou aparecendo em delações da Lava-Jato, seria temerário ele ter o poder de indicar alguém que pudesse vir a salvar sua pele. 

Então, o dispositivo abaixo foi, com um tanto de forçação de barra, utilizado para tirar a escolha das mãos de Temer:
Art. 68. Em habeas corpus, mandado de segurança, reclamação, extradição, conflitos de jurisdição e de atribuições, diante de risco grave de perecimento de direito ou na hipótese de a prescrição da pretensão punitiva ocorrer nos seis meses seguintes ao início da licença, ausência ou vacância, poderá o Presidente determinar a redistribuição, se o requerer o interessado ou o Ministério Público, quando o Relator estiver licenciado, ausente ou o cargo estiver vago por mais de trinta dias. 
Mas, já havia precedente de, em caso semelhante, ter sido feito um sorteio apenas entre os integrantes da turma a que pertencia o ministro a ser substituído. No presente caso, contudo, os quatro restantes não eram a opção ideal:
  • Gilmar Mendes por receios de que fosse favorecer os réus governistas e Ricardo Lewandowski por receios de que que fosse favorecer os acusados petistas;
  • Dias Toffoli por receios de que adotaria a postura recomendada por Gilmar Mendes;
  • Celso de Mello por seu hábito de fazer afirmações bombásticas, o que não convém quando se é responsável por processos tão polêmicos e melindrosos.
Houve umas gambiarrinhas...
Então, a segunda gambiarra foi a sugestão a Fachin de que solicitasse mudança de turma (tendo ele aquiescido).

Decidida a realização do sorteio e garantida a participação de Fachin, como fazerem com que o melhor candidato fosse o feliz contemplado?

Se todos estivessem em igualdade de condições, suas chances seriam apenas de 20% cada. Mas, como explicou a Folha de S. Paulo, a coisa não é bem assim:
"Para entender o sorteio eletrônico, (...) deve-se imaginar uma régua que vai de zero a cem.
Se a distribuição (ou redistribuição) for realizada apenas entre os cinco ministros que compõem uma das duas turmas do Supremo (...), imagina-se essa régua dividida em cinco partes iguais.
No entanto, o sistema tem um componente que leva em conta, também, o histórico de distribuição de processos para cada gabinete de 2001 para cá. Por gabinete entende-se não só o ministro atual que o ocupa, mas todos os seus antecessores, desde 2001.
Quanto mais processos um determinado gabinete tiver recebido desde aquele ano, fica ligeiramente menor a chance de ele ser escolhido no sorteio".
Então, há possibilidade de que Fachin tenha entrado no sorteio com chances maiores do que cada um dos outros participantes; e até de que isto fosse conhecido quando se resolveu convencê-lo a habilitar-se para a vaga.
...mas valeram as intenções.

Em nome da transparência, o STF deveria agora informar ao distinto público qual era o percentual de chances de cada candidato. Só assim se dissipariam (ou confirmariam) as presunções de que ganhou quem se queria que ganhasse.

Melhor teria sido, na minha opinião, uma decisão monocrática de Carmen Lúcia durante o recesso do Supremo. Os caminhos sinuosos dificilmente são os melhores, ainda mais para quem pretende fazer prevalecer a melhor solução para o País e não defender os próprios interesses.

Afinal, à mulher de César não basta ser honesta, tem de parecer honesta...

https://naufrago-da-utopia.blogspot.com.br/2017/02/escolha-de-fachin-para-relator-do.html