sábado, 31 de maio de 2014

A lição que o Brasil está prestes a dar ao mundo


 "Publicado originalmente no site Manual de Ingenuidades. O autor, Adriano Silva, é blogueiro e consultor digital. Antes, trabalhou na Abril e na Globo.

Adriano Silva, Manual de IngenuidadesDiário do Centro do Mundo  

Há um pensamento em voga entre nós: devíamos sabotar a Copa, torcer contra, colaborar para que “não haja” Copa. Isto seria a coisa cívica e correta a fazer – usar a Copa do Mundo no Brasil não para vender ao mundo uma imagem boa do país, mas, ao contrário, para revelar nossas mazelas, para admitir nossas iniquidades diante do planeta.

Isto seria um levante contra “tudo isso que está aí” – o maldito padrão Fifa que não conseguimos alcançar e que nos humilha; nossa incapacidade histórica de fazer qualquer coisa honestamente, sem cobrar ou pagar propina; a economia que não anda; nossa ineficiência estrutural e nossa leniência crônica que nunca cumprem o que promete, que perdem prazos e desrespeitam contratos; nossa falência como nação que não consegue andar para frente em tantos aspectos essenciais; nossa incompetência em superar essa fenda social profunda que nos divide há séculos em duas castas que se odeiam, às vezes em silêncio, às vezes nem tanto.


Mas sabotar a Copa funcionaria também como uma espécie de autoexpiação pública e mundial, transformando nossas questões nacionais, internas, num inesquecível fiasco global. Como se a Copa do Mundo deixasse de ser uma festa para virar uma chibata. Como se o maior evento do planeta, que nos foi confiado e que nós brigamos para receber, não representasse um momento de alegria mas sim uma oportunidade de gerar constrangimento, vergonha, decepção e má publicidade.

Sorrir virou uma assunção de cretinice. Torcer pelas cores nacionais na Copa virou um crime. Exercer o gosto pelo futebol, um traço nacional, virou coisa de gente pusilânime.

O autor
 Ao mesmo tempo, ver o Brasil mal retratado na imprensa de outros países virou uma alegria. Passamos a gostar da ideia de esfregar nossos aleijões na cara da audiência internacional – tendo especial regozijo ao ver a classe média do resto do mundo virar de lado e tampar o nariz. Adoramos jogar lama no próprio rosto.

 E convidamos os outros a nos enlamear também. Estamos torcendo para que as coisas funcionem mal, e para que tudo dê errado, e para que não consigamos fazer nada direito, para que tragédias aconteçam, para que tudo mais vá para o inferno.

Estamos vibrando com a derrocada daquilo que mais odiamos. E o que mais odiamos parece ser o Brasil. Como se o Brasil não fôssemos, tão e simplesmente, nós mesmos.

Tenho muita dificuldade de entrar nessa onda de autoimolação. E na inconsequência juvenil dessa postura “quanto pior, melhor”. Há um niilismo contido nesse pensamento, e um masoquismo meio piegas e vazio nessa proposta, um espírito de porco oco e doentio, que me desagradam profundamente. Talvez porque haja muita destruição aí – e eu seja um construtor. Talvez porque haja muita coisa prestes a ser posta abaixo, indiscriminadamente, e eu seja um criador que gosta de erguer obras. Não sou um demolidor de paredes. Então não consigo achar que botar fogo no circo com todo mundo debaixo da lona possa ser uma boa ideia. Talvez por já ter vivido fora do país, e visto o Brasil lá de fora. E por ter dois filhos brasileiros, que terão seu futuro próximo acontecendo por aqui. E por já estar vivendo meu 43. ano de vida. Já estou muito velho para achar que arrasar a terra possa facilitar o nascimento de alguma outra coisa sobre ela.

Fico imaginando esse mesmo pensamento noutros países. Cito apenas alguns. Você completa o quadro.

Na Copa de 2002, o Japão deveria, logo na abertura, fazer menção a seus crimes de guerra, que não foram poucos, pelos quais jamais se desculpou. Ou então alertar para o tratamento discriminatório até hoje imposto aos burakumin – pessoas  que exercem profissões “impuras”, como coveiros e açougueiros. Ou protestar contra a xenofobia, e o sentimento de isolamento (quando não de superioridade) racial que ainda hoje permeia a sociedade japonesa.

A Coréia, no mesmo ano, deveria denunciar seu patriarcalismo opressor e a violência doméstica contra mulheres que é uma espécie de direito adquirido dos homens por lá até hoje – quase 60% das esposas afirmam sofrer algum tipo de abuso dentro de casa.

Os Estados Unidos deveriam ter encerrado a Copa de 1994 com uma apoteose em forma de perdão pela barbaridade das duas bombas atômicas que atiraram covardemente sobre a população civil de duas cidades, em nome de um teste científico (afinal, gente amarela não é gente, né?) e de um aviso nuclear aos novos inimigos. Foram 250 000 mortos, entre crianças, mulheres, bebês, velhos, gestantes, recém nascidos. Ou então a apoteose deveria representar uma elegia às populações indígenas americanas massacradas. Ou aos mortos de todas as ditaduras que os Estados Unidos apoiaram ao longo de décadas, inclusive ensinando as melhores técnicas para “prender e arrebentar”, para vigiar e punir e esganar. Os Estados Unidos também poderiam se retirar da Copa, e também das Olimpíadas, bem como de todas as competições internacionais em que costumam brilhar, em protesto contra o fato de serem a maior economia do mundo e até hoje não terem tido a capacidade de oferecer um sistema público de saúde universal aos trabalhadores que produzem essa riqueza toda – quase 50 milhões de americanos simplesmente não tem a quem recorrer se ficarem doentes.

A África do Sul, em 2010, deveria ter alardeado sua liderança mundial em estupros – 128 estupros por 100 000 habitantes. (Ah, sim. Na Nigéria, que receberemos esse ano, o estupro marital não é considerado crime. A delegação nigeriana, composta de maridos, deveria entrar no Itaquerão empunhando essa bandeira?)

A Itália e a Espanha, as duas últimas campeãs mundiais, nem deveriam vir à Copa. Na Itália, o desemprego entre os jovens é de 38,5% – no Sul, a região mais pobre do país, a taxa é de 50%. Ano passado, 134 lojas fechavam diariamente na bota – mais de 224 000 pontos já fecharam no varejo italiano desde 2008. Na Espanha, o desemprego está batendo em 30% na população em geral. Entre os jovens, já encostou também nos 50%.

Ou seja, se fossem países sérios, Espanha e Itália não perderiam tempo e recursos participando de um evento da Fifa, essa corja internacional, e se dedicariam com mais a afinco a resolver seu problemas, que são muito graves.

 Trata-se de países à beira da bancarrota. (Só para comparar, a taxa de desemprego no Brasil, esse fim de mundo em que vivemos, é de 4,9%). Os americanos, se merecessem os hambúrgueres que comem, deveriam usar a visibilidade da Copa, já que nem gostam de futebol mesmo, para chamarem a atenção para a tremenda injustiça e para o absurdo descaso que enfrentam em seu sistema público de saúde. E, se tivessem um pingo de vergonha na cara, espanhois e italianos se recusariam a vir para a Copa, a torcer por suas seleções na Copa, e se postariam de costas para os televisores e sairiam quebrando vitrines (das lojas que ainda lhes restam) a cada gol de Iniesta ou de Balotelli. Mais ou menos como estamos planejando fazer por aqui em represália aos êxitos de Neymar e cia.

Eis a lição que o Brasil está prestes a dar ao mundo."

“TV Revolta”, o fenômeno da pregação de ódio seletivo na internet


João Vitor Almeida Lima, criador do TV Revolta, se define como um “rapaz de 30 anos indignado com o sistema”
"Por que se fala tanto da TV Revolta, página que detona os direitos humanos, os pobres, os "preguiçosos e vagabundos que dependem de programas sociais", enquanto defende Sheherazade, Bolsonaro e afaga a polícia?

Kiko Nogueira, DCM Pragmatismo Político 

“Ponha um cretino fundamental em cima da mesa e você manda ele falar, ele dá um berro e, imediatamente, milhares de outros cretinos se organizam, se arregimentam e se aglutinam”, disse Nelson Rodrigues. “O cretino fundamental raspava a parede da sua humildade e na consciência da sua inépcia. Mas, agora, conseguiram finalmente pela superioridade numérica. Porque para um gênio, você tem um milhão de imbecis.”

João Vitor Almeida Lima, sonoplasta barbudo da rede Bandeirantes, é o criador da chamada TV Revolta, que virou notícia pela quantidade de seguidores. Ele tem um canal no YouTube e uma página no Facebook com quase 3 milhões de curtidas em que o que faz é reverberar ódio patológico.

É um fenômeno de audiência. De cima de seu banquinho, Lima conseguiu reunir uma multidão de gente como ele, supostamente indignada com “tudo isso que está aí”. Aparece em vídeos babando na gravata, falando palavrões, batendo na mesa, despejando sua intolerância mortal — seletiva, claro. Há memes, ilustrações, frases, o que for, contra cotas raciais, o funk, o Bolsa Família, a saúde, a Copa.

Deságua nos Grandes Satãs: o PT, Lula e Dilma. Não entra nada, absolutamente nada, sobre nenhum outro partido.

No meio da ignorância, das ofensas e das simplificações, aparecem posts sobre cães abandonados, com ameaças aos donos que cometem essa crueldade, e frases de auto-ajuda. Lima usa um alter ego, “João Revolta”, para gravar seus depoimentos. João é, em sua descrição, um “rapaz de 30 e poucos anos indignado com o sistema global”.

Detona os direitos humanos, os pobres, os preguiçosos e vagabundos que dependem de programas sociais, enquanto defende Rachel Sheherazade, idolatra Joaquim Barbosa, afaga a polícia. Recentemente, ele afirmou que foi denunciado no YouTube e sua conta suspensa por alguns dias. Voltou mais animado ainda, desta vez alegando que foi censurado pelo governo. Governo comunista, claro.

A raiva online polui o ambiente da internet e se espalha de maneira viral. A página do Guarujá Alerta é um exemplo das consequências desse tipo de mentalidade num ambiente já envenenado. Qual o limite? O Facebook, sempre pronto a retirar do ar fotos de Scarlett Johansson, permite que abjeções como a TV Revolta continuem a mil.

Essa violência virtual é compartilhada por 3 milhões de cidadãos. Christopher Wolf, diretor de uma entidade internacional especializada em combater discursos de ódio na net, disse uma vez que o “Holocausto não começou com câmaras de gás. Tudo se inicia com palavras e estereótipos”.

Sob esse ponto de vista, a TV Revolta está no caminho certo."

Kiko Nogueira, DCM

Porque os empresários não gostam de Dilma


GGN

"O jornal "Valor Econômico" tentou entender a razão dos empresários paulistas não gostarem de Dilma Rousseff. Entrevistou 15 deles. Não se trata de uma pesquisa científica, por refletir apenas a opinião de quinze executivos de grandes empresas e por não informar sequer os segmentos em que atuam. Mas é fidedigna.

Entre as críticas principais, o fato de Dilma ter deixado de formular um projeto para o país; de ter nomeado uma equipe ministerial medíocre; de ter centralizado as decisões tirando o poder dos MInistérios; de ter abandonado as reformas estruturais.
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Não se duvida de seu espírito desenvolvimentista. Tanto que alguns deles temem que, com Aécio Neves, por exemplo, volte o padrão de FHC, de não articular nenhum forma de política industrial. Mas a maioria demonstra desconhecimento sobre o que pensam e o que fariam Aécio e Eduardo Campos.

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Dilma tem, portanto, a vantagem (para esse meio) de depender apenas dela para ganhar o jogo. É reconhecida como desenvolvimentista, séria, patriota e bem intencionada. Mas com uma teimosia e uma insensibilidade política tal, que gera ou desânimo ou revolta.

O último voluntarista que morou no Planalto foi Itamar Franco. Apesar de um ser humano agradabilíssimo, um tio neurastênico e querido, a irracionalidade de sua teimosia gerava um desânimo profundo.

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Como as críticas contra ela não são de fundo, mas de forma, esperar-se-ia que, mudando o estilo, Dilma pudesse ser melhor aceita. Mas o dado mais desanimador da pesquisa é que apenas 3 dos 15 entrevistados acreditam em um segundo governo Dilma melhor que o primeiro.

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Esse mesmo sentimento de desânimo é compartilhado por outros setores da sociedade e até mesmo pelos corpos técnicos do governo - sempre dispostos a abraçar grandes causas legitimadoras. Até agora, Dilma não deu o menor sinal de que entendeu as vulnerabilidades gerenciais de seu estilo de governar.

Esta semana, por exemplo, assinou um conjunto de decretos institucionalizando comissões de cidadãos para ajudar a opinar em temas ligados às políticas sociais. Poderia ser um grande avanço para aprofundar a democracia social.

Qual o significado desse gesto? Com toda sinceridade, nenhum. Em momentos críticos, de desgaste, Dilma apelou recorrentemente para encontros com empresários, sindicalistas e até líderes de movimentos sociais. Mas foram encontros sem continuidade, como se bastasse a mera honraria de serem recebidos pela Presidente da República para aplacar mágoas e desesperanças.
Esse método não cola mais.

Se quiser recuperar legitimidade, fazer renascer as esperanças para um segundo mandato mais profícuo, Dilma terá que avançar muito mais. Terá que dar mostras efetivas de que a Dilma racional conseguiu dominar a fera teimosa que habita dentro dela. Que o voluntarismo, que a fez colocar em xeque desde o modelo elétrico até políticas de inclusão de crianças com deficiência, pertencerá efetivamente ao passado.

Terá que mostrar intolerância para com os auxiliares medíocres, entender a necessidade de montar um Ministério com oficiais generais, e não com cabos e sargentos que não sabem dizer não."

O avanço da democracia social, no decreto de Dilma

Quando Dilma Rousseff atropelou quinze anos de luta pela inclusão de crianças com deficiência na rede pública, ignorou os avanços que permitiram atender a 800 mil crianças pelo Ministério da Educação, desprezou a resolução da Meta 4 do Plano Nacional de Educação (PNE) - que mantinha a obrigatoriedade do ensino regular às crianças com deficiência - e pressionou pessoalmente senadores da base aliada para mudarem o texto, privilegiando a política inclusiva, segregacionista das APAEs (Associação de Pais e Alunos de Excepcionais) confesso que bateu um desânimo profundo em relação ao seu governo. 
Não existe nada de mais republicano na vida de um país do que a construção social, aquelas pequenas sementes de modernização que, plantadas, começam a germinar, vão gradativamente conquistando corações e mentes, vencendo pelo poder dos argumentos os interesses estratificados, até se tornarem políticas públicas.
Foi o que ocorreu com a educação inclusiva, tema tão relevante quanto o da saúde - outra bandeira negligenciada por Dilma em seu apoio anacrônico ao confinamento de doentes mentais.
Foi uma luta árdua, que passou pelo convencimento inicial do ex-Ministro da Educação Paulo Renato, pelo trabalho decisivo de Fernando Haddad, pela criação de Secretaria no âmbito do MEC que representa dignamente a bandeira. Tudo isso culminando em um dos grandes feitos sociais da década - pelo visto, completamente ignorado por Dilma: o atendimento de 800 mil crianças com deficiência pela rede pública regular, com apoio pedagógico do MEC, graças ao princípio de tratar a inclusão escolar como direito fundamental da criança.
Dilma atropelou todas essas lutas, a decisão de 800 mil professores reunidos na Conferência Nacional de Educação, o trabalho de quase uma década do MEC, exclusivamente para atender a um pedido pessoal de sua amiga Gleize Hoffmann, pré-candidata ao governo do Paraná, e que temia ser alvo de chantagens emocionais das APAEs - que seu adversário, vice-governador Flávio Arns (PSDB) tão bem sabe manipular. Graças à sua interferência abriu-se a brecha para o absurdo das APAEs - que deveriam atuar como apoio às crianças na rede escolar - também ministrarem cursos regulares, um conjunto de crianças com deficiência excluídas do direito de se integrarem à sociedade.
Foi esse ceticismo que me impediu de apreciar melhor o avanço representado pelo Decreto no. 8.243, de 23 de maio passado, pelo qual Dilma institui a Política Nacional de Participação Social e o Sistema Nacional de Participação Social.
Dou a mão à palmatória. Se não redime Dilma de seus pecados na área social, ao menos serve de alento. É possível, a partir do decreto, que finalmente se passe a cumprir o preceito constitucional da democracia participativa, e que as decisões das conferências nacionais e das demais formas de participação não sejam mais atropeladas por governantes, como foi o episódio da Meta 4.
As formas de participação
O decreto conceitua, inicialmente, os diversos instrumentos de democracia participativa
conselho de políticas públicas - são instâncias colegiadas permanente, permitindo diálogo entre governo e sociedade civil e participação decisória e na gestão de políticas públicas.
comissão de políticas públicas - são criadas para objetivos específicos, com prazo de funcionamento vinculado ao cumprimento de seus objeivos.
conferência nacional - prevista da Constituição de 1988, são precedidas de conferências municipais e estaduais com participação de todas as instâncias de governo, visando propor diretrizes e ações acerca do tema tratado;
ouvidoria pública federal - instância de controle e participação social responsável pelo tratamento das reclamações, solicitações, denúncias, sugestões e elogios relativos às políticas e aos serviços públicos;
mesa de diálogo - mecanismo de debate e de negociação com a participação dos setores da sociedade civil e do governo em episódios de conflito social;
fórum interconselhos - mecanismo para o diálogo entre representantes dos conselhos e comissões de políticas públicas intersetoriais;
audiência pública - mecanismo participativo de caráter presencial, consultivo, aberto a qualquer interessado, com a possibilidade de manifestação oral dos participantes, cujo objetivo é subsidiar decisões governamentais;
consulta pública - mecanismo participativo, paz receber contribuições por escrito da sociedade civil sobre determinado assunto, na forma definida no seu ato de convocação; e
ambiente virtual de participação social - mecanismo de interação social que utiliza tecnologias de informação e de comunicação, em especial a internet, para promover o diálogo entre administração pública federal e sociedade civil.
A implementação da política
O ponto central do decreto foi o de definir uma estratégia de ampliação dessa política. Primeiro, instituindo formas objetivas de assimilação dos conceitos pelos órgãos públicos federais. Depois, a possibilidade de apoio pedagógico a convênios com estados e municípios, para ampliar essa política.
Trata-se do mesmo modelo que leva empresas públicas a criarem conselhos de consumidores. Daí meu espanto com o alarido promovido por jornais como o Estadão, afirmando que esse tipo de participação desmoraliza os legítimos representantes do povo: deputados e senadores eleitos pelo voto popular.
Compete ao Congresso aprovar leis; ao Executivo definir as políticas públicas. A criação de conselhos participativos significará uma outra forma de controle sobre o setor público. É preciso falta de informação e excesso de ideologia para confundir os propósitos dessa maneira. Ou o Estadão, de repente, tornou-se defensor da participação dos políticos na gestão pública, no aparelhamento da máquina, nos acordos espúrios da nossa democracia de coalizão?
Além de definir as condições mínimas para o funcionamento de cada instância participativa, o decreto impõe a democracia participativa a todos os órgãos e entidades da administração federal direta e indireta. Define a necessidade de conselhos partidários, da ampla publicidade das medidas e formas de acompanhamento da implementação das sugestões levantadas.
Cada órgão deverá elaborar relatórios anuais sobre a maneira como atuou. E esses relatórios serão monitorados pela Secretaria-Geral da Presidência da República.
Será um trabalho árduo, de construção, de vencer os interesses estratificados na máquina pública, os acordos políticos. A peça central será a fiscalização dessas políticas pela opinião pública, através das redes sociais.
PS - Pessoal, ajudaria na discussão deixar de lado chavões sobre decretos. Ou ao menos entender o que se está escrevendo. 
Decreto é espúrio quando avança sobre matérias do legislativo, como criar obrigações. Quando é para organizar a casa (isto é, o Executivo) decreto é o instrumento de que dispõe a Presidência. Não existe outro. E esses decretos visam unicamente organizar o sistema de decisões do Executivo. 

quinta-feira, 29 de maio de 2014

A ingratidão do brasileiro com a empregada doméstica

por : 

empregada_anastasia

O perfil @AMinhaEmpregada está denunciando o preconceito que uma parcela da classe média tem em relação às empregadas domésticas.  A compilação de tuítes mostra preconceito de classe e de cor e outro elemento sutil: a ingratidão.
Herança do nosso passado escravocrata, o costume de manter uma empregada doméstica ou contratar faxineiras é praticamente instituição nacional. Não há família, a partir da classe média baixa, que em algum momento não tenha usado os serviços de uma delas.
Embora onipresente nos lares brasileiros e aliada na emancipação da mulher mais instruída ao liberá-la dos afazeres domésticos e auxiliá-la na criação dos filhos, a figura da empregada doméstica não conquistou respeito no imaginário brasileiro.
Não há uma heroína doméstica ou faxineira na literatura nacional nem uma bela música enaltecendo seu trabalho.  Janaína, do Biquini Cavadão, tenta, mas soa como lamento piedoso de um patrão sensível.
Nem mesmo Roberto Carlos, até onde sei, compôs uma, embora tenha no repertório músicas para mulheres de óculos, baixinhas, gordinhas, quarentonas, negras e até madrastas. Olha que uma parte do seu sucesso deve-se a uma ex-empregada doméstica, a compositora Helena Santos.
Este desprezo não é exclusividade do Brasil. Em março, no Lollapalooza Chile, alguns espectadores chamaram em tom de insulto a rapper Ana Tijoux de “cara de nana”, algo como cara de empregada. Seguiram-se protestos e comoção pela internet contra a ofensa racista e classista.
Então um rapaz chamado Emmanuel Ortega Villagrán colocou as empregadas do seu país no devido lugar ao escrever uma carta aberta que viralizou pela rede. Traduzo livremente um trecho:
A mídia achou terrível, inaceitável que Anita Tijoux fosse chamada dessa maneira, mas quero ir além. Desde quando ser “nana” é um insulto? Me pergunto  por que vejo essa “cara de nana” todos os dias em minha mãe, quando ela chega de seu trabalho. 
Essa mesma cara que você viu tantas vezes e que estava com você enquanto seus pais trabalhavam para poder lhe dar viagens ao Brasil, passeios em estações de esqui e as entradas para o Lollapalooza.
Essa “cara de nana“ que em alguns casos te conhece melhor que seus próprios pais, essa “cara de nana” conhece seus gostos, suas frustrações e até sabe sua cor preferida, a comida que te encanta. (…)
Esse papel que é dos seus pais, uma “cara de nana” representa muito bem e com orgulho. Sabia que essa mulher chega em casa contando a suas proezas e que está orgulhosa de você? E que ela sempre te deseja o melhor em tudo, apesar das besteiras de filhinho de papai que você tem feito. 
Por isso peço que você pense bem, não sou ninguém para julgá-lo, mas acho que Ana Tijoux deveria sentir-se lisonjeada, e a mídia deveria dar esse enfoque, porque essa “cara de nana”, essa cara que prepara seu café da manhã e passa as suas roupas, essa é a cara mais bonita que há neste país. E eu dou graças à vida por ver essa cara em minha mãe, que com muito esforço e trabalhando de nana conseguiu criar os filhos. Se esta carta te ofende, peço desculpas mas suponho que alguém deveria dizer isso.
É o sentimento de respeito exposto nesta carta que a classe média deveria cultivar em relações às trabalhadoras do lar, em vez de agir como as sinhás e os nhonhôs dos tempos da Casa Grande. Com a diferença que agora os impropérios são disparados pelo twitter.
Sugado do: http://www.diariodocentrodomundo.com.br/a-ingratidao-do-brasileiro-com-a-empregada-domestica/

O festival de obscenidades que inunda o país


                                                                                                                                                                                                                                                                                                As mentiras se multiplicam nas redes sociais para enganar quem ainda não decidiu seu voto na eleição presidencial.
Espalham as maiores barbaridades sobre Lula, Dilma e o PT.
A internet substitui as publicações apócrifas de tempos atrás e os profissionais da boataria.
A oposição monta grupos bem treinados e pagos, que manipulam exércitos de robôs para inundar a rede com toda a espécie de lixo difamatório.
É a nova face da guerra eleitoral.
Para tanto, além das redes sociais, são usadas as caixas de comentários de praticamente todos os portais noticiosos, sites e blogs que tratam de política.
Empresas como Globo, Folha e Estadão se prestam a disseminar mensagens de ódio e preconceito explícitas.

Qualquer pessoa normal que cai num desses recantos fica chocada com a violência ali contida, com os crimes flagrantes que elas pregam.
Impressiona como grupos de comunicação tão importantes não só permitem como ajudam a disseminar essas monstruosidades.
Impressiona também como a Justiça se mantém alheia a tais absurdos.
Uma campanha eleitoral deveria ser de outro tipo.
Os candidatos deveriam dizer aos eleitores o que pretendem fazer para melhorar o país caso se elejam.
Poderiam até criticar as idéias dos adversários - mas nunca a pessoa do adversário, como se, pelo fato de ele ser gordo, careca, mulher, negro, pobre, ateu, divorciado, homossexual ou usar óculos fosse algo que o diminuísse como pretendente a ocupar um cargo político público.
Tudo indica, porém, que a campanha eleitoral é o momento propício para que algumas pessoas extravasem toda a sua patologia.
Se for assim mesmo, até que dá para tirar uma boa lição desse festival de obscenidades que vive o Brasil.
Dá, por exemplo, para concluir que um candidato, ou um partido, que utiliza essa tática para conseguir votos não vai fazer muito diferente disso quando estiver no poder.
É tudo uma questão de caráter.
E de oportunidade.
O país está inundado de exemplos de gente assim, que se elegeu por meio de estratagemas sórdidos. 
Será que o mundo se corrompeu tanto que é tão difícil reconhecer a honestidade e as boas intenções? 
http://cronicasdomotta.blogspot.com.br/2014/05/o-festival-de-obscenidades-que-inunda-o.html

Como nascem os preconceitos


Frei Betto,Correio da  Cidadania / Envolverde

"García Márquez, em Doze contos peregrinos, conta a história de um cachorro que, todos os domingos, era encontrado no cemitério de Barcelona, junto ao túmulo de Maria dos Prazeres, uma ex-prostituta.

Com certeza se inspirou nas histórias reais de Bobby, um terrier de Edimburgo, Escócia, que durante catorze anos guardou o túmulo de seu dono, enterrado em 1858. Pessoas comovidas com a sua fidelidade cuidavam de alimentá-lo. O animal foi sepultado ao lado e, hoje, há ali uma pequena escultura dele e uma lápide, na qual gravaram: “Que a sua lealdade e devoção sejam uma lição para todos nós.”

Em Tóquio, ergueram também uma estátua, na estação Shibuya, em homenagem a Hachiko, cão da raça Akita que todos os dias ali aguardava seu dono retonar do trabalho. O homem morreu em 1925. Durante onze anos o cachorro foi aguardá-lo na mesma hora em que ele costumava regressar. Hoje, a estação tem o nome do animal.

Cães e seres humanos são mamíferos e, como tal, exigem cuidados permanentes, em especial na infância, na doença e na velhice. Manter vínculos de afeto é essencial à felicidade da espécie humana. A Declaração da Independência dos EUA teve a sabedoria de incluir o direito à felicidade, considerada uma satisfação das pessoas com a própria vida.

Pena que atualmente muitos estadunidenses considerem a felicidade uma questão de posse, e não de dom. Daí a infelicidade geral da nação, traduzida no medo à liberdade, nas frequentes matanças, no espírito bélico, na indiferença para com a preservação ambiental e as regiões empobrecidas do mundo.

É o chamado “mito do macho”, segundo o qual a natureza foi feita para ser explorada; a guerra é intrínseca à espécie humana, como acreditava Churchill; e a liberdade individual está acima do bem-estar da comunidade.

O darwinismo social é uma ideologia cujos hipotéticos fundamentos já foram derrubados pela ciência, em especial a biologia e a antropologia. Basta ler os trabalhos do pesquisador Frans de Waal, editados no Brasil pela Companhia das Letras. Essa ideologia foi introduzida na cultura ocidental pelo filósofo inglês Herbert Spencer, que no século XIX deslocou supostas leis da natureza, indevidamente atribuídas a Darwin, para o mundo dos negócios.

John D. Rockfeller chegou ao ponto de atribuir à riqueza um caráter religioso ao afirmar que a acumulação de uma grande fortuna “nada mais é que o resultado de uma lei da natureza e de uma lei de Deus.”

Na natureza há mais cooperação que competição, afirmam hoje os cientistas. O conceito de seleção natural de Darwin deriva de sua leitura de Thomas Malthus, que em 1798 publicou um ensaio sobre o crescimento populacional.

Malthus afirmava que a população que crescer à velocidade maior que o seu estoque de alimentos seria inevitavelmente reduzida pela fome.

Spencer agarrou essa ideia para concluir que, na sociedade, os mais aptos progridem à custa dos menos aptos e, portanto, a competição é positiva e natural. E os que são cegos às verdadeiras causas da desigualdade social alegam que a miséria decorre do excesso de pessoas neste planeta, e que medidas rigorosas de limitação da natalidade devem ser aplicadas.

Nem Malthus nem Spencer se colocaram uma questão muito simples que, em dados atuais, merece resposta: se somos 7 bilhões de seres humanos e, segundo a FAO, produzimos alimentos para 12 bilhões de bocas, como justificar a desnutrição de 1,3 bilhão de pessoas? A resposta é óbvia: não há excesso de bocas, há falta de justiça.

Quanto mais são derrubadas barreiras entre classes, hierarquias, pessoas de cor de pele diferente, mais os privilegiados e seus ideólogos se empenham em busca de possíveis justificativas para provar que, entre humanos, uns são naturalmente mais aptos que outros.

Outrora os nobres eram considerados uma espécie diferente, dotada de “sangue azul”. Como quase não tomavam sol e tinham a pele muito branca, as veias das mãos e dos braços davam essa impressão.

Com a Revolução Industrial, gente comum se tornou rica, superando em fortuna a nobreza. Foi preciso então uma nova ideologia para tranquilizar aqueles que galgam o pico da opulência sem olhar para trás. “Que o Estado e a Igreja cuidem dos pobres”, insistiam eles. E tão logo o Estado e a Igreja passaram a dar atenção aos pobres (e é bom frisar, sem deixar de cuidar dos ricos, que o digam o BNDES e a Cúria Romana), como no caso do Estado de bem-estar social, do socialismo e da Teologia da Libertação, os privilegiados puseram a boca no trombone, demonizando as políticas sociais, acusadas de gastos excessivos, e a “opção pelos pobres” da Igreja. Preconceitos e discriminações não nascem na natureza. Brotam em nossas cabeças e contaminam as nossas almas.

* Frei Betto é escritor e assessor de movimentos sociais.

** Publicado originalmente no site Correio da Cidadania.

"Criatividade é como lavar um porco. É confuso e não tem regras"


David Ogilvy (Reprodução/web)
Redação, Adnews

"A tecnologia evoluiu, as mídias se reinventaram, as pesquisas estão cada vez mais completas, o big data está aí e os métodos e processos de gestão estão cada vez mais afinados. Entretanto, na propaganda, nada é tão decisivo e importante quanto a criatividade. É ela que desequilibra o jogo, ganha prêmios e posiciona os anunciantes no tal “share of mind” do público. 

Confira o que 10 publicitários lendários pensam sobre esse verdadeiro tesouro para as marcas, agências e até pelo público:

"Nada vem do nada. Você deve alimentar continuamente a besta interior que te inspira e causa faíscas." - George Lois, cofundador da Lois, Holanda, Callaway.

“Criatividade é como lavar um porco. É confuso e não tem regras, nem começo, meio ou fim. É um pé no saco, e quando você estiver pronto, você não tem certeza se o porco realmente está limpo ou até mesmo por que você está lavando um porco." - Luke Sullivan, autor do livro "Hey, Whipple, Squeeze This", considerado uma espécie de guia para criativos em todo o mundo.



 “Todo mundo nasce criativo, mas poucos continuam. Até porque dá muito trabalho, e o ser humano, além de nascer criativo, também nasce preguiçoso. Mas, criatividade se treina. Eu me concentro com enorme facilidade. Tenho um templo budista dentro do cérebro que, se necessário, pode ser acionado num Maracanã em dia de Fla-Flu.”, Washington Olivetto, chairman da WMcCann.

 "Uma ideia pode virar pó ou magia, dependendo do talento de quem entra em contato com ela." -  Bill Bernbach, cofundador da Doyle Dane Bernbach.

"Ideias criativas florescem melhor num lugar que preserva algum espírito de diversão. Ninguém está nos negócios por diversão, mas isso não significa que o negócio não pode ser divertido." - Leo Burnett, fundador da hoje Leo Burnett Worldwide.

"Se você tem algo realmente valioso para contribuir com o mundo, esse algo virá através da expressão de sua própria personalidade, aquela centelha da divindade única, que você joga para fora e que te faz diferente de todos os outros seres vivos." - Bruce Fairchild Barton, cofundador da Batten, Barton, Durstine & Osborn.


“A maioria das ideias são um pouco assustadoras. E se não são assustadoras, não são ideias”, Lee Clow, Chairman da TBWA\Worldwide.

"Só porque você pode fazer algo, isso não significa que você precise fazer. A restrição é algo que eu admiro. No final do dia, ainda é uma batalha entre o bem contra o lixo.” - David Droga, fundador da Droga5.


"As melhores ideias vêm como piadas. Faça seu pensamento o mais engraçado possível." - David Ogilvy, fundador da Ogilvy & Mather.

"Criatividade e inovação servem para encontrar soluções inesperadas para problemas óbvios, ou encontrar soluções óbvias para problemas inesperados. Devemos usar a nossa criatividade para oferecer melhores empresas e soluções.", Rei Inamoto, chefe de criação da AKQA.
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Com informações do Business Insider

Qual é o seu propósito de vida?


Silvia Marcuzzo, Mercado Ético / Envolverde

'Gremistas X colorados, direita X esquerda, essa visão preto e branco do mundo é, digamos assim, um tanto enraizada em boa parte das cabeças do Rio Grande do Sul. Até aí, nenhuma novidade. O grande desafio é viver em um lilás caminho do meio. Desde a semana passada, o coach Gabriel Carneiro da Costa em sua palestra “O Impacto de um Propósito”, mostrou outra conotação desse universo bipolar.

Para o ex-dono de agência de publicidade, as pessoas são divididas em duas tribos: a turma do Eike Batista e a turma do Gandhi. Os primeiros só pensam em ganhar dinheiro. O tempo é regido sob a égide de que tudo conta para se faturar mais. Já os adeptos do líder pacifista dão pouco valor às “verdinhas”, coisas afins e nem estão afim desse “debate”.

Costa, que descobriu relativamente há pouco tempo a importância de transitar nesses dois mundos, provocou a plateia do teatro da Associação Médica do Rio Grande do Sul: é possível juntar esses interesses? “É legal ser iluminado no alto da montanha, mas quando volto para a Ipiranga (grande avenida, onde passa o arroio Dilúvio, a “marginal” de Porto Alegre), quem eu quero ser?

Talvez esse seja o grande desafio da vida. Ele argumenta o quanto é importante não desistir do sonho e, ao mesmo tempo, não ter vergonha de ganhar dinheiro. E o caminho para cada um encontrar a sua resposta ele dá algumas pistas: “Que perdas se está disposto a fazer para conseguir isso? Que caminho eu quero percorrer? Quem eu quero ser?” As respostas é que definirão a gestão a ser tomada.

Gabriel revelou que geralmente esses questionamentos surgem depois dos 40. E contou histórias no mínimo instigantes. Um sujeito confessou ter 100 milhões no banco mas que não era feliz. De gente que de tinha sucesso profissional, mas que não conhecia o filho de 15 e nem a mulher que havia casado. E deu mais exemplos. Uma pesquisa do Instituto Betânia mostrou que 87% dos presidentes de grandes empresas se declararam infelizes.

O autor do livro O encantador de pessoas deu alguns conselhos, que, acredito, se nós tentarmos fazer nem que seja uma parte, a nossa consciência pode se expandir para a descoberta da nossa missão. Ele lembrou de quando aprendemos a dirigir um carro. No começo, era fácil apagar, era difícil administrar embreagem, freio e acelerador. Mas com o tempo, o que era sufoco vira automático.

Por isso, ele sugere treinos para se ter uma vida mais leve. Eis alguns pensamentos do life coach:

O caminho tem que ser tão prazeroso quanto o destino.

Pare de pensar que é especial, seja especial!

O dinheiro traz prazer, mas uma vida com propriedade traz felicidade.
A carreira só tem valor quando faz sentido.

Bons amigos mudam a energia presente.

O amor é que sustenta a jornada.

Não delegue sua vida aos outros.

Desconfie de conselhos que podem te trazer problemas. Faça a coisa certa.
Tesão só surge com permissão.

Trabalhe vivendo, mas não viva trabalhando.

Então tá. Anotei. Até agora estou digerindo. Tomara que eu absorva tudo, e esses preceitos entrem no automático. Pois se tem uma coisa que procuro é estar sempre aberta para o aprendizado. Nem que seja para ouvir coisas que a idade ensina, mas que nas curvas da vida, as vezes, nós esquecemos.

Saí do encontro fazendo outra analogia da divisão das tribos. A de desenvolvimentista e a de ambientalistas. Creio que o grande salto na nossa civilização será quando ambos se entenderem numa relação ganha-ganha. Mas isso seria possível? A única coisa que podemos mudar, de fato, somos nós mesmos. E concluiu com um alerta: muito cuidado com as emoções. Elas são rápidas, o resto é memória. A questão chave é sabermos se estamos colocando a energia no que realmente importa."

* Silvia Marcuzzo é jornalista e trabalha a temática socioambiental desde 1993. Já transitou em diversos “ecossistemas” e arranjos energéticos do jornalismo. Ao passar por assessorias de ONGs, governos e consultorias para empresas, em Porto Alegre, São Paulo e Brasília, sempre manteve a convicção de que é possível melhorar a relação entre os “ambientes” e a comunicação. Por isso, fundou a ECOnvicta Comunicação para Sustentabilidade.

Os meios de comunicação preferidos dos brasileiros

"Pesquisa ibope apresenta péssimo resultado para as revistas. Em último lugar na preferência do público, as revistas também são consideradas menos confiáveis do que os jornais. TV e internet lideram

Pragmatismo Político 

A velha pergunta sobre se a mídia impressa irá acabar diante do crescimento da internet tem agora uma resposta atualizada: as revistas estão morrendo aos olhos da multidão.

Das semanais de informação às ilustradas repletas de fotos, as revistas formam o segmento derrotado pelos números da pesquisa Ibope, divulgada pela Secretaria de Comunicação Social, sobre hábitos de consumo de mídia do público brasileiro.

Entre as preferências sobre meio de comunicação, as revistas ficam num humilhante último lugar, com apenas 0,3% de indicações e, fator vexatório, atrás até mesmo da difusa opção por outras (0,8%). O primeiro lugar no ranking das preferências é a televisão, com 76,4%, mas a grande vitoriosa na pesquisa é a internet. Caçula das mídias sociais, ela já ultrapassou o rádio (7,9%), de acordo com o levantamento, para instalar-se no segundo lugar com 13,1%. Os jornais, de muito, ficaram para trás, hoje com somente 1,5% de indicações como midia preferida do público. Repita-se: um e meio por cento.

Não houve críticas à pesquisa. Os barões da mídia tradicional e familiar preferiram capturar pedaços dela para interpretação em lugar de questionar os resultados. Melhor assim. Afinal, trata-se do mais profundo levantamento realizado sobre o tema. Entre outubro e novembro de 2013, 200 pesquisadores aplicaram 75 perguntas a 18.312 brasileiros em 848 municípios.

Os jornais de 1,5% de preferências destacaram que detêm a liderança em credibilidade. Além disso, 53% dos leitores de jornais afirmaram confiar nas notícias publicadas neles – e aparece aqui mais um ponto negativo para a revistas. É o rádio o veículo que fica em segundo posto em credibilidade, com 50% de indicações de confiança entre seus usuários, contra 49% para o televisão pelos que a assistem. Só então o índice de confiança de leitores do veículo analisado chega às revistas, com 40%.

Entre os meios pesquisados, a revista é o que tem a menor presença no dia-a-dia dos brasileiros. De acordo com os resultados sobre frequência de uso, apenas 1% dos entrevistados leem este meio todos os dias, enquanto 85% afirmam que não costumamler ou nunca leem revistas impressas. Se considerado o fato de que, em geral, as revistas impressas têm edições semanais, ainda assim a frequência se mantém baixa, pois apenas 7% dos entrevistados afirmam ler revista uma vez por semana ou mais.

A internet e o rádio são meios de comunicação muito presentes na vida das pessoas, ainda que em menor grau: 61% têm o costume de ouvir rádio e 47% têm o hábito de acessar a internet.

Nada menos que 97% dos entrevistados afirmaram ver TV, um hábito que une praticamente todos os brasileiros, com independência de gênero, idade, renda, nível educacional ou localização geográfica.

Já a leitura de jornais e revistas impressos é menos frequente e alcança, respectivamente, 25% e 15% dos entrevistados. Não há mesmo boas notícias para as revistas nesta pesquisa do Ibope – o que ajuda a entender a crise vivida por empresas como a Editora Abril."

quarta-feira, 28 de maio de 2014

Vamos ter Copa, sim, e protestos agora ficaram patéticos


Ricardo Kotscho, Balaio do Kotscho

"Com apenas um protesto contra a Copa marcado para esta terça-feira, em Brasília, a onda de manifestações vai-se esvaziando, a cada dia de forma mais melancólica, mostrando que a maioria da população brasileira, que ama o futebol e não mistura seleção com política, não quer mais saber de baderna.

Vamos ter Copa do Mundo no Brasil, sim, apesar da urubuzada que sobrevoou o país nestes últimos meses e infernizou a vida de quem mora nas grandes cidades. Felipão e seus 23 convocados já estão concentrados na Granja Comary, em Teresópolis, só esperando o início jogo de estreia do Brasil contra a Croácia, no Itaquerão, daqui a 16 dias.

Foram patéticos os últimos protestos organizados pela turma do quanto pior, melhor, cada vez menores e mais radicais, a ponto de tentarem impedir a saída do ônibus da seleção que seguiu ontem do Rio para Teresópolis e, depois, a sua entrada na Granja Comari.

Empunhando bandeiras do Sindicato dos Profissionais de Educação e de partidos radicais da esquerda sem votos, um grupo de 200 professores xingou os jogadores que saiam do hotel próximo ao Galeão e chutaram o ônibus aos gritos de "pode acreditar, educador vale mais do que o Neymar". O que tem uma coisa a ver com a outra? Que direito estes vândalos travestidos de educadores têm de impedir a passagem de quem quer que seja? Outros 30 gatos pingados e irados se postaram diante dos portões da concentração em Teresópolis.

No último final de semana, em São Paulo, tivemos duas marchas que, mais uma vez, fecharam a avenida Paulista. Não são mais necessárias multidões nem grandes causas populares para interditar a principal via da maior cidade do país. De manhã, no sábado, foi a vez da autodenominada "marcha das vadias", em que mulheres desfilaram com os seios nus apesar do frio e da garoa; à tarde, apareceu um bando contra a Copa e contra tudo, que fez o mesmo trajeto, interditando ruas em direção ao centro. Em cada uma, não havia mais do que 300 "protestantes" nesta cidade de mais de 10 milhões de habitantes. Quem essa gente representa?

Diante do fracasso das manifestações anunciadas em larga escala pela mídia grande, ficamos sabendo que, há duas semanas, veio até um reforço do exterior. "Um grupo de cerca de cem ativistas, entre eles barbudos, mocinhas universitárias, skatistas e até rapazes com cara de advogado assistiam sem piscar à palestra do moço magrinho que tentava ensinar como mudar o mundo", relata Silas Martí, da "Folha".

O moço magrinho era um tal de Sean Dagohoy, do coletivo americano Yes Man, que deu uma "oficina de ativismo" no  Centro Cultural de São Paulo, para ensinar os nativos, durante três horas, a "pensar em ações de protesto contra o Mundial de futebol". Dagohoy ainda advertiu seus alunos que não poderia se responsabilizar pela "eventual brutalidade daqueles que estão no poder".

Era preciso informar ao ativista gringo que as maiores brutalidades a que assistimos nos últimos meses não partiram dos que estão no poder, mas de grupos de black blocs e outros celerados que se aproveitavam das "manifestações pacíficas" para afrontar a polícia, depredar patrimônio público e privado, saquear lojas, tacar fogo em ônibus.

Derrotados, eles podem voltar a qualquer momento, e todo cuidado é pouco. Que a bola comece logo a rolar para a gente poder mudar de assunto. Os nobres parlamentares brasileiros, por exemplo, já estão dando sua contribuição, ao anunciar que só vão trabalhar durante seis dias durante toda a Copa. Menos mal.

Agora é com você, Felipão!"

Empresários se engajam no "que horror de país!"


O governo federal tornou permanente a desoneração da folha de pagamento para 56 setores da indústria, serviços e comércio. A medida era um pleito dos empresários, que com ela terão menos despesas. A renúncia fiscal será de cerca de R$ 20 bilhões neste ano. Pagar menos tributos é um dos maiores desejos do empresariado. Produzir e vender mais, ter à sua disposição um mercado consumidor grande e ainda em crescimento, assim como muito crédito barato para financiar seus projetos, também fazem parte de um cenário positivo para os "empreendedores" nativos.
Eles, porém, fazendo coro com a turma do contra, aquela que diz que o Brasil está um horror, não estão satisfeitos.
Tudo bem que os empresários são os maiores chorões do universo, nunca estão contentes com nada, se lucram R$ 1 bilhão reclamam porque acham que deveriam lucrar o dobro.
Sempre foi assim.
Eles a vida toda se queixaram por ter de pagar impostos - e até por ter de pagar salários!

Mas nessa vontade absurda de ajudar a defenestrar o governo trabalhista do Palácio do Planalto, por ver nele não o aliado que tem sido nesses anos todos, mas um perigoso inimigo que tem de ser derrotado, estão exagerando.
Um bom exemplo disso é o último Índice de Confiança da Indústria (ICI), calculado pelo Instituto Brasileiro de Economia (Ibre) da Fundação Getulio Vargas (FGV), que apresentou queda de 5,1% em maio sobre abril, passando de 95,6 para 90,7 pontos, na pior marca desde dezembro de 2008 (-9,2%). 
O nível está bem abaixo da média histórica (105,5 pontos) apurada na pesquisa Sondagem da Indústria de Transformação. 
Os entrevistados manifestaram-se mais pessimistas tanto em relação ao momento atual quanto ao desempenho previsto no curto prazo. 
Houve recuos de 5,1% no Índice da Situação Atual (ISA) que atingiu 92,3 pontos, e de 5% no Índice de Expectativas (IE) com 89,2 pontos.
Para 8,3% dos consultados, a demanda do mercado está forte – proporção inferior à medição passada (11,5%). Os que classificaram a demanda como fraca passaram de 17,3% para 21%. 
Quanto à avaliação sobre o que os industriais esperam para os próximos três meses, o indicador apontou a quarta redução seguida, de 7%, no mais baixo nível desde 2009 (100,3 pontos). 
Das 1.219 consultadas, 22,4% disseram que acreditam em aumento da produção ante 27,1% que tinham essa mesma opinião, em abril. 
Já a parcela que prevê uma produção menor cresceu de 12% para 15,3%.
E agora vem o detalhe que contradiz todo esse lenga-lenga: o levantamento mostra ter ocorrido um aumento no Nível de Utilização da Capacidade Instalada (Nuci), de 84,1% em abril para 84,3% em maio.
Ou seja, não só estão reclamando de barriga cheia, como mostram que são mentirosos.
Sugado do: http://cronicasdomotta.blogspot.com.br/2014/05/empresarios-se-engajam-no-que-horror-de.html