sexta-feira, 10 de novembro de 2017

Socialismo seria igual a sovietes mais inteligência artificial?


Em “A Revolução Traída”, Trotsky lembra que Lênin definiu o socialismo como “o poder dos sovietes mais eletrificação”:

Esta definição em forma de epigrama, cuja estreiteza respondia a fins de propaganda, supunha em todo o caso, como ponto de partida mínimo, o nível capitalista da eletrificação.

Realmente, naquele momento, ao lado do petróleo, a eletricidade era o que havia de mais avançado. Apropriar-se de tais tecnologias era fundamental para Lênin. Mas desde que sob controle do poder democrático dos trabalhadores através de seus conselhos, os sovietes.

Agora, troquemos a grande novidade tecnológica daquela época pela maior inovação de nossos dias. Não se trata da robotização, que faz parte da vida produtiva há décadas, mas da robotização inteligente.

O principal insumo da inteligência artificial é o “big data”. Sem este imenso conjunto de informações não haveria como dotar as máquinas de comportamento inteligente.

Além disso, o gerenciamento adequado dessa imensidão de dados pode revelar informações detalhadas e valiosas sobre praticamente qualquer esfera da atual vida humana.

É o conjunto da sociedade que produz esses dados gratuitamente. Principalmente, por redes virtuais, consumo, uso de serviços, etc. Manipular o big data, porém, exige recursos que estão ao alcance de apenas alguns gigantes econômicos.

O proletariado russo só conseguiu dominar as fontes de energia elétrica após tomar o poder. E quanto a nós, podemos esperar pela tomada do poder para conquistar políticas que coloquem, por exemplo, o big data a serviço de nossas lutas e objetivos?

A resposta mais provável é não. Se não lutarmos por controles democráticos desse tipo de recurso desde já, a tomada do poder jamais virá.

http://pilulas-diarias.blogspot.com.br/2017/10/socialismo-e-igual-sovietes-mais.html



Mais-valia ideológica e as telinhas nossas de cada dia


Em 2011, no artigo “Reflexões sobre a mais-valia ideológica”, Elaine Tavares, apresentava um interessante conceito do marxista venezuelano Ludovico Silva.

Segundo a jornalista, Silva especula se seria possível que à mais-valia produzida na “oficina material capitalista” correspondesse uma mais-valia produzida na “oficina de produção espiritual, subjetiva”. Um excedente que “serviria para fortalecer e enriquecer o capital ideológico do capitalismo, que por sua vez tem como objetivo proteger e preservar o capital material”.

Para Ludovico, diz Elaine:

...os meios de comunicação de massa, com mais força a televisão, seriam o espaço da mais completa expressão dessa mais-valia que se produz na mente do ser que está exposto ao bombardeio sistemático dos meios. O capitalismo precisava de um instrumento para justificar-se perante os homens, e os meios massivos de comunicação vieram bem a calhar, pela sua capacidade de penetração. Segundo ele, a televisão é verdadeiramente uma extensão do mundo material do trabalho, e um homem ou uma mulher, sentados diante da telinha, seguem absolutamente conectados ao processo produtivo. Seja no intervalo das propagandas, que nada mais são do que a ideologia agindo de maneira voraz, ou nos programas de entretenimento, novelas e de notícias. Tudo está eivado de ideologia.

O livro em que Elaine baseia seus comentários é “A mais-valia ideológica”, de 1977. Não é preciso concordar com a polêmica tese Ludovico para perceber que, quarenta anos depois, homens e mulheres já não ficam mais apenas sentados “diante da telinha”. É ela que nos acompanha em quase todos os lugares. E a aparente variedade dos atuais dispositivos só aumenta sua eficácia como reprodutores dos valores da ideologia dominante.

http://pilulas-diarias.blogspot.com.br/2017/11/mais-valia-ideologica-e-as-telinhas.html



Palófi? Ah, ah, ah, ah, ah...


Enquanto isso, em uma sala luxuosa da Febraban...

– E aí, como vai Bob?

– Tudo ótimo, Peter. Mas essa crise me preocupa.

– Crise? Já viu os lucros de nossos bancos?

– Não! Tô falando dessa história de delações premiadas do Palocci. Já pensou?

– Ah, o Palófi...

– O quê?

– O Palófi!

– Ah,ah,ah,ah,ah,ah. Muito boa essa! Palófi! Por causa da língua presa, né? Ah,ah,ah,ah,ah,ah...

– É isso aí. Não tenho medo do Palófi!

– Ah,ah,ah,ah... Tudo bem mais ele sabe muita coisa podre de nosso pessoal.

– Por isso mesmo que o Temer baixou medida provisória autorizando o Banco Central a fechar acordos de leniência com as instituições financeiras. Ou seja, os bancos que cometeram crimes ou irregularidades poderão colaborar com as autoridades para diminuir suas penas.

– E você acha isso bom?

– Bom? É ótimo! Na verdade, o grande lance aí são os termos de compromisso que serão firmados com as autoridades. Provavelmente, eles vão ser secretos porque sua divulgação pode causar “danos ao sistema”. Não é lindo?

– Mas o valor das multas vai passar de R$ 250 mil pra R$ 2 bilhões!

– Nada disso! Este é só o novo teto das multas. Não quer dizer que elas vão chegar a isso tudo. Além disso, só vale para infrações cometidas daqui pra frente.

– Hummm...

– Que foi? Tô te falando. Não dá pra ter medo do Palófi.

– Ah,ah,ah,ah,ah,ah,ah,ah,ah,ah,ah,ah,ah,ah,ah,ah. Ai, tô até passando mal...

– Boa essa né, da língua presa? Palófi! Ah,ah,ah,ah…

– Não. Não tô mais rindo do seu "Palófi". Tô rindo é de felicidade. Ah,ah,ah,ah,ah,ah,ah,ah,ah,ah,ah,ah,ah,ah,ah, ah,ah,ah,ah,ah,ah,ah,ah,ah,ah,ah,ah,ah,ah,ah,ah,ah,ah,ah,ah,ah,ah,ah,ah,ah,ah,ah,ah,ah,ah,ah,ah,ah,ah,ah,ah,ah, ah,ah,ah,ah,ah,ah,ah,ah,ah,...








Algumas instruções para a autossabotagem da esquerda


Em sua coluna do Globo, de 05/11, Dorrit Harazim informa que em janeiro de 1944, em plena Segunda Guerra Mundial, uma agência estadunidense de inteligência e espionagem precursora da CIA, publicou um documento secreto chamado “Manual de Sabotagem Simples”.

“Elaborado para países do Eixo ou já ocupados pela Alemanha nazista, diz Dorrit, o guia orientava seus agentes na formação e treinamento de ‘cidadãos sabotadores’”.

A publicação foi tornada pública em 2008, sendo possível acessá-la no próprio site da CIA. Mas o que interessou a articulista foi um capítulo “específico para desestabilizar organizações e conferências. Entre as inúmeras formas de sabotagem sugeridas, estão”:

Insista em submeter tudo a “canais competentes”. Jamais permita atalhos capazes de acelerar decisões. Faça discursos longos. Assuma a palavra com o máximo de frequência. Sempre que for viável, repasse qualquer questão para maior análise e consideração de outras comissões. Tente formar comissões de muitos membros — nunca menos de cinco. Levante temas irrelevantes com a maior frequência possível. Retome questões decididas na reunião anterior e procure meios de reabrir o tema.

Dorrit utiliza a citação para comentar as trapalhadas do governo federal e parlamentares brasileiros durante uma recente visita de uma comissão de eurodeputados ao País.

Mas, para nós, seria interessante saber até que ponto boa parte da esquerda adota alguns daqueles procedimentos recomendados pelo manual em seu próprio meio. E, muito provavelmente, sem qualquer necessidade de infiltração de agentes da CIA entre nós.

http://pilulas-diarias.blogspot.com.br/2017/11/algumas-instrucoes-para-autossabotagem.html


Dicas (pouco animadoras) para ler “O Capital”


Há exatos 150 anos, em novembro de 1867, ano em que foi publicada a primeira edição de “O Capital”, Marx enviou uma carta a seu amigo Ludwig Kugelmann. Era a resposta às dificuldades que a esposa de Kugelmann, Gertrud, estava encontrando para entender a mais recente obra de Marx:

Diga à sua mulher que as partes mais imediatamente legíveis são “A jornada de trabalho”, “A cooperativa, a divisão do trabalho e a maquinaria” e, finalmente, “A acumulação primitiva”. Depois disso, será preciso explicar a ela a terminologia incompreensível. Sobre quaisquer outros pontos duvidosos, estou à disposição.

Ora, então por que Marx não começou seu livro por estes temas? Porque não seria dialético. O primeiro capítulo de “O Capital” é sobre a mercadoria, “célula econômica da sociedade burguesa”. Síntese do modo como funciona a lógica social sob o capitalismo.

O professor e filósofo José Paulo Netto costuma citar aquela correspondência com Kugelmann para explicar que para entender plenamente a maior obra de Marx é preciso superar a lógica quadrada que rege nossa cabeça há alguns séculos. É preciso pensar dialeticamente.

De fato, Marx só conseguiu desvendar o funcionamento do capital porque partiu do método dialético hegeliano para criar seu próprio modo de explicar a realidade material da sociedade burguesa.

É por isso que ninguém menos que Lênin afirmou em seus "Cadernos filosóficos":

É completamente impossível entender “O Capital” de Marx, e em especial seu primeiro capítulo, sem ter estudado e entendido a fundo toda a “Lógica de Hegel”. Portanto, faz meio século que nenhum marxista tem entendido Marx!

Ou seja, caras e caros camaradas... fodeu!

http://pilulas-diarias.blogspot.com.br/2017/11/dicas-pouco-animadoras-para-ler-o.html