sexta-feira, 23 de outubro de 2015

A polarização PT-PSDB chegou ao fim?

 O rompimento da polaridade não veio de uma força externa, mas nasce no âmago da coligação petista. E definirá os rumos futuros da política brasileira.

Agência Brasil

Gilberto Maringoni*

Uma das decorrências a ser extraída da degringolada voluntária do governo Dilma é a de que pode estar acabando a polarização PT-PSDB. Ela existe na cena política desde a disputa presidencial de 1994 e seu ocaso não é fato menor.

Ao longo daquela década, os tucanos deram forma a um projeto de inserção subordinada do Brasil no plano internacional, com matizes fortemente liberais. Apesar da pouca nitidez programática do petismo, pode-se dizer que este buscava recuperar uma tradição vagamente aparentada com o desenvolvimentismo. Mas o que os diferenciava de verdade era a base social do PT entre os setores populares organizados, com suas demandas por salário, emprego e melhores condições de vida. O PSDB, desde seu surgimento (1986), buscou se consolidar como caudatário de um antiestatismo que se radicalizou com o tempo. Assim, a legenda paulatinamente se tornou representante política quase orgânica do capital financeiro.

A oposição entre ambos não era fenômeno meramente eleitoral, mas expressava demandas de setores sociais distintos.

Tal realidade pode estar chegando ao fim, neste segundo governo Dilma. O rompimento da polaridade não veio por ação de uma força externa a ambos, mas nasce no âmago da coligação petista. E definirá os rumos futuros da política brasileira.


VOLTA AO PROSCÊNIO - O beneficiário do novo ordenamento das cartas institucionais é – como todos sabem – o PMDB.  A agremiação – que desde 1994 não se apresenta em eleição presidencial com cara própria – volta ao proscênio da vida nacional, com pretensões de se colocar como força autônoma.

A legenda operou, nos últimos 21 anos, como uma espécie de grande avalista de governos tucanos e petistas. O partido expressa a confluência interesses regionais variados e vocaliza demandas de boa parte do capital industrial e agrário. As personalizações dessa representação são Paulo Skaf e Katia Abreu, que arrastam um vasto setor empresarial, hoje descontente com o petismo.

A manifestação mais visível dessa situação se deu a partir da eleição de Eduardo Cunha para a presidência da Câmara. Contando com um poder inédito desde o governo Sarney (1985-1990) – a vicepresidência, a direção das duas casas legislativas e cinco ministérios – o PMDB, em ação hábil e ousada, logrou deslocar Aécio Neves e o PSDB da condição de polo da oposição de direita. O tucanato perdeu assim seu papel “natural” de alternativa conservadora. Mesmo a possível derrocada de Cunha não parece alterar esse quadro.

CAUSAS - A ascensão peemedebista ocorreu por um motivo principal. As bases materiais da polarização perderam contraste. O PT e o PSDB não disputam mais campos ou apresentam projetos distintos. O que disputam é a representação política do capital financeiro. Vale a pena recapitular brevemente o que ocorreu.

O segundo mandato de FHC (1999-2003) se deu sob a marca de duas crises, a quebra do real, no primeiro ano de gestão, e o apagão, em 2001. Apesar de uma leve recuperação econômica, fruto da desvalorização cambial nos dois primeiros anos, as marcas daquela administração foram desemprego elevado e popularidade em queda.

No início de 2002, a vitória de Lula era quase inexorável. Faltava combinar com os russos. Para aceitar a novidade, os donos do dinheiro impuseram seu pedágio. Este foi prontamente aceito pelo candidato petista, que se comprometeu – na “Carta aos Brasileiros” – a não tocar no modelo armado por seu antecessor.

Ou seja, Lula poderia fazer o que quisesse, desde que liderasse um governo de continuidade.


MUDANÇAS - Se é verdade que o PT mudou de lá para cá, duas outras verdades precisam ser admitidas:

1. Embora tenha havido uma aproximação, o partido não é a representação política dos sonhos do grande capital. Menos pelo seu programa e mais por temores de recaída em uma esquerdização vigente em sua primeira década de existência;

2. Se o PT mudou, o PSDB também mudou.

Sobre esse último aspecto, é preciso verificar que a segunda geração tucana – Aécio, Alckmin, Richa, Perillo – está anos luz aquém da sofisticação, calibre intelectual e integração orgânica com o grande capital exibida pela fornada anterior. Esta tinha na vitrine FHC, José Serra, Paulo Renato, Bresser-Pereira, Sergio Motta, Edmar Bacha, Pedro Malan e outros. Ali estava o centro formulador da nova integração global, em sociedade com a alta finança. Perto dele, os novatos são literalmente arrivistas de província.

Em português vulgar, os neófitos “não têm projeto” ou diretrizes claras. Por vias transversas, é nesse ponto que o petismo e o tucanismo se encontram.


INTENÇÃO DE VOTO - Os dirigentes do poder econômico, há um ano, votaram na indicada por Lula. A divisão das verbas de campanha – R$ 318 milhões para Dilma e R$ 201 milhões para Aécio – expressava tais intenções. O empresariado destinou 50% a mais para a candidata petista, mas as duas quantias representam troco de gente grande.

Dilma recebeu – oficialmente - mais por já estar no governo. Tinha maiores condições de atrair dinheiro. O fato de o PT apresentar uma base social mais alicerçada entre os milhões de despossuídos favorecia suas chances de vitória. Em miúdos, o fato de a agremiação ser sustentada por uma vastíssima representação popular reduziria – aos olhos de quem manda na grana - os riscos de instabilidades sociais.


ERRO FATAL - É nesse ponto que Dilma cometeu seu erro fatal. Ao romper com sua base social, após as eleições de 2014, ela perdeu seu maior ativo diante de setores do topo da pirâmide social. Com esse gesto, o PT abriu mão de seu principal diferencial com o PSDB. Aos olhos de quem está por cima, os dois partidos tendem agora a se equivaler.

Em cenário de desaceleração econômica e da opção feita por enviar a conta para os de baixo, de pouco adianta a liderança petista alegar que aumentou o salário mínimo, criou programas sociais etc. etc. O passado foi bom, mas o presente é de desemprego, inflação alta, queda de renda e o futuro é incerto.

Aqui entra o PMDB, vocalizando interesses do que antigamente se classificava como “capital produtivo”. De forma mais (Cunha) ou menos (Temer) ruidosa, a agremiação colocou a faca nos dentes, com a crise política desatada pelo petismo. Para angariar musculatura no eleitorado popular, há tempos investe em segmentos religiosos conservadores. E tornou-se porta voz desses.

Se formos buscar sentidos mais claros, podemos dizer que enquanto PT e PSDB acabaram por diluir seus programas, o partido de Michel Temer busca solidificar suas orientações nos lobbies da indústria – desonerações, terceirização, flexibilização da CLT – e do agronegócio – financiamentos a e mudanças em leis ambientais. O PMDB não toca nos interesses da banca. Por mais estapafúrdia que possa parecer a afirmação, estamos diante de quem apresenta o mais viável projeto político no Brasil atual. Um projeto conservador, excludente, mas de nítido apelo para o grande capital e de frações do médio.

O que o PMDB não tem é uma liderança viável e visível para uma contenda presidencial. Esse fator o tornou até aqui caudatário do PT e do PSDB e ajudou a dar sobrevida a uma polarização que se torna rarefeita.

Com o fim da polarização, provavelmente as eleições de 2016 apresentarão um cenário partidário mais pulverizado, já esboçado ano passado. Se for assim, teremos uma conjuntura em que pequenas legendas – muitas de aluguel – dividirão o bolo do poder. Nem por isso, o quadro se afigura como mais democrático.

Os novos tempos acabarão por exigir também uma nova institucionalidade. É nisso que Eduardo Cunha trabalha – uma pauta regressiva e elitista -, enquanto é alvejado em pleno voo.


* Professor de Relações Internacionais da UFABC e foi candidato a governador (PSOL-SP), em 2014.
no: 

Dinheiro compra felicidade? Novo prêmio Nobel de economia diz que sim


Conclusões de Angus Deaton podem ser surpreendentes para quem pensa que felicidade não se compra
"Poucos temas são tão universais como "dinheiro" e "felicidade".

BBC Brasil


O britânico Angus Deaton ganhou o Prêmio Nobel de Economia em 2015 por sua pesquisa sobre consumo, pobreza e bem-estar, mas diz que seu trabalho só mexeu com a imaginação do público quando ele escreveu sobre felicidade.

"É o único artigo que escrevi sobre o qual você ouve pessoas conversando em supermercados", disse Deaton à BBC.

As conclusões de Deaton podem ser surpreendentes para quem pensa que felicidade não se compra.

Como você quantifica a felicidade?
O que é felicidade?

Filósofos discordam há milhares de anos sobre o significado de felicidade, o que torna o conceito difícil de medir.

E para quantificar a felicidade, Deaton diz ter se focado em duas perguntas.
Uma é a questão de curto prazo sobre felicidade cotidiana, e outra é a indagação mais ampla sobre o rumo geral da vida.

Ele poderia perguntar, por exemplo: "Aqui temos uma escada com o degrau zero sendo a pior vida possível que possa imaginar, e o degrau dez, a melhor. Onde você se colocaria?"

Os estudos de Angus Deaton identificaram uma forte relação entre renda e satisfação com a vida
Dinheiro pode comprar felicidade

O professor Deaton diz que se você perguntar a alguém sobre o grau de satisfação dela, a resposta terá relação direta com a renda da pessoa.

Deste modo, ele diz, um bilionário como Bill Gates, da Microsoft, irá declarar maior satisfação com a vida do que alguém menos rico.

"É uma escala logarítmica, então você precisa de cada vez mais dinheiro para subir outro degrau, mas a escada nunca para de subir", diz Deaton. "E isso é verdade não só para indivíduos, mas entre países."

Então dinheiro pode comprar felicidade, ao menos no sentido de satisfação na vida.

O economista britânico diz que a felicidade cotidiana depende menos da renda
Alegria cotidiana

Mas e a alegria do dia a dia? O que ocorre se você perguntar às pessoas: "Você teve um bom dia? Foi um dia estressante?"

O professor diz acreditar que o dinheiro também afete a felicidade nesse quesito, mas apenas para quem tenha renda anual superior a R$ 290 mil.

Ganhar menos do que US$ 75 mil nos EUA (ou R$ 290 mil no Brasil) pode afetar seu nivel de felicidade
Ele afirma que quem ganha menos do que isso tende a se preocupar muito com dinheiro, e isso tornaria essas pessoas menos felizes.

"Quando aquele medo permanente vai embora, isso faz uma enorme diferença na vida das pessoas, e a falta de dinheiro pode te deixar bem para baixo no dia a dia", diz Deaton, ressaltando que ganhos adicionais após esse "limite da felicidade" não fazem tanta diferença.

Em resumo, a resposta à pergunta "O dinheiro compra felicidade" depende de quanto dinheiro está em jogo e da definição de felicidade de cada um."

Britânicos começam maior estudo da história sobre efeitos da aspirina no câncer

"O serviço público de saúde da Grã-Bretanha vai iniciar o maior estudo já feito para analisar se a aspirina pode prevenir o retorno do câncer em pacientes que já tiveram a doença.

Da BBC 

Cerca de 11 mil pessoas que tiveram câncer de intestino, mama, próstata, estômago e esôfago participarão do estudo.

O estudo é financiado pelo NIHR, o setor de pesquisas do serviço público de saúde britânico, e a instituição de caridade Cancer Research UK, voltada para apoio a pacientes e pesquisas sobre o câncer.

Na pesquisa, os participantes deverão tomar um comprimido por dia durante cinco anos.

Depois, os pesquisadores vão comparar grupos de pacientes tomando doses diferentes de aspirina com as pessoas que consumirão apenas um placebo, e checar se ocorre reincidência da doença.

Ao longo de 12 anos, o estudo será realizado em cem centros de saúde espalhados pela Grã-Bretanha e deve envolver pacientes que estão ou estiveram em tratamento para câncer em estágio inicial.

"Esta pesquisa é particularmente animadora porque cânceres reincidentes são, com frequência, difíceis de tratar. Então encontrar uma forma barata e eficaz para evitar isso pode ser decisivo para os pacientes", disse Fiona Reddington, médica da Cancer Research UK.

Cientistas alertam que a aspirina não é adequada para todos os pacientes e não deve ser usada sem receita médica.

Tomar o medicamento todos os dias pode provocar efeitos colaterais, como úlceras e sangramento no estômago e até no cérebro.

No entanto, algumas pessoas com problemas cardíacos já tomam doses baixas e diárias de aspirina como parte de seu tratamento.

Prova clara

Tem ocorrido, nos últimos anos, um grande debate a respeito das possíveis propriedades da aspirina no combate ao câncer.

"Há algumas pesquisas interessantes que sugerem que a aspirina pode retardar ou evitar o retorno do câncer em estágio inicial, mas ainda não houve um teste aleatório para fornecer a prova clara. Este teste visa responder esta questão de uma vez por todas", disse Ruth Langley, líder da pesquisa.

"Se descobrirmos que a aspirina impede o retorno desses cânceres, é algo que poderá mudar o tratamento no futuro - fornecendo uma opção barata e simples para ajudar a impedir a reincidência do câncer e ajudando mais pessoas a sobreviver."

Alex King, uma britânica de 51 anos, foi diagnosticada com câncer de mama em dezembro de 2009 e recebeu os resultados dos exames confirmando que ela está, agora, livre da doença.

"Ter câncer foi uma das experiências mais difíceis de minha vida. Qualquer oportunidade de reduzir a chance de o câncer voltar é incrivelmente importante para que os pacientes fiquem mais tranquilos", disse."

O que sabe a nossa elite econômica?

Rui Daher, GGN

“Dilma cometeu todos os erros políticos e econômicos e é capaz que cometa mais alguns. Mas como responsabilizar um governo que há quase um ano enfrenta diuturnamente o terceiro turno? A questão do impeachment não é uma mera disputa entre oposição e governo. É a diferença entre uma democracia saudável e uma república bananeira”.

Um dos artigos postados por Luís Nassif termina assim. Vou mais longe e dou razão a meu ídolo em palavras escritas, Ivan Lessa. A Federação de Corporações, como eu a chamo, foi melhor por ele apelidada: “Bananão”.

Dilma erra, eu erro, Nassif era, FHC acerta. Espreguiça-se, dá uns palpites, noblesse oblige, e namora, no que está mais do que certo, aos 84 anos mostra vigor invejável.


Admiro Eduardo Cunha, o melhor cover de Paulo “Eu não Tenho Dinheiro no Exterior” Maluf. Estão ambos carregados de provas documentais, não evidências delatoras. Mas as últimas valem mais para provar corrupção, sabia Calabar. Infelizmente, a vida privilegia quem pouco desafia o acordo secular de elites que aqui vigora.

Pergunto: por que foram tantas as críticas à presidente quando ela pôs Arlindo Chinaglia para confrontar Eduardo “Suíça” Cunha na eleição para presidente da Câmara? Até Lula se fez maneiro em nome do excremento da governabilidade.

Cadê as contas de Dilma em paraísos fiscais? De sua filha? Neta? Por acaso, o crítico, probo e rigoroso “Paneleiro do Bananão” não conhecia os antecedentes de Cunha? Mas Arlindo Chinaglia é do PT e só o PMDB garante governos no Congresso em troca de cargos no ministério.

Dilma errou? Foi acusada de falta de cintura política, “requebra que eu quero ver”. Será que somente ela e Jânio de Freitas sabiam quem era Eduardo “Mãos de Afano” Cunha?

Então, vamos lá. Você aí, exigente com a corrupção endêmica na Petrobras, que a pensa nunca d’antes navegada ou ancorada em plataformas; que imagina somente há 12 anos as campanhas eleitorais financiadas com o caixa dois de empresas, principalmente empreiteiras; que acredita em economista e intelectual tucano que deixa seus vultosos honorários em consultorias e instituições financeiras e se dedicam a ganharem merrecas no governo; que jura somente os candidatos do PT se candidatarem a cargos eletivos, pois cansaram de ser ricos; que acham Boechat, Merval, Azevedo, Magnoli, realmente, jornalistas, me digam: o que estão esperando para ler a edição de 20/10 do jornal Valor Econômico, pg. D3?

Não leram? Mais afim de pagar R$ 150,00 por um rodízio de carnes, algo de profundo mau gosto gastronômico? Título: "Trilhões em paraísos fiscais, bilhões sonegados". Este o melhor sistema econômico vigente?

Tomem lá, então: saiu um livrinho aí bom para suas leituras dominicais amenizarem a luta de classes vista na novela “Paraisópolis”. “The Hidden Wealth of Nations – The Scourge of Tax Havens”, de Gabriel Zucman, (Chicago University Press).

É fácil encomendar. Não vou tirar-lhes a surpresa nem a felicidade. Vai que um dia vocês cheguem lá. “Uma rede de paraísos fiscais detém 10% do patrimônio financeiro mundial”.

Sabem como foi criada? Não? Pensem e perguntem ao batuqueiro Zezé da Tijuca. Ele estudou profundamente o caso. Talvez pense em nos impostos que paga no Brasil."

quinta-feira, 22 de outubro de 2015

O que é estratégico?



Demonstrando abissal ignorância sobre o que é, ou não, estratégico, ou então desprezo pela segurança nacional, os falsos desenvolvimentistas, desde JK (1956-1960), consideraram que bastava ter sob comando nacional as telecomunicações, a energia, notadamente o petróleo, e a área nuclear.

2. Se olhassem com seriedade para a História, teriam percebido que nenhum país foi capaz de se defender, tendo entregado sua economia e suas finanças a controle estrangeiro. Isso se tornou cada vez mais nítido, à  medida que a capacidade bélica foi ficando mais dependente da indústria e da tecnologia.
3. Mas, mesmo antes do século XVIII, quando a sorte nas armas se vinculou à mecânica pesada e às indústrias básicas –  que lhe fornecem insumos -, as guerras, sempre foram movidas a dinheiro, tal como a política.
4. Revela-se, pois, enorme e múltipla a leviandade dos dirigentes do País, uma vez que o “modelo econômico brasileiro”, de JK aos governos militares, se caracterizou, não só pela dependência tecnológica, mas também pela dependência financeira.
5. Depois, isso continuou a agravar-se, culminando com as manipulações eleitorais que levaram às presidências de Collor e FHC, nas quais, além de tudo, as Forças Armadas foram deliberadamente debilitadas.
6. E por que isso foi possível? Porque quem monopoliza o dinheiro grosso e comanda a mídia submissa, determina as políticas. Claro que essas não foram as de interesse do País.
7. Acaso? Não, mas, sim, algo que se desenhou com o  golpe de agosto de 1954, quando as decisões econômicas foram entregues a “técnicos” do agrado dos centros financeiros angloamericanos.
8. Desde o final dos anos 50, o domínio dos carteis multinacionais sobre a economia resultou em enormes déficits de transações correntes: esses carteis transferiram ao exterior – principalmente como despesas – lucros de fato, decorrentes dos preços elevadíssimos, no mercado interno, dos bens aqui produzidos e dos importados, e preços baixos na exportação.
9. Daí derivou absurda dívida externa, inflada também com os juros e demais despesas decorrentes do financiamento externo de investimentos públicos e privados efetuados no País.
10. Afora os colossais pagamentos do serviço da dívida externa, ao exterior, ainda maiores nos anos seguintes à  Constituição de 1988, parte dessa dívida foi transformada em interna, a qual passou a crescer exponencialmente, em função de juros e correção monetária absurdos – mais um sinal de que o País não tem autonomia política.
11. Montou-se, assim, a engrenagem viciosa, através da qual a dependência política alimenta o crescimento da dependência econômica, a qual acentua a submissão política,  e assim por diante.
12. O conceito adotado por pró-imperiais assumidos e inconscientes, era que se deveria abrir às grandes transnacionais, com matrizes no exterior, as indústrias de transformação – consideradas não-estratégicas – como a de bens de consumo durável, inclusive veículos automotores, o ridículo carro-chefe da arrancada para o falso desenvolvimento.
13. Tão grande foi a irresponsabilidade para com o País e seu futuro, que – através das Instruções da SUMOC, a partir de janeiro de 1955 –  propiciaram subsídios desmedidos para que os carteis industriais estrangeiros se assenhoreassem facilmente do mercado brasileiro, que nunca lhes esteve fechado.
14. Ademais, permaneceram abertas as brechas que permitiram crescente penetração do capital estrangeiro no sistema financeiro do País.
15. Sessenta anos depois, passados numerosos governos aparentemente diferentes, deu-se a desnacionalização praticamente completa, a causa da desindustrialização.
16. O balanço é o pior possível: a) a dívida interna, que continua crescendo exponencialmente, por efeito da capitalização de absurdos juros, já atingiu mais de R$ 3,8 trilhões; b)  boa parte dos títulos pertence a residentes no exterior; c) o passivo externo financeiro bruto – onde avultam os investimentos estrangeiros diretos (IEDs) – supera US$ 1 trilhão.
17. Os IEDs acumularam-se principalmente com recursos estatais,  subsídios governamentais e reinvestimento de lucros, o que denuncia a natureza autorretroalimentada do processo de desnacionalização.
18. Finaliza-se o processo, com o enfraquecimento e maior infiltração da própria Petrobrás por interesses forâneos, além de preparar-se luz verde a petroleiras transnacionais para apoderar-se das reservas descobertas pela estatal. Além disso, deterioraram-se e desnacionalizaram-se infra-estruturas essenciais, como as de energia, transportes e comunicações.
19. Não bastasse isso tudo, a engenharia,  último ramo sobrevivente com tecnologia competitiva,  está sob fogo interno, teleguiado do exterior,  para que os mercados que conquistou no Brasil, e fora dele, também caiam sob controle de empresas estrangeiras.
20. O Brasil está inerme, com seus recursos terrestres, águas e subsolo, dotado de minerais preciosos e estratégicos, tudo aberto ao saqueio das corporações estrangeiras.  Grande parte do território amazônico foi subtraído à jurisdição efetiva do País, sob o pretexto de demarcar terras supostamente indígenas.
21. Que aconteceria se mudasse de política? A violência das intervenções imperiais na Líbia, Iraque e Síria, entre outras, deveria  alertar para reverter  as políticas levianas aqui praticadas, há mais de 60 anos.
22. Mauro Santayana afirma que o Brasil talvez seja o país mais indefeso do mundo, e o pouco que ainda tem de empresas nacionais na indústria bélica está sendo  adquirido  por grupos estrangeiros,  ou controlado por estes mediante associações, principalmente as firmas  que desenvolveram tecnologia militar, nos últimos anos.
23. A vulnerabilidade decorre também do baixo conteúdo local das peças do equipamento de defesa, mesmo no caso de blindados ligeiros. Que dizer das carências em tecnologia eletrônica, até mesmo chips desenhados e fabricados no País?
24. Esse é o resultado da entrega, favorecida pelos governos, do controle do grosso da economia a empresas e grupos financeiros  transnacionais.  Era questão de tempo a entrega também dos setores ditos estratégicos.
25. Em vez de “lideranças” civis e militares cuidarem disso, ignoraram que o  desenvolvimento econômico verdadeiro só se faz com capital nacional e tecnologia nacionais.
26. Além disso,  tiveram a visão ofuscada pela crença que lhes foi inculcada, de que o inimigo estratégico seria o comunismo, termo em que foi abusivamente englobado tudo que desagradasse o império e seus adeptos locais.
27. Nas lideranças e cidadãos, em geral, foram incutidas divergências  ideológicas que se tornaram fossos intransponíveis, geradores de exclusões, perseguições e conflitos envenenados.
28. Assim, além da economia dominada, o que, mormente após a pseudo-democratização de 1988, levou os interesses antinacionais a controlarem o sistema e as decisões políticas, acelerando a desindustrialização e primarização da economia, a falência estratégica  foi acentuada pela falta de coesão nacional.
29. Para esta deficiência estratégica contribuiu a abertura ao arrasamento da cultura e dos valores éticos, através da permissividade das “autoridades” para com os  meios de comunicação mundiais e locais, acompanhada da deformação dos fatos políticos e econômicos em todo o mundo.
30. Se é que o poder emana do povo, que poder emanaria de um povo submetido a processos de psicologia aplicada e a outras intervenções destinadas a apassivá-lo?
31. Machiavello  ensinou que “o poder emana do ouro e das armas.” Nesta vertente, como o  Brasil precisa ter poder para viver com dignidade, e até para sobreviver, impõe-se  entender que:
a)   o desenvolvimento econômico e social é indispensável para a defesa e segurança; b) ele depende de autonomia, tanto nas decisões governamentais como na das empresas.
* – Adriano Benayon é doutor em economia pela Universidade de Hamburgo e autor do livro Globalização versus Desenvolvimento.
http://www.desenvolvimentistas.com.br/blog/benayon/2015/10/20/o-que-e-estrategico/

Sonegação supera em 6 vezes a meta do ajuste fiscal



O Sindicato Nacional dos Procuradores da Fazenda Nacional envia um interessante release, que informa que o "Sonegômetro", painel da sonegação fiscal, chegou a quase R$ 420 bilhões em impostos sonegados neste ano. 

Se apenas 16% desse dinheiro retornasse aos cofres públicos, a meta de R$ 66 bilhões necessários para o ajuste fiscal da União já seria alcançada.

Ah, os nossos patrióticos empresários...

A íntegra do release é a seguinte:


Antes mesmo do encerramento do mês de outubro, o Sonegômetro, painel da sonegação fiscal, já registra a cifra de quase R$ 420 bilhões em impostos sonegados em 2015. Se aproximadamente 16% do montante sonegado em todo país retornasse aos cofres públicos já seria possível atingir a meta de R$66 bilhões do ajuste fiscal imposto pelo governo federal.

É o que comprova o painel do SONEGÔMETRO que, nesta quinta-feira (22), estará no vão do Museu de Arte de São Paulo Assis Chateubriand (MASP), em São Paulo.

“Se analisarmos os números trazidos pelo painel da sonegação verificamos como é injusta e desnecessária toda essa recessão imposta à população”, avalia o presidente do Sindicato Nacional dos Procuradores da Fazenda Nacional (SINPROFAZ), Achilles Frias.

O estudo desenvolvido pelo Sindicato Nacional dos Procuradores da Fazenda Nacional (SINPROFAZ) revela que a sonegação cresce anualmente. Ao final de 2013, R$ 415 bilhões foram sonegados, quase o mesmo valor estimado até outubro de 2015. Em 2014 o Sonegômetro registrou R$ 501 bilhões.

Além da estimativa do Sonegômetro, o estoque da Dívida Ativa da União, considerando as dívidas de natureza tributária e não- tributária, é de aproximadamente R$1,5 trilhão.

Recentemente, o Ministério da Fazenda divulgou uma lista com o nome das 500 empresas que mais devem à União. Ao todo, essas dívidas somam mais de R$ 392 bilhões. “Ou seja, existem 3,5 milhões de grandes devedores, sendo que apenas 500 desses respondem por quase 40% da dívida. Esse é um dado alarmante”, ressaltou Achilles Frias.

Dívida ativa da União em São Paulo

Dados da Procuradoria-Geral da Fazenda Nacional (PGFN), consolidados em julho deste ano, mostram que a Dívida Ativa da União referente aos contribuintes no Estado de São Paulo corresponde a aproximadamente 40% da Dívida Ativa da União (DAU). Os contribuintes de São Paulo devem quase R$ 484 bilhões aos cofres públicos do total de R$1,162 trilhão da Dívida Ativa da União (DAU). Lembrando que neste levantamento da PGFN os débitos previdenciários e o FGTS não estão incluídos.

O presidente do SINPROFAZ alerta que investir no combate à sonegação e na cobrança dos débitos tributários é uma solução para evitar o ajuste fiscal, promover o crescimento econômico e recuperar o investimento em políticas públicas essenciais como saúde, segurança, educação e infraestrutura.

“A Procuradoria é o único órgão que pode fazer as cobranças dessa dívida, mas não se confere estrutura para isso. Para cada procurador, há 0,7 servidores, então o procurador, além do trabalho jurídico, tem o trabalho burocrático de localizar devedor, procurar bens. O sistema de dados também está ultrapassado. Se o governo investisse na Procuradoria, e ela fosse atrás dos grandes devedores, o ajuste fiscal, que está penalizando a economia e o cidadão, seria desnecessário. E é a cobrança dos grandes, de quem deve”, destacou Frias.

Lavanderia Brasil

Junto ao painel do Sonegômetro será instalada uma peça publicitária denominada Lavanderia Brasil. Em formato de uma máquina de lavar gigante, a peça simboliza a lavagem de dinheiro no país.

Posicionada ao lado do painel do Sonegômetro, o objetivo da campanha é chamar a atenção do cidadão e trazer à tona a discussão sobre as engrenagens de lavagem de dinheiro no Brasil. A Lavanderia e o Sonegômetro estarão instalados em frente ao MASP.

O que faz um Procurador da Fazenda Nacional?

Os Procuradores da Fazenda Nacional (PFNs) atuam diretamente no combate à sonegação e à lavagem de dinheiro. Eles são os advogados públicos responsáveis pela cobrança judicial da Dívida Ativa da União (DAU).
O quadro de PFNs é insuficiente para um volume de processos. Não há carreira de apoio e os sistemas informatizados estão sucateados.

Hoje a PGFN conta um quadro de 2.072 procuradores, 1.518 servidores, 116 unidades, 7.485.097 processos em tramitação, 3.549.589 devedores e 18.728 devedores. Os devedores são pessoas, físicas e jurídicas, que possuem débitos com a Fazenda Nacional inscritos em Dívida Ativa da União.

Para acessar o SONEGÔMETRO entre no site da campanha Quanto Custa o Brasil

http://www.quantocustaobrasil.com.br/

Para acessar a metodologia do Sonegômetro:

http://www.quantocustaobrasil.com.br/artigos/sonegacao-no-brasil%E2%80%93uma-estimativa-do-desvio-da-arrecadacao-do-exercicio-de-2014

Serviço

O que: Painel do Sonegômetro
Onde: Museu de Arte de São Paulo Assis Chateubriand (MASP)
Endereço: Av. Paulista, 1578, São Paulo (SP)
Quando: próxima quinta-feira (22/10)
Horário: 7h às17h

do: http://cronicasdomotta.blogspot.com.br/2015/10/sonegacao-supera-em-6-vezes-meta-do.html

O pior dos mundos


A aprovação, pela Câmara dos Deputados, do fim da gratuidade obrigatória nos cursos de pos-graduação das instituições estatais representa a mais grave ameaça, até hoje, a uma universidade pública gratuita, autônoma e republicana.

Constitui, assim, mais um exemplo cabal do grau de ameaça a conquistas sociais de longa data que a crise do petismo no poder ora suscita, com uma presidente enfraquecida e acuada, disposta a tudo ceder para não ser destituída.

As pós-graduações federais já haviam sofrido um duro golpe com o corte de 75% das bolsas de estudo, que se seguiu ao anúncio das medidas fiscalistas da política econômica de Dilma, a cargo do tesoureiro Levy. Corte que, em efeito cascata, serve agora de pretexto para Alckmin suprimir R$13 milhões das pós-graduações paulistas (USP, Unesp e Unicamp), no que será certamente seguido por outros governadores.



Exclusão educacional
A diminuição no volume de bolsas, agora agravada pela possibilidade de cobrança dos cursos, tem efeito social nocivo, pois impede que estudantes oriundos das classes baixa e média se mantenham financeiramente durante os seis ou sete anos necessários para obtenção de tais títulos (que hoje são imprescindíveis, por exemplo, para o ingresso no magistério público superior).

Trata-se de uma ameaça concreta a um sistema que vinha funcionando bem há décadas, e que tinha a vantagem adicional de fornecer um meio de subsistência – mesmo precário –, o qual permitia a um contingente expressivo de recém-formados trocar as fileiras dos desempregados pela oportunidade de se qualificar enquanto faziam – ou se preparavam para fazer - a transição do universo da universidade para o do mercado do trabalho

Nem Fernando Henrique Cardoso foi tão longe a ponto de instaurar tal dispositivo elitista e de exclusão social, que na prática bloqueia o acesso dos não-ricos às pós-graduações. Com todas as dificuldades impostas na era tucana, as bolsas foram mantidas e, ao contrário do que hoje acontece, havia verbas para viagens e congressos.



Ameaça concreta
Além da ameaça per se à pesquisa inerente aos cortes de verbas, ao elitismo e exclusão social que traz à pós-graduação, e ao agravamento do já alto desemprego de recém-formados, a aprovação do fim da gratuidade constitui um passo concreto em direção à privatização da universidade pública, velho sonho do conservadorismo brasileiro.

A intensificação do sucateamento das graduações, a extensão do fim da gratuidade para tal faixa de ensino e a flexibilização de contratos de trabalho de professores são os próximos passos. Até que desapareça a divisão entre universidades públicas e privadas, o nível de ensino se nivele por baixo – como hoje ocorre no setor privado - e aos professores sejam oferecidos salários (ainda mais) humilhantes (como os R$500 mensais que as corporações de ensino superior hoje pagam a iniciantes).



Jogo duplo
O petismo e seus porta-vozes irão, como de praxe, tentar colocar a culpa por mais esse retrocesso no conservadorismo do atual Congresso – como se tal tendência fosse a antítese do partido e não, em larga medida, um fruto da realpolitik lulista e da busca deliberada de hegemonia à direita empreendida por Dilma em seu primeiro mandato, com suas alianças aprogramáticas, ditadas únicamente por interesses e sua subserviência ao conservadorismo religioso, que hoje cobra um preço tão alto.

Mas os fatos estão documentados: enquanto PSOL, Rede e PCdoB votaram contra o projeto, o PT liberou bancada, mantendo a estratégia de não contrariar as demandas dos partidos conservadores, pois precisará de seus votos na votação do impeachment. Depois com a desfaçatez costumeira,vem posar de defensor da universidade pública - e tem gente que ainda cai nessa.



Prioridade à Educação?
Pior: um governo que se vale do slogan “Pátria Educadora” e cuja mandatária foi eleita jurando priorizar a Educação não mexeu uma palha para se contrapor ao projeto do deputado Alex Canzani (PTB/PR), cuja “justificação” para o fim da gratuidade na pós-graduação chega a ser ofensiva de tão mal informada:

"Embora sejam, em última instância, atividades de ensino, geralmente se dirigem a públicos restritos, quase sempre profissionais e empregados de grandes empresas, constituindo importante fonte de receita própria das instituições oficiais". [aqui, a íntegra da PEC 395.]

Como um projeto com uma visão tão tacanha do que seja a pós-graduação pôde transitar e ser aprovado na Câmara? Cadê os quadros qualificados do MEC para explicarem a esses senhores o papel da pós-graduação nas sociedades contemporâneas, e a exclusão social e educacional que tal medida significa em um país em desenvolvimento como o Brasil? A última – e ínfima - esperança reside agora na reação dos senadores ao projeto.



O coletivo pelo pessoal
O absoluto desinteresse do governo tem, como já apontado, uma razão de ser, ainda que esta diga respeito exclusivamente à manutenção do poder presidencial, não importa a que custo em termos de ameaça às conquistas sociais. Em nome de tal meta pessoal-partidária, Dilma sacrifica direitos trabalhistas, boicota desempregados, desterritoraliza os indios, patrocina o retrocesso na pauta biopolítica – e agora tira a pós-graduação do alcance dos estratos baixos e medianos. E o resultado de tanto conservadorismo tem sido nulo.

Restam a Dilma três alternativas: uma guinada à esquerda, renegando a insensibilidade social neoliberal e comprometendo-se, de fato, com as demandas populares, o impeachment ou a renúncia.



Sinuca de bico
A primeira alternativa é uma impossibilidade, por conta do grau de comprometimento do petismo com alianças espúrias e com um modelo de desenvolvimento tão arcaico quanto perverso, ora em plena crise (a não ser para o Bradesco e o Itaú, que continuam batendo recordes de lucro).

A segunda parece cada vez mais distante, não só como resultado do comércio de balcão do governo com seus algozes, mas por efetivamente não haver, até o momento, prova de crime de responsabilidade cometido no presente mandato (como já tive oportunidade de assinalar em outra ocasião, incompetência e mesmo estelionato eleitoral depõem contra Dilma, mas não justificam legalmente o seu impeachment).

Por fim, a terceira não passa de uma quimera, pois demanda uma estadista, que se interesse mais pelo futuro do povo e do país do que pela manutenção apenas nominal, cosmética, do próprio poder.



O país aguentará?
Assim sendo, restará ao país continuar a sangrando por mais três anos, dois meses e nove dias, com Dilma dando seus dedos aos conservadores - muitos dos quais, como o hoje vilão Eduardo Cunha, cresceram à sombra das alianças aéticas do petismo -, desde que lhe deixem os aneis.

Enquanto isso a crise se adensa, o número de desempregados se multiplica, os estabelecimentos fechados se proliferam ao longo dos quarteirões, os salários compram cada vez menos, os relatos sobre o sucateamento da saúde e da Educação se avolumam, e mais índios são mortos ou se suicidam enquanto suas terras são invadidas por ruralistas, sob o olhar complacente da primeira-amiga Kátia Abreu.

E a ansiedade e a estupefação ante a deteriorização do país do futuro assombram cada vez mais cidadãos e cidadãs, que se perguntam: “- Até quando?”.
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quarta-feira, 21 de outubro de 2015

Há 26 anos, 'De Volta para o Futuro 2' via 2015: Veja as previsões certas e as que passaram longe

AFP
Image copyrightAFP
Image captionO DeLorean, carro que leva Marty e Doc em viagens no tempo: previsões de como seria 2015 acertaram em partes e erraram em outras
Em novembro de 1989, Marty McFly e Doc Brown chegaram ao futuro no segundo filme da trilogia De Volta para o Futuro. E o futuro, naquela época, era o dia 21 de outubro de 2015.
Assistindo novamente ao longa quase 26 anos depois, é impressionante notar como muitas das tendências tecnológicas mostradas no filme são comuns no presente.
Image captionA viagem ao futuro foi justamente para 21 de outubro de 2015
Mas De Volta para o Futuro 2 também cometeu erros. Veja abaixo alguns exemplos de previsões acertadas do filme, bem como as que passaram longe da realidade atual:

Transportes

"Para onde vamos não precisamos de estradas" - esta foi uma promessa que o filme não cumpriu.
Universal Pictures
Empresas ensaiaram, sem sucesso, lançamentos de carros voadores. A Terrafugia, de Boston (EUA), é um exemplo: prometeu começar a vender um modelo em 2012, mas ainda está tentando viabilizar o negócio.
De Volta para o Futuro 2 pode ter errado quanto aos carros pelos céus das cidades, mas acertou em um detalhe.
Ouça os efeitos sonoros usados para os carros do filme: eles são quase silenciosos e fazem apenas um zumbido muito baixo, algo que hoje podemos associar ao Toyota Prius e outros carros elétricos.
Universal Pictures
Mas o conversor de energia Mr. Fusion, que transformaria lixo em combustível para o carro, ainda não é viável.
Algumas empresas, no entanto, já testam a geração de energia a partir do lixo. Cidades britânicas como Bristol e Bath recentemente começaram a usar ônibus cujo combustível é feito a partir do tratamento do esgoto e da comida descartada.
Também há esforços em curso em outros lugares para transformar os detritos gerados pela agricultura em um suplemento para gasolina. E o Brasil é um dos maiores produtores e consumidores de biodiesel do mundo.
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BBC
Image captionHoverboard não é uma realidade tão distante em 2015
O modo como o personagem Biff pagou uma corrida de táxi, com a impressão digital do polegar, não é tão diferente da maneira como pagamos por serviços de transporte como aplicativos de táxi, Uber e seu concorrente Lyft, sem usar cédulas de dinheiro.
Até a famosa cena do skate voador, ou hoverboard, não parece totalmente absurda em 2015.
A Lexus demonstrou o funcionamento de seu hoverboard em agosto. Ele requer uma pista de trilhos de metal no chão para poder levitar.
Recentemente o skatista Tony Hawk também foi filmado testando um outro hoverboard, o Hendo, baseado em uma tecnologia magnética parecida à usada pelo skate voador da Lexus.
No entanto, placas de carro com códigos de barra não viraram realidade.
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Moda e beleza

O uso da tecnologia nas roupas já havia sido previsto pelo filme na jaqueta usada por Marty.
As roupas de hoje podem não ter todas as funções do casaco cinematográfico, como o secador interno. Mas alguns pioneiros já estão fazendo experiências: como encaixar eletrônicos nos tecidos das roupas.
Universal Pictures
Os quepes da polícia de De Volta para o Futuro 2 têm pequenas telas onde é possível ler mensagens. O paralelo disso no presente são os vestidos da marca CuteCircuit's, que mostram tuítes.
Universal Pictures
A Nike, por sua vez, já patenteou os tênis que se amarram sozinhos, parecidos com os mostrados no filme.
Quanto aos cuidados com o corpo e a pele, no momento ainda não há esfoliação tão efetiva contra o envelhecimento ao estilo mostrado no personagem de Doc, que foi a uma "clínica de rejuvenescimento".
Universal Pictures
Mas as 6,7 milhões de injeções de botox e 1,2 milhão de peelings químicos realizados apenas nos Estados Unidos no ano passado sugerem que muitos estão pelo menos tentando.
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Os robôs

Universal Pictures
Os drones mostrados em De Volta para o Futuro 2 fazem apenas aparições rápidas, mas são muito atuais.
Organizações de mídia, como a própria BBC, começaram a usar estas pequenas aeronaves com câmeras para conseguir novas perspectivas nas imagens. Mesmo que não se sintam confortáveis enviando os drones para lugares lotados como os mostrados no filme.
Outro tipo de robô mostrado é um frentista de posto mecânico.
Universal Pictures
A Holanda já testou um dispositivo parecido há alguns anos, no projeto TankPitstop. E a Tesla está desenvolvendo algo parecido para carros elétricos.
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Entretenimento

Universal Pictures
Felizmente fomos poupados das sequências de Tubarão em Holomax, como mostrava uma cena de De Volta para o Futuro 2.
Mas a indústria do cinema não desistiu das tecnologias 3D. O último projeto é um sistema de projeção a laser que teria imagens mais "brilhantes, nítidas e claras".
Essa inovação estreou recentemente em Londres com o filme A Travessia que, não por acaso, é do mesmo diretor da trilogia De Volta para o Futuro, Robert Zemeckis.
Mas De Volta para o Futuro 2 acertou mais quando tentou prever como seria o entretenimento dentro de casa.
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A tela plana mostrada na casa de Marty McFly se parece com os painéis flexíveis mostrados recentemente pela LG em exposições do setor. Há rumores de que em breve essas telas serão comercializadas.
Já as televisões controladas pela voz já são realidade graças às smart TVs da Samsung e Sony, além de dispositivos como a Apple TV e o dispositivo da Amazon.
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Óculos inteligentes

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Temos uma pequena pista do que Marty Jr. vê através de seus óculos supertecnológicos mostrados no filme, da marca JVC, que hoje é uma força muito menor no mercado de eletrônicos.
Os maiores nomes do setor hoje estão apostando em várias formas de tecnologia parecida com a mostrada: a Microsoft com o Hololens, o Oculus Rift do Facebook ou a segunda versão do Google Glass.
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No entanto, o maior erro do filme é a ausência dos smartphones.
Marty Jr. inclusive usa no filme um telefone público da operadora americana AT&T. O irônico é que esta foi a primeira companhia a oferecer o iPhone.
Não é que o longa não previsse uma mundo conectado pelos dados. Uma conversa em vídeo ao estilo do Skype é mostrada, e os dados de quem fez a ligação também aparecem. Mas a comunicação ocorre através da TV, e não por smartphones.
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O filme também passou longe da realidade atual quando Marty foi avisado de uma prisão iminente por um jornal em papel, e não por uma tela touchscreen.
Duas décadas antes, o filme 2001: Uma Odisseia no Espaço, de Stanley Kubrick, já tinha mostrado os "newspads".
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Mas um ativista que tenta restaurar a torre do relógio de Hill Valley até parece usar um tablet em uma das cenas do filme.
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Futuro offline

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É difícil ser muito crítico em relação ao filme quando se leva em consideração que a internet tinha sido inventada no ano de lançamento do longa e o primeiro navegador só foi lançado no ano seguinte.
Isso pode explicar por que CD-Roms e os grandes Laser Discs são mostrados em pilhas de lixo. E, em uma era em que o e-mail nem tinha este nome, os futuristas responsáveis pelo filme imaginaram que seria mais fácil mandar um fax no meio da rua.
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Mas isso não explica a quantidade enorme de máquinas de fax na casa de Marty.
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De Volta para o Futuro 2 também previu utensílios como fornos controlados por computador e um hidratador de pizzas. Hoje, no máximo, tempos um chef robótico, apresentado em uma feira em San Francisco, e uma geladeira que faz selfies.
Um acerto mostrado no filme foram as portas controladas por computador - a Universidade de Yale foi a última a lançar um produto como este no começo do mês.
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