sábado, 12 de setembro de 2015

Ódio? Sim, de classe

O governo cede às pressões da casa-grande e aceita o naufrágio dos avanços sociais que ele próprio promoveu nos últimos 12 anos

Tudo como dantes, a situação de hoje prova que o Brasil não muda
A crise econômica oferece à casa-grande a oportunidade de impor sua vontade, favorecida pela leniência de quem haveria de resistir. E está claro que, antes de econômica, a questão é política e social, e diz respeito à estrutura medieval da sociedade nativa. Sofre de miopia quem supõe, do ponto de vista político, que tudo se resuma na disputa do poder entre PT e PSDB, acirrada por níveis de ódio nunca dantes navegados, enquanto PMDB ora assiste de camarote, ora joga lenha na fogueira. Que o diga o vice Temer ao vaticinar impávido que Dilma, de tão impopular, não resiste até o fim do mandato.

Quem não precisa de oculista, percebe, isto sim, que o País é sempre o mesmo e que a situação propicia à casa-grande a oportunidade da revanche depois de 12 anos de batalhas perdidas. O ódio, aquecido pela chance, é o de classe. Ou seja, o de sempre. Na moldura, a chantagem evidente. Dilma fica, vinga, porém, o receituário neoliberal, e o sofrimento da senzala, minorado ao longo de três mandatos petistas, volta a ser aquele que lhe cabe na visão dos senhores.

Programas implementados por Lula, e por Dilma no seu primeiro mandato, responsáveis pela evolução das classes menos favorecidas, ou melhor, miseráveis, são atacados de rijo, a ponto de questionar, paradoxalmente, a razão de ser de um partido dito dos trabalhadores, a se apresentar na origem como de esquerda. Tentativas de escapar ao retorno, do passado, são frustradas no nascedouro, tanto mais agora que uma das agências de rating escaladas pelo neoliberalismo para arbitrar a sorte do mundo sentencia o Brasil como mau pagador.

Penso no fracasso da proposta de reeditar a CPMF, recomendável de todos os pontos de vista e de seguro efeito. Por que soçobrou muito antes de alcançar a praia? Porque mexe com os interesses do privilégio, por menores que sejam, mínimos para o pessoal graúdo. Em compensação, qualquer corte na Educação, ou na Previdência Social, é recebida com indiferença absoluta pelos usuários do cheque.

Como de hábito, paga a maioria, em um país que alega ser democrático e onde a civilização é confundida com o luxo provinciano e espalhafatoso dos bairros ditos nobres, embora despidos de qualquer nobreza em proveito do exibicionismo vulgar. A situação empurra o praticante do jornalismo honesto a duas conclusões.

A primeira diz respeito ao governo. Da Nação ou da minoria? Ou simplesmente desarmado, acuado pela pressão e incapaz de reação? Ou inadequado à gravidade do momento? Ou súcubo da prepotência da casa-grande? CartaCapital sempre defenderá o legítimo, intocável mandato de Dilma Rousseff contra o golpismo que nem me abalo a definir como reacionário, pois anterior à ideia de reação, bem mais moderna, digamos assim.

No princípio, no nosso miúdo universo, não era o verbo, e sim coabitavam o hábito da prepotência e o hábito da submissão. Para romper com esta turva realidade, resistente até hoje, são indispensáveis ousadia intelectual e desassombro moral. Por exemplo, para levar adiante, tenazmente, a proposta do retorno à CPMF, de mais e mais sacrifício tão pequeno para quem pode contribuir à saída da crise.

O desastre ocorre se também um governo eleito dentro da lei entrega-se ao hábito da submissão. Murmuram sinistramente os meus botões: falta é peito, e também coerência. Por parte do governo, que faz genuflexão aos pés do altar do deus mercado, assim como do PT, ameaçado literalmente de extinção.

Governo e partido parecem incapacitados para a aposta certa, no próprio povo brasileiro, esse bem tão importante quanto as dádivas da natureza. Povo espezinhado, mantido o quanto for possível na senzala material e moral. Se porções da população subitamente conseguem evadir-se, que sejam reconduzidas às condições iniciais como o escravo fugido. Trata-se agora de reduzir os percalços de uns poucos para dilatar o sofrimento de muitos.

A segunda conclusão decorre da primeira, e não leva em conta o confronto entre PSDB e PT, ambos traidores, a seu modo, dos princípios e valores que diziam defender. Cabe dividir os brasileiros, não direi em duas classes, e sim em duas categorias. De um lado, aqueles que só cogitam da felicidade própria e dos seus pares, fechados no mundo do privilégio. Do outro, aqueles que se percebem responsáveis pelo destino do País e da Nação, e enxergam sua terra como sua casa e como iguais os conterrâneos, próximos ou distantes.

Mino Carta

Veja mente sobre o Bolsa Família


Foram cancelados cerca de 800 mil benefícios de famílias com renda acima do que estabelece a lei, 
como a família acima. A foto diz tudo.
Nota de esclarecimento do Ministério do Desenvolvimento Social (MDS)

O Bolsa Família não sofreu corte no Orçamento, está integralmente preservado

A revista Veja desta semana mente quando diz que o governo corta benefícios do Bolsa Família para fazer o ajuste fiscal. O Bolsa Família não sofreu corte no Orçamento, está integralmente preservado.

Veja erra quando diz que o número de famílias beneficiárias caiu para 13, 2 milhões. A folha de pagamento de setembro repassou benefícios para 13, 9 milhões de familias. O número de beneficiários vem se mantendo estável desde 2012, com a saída de quem melhora de renda e a entrada de novas famílias.

O governo reafirma seu compromisso com o Bolsa Família e com as rotinas de controle, para que só recebam o benefício (em média R$ 167 mensais por família) os mais pobres, com renda de até R$ 154 por pessoa da família. Para manter o programa bem focalizado, o Ministério do Desenvolvimento Social promove todos os anos a atualização dos cadastros e o cruzamento com outras bases de dados da União.

Neste ano, foram cancelados cerca de 800 mil benefícios de famílias identificadas em cruzamento de bases de dados de salários e aposentadorias (INSS, RAIS e CAGED) com renda acima do que estabelece a lei. No mesmo período, número equivalente de novas famílias passaram a receber o bolsa. Esse movimento é semelhante ao registrado no ano passado, ano eleitoral. O “pente-fino” de que Veja reclama é, portanto, uma rotina de controle muito bem sucedida que garante o foco do programa e zela pelo bom uso dos recursos públicos.

Além disso e diferentemente do que diz a Veja, o Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome (MDS) mantém rigorosamente o acompanhamento da frequência de crianças e jovens às aulas mensalmente, de forma a garantir a presença dos alunos na escola.

O MDS reitera que o Bolsa Família está integralmente preservado de cortes no Orçamento. Neste ano, a previsão de gastos é de R$ 27,7 bilhões. Esse dinheiro vem mantendo milhares de famílias fora da miséria e, mais importante, garante acesso à educação, saúde e serviços.

A revista Veja poderia ter evitado o erro se tivesse procurado o ministério para checar as informações, como recomenda o bom jornalismo.

No MDS

Stiglitz: como os bancos se tornaram uma ameaça global


Sob a hegemonia do Ocidente, o sistema financeiro bloqueia metas da ONU, sabota inovações dos BRICS e quer, agora, punir países que promovam mudanças sociais.

 Por Joseph Stiglitz

Imagem: Carlo Giambarresi
Imagem: Carlo Giambarresi
A III Conferência Internacional de Financiamento para o Desenvolvimento reuniu-se recentemente na capital da Etiópia, Adis Abeba. A conferência aconteceu num momento em que os países em desenvolvimento e mercados emergentes demonstraram capacidade para absorver produtivamente enormes volumes de recursos. As tarefas que esses países estão a assumir – investindo em infra-estrutura (estradas, geração de energia, portos e muito mais), construindo cidades onde um dia viverão milhares de milhões de pessoas e movendo-se em direção a uma economia verde – são verdadeiramente enormes.
Ao mesmo tempo, falta no mundo dinheiro que possa ser utilizado produtivamente. Poucos anos atrás, Ben Bernanke, então presidente do Federal Reserve (Banco Central) dos EUA, falou sobre o excesso de poupança global. Apesar disso, projetos de investimento com elevado retorno social estavam parados por falta de fundos. Isso continua a ser verdade hoje. O problema, à época e agora, é que os mercados financeiros do mundo – cuja função deveria ser intermediar eficientemente recursos de poupança e oportunidades de investimento – fazem, ao invés disso, má alocação dos recursos e geram riscos.
Há outra ironia. A maioria dos projetos de investimento de que o mundo emergente necessita são de longo prazo, assim como a maioria dos recursos disponíveis – biliões em contas de aposentadoria, fundos de pensão e enormes fundos soberanos. Mas os nossos mercados financeiros, cada vez mais incapazes de enxergar o longo prazo, atravancam o caminho entre as duas partes.
Muita coisa mudou nos últimos treze anos, desde que a I Conferência Internacional de Financiamento para o Desenvolvimento ocorreu em Monterrey (México), em 2002. Na época, o G-7 dominava as políticas económicas globais; hoje, a China é a maior economia do mundo (segundo o critério de poder real de compra das moedas), com poupança cerca de 50% superior à dos EUA. Em 2002, as instituições financeiras ocidentais eram consideradas mágicas em gestão de riscos e alocação de capital; hoje, vemos que são mágicas em manipulação de mercado e outras práticas enganosas.
Ficaram para trás os apelos para que os países desenvolvidos honrassem seu compromisso de destinar pelo menos 0,7% do seu PIB para a ajuda ao desenvolvimento. Algumas poucas nações europeias – Dinamarca, Luxemburgo, Noruega, Suécia e, surpreendentemente, o Reino Unido, em meio a sua austeridade auto-infligida – cumpriram as promessas em 2014. Mas os Estados Unidos (que doaram 0,19% do PIB em 2014) encontram-se muito, muitíssimo atrás.
Os países em desenvolvimento e mercados emergentes dizem aos EUA e aos outros ricos: se não vão cumprir as suas promessas, ao menos saiam do meio do caminho e deixem-nos criar uma arquitetura de economia global que trabalhe também para os pobres. 
Agora, os países em desenvolvimento e mercados emergentes dizem aos EUA e aos outros ricos: se não vão cumprir as suas promessas, ao menos saiam do meio do caminho e deixem-nos criar uma arquitetura de economia global que trabalhe também para os pobres. Não surpreende que os países hegemónicos, liderados pelos EUA, estejam a fazer de tudo para frustrar tais esforços. Quando a China propôs o Banco Asiático de Investimento em Infra-estrutura, para ajudar a destinar parte de seu excesso de poupança para onde os recursos são extremamente necessários, os EUA tentaram torpedear o esforço. O governo do presidente Barack Obama sofreu, então, uma derrota dolorosa e altamente embaraçosa.
Os EUA estão também a bloquear os caminhos do mundo em direção a uma lei internacional sobre dívidas e finanças. Para que os mercados de títulos funcionem bem, por exemplo, é necessário que se encontre uma forma organizada de resolver casos de insolvência dos países. Hoje, essa forma não existe. Ucrânia, Grécia e Argentina são exemplos do fracasso dos acordos internacionais existentes. A grande maioria de países reclama a criação de um caminho para a reestruturação das chamadas “dívidas soberanas”. Washington continua a ser o maior obstáculo.
O investimento privado também é importante. Mas as novas disposições de investimento embutidas nos acordos comerciais que o governo Obama está a negociar, com os seus parceiros do Atlântico e Pacífico, sugerem que qualquer investimento direto no exterior terá agora, como contrapartida, uma acentuada limitação na capacidade dos governos de regular o meio ambiente, a saúde, as condições de trabalho e até mesmo a economia.
A posição dos EUA relativa à parte mais disputada da conferência de Adis Abeba foi particularmente dececionante. Como os países em desenvolvimento e mercados emergentes abriram-se para as multinacionais, torna-se cada vez mais importante que eles possam tributar esses gigantes sobre lucros gerados pelos negócios ocorridos dentro das suas fronteiras. Apple, Google e General Electric têm revelado enorme capacidade de driblar tributos que excedam o que empregaram na criação de produtos inovadores.
Todos os países – tanto desenvolvidos como em desenvolvimento – têm vindo a perder milhares de milhões de dólares em receitas tributárias. No ano passado, o Consórcio Internacional de Jornalistas Investigativos divulgou informações sobre fraudes e evasões fiscais em escala global, praticadas graças às regras tributárias frouxas de Luxemburgo, um paraíso fiscal. Talvez um país rico, como os EUA, possa arcar com o comportamento descrito no chamado Luxemburgo Leaks, mas os países pobres não podem.
Integrei uma comissão internacional, a Comissão Independente para a Reforma da Tributação de Corporações Internacionais, que examinou as possibilidades de reforma do sistema tributário atual. Num relatório apresentado à III Conferência Internacional de Financiamento para o Desenvolvimento, fomos unânimes em afirmar que o sistema atual está falido, e que pequenos ajustes não o vão conserta. Propusemos uma alternativa – semelhante ao modo como as corporações são taxadas dentro dos EUA, com lucros alocados a cada estado com base na atividade económica ocorrida dentro das suas fronteiras. Os EUA e outros países desenvolvidos têm feito pressão para que sejam feitos apenas pequenos ajustes, a serem recomendados pela OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico), o clube dos países mais ricos. Noutras palavras, os países de onde vêm os fraudadores e evasores fiscais, poderosos politicamente, deveriam conceber um sistema capaz de reduzir a evasão fiscal. A nossa Comissão explica por que as reformas da OCDE, ajustes num sistema fundamentalmente falho são, na melhor das hipóteses, simplesmente inadequadas.
Novas realidades geopolíticas exigem novas formas de governo global, com mais voz para países emergentes e em desenvolvimento. 
Os países em desenvolvimento e mercados emergentes, liderados pela Índia, argumentaram que o fórum apropriado para discutir tais temas globais é um grupo já existente dentro das Nações Unidas, o Comité de Especialistas em Cooperação Internacional e Assuntos Tributários, cujo estatuto e orçamento têm de ser aumentados. Os EUA opuseram-se fortemente: quiseram manter as coisas como no passado, com a governança global feita pelos e para os países desenvolvidos.
Novas realidades geopolíticas exigem novas formas de governo global, com mais voz para países emergentes e em desenvolvimento. Os EUA prevaleceram em Adis Abeba, mas também mostraram que estão no lado errado da história.
Tradução de Inês Castilho para o Outras Palavras
Fonte: Site Esquerda.net

TAXA DE JUROS, DÍVIDA PÚBLICA E O QUE O BRASIL AMARGA A CADA ANO


A precária correlação entre taxa de juros e dívida pública

Por Diego Costa

Há uma correlação pura entre taxa de juros e aumento da dívida pública, ou outras variáveis influem para que a dívida pública dos países caia ou suba em determinado período?
Vamos colocar alguns dados na mesa de discussão. A partir destes dados teremos mais elementos para discutir o tema da dívida pública no Brasil e no mundo. Vejamos:
-Dívida pública de países selecionados (trajetória entre 2008 e 2015)
1) EUA: dívida pública de 64% do PIB em 2008 e de 103% do PIB em 2015. A taxa de juros dos EUA está em 0,25% ao ano, de forma ininterrupta, desde dezembro de 2008;
2) Zona do Euro: dívida pública de 66% do PIB em 2008 e de 92% do PIB em 2015. A taxa de juros da Zona do Euro caiu de 4,25% ao ano, em 2008, para 1% em 2009. Hoje a taxa está em irrisórios 0,05% ao ano;
3) Espanha (taxa de juros da Zona do Euro): dívida pública de 36% do PIB em 2008 e de 98% do PIB em 2015;
4) França (taxa de juros da Zona do Euro): dívida pública de 64% do PIB em 2008 e de 95% do PIB em 2015;
5) Itália (taxa de juros da Zona do Euro): dívida pública de 103% do PIB em 2008 e de 132% do PIB em 2015;
6) Alemanha (taxa de juros da Zona do Euro): dívida pública de 65% do PIB em 2008 e de 75% do PIB em 2015;
7) Reino Unido: dívida pública de 44% do PIB em 2008 e de 89% do PIB em 2015. A taxa de juros do Reino Unido é de apenas 0,5% ao ano, de forma ininterrupta, desde março de 2009;
8) Japão: dívida pública de 167% do PIB em 2008 e de 230% do PIB em 2015 (mais alta dívida pública do mundo). A taxa de juros do Japão é de irrisórios 0,1% ao ano, de forma ininterrupta, desde dezembro de 2008;
9) Grécia (taxa de juros da Zona do Euro): dívida pública de 105% do PIB em 2008 e de 177% do PIB em 2015;
10) Brasil: dívida pública de 58% do PIB em 2008 e de 64% do PIB em 2015. A taxa de juros do Brasil era de 13,75% ao ano em 2008 e é de 14,25% ao ano em 2015. Neste meio tempo a taxa caiu para 8,25% ao ano em 2009 e fechou 2010 em 10,75% ao ano. Depois caiu para o patamar mínimo histórico de 7,25% ao ano, entre outubro de 2012 e abril de 2013, e fechou o ano de 2014 em 11,75% ao ano.
Qual é a constatação óbvia, absoluta e cristalinamente óbvia deste panorama agora apresentado?
Simples: os países que mais foram impactados pelo Crash de 15 de setembro de 2008 (EUA, Japão, Reino Unido e países da União Europeia), em que pese estarem com taxas de juros praticamente em 0% ao ano há muito e muito tempo, viram as suas dívidas públicas crescerem de forma exponencial.
Já países como o Brasil (também poder-se-ia citar a Índia, a China, a Rússia, a Argentina e outras nações), em que pese estarem com taxas de juros altas em comparação com os países desenvolvidos, viram as suas dívidas públicas ficarem estáveis, com alta apenas residual ou até queda no valor da dívida pública.
Conclui-se, portanto, que é um erro crasso e rotundo falar em dívida pública tendo como premissa básica apenas o valor nominal da taxa de juros (a atual taxa real de juros do Brasil, de 4,7% ao ano, é similar a taxa real de juros, de 4,8% ao ano, que tínhamos no final do ano de 2010).
As políticas anticíclicas de expansionismo fiscal e monetário (Quantitative Easing), praticadas pelos países centrais, tiveram como consequência o aumento exponencial das dívidas públicas, em que pese as taxas de juros terem desabado.
Aliás, diferente de países emergentes como o Brasil, a inflação dos países centrais está em pouco mais de 0% ao ano desde o estouro do Crash de 2008. Justamente por isso, para tentar ''fabricar'' mais inflação, é que as taxas de juros estão no menor patamar da história.
Não fosse assim e os EUA, a Europa e o Japão teriam entrado numa espiral deflacionária pior que a da década de 30 do século passado (aí sim o mundo saberia o que é convulsão social).
Repito, o expansionismo fiscal dos países centrais, com colossais e sucessivos déficits públicos, elevou enormemente as suas respectivas dívidas públicas. Não é uma crítica, mas apenas uma evidente constatação. 
O processo de expansionismo, com velocidades maiores ou menores, está sendo revertido principalmente nos EUA, que estão muito próximos da normalização na política monetária e fiscal. A Europa mantém um expansionismo monetário considerável e começa a apertar na questão fiscal.
Este breve texto não tem a pretensão de esgotar nenhum assunto, mas sim a pretensão de jogar um pouco mais de luz na discussão sobre dívida pública, taxa de juros e inflação. É humanamente impossível falar nestes e em outros índices econômicos sem falar do Crash de 2008 e de seus efeitos que ainda se fazem sentir.
É também impossível falar de economia hoje, no caso do Brasil, sem falar de câmbio, do pior crescimento econômico da China desde 1989, da maior contração do comércio internacional desde 2009, da queda brutal no valor das commodities agrícolas e minerais, iniciado com força em meados do ano passado, etc.
Qualquer discussão econômica que se fixe numa única variável - por exemplo, na questão da taxa de juros - sem analisar as outras múltiplas variáveis e o atual contexto nacional e internacional duríssimo em que vivemos, é apenas uma conversa de boteco. (Fonte: aqui).
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De fato, são variáveis as mais diversas a influenciar a questão, conforme, aliás, ressaltam muitos dos comentários suscitados pelo post. 
Sem pretender questionar a legitimidade da dívida pública brasileira, limitamo-nos tão somente a lamentar quanto dinheiro poderia ser aplicado em saúde, educação, transporte etc caso o famigerado serviço da dívida não impusesse ao Brasil um ônus tão estratosférico ano após ano:

"Em 2014, o governo federal gastou R$ 978 bilhões com juros e amortizações da dívida pública, o que representou 45,11% de todo o orçamento efetivamente executado no ano.

Essa quantia corresponde a 12 vezes o que foi destinado à educação, 11 vezes aos gastos com saúde, ou mais que o dobro dos gastos com a Previdência Social..." (Clique AQUI para ver o texto completo).

sexta-feira, 11 de setembro de 2015

Correntes oceânicas - rios que correm dentro do mar


Foto: Reprodução/ Van Gogh - A Noite Estrelada
Veja nesta animação da NASA as correntes oceânicas de superfície correndo ao redor do mundo. A animação não contém narração ou legendas, seu objetivo é simplesmente usar os fluxos dos oceanos para criar uma experiência visual simples e visceral

Brasil 247

Cientistas do Goddard Space Flight Center Scientific Visualization Studio, da Nasa, realizaram esta surpreendente animação que mostra as correntes marinhas de superfície no arco de tempo entre junho 2005 e dezembro 2007.

Em oceanografia, chamam-se correntes oceânicas ou correntes marítimas ao fluxo das águas dos oceanos, ordenadas ou não, decorrentes da inércia da rotação do planeta Terra, dos ventos e da diferença de densidade das águas. Suas movimentações não são bem definidas por haver continentes e ilhas ao longo da sua movimentação, portanto, correm com grande variabilidade. Influenciam na pesca, na vida marinha e no clima. Uma das correntes oceânicas mais conhecidas e importantes é a Corrente do Golfo, que se forma na região do Golfo do México e atravessa todo o Atlântico, levando águas mais quentes até o litoral da Grã-Bretanha e da Noruega. Não fosse essa corrente, a temperatura média nessas regiões seria muito mais baixa do que realmente é.

Essa corrente fria sai da Antártica, passa pela Argentina e chega ao Brasil

Os dados utilizados neste vídeo e animação são extraídos de um modelo computadorizado chamado ECCO2 (Estimating the Circulation and Climate of the Ocean, fase 2) que estuda a circulação global das correntes e do gelo marinho. O modelo simula o fluxo das correntes em todas as profundidades, mas este vídeo mostra apenas os movimentos das correntes superficiais. Curioso: elas lembram muito as pinceladas circulares de algumas pinturas de Vincent Van Gogh.”



O maior objeto do Universo

Segundo um astrônomo, um vazio tão enorme não é comum, assim como é raro que uma área fria esteja coincidentemente alinhada com o vazio

"Há mais de dez anos, enquanto mediam a temperatura do Universo, astrônomos encontraram algo estranho: uma faixa do espaço com uma largura equivalente a 20 luas e que era extraordinariamente fria.



A descoberta ocorreu quando esses cientistas exploravam a radiação de micro-ondas que envolve todo o Universo, conhecida como Radiação Cósmica de Fundo em Micro-ondas (CMB, na sigla em inglês). É a região que temos mais parecida com o que era o Universo quando ele foi criado.

A CMB permeia o espaço e tem praticamente o mesmo aspecto em todas as áreas, emitindo uma temperatura fria de 2.725 kelvins ─ apenas alguns graus a mais do que 0oC. Com o uso novos satélites com sondas para micro-ondas (WMAP, na sigla em inglês), os astrônomos passaram a tentar descobrir as mínimas variações de temperatura nessa massa.

Foi ali que eles encontraram essa área fria, que, apenas recentemente, foi atribuída a uma gigantesca caverna vazia, chamada de "supervazio" cósmico ─ tão grande que pode ser o maior objeto existente em todo o Universo.
Segundo a teoria, um vazio tão enorme, onde não existe nem uma mera estrela, pode deixar uma marca glacial na CMB. 

A formação da área fria

Tudo o que existe no cosmos ─ galáxias e matéria negra invisível ─ se espalha pelo espaço em uma vasta rede de filamentos. Entre eles, há bolsões de vazio de várias formas e tamanhos.

Um vazio realmente grande pode atuar como uma lente, fazendo o CMB parecer mais frio do que é.

Tudo o que existe no cosmos ─ galáxias e matéria negra invisível ─ se espalha pelo espaço em uma vasta rede de filamentos
Assim como a maioria das coisas, a luz também está sujeita à influência da gravidade, que age sobre os fótons em seu trânsito. Mas dentro do vazio, a escassez de matéria faz com que não exista praticamente gravidade. Quando um fóton penetra no vazio, ele perde energia, mas depois pode recuperar a energia perdida.

Enquanto um fóton navega por um vazio, o Universo continua a se expandir. Quando o fóton sai do vazio, encontra a matéria mais espalhada. Por isso, o efeito da gravidade sobre ele não é tão forte.

Físicos descreveram esse fenômeno pela primeira vez no fim dos anos 60, mas ninguém nunca o observou. Depois da descoberta da área fria, astrônomos como Istvan Szapudi, da Universidadedo Havaí, começaram a buscar provas desse comportamento, chamado efeito de integração Sachs-Wolfe (ISW), e as encontrou em 2008.

Szapudi e sua equipe procuraram pelo efeito ISW na análise estatísticas de cem vazios ou aglomerações de galáxias, e descobriram que o fenômeno muda a temperatura da CMB em cerca de 10 milionésimos de kelvin (ou 10 microkelvins).

Em comparação com a área fria, que tem uma temperatura 70 microkelving mais fria do que a média da CMB, trata-se de um efeito pequeno. Mas os cientistas conseguiram mostrar que os vazios podem criar áreas frias ─ e um supervazio seria capaz de formar uma grande área fria.

Para procurar pelo supervazio, Szapudi e seus colegas varreram uma área que cobriria o local onde estaria a área fria. Eles a encontraram a menos de 3 bilhões de anos-luz da Terra, e descobriram se tratar de um objeto gigantesco.
Seu raio mede mais de 700 milhões de anos-luz, o que faz dele provavelmente a maior estrutura física do Universo.

Segundo o astrônomo, um vazio tão enorme não é comum, assim como é raro que uma área fria esteja coincidentemente alinhada com o vazio. "É muito mais provável que o vazio esteja gerando a área fria", diz ele.

Dúvidas sobre a estrutura

Mas outros astrônomos ainda duvidam que se trate de um supervazio.
Patricio Vielva, da Universidade da Cantábria, na Espanha, que liderou a descoberta da área fria em 2004, acredita na possibilidade de essa região ser o resultado de uma textura cosmológica, um defeito no Universo semelhante às fissuras encontradas no gelo.

Segundo teoria, um vazio tão enorme no espaço pode deixar uma marca glacial na CMB

Em 2007, Vielva conseguiu demonstrar que se existe uma textura no Universo, ela poderia criar a área fria através do efeito ISW.

Já o astrônomo Rien van de Weijgaert, da Universidade de Groningen, na Holanda, acredita que a textura seja mera especulação.

"Para a maioria de nós, o supervazio ainda parece ser a melhor explicação para a área fria", afirma o holandês.

Para entender mais, é necessário coletar mais dados. Por enquanto, fazendo mais observações que possam trazer medidas mais precisas do tamanho e das propriedades do supervazio.

Se o supervazio for realmente confirmado, ele será a primeira medida de um objeto que deixa uma marca na CMB através do efeito ISW. Isso é importante não apenas pelo tamanho extraordinário da estrutura. "Teremos com ele uma maneira a mais para estudar a energia negra, que é uma das coisas mais intrigantes do Universo", afirma Szapudi."

Alzheimer pode ser transmissível, diz estudo

O Alzheimer é um tipo de demência mais comum em pessoas de idade avançada
"Pesquisadores britânicos dizem ter encontrado evidências de transmissão da Doença de Alzheimer durante procedimentos médicos, em um padrão semelhante ao observado com outro mal degenerativo cerebral, a Doença de Creutzfeldt-Jakob.
BBC Brasil  

Em um estudo publicado na revista científica Nature, cientistas da University College London argumentam que instrumentos cirúrgicos e agulhas podem apresentar um raro mas potencial risco de contágio.
Placas

Trata-se de uma estimativa ainda teórica, feita com base em autópsias de cérebros de oito pacientes. Especialistas já refutaram o "palpite", dizendo que os resultados do estudo são inconclusivos.

O Alzheimer é um tipo de demência que é mais comum em pessoas de idade avançada. Trata-se de uma "morte" de células cerebrais e de um encolhimento do órgão, o que afeta muitas de suasfunções. Cerca de 35 milhões de pessoas no mundo sofrem de Alzheimer.
Instrumentos cirúrgicos poderiam "carregar" os depósitos de proteína
No Brasil, a doença degenerativa afeta cerca de 1,2 milhão de pessoas.

A Doença de Creutzfeldt-Jakob (CJD) pode afetar pessoas mais jovens.
Há dois grandes sinais do Alzheimer que podem ser detectados por cientistas. O primeiro é um aglomerado de fragmentos proteicos da proteína beta-amiloide, chamados de placas amiloides. O outro é a presença de emaranhados de uma proteína conhecida como tau.

Quando a equipe de cientistas comandada John Collinge estudou os cérebros de pacientes recém-falecidos em função da Doença de Creutzfeldt-Jakob (CJD, na sigla inglesa), topou justamente com essas pistas.
Baixo

Todos os pacientes tinham contraído a doença através de injeções de hormônio de crescimento que receberam quando crianças. Entre os oito corpos estudados, sete tinham depósitos amiloides, algo surpreendente por causa da idade relativamente jovem (entre 31 e 51 anos).

Para Collinge, a descoberta sugere que os hormônios podem ter passado pequenas quantidades - ou "sementes" - de beta-amiloides, além das proteínas que causaram o CJD.

Isso significa que, em teoria, amiloides podem ser espalhados acidentalmente em procedimentos médicos e cirúrgicos e "semear" o Alzheimer.
O Alzheimer afeta mais de 30 milhões de pessoas no mundo, inclusive no Brasil
Estudos feitos em animais corroboram a tese, mas é preciso cautela.
Nenhum dos pacientes analisados teve diagnóstico de Alzheimer e não está claro se desenvolveriam demência. Também não há provas de que o acúmulo de amiloides estava diretamente ligado às injeções de hormônios.

Collinge, por sinal, afirma que mais estudos precisam ser feitos. Ele diz já ter contactado o Ministério da Saúde do Reino Unido para checar se existem antigos estoques de hormônio de crescimento que podem ser examinados para detectar a presença de amiloides.

"Não acho que seja causa para alarme. Ninguém precisa adiar ou cancelar cirurgias", disse o cientista.

Tratamentos com injeções de hormônio de crescimento - extraídos de cadáveres humanos - foram interrompidos em 1985 depois de descoberto o risco de contágio com CJD. Testes especiais passaram a ser feito em hospitais para minimizar os riscos.

Para o médico Eric Karran, diretor da Alzheimer Research UK, entidade que promove pesquisas sobre a doença, as atuais medidas de profilaxia hospitalar já tornam o risco de contágio com CJD extremamente baixo, e mesmo que se confirme o risco de transmissão do Alzheimer, há fatores mais determinantes.

"Os principais fatores de risco do Alzheimer ainda são idade, genética e hábitos", afirma Karran."

FAO: Segundo especialistas, pesca pode aumentar no Brasil e gerar mais empregos

A indústria de pesca gera pelo menos 170.000 empregos por ano. Técnicos na área discutiram formas de ampliar a produção no setor.
A pesca gera empregos e subsistência para famílias.Foto:IRIN/Shamsuddin Ahmed
A pesca gera empregos e subsistência para famílias.
Foto:IRIN/Shamsuddin Ahmed
A produção de peixes e camarões na sub-região Brasil-Guiana pode dobrar e gerar mais oportunidades de trabalho, segundo especialistas do setor que se reuniram em 7 e 8 de setembro em Barbados. Com o apoio da Organização da ONU para Alimentação e Agricultura (FAO), o grupo de especialistas discutiu a gestão de camarão e peixes do fundo do mar e as opções de investimento para as indústrias na sub-região que compreende Brasil, Venezuela, Guiana Francesa, Guiana, Trinidade, Tobago e Suriname.
Cerca de 45% da produção de camarão do Atlântico Centro-Oeste é originada no eixo Brasil-Guiana. Segundo os especialistas, esse setor de pesca contribui para a segurança alimentar e o desenvolvimento socioeconômico, gerando 850 milhões de dólares anualmente para os seis países compreendidos na área. Além disso, são criados pelo menos 170.000 empregos, gerando meios de sobrevivência para mais de 600.000 famílias.
Para o secretário da Comissão das Pescas do Atlântico Centro-Oeste (WECAFC), Raymon van Anrooy, presente no encontro, o lucro na área pode aumentar com a implementação de investimentos focados na infraestrutura da comunidade de pesca, na tecnologia pesqueira ecologicamente sustentável, na busca de navios que gastem menos combustível e com desenvolvimento organizacional e institucional. O projeto abrange um plano de investimento no setor, que precisa ser seguido pelos países da sub-região em 2016.
fonte: http://nacoesunidas.org/fao-segundo-especialistas-pesca-pode-aumentar-no-brasil-e-gerar-mais-empregos/

quinta-feira, 10 de setembro de 2015

6 ideias para que os super-ricos paguem a conta


Via Unisinos
Faz alguns anos, a Receita Federal divulga os grandes números das declarações de renda. Neste ano, divulgou dados que nunca divulgara. E com isso ficamos sabendo, número por número, coisas estarrecedoras que só podíamos deduzir, observando o comportamento de nossos ricaços.

A reportagem é de Reginaldo Moraes, publicada por  Brasil Debate, 09-09-2015.

Veja alguns destaques:

Quantas pessoas físicas fazem declaração?

Quase 27 milhões.

Qual é o “andar de baixo”?

Os 13,5 milhões que ganham até 5 salários mínimos. Se deixassem de pagar IR, a perda seria de mais ou menos 1% do total arrecadado pela receita. Só. E gastariam esse dinheiro, provavelmente, em alimento, roupa, escola, algum “luxo popular”.

Quais são os andares de cima?

São três andares:

1. Os que ganham entre 20 e 40 salários mínimos. Correspondem a mais ou menos 1% da população economicamente ativa. Podem ter algum luxo, pelos padrões brasileiros. Mas pagam bastante imposto.

2. Tem um andar mais alto. Os que ganham entre 40 e 160 SM representam mais ou menos 0,5% da população ativa. Já sobra algum para comprar deputados (ou juízes).

3. E tem um andar “de cobertura”, o andar da diretoria, da chefia. A nata. A faixa dos que estão acima dos 160 SM por mês. São 71.440 pessoas, que absorveram R$ 298 bilhões em 2013, o que correspondia a 14% da renda total das declarações. A renda anual média individual desse grupo foi de mais de R$ 4 milhões. Eles representam apenas 0,05% da população economicamente ativa e 0,3% dos declarantes do imposto de renda. Esse estrato possui um patrimônio de R$ 1,2 trilhão, 22,7% de toda a riqueza declarada por todos os contribuintes em bens e ativos financeiros. Pode estar certo de que são estes que decidem quem deve ter campanha financiada. Podem comprar candidatos e, também, claro, sentenças de juízes.

Quem sustenta o circo? Quem mais paga IR?

A faixa que mais paga é a do declarante com renda entre 20 e 40 salários mínimos, que se pode chamar de classe média ou classe média alta.

Quem escapa do leão?

O topo da pirâmide, o grupo que tem renda mensal superior a 160 salários mínimos (R$ 126 mil). As classes média e média alta pagam mais IR do que os verdadeiramente ricos.

Em 2013, desses 72 mil super-ricos brasileiros, 52 mil receberam lucros e dividendos – rendimentos isentos. Dois terços do que eles ganham sequer é taxado. São vacinados contra imposto. Tudo na lei, acredite. A maior parte do rendimento desses ricos é classificada como não tributado ou com tributação exclusiva, isto é tributado apenas com o percentual da fonte, como os rendimentos de aplicações financeiras.

Em 2013, do total de rendimentos desses ricaços, apenas 35% foram tributados pelo Imposto de renda pessoa física. Na faixa dos que recebem de 3 a 5 salários, por exemplo, mais de 90% da renda foi alvo de pagamento de imposto. Em resumo: a lei decidiu que salário do trabalhador paga imposto, lucro do bilionário não paga.

O que isso exige da ação política?

Quando a classe trabalhadora e suas organizações se enfraquecem, burocratizam ou recuam, deixam a ideologia e os sentimentos da classe média sob o comando da classe capitalista. Mais ainda, da sua ala mais reacionária. Pior ainda: a direita conquista até mesmo o coração dos trabalhadores que são tentados a se imaginar como “classe média”.

Na história do século XX, o resultado disso foi a experiência do fascismo, em suas múltiplas formas e aparições.

Nos últimos anos, os bilionários brasileiros e seus cães de guarda na mídia perceberam que podiam conquistar o ressentimento da classe média para jogá-la contra os pobres, os nordestinos, os negros, tudo, enfim, que se aproximasse dos grupos sociais que fossem alvo de políticas compensatórias, de redistribuição. E contra governos e partidos que tomassem essa causa.

E a esquerda, de certo modo, assistiu a essa conquista ideológica sem ter resposta. Uma resposta política: a criação de movimentos reformadores que fizessem o movimento inverso, isto é, colocassem essa classe média contra os altos andares da riqueza. Nós não soubemos fazer isso. Talvez pior: acho que nem tentamos fazer isso.

Aparece agora essa urgente necessidade e a providência divina, travestida de Receita Federal, nos traz uma nova chance.

Já sabíamos que os brasileiros mais pobres pagam mais impostos, diretos e indiretos, do que os brasileiros mais ricos. Sabemos que todos pagamos imposto sobre propriedade territorial urbana – o famoso IPTU. E conhecemos o estardalhaço que surge quando se fala em taxar mais os imóveis em bairros mais ricos.

Mas sabemos coisa pior: grandes proprietários de imóveis rurais não pagam quase nada. Sobre isso não tem estardalhaço. É assim: se você, membro da “classe média empreendedora” passeante da Avenida Paulista, tem uma loja, oficina ou restaurante de self service, paga um belo IPTU. Se você fosse um grande proprietário rural (como os bancos e as empresas de comunicação), seu mar de terras com uma dúzia de vacas não pagaria ITR. Ah, sim, teria crédito barato.

Tudo isso já é mais ou menos sabido e merece reforma. Mas ainda mais chocante é o que se chama de “imposto progressivo sobre a renda”, que agora sabemos que é ainda menos progressivo do que imaginávamos.

Faz algum tempo escrevi um artigo dizendo que a Receita Federal deveria concentrar sua fiscalização na última faixa dos declarantes pessoa física, responsável por 90% do IR. Se o resto simplesmente deixar de pagar não vai fazer tanta diferença. Além disso, a faixa mais alta é aquela que menos recolhe na fonte e a que mais tem “rendimentos não tributáveis” e de “tributação exclusiva”, isto é, rendimentos derivados de investimentos, não de pagamento do trabalho.

Fui injusto ou impreciso, moderado demais. A Receita e os legisladores podem economizar mais tempo do que eu supunha. Basta que prestem atenção em 100 mil contribuintes, do total de 26 milhões. Essa é a mina. Se conseguir que eles paguem o que devem e se conseguir que eles percam as isenções escandalosas que têm, posso apostar que teremos mais dinheiro do que os ajustes desastrados e recessivos do senhor ministro da Fazenda.

O que isso significa para o que chamamos de esquerda – partidos, sindicatos, movimentos sociais? Sugiro pensar em um movimento unificado com uma bandeira simples: que esses 100 mil ricaços paguem mais impostos e que deem sua “contribuição solidária” para reduzir a carga fiscal de quem trabalha. É preciso traduzir essa ideia numa palavra de ordem clara, curta e precisa, mobilizadora. E traduzi-la numa proposta simples e clara de reforma, cobrada do governo e do Congresso. A ideia é simples: isenção para os pobres, redução para a classe média, mais impostos para os ricaços.

Talvez essa seja uma boa ideia para fazer com que a “classe média” que atira nos pobres passe a pensar melhor em quem deve ser o alvo da ira santa. Afinal, milhares e milhares de pagadores de impostos foram para as ruas, raivosos, em agosto, enquanto os nababos que de fato os comandam ficavam em seus retiros bebendo champanhe subsidiada.

Os passeadores da Avenida Paulista são figurantes da peça, eles não sabem das coisas – os roteiristas e produtores nem deram as caras.

Em que rumo os partidos e movimentos populares devem exigir mudanças?

1. É justo e perfeitamente possível isentar todo aquele que ganha até 10 salários mínimos. Não abala a arrecadação se cobrar um pouco mais dos de cima.

2. É necessário e legítimo criar faixas mais pesadas para os andares mais altos. Mas não é suficiente.

3. É preciso mudar as regras que permitem isenção e desconto para lucros e dividendos.

4. É preciso e é legítimo mudar as regras para os pagamentos disfarçados, não tributáveis, em “benefícios indiretos”. A regra tem sido um meio de burlar a taxação.

5. É preciso e é legítimo mudar as regras de imposto sobre a propriedade territorial. A classe média estrila com o IPTU. Mas deveria é exigir cobrança do ITR.

6. É preciso ter um imposto sobre heranças. Com isenção para pequenos valores e tabela progressiva.
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