terça-feira, 8 de setembro de 2015

Para que servem as cadeias?


Assisti a uma reportagem sobre o sistema prisional da Suécia. Lá, cada cela tem apenas um detento, e a mesma é como se fosse um quarto normal. Os detentos estudam de manhã e trabalham a tarde. Não há escolha, eles estudam e trabalham. O dinheiro do trabalho vai uma parte para a própria prisão e a outra para o detento. Neste sistema, a dignidade de quem teve sua liberdade privada é mantida e o principal objetivo é recuperar o infrator para que, depois de cumprir sua pena, não volte a cometer delitos. Com isso, a população carcerária da Suécia está diminuindo consideravelmente e prisões estão fechando e dando lugar à hotéis.
Seguindo o caminho contrário, a população carcerária brasileira quadruplicou em apenas 20 anos. O brasileiro tem uma visão errada de cadeia. Para a maioria, a cadeia é apenas para punir, ou fazer sofrer aquele que cometeu algum delito. É o “bandido bom é bandido morto”.
O sentimento é de que quanto maior o número de presos, maior é nossa segurança. Acontece que isso é uma ilusão. Peço que antes que falem que estou defendendo bandido, parem para pensar e analisar um pouco. São 500 mil pessoas presas no Brasil. Ou seja, são 500 mil pessoas vivendo como bichos, em ambientes insalubres e dividindo cela com um número de pessoas bem maior que o ideal. São 500 mil pessoas presas na qual metade não foi julgada culpada e nem tem acesso ao seus papéis. São 500 mil pessoas em que a maioria é negra, de origem pobre e não teve muitas oportunidades na vida. É uma população que ninguém quer ver ou fazer alguma coisa.
É um grupo enorme de pessoas que incomoda, que causa desconforto até para quem vê pela televisão. Para a maioria das pessoas, o ideal seria que todas os presos fossem mortos, fazendo uma limpa. Se a população carcerária está crescendo, vamos construir mais cadeias, elas pensam.
Uma pessoa que comete um crime, é presa e vive em uma cela como animal, vai sair de lá como? Nós queremos justiça ou vingança?
Esse sistema de punição, do castigo, é algo que vários países já superaram. Mas no Brasil, o político não está preocupado em melhorar o país, e sim preocupado com o voto. Um político que fala que vai mudar o sistema prisional e trazer mais dignidade para quem está preso, é tido como defensor de bandido. Os políticos somos nós.
O Brasil prende desenfreadamente. Nós temos uma polícia autoritária, racista e higienista. Metade dos presos no país não foi a julgamento.
A solução para o problema da segurança é superar o sistema do castigo. Penas alternativas são uma boa saída num país onde o cara que roubou uma manteiga divide cela com um psicopata que matou a própria família. É preciso manter a dignidade até de quem está preso por um crime. Novamente, não estou defendendo bandido. Eu estou querendo que esse ciclo vicioso de liberdade-crime-cadeia acabe.

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