terça-feira, 8 de setembro de 2015

Os dez mandamentos de uma televisão agonizante


Assisti, por alguns minutos, a um trecho da telenovela "Os Dez Mandamentos", exibida na Rede Record. 

Confesso, fiquei assustado.

Pensei que estivesse, sem saber, viajado no tempo e caído lá pelos anos 50, quando a televisão brasileira engatinhava.

Que coisa ruim!

Pensei também, enquanto via atores vestidos como se estivessem num daqueles bailes de carnaval de antigamente, dialogando com sotaque carioca num cenário saído das chanchadas da Atlântida, em como é possível que, em pleno ano de 2015, com toda a tecnologia do mundo à sua disposição e recursos fartos para contratar os melhores profissionais, se produza algo daquele nível.

Não assisto novelas há décadas, mas leio que a audiência das produções da Globo, nos últimos tempos, despenca.

Não é para menos, já que os brasileiros hoje têm a possibilidade de assistir, seja na TV paga, seja nos serviços de streaming, como a Netflix, o que de melhor se produz no mundo.

A comparação entre o que é feito no exterior e no Brasil é vexatória - para nós, claro.

O processo da troca da TV aberta por serviços originados pela internet ainda é lento no Brasil, mas inexorável.

Os donos das concessões de televisão se mostram incomodados com a concorrência da Netflix e já botaram para funcionar, em todas as instâncias, o poderoso lobby que podem patrocinar com o lucro acumulado em décadas de oligopólio.

Pelo visto, até o próprio Ministério das Comunicações se engajou nessa batalha para impedir a chegada da modernidade ao país.

Mas enquanto Globo, Record e as outras redes ainda não expulsaram os invasores dos céus pátrios, é possível a qualquer pessoa, pela módica quantia de cerca de R$ 20 mensais e uma conexão rápida à internet, assistir, por exemplo, entre milhares de outros títulos, na hora em que quiser, a uma série como "Club de Cuervos", a primeira produção latino-americana da Netflix, uma ótima comédia sobre a briga de dois irmãos que disputam a direção de um time de futebol mexicano. 

"Club de Cuervos" tem tudo o que as produções nacionais não têm: ótimo roteiro, atores fantásticos, fotografia e cenografia de altíssima qualidade e diálogos inteligentes. 

Perto de uma produção dessas, "Os Dez Mandamentos", com seus atores bem penteados e maquiados, cheios de miçangas de camelôs, vestindo roupas incrivelmente limpas e sem amassados, em pleno Egito dos faraós, soa mais como comédia do que o drama bíblico que pretende ser. 

Nem os bispos da Record podem levar isso a sério...

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