sexta-feira, 24 de maio de 2013

Desemprego em queda incomoda a elite



Altamiro Borges, Blog do Miro

“O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgou nesta quinta-feira que o desemprego em abril caiu para 5,8%. É a menor taxa desde 2002. Em abril do ano passado, o índice foi de 6%. O total de desocupados nas seis regiões metropolitanas pesquisadas pelo órgão — Belo Horizonte, Porto Alegre, Recife, Rio de Janeiro, Salvador e São Paulo — foi estimado em 1,4 milhão; já o contingente de pessoas ocupadas nas principais regiões metropolitanas do país atingiu 22,9 milhões. O número de trabalhadores com carteira de trabalho assinada no setor privado ficou estável em relação a março e cresceu 3,1% em relação a abril de 2012. Foram mais 342 mil postos de trabalho com carteira assinada em um ano, chegando a 11,4 milhões de pessoas.

Estes números indicam que, apesar da grave crise mundial, o Brasil ainda consegue evitar seus piores efeitos. Enquanto na Europa e nos EUA, os índices de desemprego batem recordes históricos e geram perda de perspectiva entre os trabalhadores, principalmente entre os mais jovens, no país o emprego segue em alta. As políticas adotadas pelo governo Dilma de estímulo ao mercado interno - de redução dos juros, ampliação do crédito e mesmo as temíveis desonerações tributárias - têm conseguido evitar o pior da crise capitalista internacional. A questão que se coloca é se elas ainda são suficientes!

O emprego em alta, porém, não é manchete dos jornalões nem motivo de alegria dos comentaristas da televisão. Os urubólogos da mídia seguem com as suas análises pessimistas, apostando no quanto pior melhor - para os rentistas e para a oposição de direita. Muitos deles, inclusive, já afirmam na maior caradura que o desemprego em queda prejudica os negócios empresariais, reforçando o poder de barganha dos trabalhadores nas negociações salariais. Na prática, os representantes do capital são contra as medidas de aquecimento do mercado interno. Eles preferem receitar mais desemprego, mais arrocho salarial e menos direitos trabalhistas.”

O espectro do tautismo ronda a TV Globo




A linguagem da TV Globo sempre abusou das metalinguagens como exercício de demonstração do seu poder tecnológico e financeiro: passar a maior parte do tempo transmitindo a sua própria transmissão. Porém, nessa semana percebemos a recorrência de um fenômeno novo, desde a notícia da morte de turistas brasileiros na Turquia. Um fenômeno que o pesquisador francês Lucien Sfez chama de “tautismo”: um processo de comunicação sem personagens que só leva em conta a si mesmo, resultando em uma situação simultânea de autismo e tautologia. Isso seria o resultado final de todo sistema complexo que começa a fechar-se em si mesmo, tornando-se cego ao ambiente externo. Sem conseguir estabelecer a diferença entre “dentro” e “fora”, “ficção” e “realidade”, o sistema torna-se autofágico. O tautismo poderia ser o sinal decisivo do fim da hegemonia da TV Globo?    
Um fantasma ronda os corredores da TV Globo. É o espectro do tautismo. Esse neologismo criado pelo pesquisador francês Lucien Sfez através da combinação das palavras “tautologia” (do grego tauto, o mesmo) e “autismo” (autos, si mesmo) talvez nomeie uma estranha recorrência nesses últimos dias na programação da emissora.
Em um espaço de menos de uma semana em uma amostragem bem aleatória, encontrei uma repetição de eventos, sejam eles conteúdos de ficção ou não-ficção, onde sempre há um princípio de auto-referência.
 
O primeiro, a notícia de um acidente que resultou na queda de um balão com sete brasileiros feridos e três mortos na Capadócia, Turquia. Segundo depoimento de um casal, eles decidiram viajar depois que viram as imagens da Turquia na novela “Salve Jorge”. Embora a TV Globo tenha omitido essa informação dada por diversos portais de notícias, para os espectadores ficou nítida a coincidência entre o último capítulo da novela e o acidente 48 horas depois.
Neymar perseguido por "maria chuteira" na
nova novela da TV Globo: auto-referência e
circularidade
O segundo, após a final do campeonato paulista entre Santos e Corinthians transmitida pela TV Globo, meia hora depois no programa “Domingão do Faustão” aparecem cenas da próxima novela da emissora com uma sequência onde o principal jogador do Santos, Neymar Jr., é perseguido por uma “maria chuteira” em um apartamento.
Terceiro: no programa “Encontro com Fátima Bernardes” de 20/05/2013 o tema discutido era células tronco e clonagem. Em meio às discussões baseadas em experiências reais, Fátima Bernardes introduz cenas da novela “O Clone” (2002). Imagens ficcionais produzidas pela teledramaturgia da emissora para ilustrar uma discussão jornalística. Parece que somente o fato real não é o suficiente. É necessária a chancela da narrativa ficcional.
E quarto, na edição do telejornal “SP TV” do dia 22/05/2013 a pauta era a revitalização do Centro da cidade de São Paulo. Corta para uma repórter que está em uma ampla sacada de um prédio com uma linda vista para a Praça da República. Quem mora naquele apartamento cuja paixão pela região central o fez escolher aquele bairro para viver? O cozinheiro Olivier Anquier, com programas de culinária do canal fechado GNT da Globo e foi casado com a atriz global Débora Bloch.
 

O Tautismo

 
Da tautologia sabe-se que é uma repetição lógica, em que o resultado do raciocínio é igual à sua proposição. E o autismo caracteriza-se por um distúrbio ou estado mental de fechamento, de criação de um mundo próprio com pouco ou nenhum contato com o mundo exterior.
Sfez acredita que o tautismo seria a característica do que ele chama de “comunicação confusional”, traço dominante contemporâneo onde o processo comunicacional teria se tornado um diálogo sem personagem. Só leva em conta a si mesmo, isto é, a comunicação como seu próprio objeto (veja SFEZ, Lucien. Crítica da Comunicação. São Paulo: Loyola, 2000).
Para ele o tautismo seria o resultado final da hipertrofia dos sistemas de comunicações que, como todo e qualquer sistema complexo, teriam as seguintes características: auto-organização e fechamento.

Varela (esq.) e Luhumann (dir.): sistemas 
tendem a ficar "cegos" em relação 
ao mundo exterior
Para teóricos de sistemas como o chileno Francisco Varela ou o alemão Niklas Luhumann, os sistemas tendem a se auto-organizarem para estabelecerem trocas e informações com o mundo externo, porém o ambiente já seria cartografado por projeções do próprio sistema, de modo que aquilo que viesse de novo do ambiente se transformaria em apenas mais um vetor de projeção anterior do sistema sobre o ambiente. Isso criaria um “fechamento operacional” onde qualquer informação externa é traduzida por uma descrição que o sistema faz de si mesmo.
Por exemplo, para Varela o sistema nervoso seria uma rede fechada de neurônios laterais paralelos, que atuariam uns sobre os ouros de maneira recursiva. Aqui não haveria exterior, nem interior, mas fechamento. Não existiria distinção alguma a ser feita entre percepção e alucinação.
 

O fechamento operacional

 

Os quatro casos descritos acima contém esse estranho fenômeno de circularidade e auto-refrência que caracteriza o fenômeno do tautismo nos sistemas.
Embora a auto-referência tenha sido involuntária para a TV Globo, o incidente na Capadócia somente ganhou espaço midiático pelas conexões com a novela “Salve Jorge”. Não fosse isso, a tragédia com turistas brasileiros se resumiria às sessões de “drops” de notícias. Mas a notícia encerra essa estranha circularidade do tautismo: não há mais fronteira entre “fora” e “dentro” para os sistemas de comunicação: a realidade remete à ficção e a ficção torna-se a própria realidade. Hipótese vertiginosa: a novela de Gloria Perez teria indiretamente produzido o acidente na Turquia?
Nos dois exemplos seguintes, a íntima conexão entre a telenovela e a realidade que a TV Globo faz questão de estreitar. Neymar Jr, uma das estrelas do produto jornalístico da emissora (o futebol) contracena com um personagem da teledramaturgia, outro produto da emissora; e as cenas da novela “O Clone” utilizadas como forma “didática” para o espectador entender a relevância do tema discutido - clonagem e células-tronco.
            Segundo Lucien Sfez, a “comunicação confusional” do tautismo confunde arepresentação com a expressão. Em outras palavras, a representação do fato ou da notícia se mistura com a própria forma com que a comunicação o expressa. Isso já era evidente com o fenômeno da proliferação de metalinguagens no discurso do telejornalismo da TV Globo: a emissora não se limita a transmitir o fato, ela quer mostrar a si mesma transmitindo – por exemplo, o caso do programa “Globo Esporte” onde o apresentador Tiago Leifert transformou o “ônibus estúdio” de onde ancorava a transmissão em notícia mais importante do que a própria concentração da seleção brasileira (veja links abaixo).
Tiago Leifert e o ônibus estúdio: 
metalinguagem 
é diferente de tautismo
No tautismo essa confusão torna-se ainda mais radical: a própria percepção do “real” é moldada pela linguagem da ficção. A diferença entre “fora” e o “dentro” do sistema deixa de fazer sentido.
No quarto exemplo, temos o clássico fenômeno de circularidade do sistema: em dado momento da matéria sobre a revitalização do Centro de São Paulo, não temos mais um relato sobre uma exterioridade do sistema de comunicação, mas, ao contrário, começamos a assistir um diálogo entre repórter e o protagonista da informação (Olivier Anquier) que é um personagem da TV Globo, assim como a própria repórter.
 

O espectro ameaçador do tautismo

 

Por que o tautismo é um "espectro ameaçador"? Embora a TV Globo mantenha o seu poder econômico graças à estratégia do BV (Bônus por Volume) para garantir a hegemonia na captação das verbas do mercado publicitário, o seu poder simbólico tem decrescido diante das quedas de audiência e a competição crescente das mídias digitais como a Internet.
O crescimento da complexidade de um sistema de comunicação como a da Rede Globo parece expor essa característica de todo e qualquer sistema tal como descrito por pesquisadores como Varela a Sfez: um sistema complexo busca a todo custo equilíbrio (homeostase), prevenindo-se de quaisquer informações provenientes do ambiente externo que possam desestabilizá-lo. Diante desse decréscimo do poder simbólico, a Rede Globo radicalizaria esse processo de “fechamento operacional” para tentar expurgar qualquer possibilidade de crise.
Assim como no caso de um indivíduo que, sob condições extremas de fome ou de alteração do metabolismo basal, o corpo começa a entrar em processo catabólico (processo de degradação onde o corpo começa a consumir seu próprio tecido muscular), no tautismo poderíamos localizar um processo análogo: esse fechamento operacional leva o sistema a um processo autofágico, simultaneamente tautológico e autista. Sem mais poder perceber as transformações do ambiente ao redor, o que deveria ser a defesa torna-se a sua fraqueza: a cegueira.
                Se a metalinguagem que predominava na linguagem global era um exercício de demonstração de poder tecnológico e financeiro para os espectadores, com a novidade do tautismo parece que temos uma situação contrária: o fechamento para a realidade exterior como defesa de um sistema que, de tão complexa, teme entrar em desestabilização, entropia e morte final.
                Esses sinais recorrentes de tautismo no conteúdo da programação da TV Globo poderiam ser sinais, senão do seu fim, pelos menos o estágio final da sua hegemonia?

terça-feira, 21 de maio de 2013

Mudar a correlação de forças




Saul Leblon, Carta Maior / Blog das Frases

“O deputado Rui Falcão, presidente nacional do PT, considerado mesmo pelos adversários um dos melhores quadros do partido, fez uma intervenção importante no seminário de Porto Alegre, dos dez anos de governos petistas (leia a reportagem).

Rui afirmou que o projeto histórico das forças progressistas abrigadas sob o guarda-chuva do PT transcende o calendário eleitoral. Ademais de defender nas urna avanços já conquistados, o partido deve trilhar novos degraus na luta pela hegemonia, observou.

Isso, se quiser que o presente não seja a mera reiteração do passado e o futuro não se resuma à atualização dos dias que correm.

Para ir além das circunstâncias atuais, o PT tem que mudar a correlação de forças na sociedade, disse Rui. E implantar três reformas que em sua opinião constituem um requisito indissociável do passo seguinte do desenvolvimento e da democracia brasileira.

São elas: a reforma política; a reforma tributária e a regulação da mídia para que se faça cumprir o que reza a Constituição de 1988, avessa ao monopólio e guardiã da pluralidade de pensamento.

Rui defende que esse tripé seja o alicerce ordenador do provável segundo mandato da Presidenta Dilma.

A questão é como assegurar que isso aconteça: mudar a correlação de forças é, ao mesmo tempo, um requisito e uma consequência dessas diretrizes.

Grosso modo, destravar o gargalo fiscal do desenvolvimento implica redefinir o volume e a origem dos fundos públicos e a destinação dos mesmos. Encerra um embate entre a riqueza e a demanda por igualdade.

A reforma política pretende fortalecer a democracia, torna-la menos dependente dos donos do dinheiro.Sobretudo no financiamento eleitoral dos partidos .

Finalmente, a questão da mídia, sublinhada por Rui.

Trata-se de reforçar o espaço do discernimento histórico da sociedade, assegurando-lhe acesso efetivo à pluralidade de ideias no debate contemporâneo.

Não se faz isso com um oligopólio reiterado pela política oficial de publicidade.

A mudança na correlação de forças, salientada pelo presidente do PT, é também um processo demarcado por saltos referenciais.

As grandes greves operárias dos anos 70/80 no ABC paulista condensaram um desses saltos no país: foram a expressão organizada de um sentimento de saturação da sociedade em relação à ditadura militar.

As mobilizações nacionais da luta pela redemocratização – o ‘Diretas Já’ – evidenciaram esse caldo de cultura.

As ideias, as dinâmicas e forças que ordenavam a economia e a sociedade no ciclo ditatorial haviam deixado de funcionar como o amálgama de uma correlação, capaz de assegurar relações estáveis entre interesses em conflito.

Incapaz de ordenar essas contradições com um conjunto aceito de políticas públicas –a começar pela política de arrocho salarial, contestadas nas fábricas e nas ruas-- a crise do Estado paralisou o sistema econômico.

Que já sangrava com a perda das fontes de financiamento, decorrente da crise da dívida externa dos anos 80.

A Constituinte de 1988, cuja importância o PT erroneamente subestimou, tentou reordenar esse vácuo constitutivo.

Os constituintes fizeram concessões à ditadura, sendo a anistia recíproca a mais ostensiva delas.

Ainda assim, a assembleia soberana legislou avanços indiscutíveis, fixando parâmetros institucionais que ainda hoje os interesses plutocráticos tentam reverter.

E o que é sobretudo notável.

Tudo isso aconteceu a contrapelo do então ascendente ciclo de supremacia do ideário neoliberal em todo o mundo.

De alguma forma, a Constituinte regulou mais do que o mercado estava disposto a ceder e a democracia representativa se mostrou capaz de materializar.

Os ventos da desregulação, soprados dos quatro cantos do mundo, varreriam parte desses avanços.

São conhecidas as distâncias entre a equidade universal consagrada na Carta e a rotina do país.

As dissonâncias avultam na saúde, educação, acesso a terra, saneamento, habitação e, mais notável, em tempos recentes, no acesso à informação plural avessa ao oligopólio, como prevê a Carta.

O ciclo tucano no poder (95/2002) ‘ajustou’ o elástico da correlação de forças.

E reverteu na prática – em muitos casos, na legislação também – o sentido histórico da Constituinte de 1988.

Não é preciso reiterar estatísticas.

O impacto qualitativo fala por si.

A supremacia mercadista instituída nos oito anos de poder do PSDB teve influencia marcante na estrutura do desenvolvimento brasileiro.

As privatizações, por exemplo.

Ademais do seu recorte expropriador, subtraíram da sociedade o poder de induzir a economia através da ação empreendedora de grandes orçamentos centralizados.

Por pouco não se perde também o BNDES. Ou o Banco do Brasil. E a Petrobrás.

A lição política desse período não pode ser esquecida.

Uma crise, mesmo quando o seu desfecho resulta em mudança de regime político, como foi o eclipse da ditadura no Brasil, não renova automaticamente a estrutura do Estado.

Pode haver regressão, ou acomodação conservadora se as forças ascendentes não alçarem uma organicidade capaz de materializar institucionalmente a nova correlação política.

Grosseiramente, a eleição de Lula, em 2002, retomou a construção histórica arquivada pelo ‘ajuste’ conservador promovido entre 1989 e 2002.

Os governos Lula e Dilma, como qualquer governo progressista, incluem elementos de conciliação, tropeço e avanço.

Mas é inegável que contribuíram para aprofundar a nova correlação de forças da qual foram a expressão política eleitoral.

Mudanças importantes na pirâmide de renda e na redução das desigualdades foram promovidas nos últimos 11 anos.

Um quadro de pleno emprego impôs ao capitalismo brasileiro a rediscussão dos seus limites estruturais.

Tratado como questão técnica pela mídia, o gargalo da infraestrutura evidencia um choque entre duas lógicas.

De um lado, o país desenhado para 1/3 da população; de outro, 40 milhões de pessoas que ascenderam ao mercado e reivindicam agora seu lugar na plena cidadania.

Muitos, à esquerda, se ressentem da flacidez doutrinária do ciclo progressista liderado pelo PT.

É um fato.

Mas é fato que a consciência de uma sociedade avança também quando aspirações históricas se traduzem em agendas de ação efetiva.

Que são apreendidas mais facilmente pelo discernimento popular do que o discurso doutrinário duro.

Do lado conservador, critica-se o PT por ter dado precedência à expansão do mercado interno, elevando o poder de compra dos salários e estendendo a abrangência dos programas sociais, como sua alavanca de poder.

Ter feito isso antes de viabilizar um ciclo correspondente de investimentos é apontado frequentemente pelos professores banqueiros do PSDB como exemplo de incompetência administrativa.

Um editorial da Folha deste domingo bate nessa tecla.

Reafirma a precedência das ‘reformas’, o controle dos reajustes salariais (leia-se, arrocho sobre o salário mínimo) e a contenção dos ‘gastos’ com a previdência.

Requisitos para um crescimento consistente que Dilma, a exemplo de Lula, mostrou-se incapaz de implantar. Sentencia o diário de conhecidos pendores tucanos.

A realidade é um tanto mais sofisticada.

A verdade é que os governos do PT –com todas as limitações conhecidas e criticáveis-- geraram um novo sujeito histórico massivo.

Ele impõe à agenda capitalista e a seus porta-vozes, caso dos Frias, um problema que não cabe em velhas receitas doutrinárias rabiscadas em editoriais de domingo.

A nova correlação de forças, embora inconclusa, podemos dizer assim, não as favorece.

Tanto que o arrocho implícito nas agendas alternativas fica restrito aos editoriais conservadores.

Os presidenciáveis encarregados de viabilizá-lo preferem dizer que ‘dá para fazer mais e melhor’.

Uma dissimulação de amplitude incontestável.

Passados onze anos da travessia liderada pelo PT, o Estado brasileiro persiste ainda aquém das determinações institucionais previstas na Carta de 1988.

O Estado não substitui a sociedade.

Ele não é o sujeito dessa defasagem, mas o espelho do entroncamento histórico que a explica.

Todavia é forçoso reconhecer também que a ação pública pode muitas vezes pode acelerar ou obstruir avanços amadurecidos na dinâmica social.

A hesitação do governo Dilma em obedecer a Constituição e providenciar fóruns e meios que assegurem a pluralidade democrática à comunicação audiovisual, enquadra- se nesse segundo caso.

Quando elenca o tripé da reforma política; reforma tributária e regulação da mídia como âncora programática de um provável segundo governo Dilma, o presidente do PT de certa forma está advertindo para uma agenda política negligenciada pelo economicismo de certas áreas do governo.

O que Rui Falcão está dizendo na verdade é que a própria continuidade do desenvolvimento depende agora de um salto de aprofundamento democrático na vida brasileira.

A correlação de forças do auge tucano foi quebrada.

O bloco de interesses conservadores não consegue mais impor ao país a sua voracidade, de forma estável e legítima.

A agressividade da mídia e a romaria frequente do conservadorismo à Suprema Corte é um sintoma dessa impossibilidade.

Como assegurar que disso resulte um salto progressista, e não uma espiral de dissolução institucional?

A questão é a democracia.

É preciso urgentemente, e de uma vez por todas, dar aderência e abrangência democrática à renovação estrutural dos atores sociais ocorrida no país na última década.

As reformas apontadas por Rui vão na direção certa.

Mas há que se elencar uma prioridade nesse entroncamento de causas e consequências.

A regulação da mídia, por ser de implementação mais rápida e ter efeitos multiplicadores na discussão das demais, dando voz à nova correlação de forças progressistas, mereceria a precedência na agenda do partido e na do governo.”

segunda-feira, 20 de maio de 2013

Cuba avança na prevenção e combate ao câncer com investimento em biotecnologia, afirma OMS


Do site da ONU
Drogas contra o câncer e vacinas em desenvolvimento no Centro de Imunologia Molecular de Havana, Cuba Foto: OMSO câncer é a segunda maior causa de mortes em Cuba. Estima-se que 21 mil pessoas morram por ano na ilha por causa da doença. Em resposta, o país seguiu as recomendações da Organização Mundial da Saúde (OMS) e colocou um prática um plano nacional abrangente para prevenir e combater a doença, além de investir em biotecnologia.
O plano é apoiado por um sistema forte de atenção primária à saúde, que permite ao médico ver seus pacientes regularmente e detectar os problemas de saúde em um estágio inicial. Pacientes com suspeitas de câncer são encaminhados a centros especializados para o diagnóstico e tratamento adequado.
Mesmo em tempos de dificuldades econômicas, o Governo cubano se manteve constante em seu apoio político e financeiro para a biotecnologia. Como resultado, estão conquistas como a primeira vacina para o tratamento terapêutico de câncer de pulmão, registrada em 2008 pelo Centro de Imunologia Molecular de Havana. Uma segunda vacina contra o mesmo tipo de câncer foi patenteada no início de 2013.
Nos últimos 20 anos foram investidos cerca de 1 bilhão de dólares em pesquisa e desenvolvimento. Hoje, a indústria de biotecnologia cubana detém cerca de 1,2 mil patentes internacionais e comercializa produtos farmacêuticos e vacinas em mais de 50 países. As exportações estão aumentando e geram receitas anuais de centenas de milhões de dólares.
Saiba mais clicando aqui.

domingo, 19 de maio de 2013

Aecinho faz discurso à sua altura


Aecinho fala na festa tucana: cadê o povo?
Aecinho, a consagração.
Agora, presidente nacional da tucanagem.
Coube a ele fazer o discurso principal da festa emplumada, no sábado.
E ele fez um discurso à sua altura.
Tão profundo, tão explícito, tão divertido que vale a pena destacar alguns trechos:

"Retribua ao meu irmão e companheiro ACM Neto a gentileza da sua mensagem e, através dele, a todos os Democratas do Brasil, diga apenas que nossa história irá recomeçar. E ela só terá êxito se for uma história construída a várias mãos, e as suas mãos, limpas e honradas, serão fundamentais para que possamos um dia devolver ao Brasil um governo sério, honrado e eficiente."

"Somos, presidente José Serra, o partido da estabilidade econômica. O partido dos programas de transferência de renda. O partido as privatizações que tão bem fizeram ao Brasil. somos o partido da Lei de Responsabilidade Fiscal. Somos o partido que permitiu que milhões de brasileiros voltassem a consumir. Mas somos, sobretudo, o partido da ética. O partido que compreende que política e ética podem sim, e devem, permanentemente caminhar juntas."

"É claro que para fazer política com seriedade na dimensão exata do que isso representa, é preciso sim ter utopias e nós temos. Queremos tirar o país das garras de um partido político que se esqueceu de suas origens e da sua história. Que abdicou de ter um projeto de país para se contentar com uma palavra única e exclusivamente com um projeto de poder."


"E que bom poder saber que ao caminhar por esse país, e é isso que o PSDB deverá fazer a partir de agora, encontrarei em cada um de vocês a responsabilidade e a dimensão política de cada um de vocês. Dos jovens do PSDB, os mais aguerridos de todo o país! Nas vibrantes e mulheres do PSDB, que aqui comparecem em enorme número! Em nosso já forte morte movimento sindical! No Tucanafro!"

" Não vamos enfrentar apenas um partido político. Vamos enfrentar um partido que se encastelou no Estado, se ocupou do Estado e inverteu uma lógica básica e primária de democracia: os partidos são feitos para servir ao Estado. O PT inverteu a lógica e colocou o Estado a serviço de um partido e do seu projeto de poder."


"Sim, nosso DNA está lá, em todos os programas de transferência de renda, que hoje se juntaram no Bolsa-Família. Mas no nosso tempo, e reafirmo que o Bolsa-Família é hoje um projeto incorporado, enraizado, na paisagem econômica e social e será mantido. Mas quando foi elaborado, com a presença de José Serra, no Ministério da Saúde, o Bolsa-Escola e o Bolsa Alimentação eram um passaporte para o futuro, e não um documento estagnado e aprisionado no presente."

"Os nossos adversários, e aqui isso já foi dito, vêm atentando contra a democracia, querendo colocar um garrote no Supremo Tribunal Federal, inibir as ações do Ministério Público, cercear a imprensa, inibir a livre movimentação das forças partidárias. Mas sabem por que fazem isso? Porque temem, porque nos temem, porque sabem que no confronto, no olho no olho, nós poderemos dizer que temos coerência. O que defendíamos no governo, defendemos e temos a responsabilidade de bancar na oposição."


O primeiro discurso do novo presidente nacional dos tucanos, o ungido pela turma do contra para derrotar o PT, tem 3.147 palavras - nenhuma delas "povo".
Vai ser fácil encarar a Dilma desse jeito...

http://cronicasdomotta.blogspot.com.br/2013/05/aecinho-faz-discurso-sua-altura.html

Médicos cubanos no Brasil?




Por Frei Betto, no sítio da Adital:

O Conselho Federal de Medicina (CFM) está indignado frente ao anúncio da presidente Dilma de que o governo trará 6.000 médicos de Cuba, e outros tantos de Portugal e Espanha, para atuarem em municípios carentes de profissionais da saúde. Por que aqui a grita se restringe aos médicos cubanos? Detalhe: 40% dos médicos do Reino Unido são estrangeiros.

Também em Portugal e Espanha há, como em qualquer país, médicos de nível técnico sofrível. A Espanha dispõe do 7º melhor sistema de saúde do mundo, e Portugal, o 12º. Em terras lusitanas, 10% dos médicos são estrangeiros, inclusive cubanos, importados desde 2009. Submetidos a exames, a maioria obteve aprovação, o que levou o governo português a renovar a parceria em 2012. 

Ninguém é contra o CFM submeter médicos cubanos a exames (Revalida), como deve ocorrer com os brasileiros, muitos formados por faculdades particulares que funcionam como verdadeiras máquinas de caça-níqueis.
 

O CFM reclama da suposta validação automática dos diplomas dos médicos cubanos. Em nenhum momento isso foi defendido pelo governo. O ministro Padilha, da Saúde, deixou claro que pretende seguir critérios de qualidade e responsabilidade profissionais.
 

A opinião do CFM importa menos que a dos habitantes do interior e das periferias de nosso país que tanto necessitam de cuidados médicos. Estudos do próprio CFM, em parceria com o Conselho Regional de Medicina de São Paulo, sobre a "demografia médica no Brasil”, demonstram que, em 2011, o Brasil dispunha de 1,8 médico para cada 1.000 habitantes.
 
Temos de esperar até 2021 para que o índice chegue a 2,5/1.000. Segundo projeções, só em 2050 teremos 4,3/1.000. Hoje, Cuba dispõe de 6,4 médicos por cada 1.000 habitantes. Em 2005, a Argentina contava com mais de 3/1.000, índice que o Brasil só alcançará em 2031.
 
Dos 372 mil médicos registrados no Brasil em 2011, 209 mil se concentravam nas regiões Sul e Sudeste, e pouco mais de 15 mil na região Norte.
 

O governo federal se empenha em melhorar essa distribuição de profissionais da saúde através do Provab (Programa de Valorização do Profissional de Atenção Básica), oferecendo salário inicial de R$ 8 mil e pontos de progressão na carreira, para incentivá-los a prestar serviços de atenção primária à população de 1.407 municípios brasileiros. Mais de 4 mil médicos já aderiram.
 

O senador Cristovam Buarque propõe que médicos formados em universidades públicas, pagas com o seu, o meu, o nosso dinheiro, trabalhem dois anos em áreas carentes para que seus registros profissionais sejam reconhecidos.
 

Se a medicina cubana é de má qualidade, como se explica a saúde daquela população apresentar, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), índices bem melhores que os do Brasil e comparáveis aos dos EUA?
 

O Brasil, antes de reclamar de medidas que beneficiam a população mais pobre, deveria se olhar no espelho. No ranking da OMS (dados de 2011), o melhor sistema de saúde do mundo é o da França. Os EUA ocupam o 37º lugar. Cuba, o 39º. O Brasil, o 125º lugar!
 

Se não chegam médicos cubanos, o que dizer à população desassistida de nossas periferias e do interior? Que suporte as dores? Que morra de enfermidades facilmente tratáveis? Que peça a Deus o milagre da cura?
 

Cuba, especialista em medicina preventiva, exporta médicos para 70 países. Graças a essa solidariedade, a população do Haiti teve amenizado o sofrimento causado pelo terremoto de 2010. Enquanto o Brasil enviou tropas, Cuba remeteu médicos treinados para atuar em condições precárias e situações de emergência. 


Médico cubano não virá para o Brasil para emitir laudos de ressonância magnética ou atuar em medicina nuclear. Virá tratar de verminose e malária, diarreia e desidratação, reduzindo as mortalidades infantil e materna, aplicando vacinas, ensinando medidas preventivas, como cuidados de higiene.
 

O prestigioso New England Journal of Medicine, na edição de 24 de janeiro deste ano, elogiou a medicina cubana, que alcança as maiores taxas de vacinação do mundo, "porque o sistema não foi projetado para a escolha do consumidor ou iniciativas individuais”. Em outras palavras, não é o mercado que manda, é o direito do cidadão.
 

Por que o CFM nunca reclamou do excelente serviço prestado no Brasil pela Pastoral da Criança, embora ela disponha de poucos recursos e improvise a formação de mães que atendem à infância? A resposta é simples: é bom para uma medicina cada vez mais mercantilizada, voltada mais ao lucro que à saúde, contar com o trabalho altruísta da Pastoral da Criança. O temor é encarar a competência de médicos estrangeiros.
 

Quem dera que, um dia, o Brasil possa expor em suas cidades este outdoor que vi nas ruas de Havana: "A cada ano, 80 mil crianças do mundo morrem de doenças facilmente tratáveis. Nenhuma delas é cubana”.

Por que Aécio não é o cara



Não é ele que vai resgatar os tucanos

Paulo Nogueira, Diário do Centro do Mundo

“Aécio tem alguma chance de ser presidente de algo que vá além do PSDB?
A melhor resposta é: tem chances matemáticas. E ponto.

Ele tem dois obstáculos monstruosos pela frente com vistas a 2014.

O primeiro é o seu partido: o PSDB há anos perdeu o rumo. Deslocou-se para a direita quando o zeitgeist – o espírito do tempo, na grande expressão alemã – é o oposto.

Os tucanos não se deram conta de que o grande mal do mundo moderno se chama iniquidade social.

Até a Igreja Católica, em sua lentidão monumental, captou isso e fez de Francisco um papa devotado aos pobres e desvalidos.

Em busca da sobrevivência, o Vaticano foi buscar o homem que pode reaproximar a Igreja das pessoas. Dos 99%, para usar o brilhante termo consagrado pelo movimento Ocupe Wall St.

Porque quem pode lotar missas é o 99%.

Francisco deu um choque positivo nos fiéis e até nos infiéis como eu: ora, enfim um papa que anda de ônibus, viaja de econômica, vai visitar pobres e é claramente contra a injustiça social.

Um papa que é, genuinamente, contra um modelo econômico em que poucos têm muito e muitos não têm nada.

Parecia óbvio o que a Igreja tinha que fazer para combater o declínio, mas é só olhar para Ratzinger para ver que não era.

Aécio não é Francisco, definitivamente.

E então chegamos ao segundo obstáculo da candidatura Aécio: o próprio Aécio.

Há muito tempo ele pertence, inteiramente, ao 1%. Imaginar que ele vá conseguir convencer as massas a optar por ele é o chamado triunfo da esperança.

O PSDB, se não quiser desaparecer, tem que encontrar o seu Francisco, o seu anti-Serra.Ou formá-lo.

Aécio não é esse homem”