sexta-feira, 15 de abril de 2016

A turma da moralidade: R$ 270 mil para cada promotor de Segipe de “auxílio-moradia” atrasado

mpsergipe

Por Fernando Brito, em seu blog
A Cláudia Wallin, coleginha autora do livro Um País Sem Excelências e Mordomias, que naturalmente é a Súécia, onde vive e não Brasil que ela ama, recolhei mais uma pérola dos “moralizadores do país.
É que os membros do Ministério Público do paupérrimo Sergipe ganharam, no final da semana passada, o direito de receber, cada um, R$ 270 mil de auxílio moradia retroativo a 2006.
Desde 2011 eles recebem R$ 4.377, 77 mensais, independente de ter sido lotados em outras cidades, de morarem ou não em imóvel próprio e, até, de serem casados com outro promotor ou promotora que receba.
Mas ganharam o resto e, na cola deles, vêm aí os conselheiros e procuradores do Tribunal de Contas do Estado.
Um a um, em todos os estados da federação, a  farra se repete.
O pior é que boa parte deles acha um absurdo pagar 140 reais a uma família miserável, que não tem o que comer.
Pobre povo brasileiro que depende desta gente para aplicar a justiça.
Veja o vídeo da TV Atalaia.

O fim da ilusão de que é possível mudar o país pacificamente




A ilusão
Luis Fernando Verissimo

Gosto de imaginar a História como uma velha e pachorrenta senhora que tem o que nenhum de nós tem: tempo para pensar nas coisas e para julgar o que aconteceu com a sabedoria - bem, com a sabedoria das velhas senhoras. Nós vivemos atrás de um contexto maior que explique tudo, mas estamos sempre esbarrando nos limites da nossa compreensão, nos perdendo nas paixões do momento presente. Nos falta a distância do momento. Nos falta a virtude madura da isenção. Enfim, nos falta tudo que a História tem de sobra.

Uma das vantagens de pensar na História como uma pessoa é que podemos ampliar a fantasia e imaginá-la como uma interlocutora, misteriosamente acessível para um papo.

- Vamos fazer de conta que eu viajei no tempo e a encontrei nesta mesa de bar.

- A História não tem faz de conta, meu filho. A História é sempre real, doa a quem doer.

- Mas a gente vive ouvindo falar de revisões históricas...

- As revisões são a História se repensando, não se desmentindo. O que você quer?

- Eu queria falar com a senhora sobre o Brasil de 2016.

- Brasil, Brasil...

- PT. Lula. Impeachment.

- Ah, sim. Me lembrei agora. Faz tanto tempo...

- O que significou tudo aquilo?

- Foi o fim de uma ilusão. Pelo menos foi assim que eu cataloguei.

- Foi o fim da ilusão petista de mudar o Brasil?

- Mais, mais. Foi o fim da ilusão que qualquer governo com pretensões sociais poderia conviver, em qualquer lugar do mundo, com os donos do dinheiro e uma plutocracia conservadora, sem que cedo ou tarde houvesse um conflito, e uma tentativa de aniquilamento da discrepância. Um governo para os pobres, mais do que um incômodo político para o conservadorismo dominante, era um mau exemplo, uma ameaça inadmissível para a fortaleza do poder real. Era preciso acabar com a ameaça e jogar sal em cima Era isso que estava acontecendo.

Um pouco surpreso com a eloquência da História, pensei em perguntar qual seria o resultado do impeachment. Me contive. Também não ousei pedir que ela consultasse seus arquivos e me dissesse se o Eduardo Cunha seria presidente do Brasil.

Eu não queria ouvir a resposta.

segunda-feira, 11 de abril de 2016

Dez lições da múltipla crise brasileira (recorrigido)



omos falíveis mesmo. Aqui vai a edição correeta. lboff
Toda crise acrisola, purifica e faz madurar. Que lições podemos tirar dela? Elenco algumas.
Primeira lição: tipo de sociedade que temos não pode mais continuar assim com é. As manifestações de 2013 e as atuais mostraram claramente: não queremos mais uma democracia de baixíssima intensidade, uma sociedade profundamente desigual e uma política de negociatas. Nas manifestações os políticos também os da oposição foram escorraçados. Igualmente movimentos sociais organizados. Queremos outro tipo de Brasil, diverso daquele que herdamos que seja democrático, includene, justo e sustentável.
Segunda lição: superar a vergonhosa desigualdade social impedindo que 5 mil famílias extensas controlem quase metade da riqueza nacional. Essa desigualdade se traduz por uma perversa concentração de terras, de capitais e de uma dominação iniqua do sistema financeiro, com bancos que extorquem o povo e o governo cobrando-lhe um superávit primário absurdo para pagar os juros da dívida pública. Enquanto  não se taxarem as grandes fortunas e não submeterem os bancos a níveis razoáveis de lucro o Brasil será sempre desigual, injusto e pobre.
Terceira lição: prevalência do capital social  sobre o capital individual. Quer dizer, o que faz o povo evoluir não é matar-lhe simplesmente a fome e faze-lo um consumidor mas fortalecer-lhe o capital social feito pela educação, pela saúde, pela cultura e pela busca do bem-viver, pré-condições de uma cidadania plena.
Quarta lição: cobrar uma democracia participativa, construída de baixo para cima com forte presença da sociedade organizada especialmente dos movimentos sociais que enriquecem a democracia representativa que, por causa de sua histórica corrupção, o povo sente que ela não mais o representa.
Quinta lição:reinvenção do Estado nacional. Como foi montado historicamente, atendia as classes que detém o ter, o poder, o saber e a comunicação dentro de uma política de conciliação entre as oligarquias, deixando sempre o povo de fora. Ele está aí  mais para  garantir privilégios do que para realizar o bem geral da nação. O Estado tem que ser a representação da soberania popular e todos os seus aparelhos devem estar a serviço do bem comum, com especial atenção aos vulneráveis (seu caráter ético) e sob o severo controle social com as devidas instituições para isso. Para tal se faz necessária uma reforma política, com nova constituição, fruto da representação nacional e não apenas partidária.
Sexta lição: o dever ético-político de pagar a dívida às vítimas feitas no processo da constituição  de nossa nacionalidade e que nunca foi paga: para com os indígenas quase exterminados, para com os afrodescendentes (mais da metade da população brasileira) feitos escravos, carvão para o processo produtivo; os pobres em geral sempre esquecidos pelas políticas públicas e desprezados  e humilhados pelas classes dominantes. Urge políticas compensatórias e pro-ativas para criar-lhes oportunidades de se autopromoverem e se inserirem nos benefícios da sociedade moderna.
Setima lição: fim do presidencialismo de coalizão de partidos, feito à base de negócios e de tráfico de influência, de costas para o povo; é uma política de planalto desconectada da planície onde vive o povo. Com ou sem Dilma Rousseff à frente do governo, precisa-se, para sair da pluricrise atual, de uma nova concertação entre as forças existentes na nação. Não pode ser apenas entre os partidos que tenderiam a reproduzir a velha e desastrada política de conciliação ou de coalizão mas uma concertação que acolha representantes da sociedade civil organizada, movimentos sociais de caráter nacional, representantes do empresariado, da intelectualidade, das artes, das mulheres,  das igrejas e das religiões a fim de elaborar uma agenda mínima aceita por todos.
Oitava lição:caráter claramente republicano da democracia que vai além da neoliberal e privatista.  Em outras palavras, o bem comum (res publica) deve ganhar centralidade e em seguida o bem privado. Isso se concretiza por política sociais que atendam as demandas mais gerais  da população  a partir dos necessitados e deixados para trás. As políticas sociais não se restringem apenas a ser distributivas mas importa serem  redistributivas (diminuir de quem tem de mais para repassar para quem tem de menos), em vista da redução da desigualdade social.
Nona lição: a dimensão geopolítica da crise brasileira. Não se pode pensar o Brasil apenas a partir do Brasil mas sempre dentro do contexto geopolítico global. Há grandes interesses dos USA, da China, da Rússia, da Arábia Saudita pela segunda maior jazida de petróleo do mundo, o pré-sal, e também como alinhar a sétima economia mundial dentro da linha geral definida pelos países centrais que controlam a macroeconomia neoliberal e capitalista. Não querem que no Atlântico Sul surja uma potência que siga um caminho próprio, especialmente articulada com os BRICS que fazem um contraponto ao sistema mundial imperante.
Décima lição: inclusão da natureza com seus bens e serviços e da Mãe Terra com seus direitos na constituição de um novo tipo de democracia sócio-cósmica, à altura consciência ecológica que reconhece todos os seres como sujeitos de direitos formando um grande todo: Terra-natureza-ser humano. É a base de um novo tipo de civilização, biocentrada, capaz de garantir o futuro da vida e de nossa civilização.
https://leonardoboff.wordpress.com/2016/04/10/dez-licoes-da-multipla-crise-brasileira-recorrigido/

Brasil, Os Cenários Políticos da Ruptura Institucional.


A ruptura institucional ( foto Pedro ladeira)
A ruptura institucional ( foto Pedro ladeira)
“Ímpio caçando (brutos não, mas homens),
Com guerra e hostil engano a todos fere
Que à sua tirania não se curvem”. (Paraíso Perdido, John Milton)
Nos últimos cinco anos, o mundo foi sacudido por várias “revoltas” populares, em todos os continentes, elas são produtos direto da Crise 2.0, para ser exato, uma reação à ela, mas que, contraditoriamente, resultou num reforço ao projeto de sufocar a Democracia, com resultados significativos para a Direita, um retrocesso para os trabalhadores do mundo.
Há um clima de aparente de geleia geral, de descontentamento, quase sem direção e/ou organicidade, pelo menos publicamente, mas que está sendo muito bem manipulada pelas forças mais conservadoras. Mas é preciso perder alguns instantes para reflexão sobre de onde veio e para onde caminha esse processo, na verdade, essa avalanche de retrocesso.

Revoltas No Mundo

A “Primavera Árabe” que sacudiu o Egito e derrubou o regime ditatorial de Hosni Mubarak, que estava a 32 anos no poder, com eleições fraudadas. Em apenas 18 dias, amplas massas populares se uniram em protestos gigantescos no Cairo, na Praça Tahrir. Dia a dia as manifestações cresceram, começando com os estudantes, depois com a adesão dos trabalhadores em greves, a queda foi rápida e decisiva. Como também foi rápida a queda do regime que o sucedeu, da Irmandade Muçulmana, que não ampliou a Democracia, foi abatido por um golpe militar, jogando mais uma vez o Egito nas trevas.
A Espanha lançou o movimento dos “Indignados” na Europa, que ficou por meses sublevados na Plaza del Sol, em Madri e com revoltas nas principais cidades do país. Derrotaram completamente o governo do PSOE, liderado por Zapatero. Entretanto o movimento gestado nas manifestações, o 15M foi incapaz de lançar qualquer alternativa, na época, o que facilitou a ampla vitória do PP, com uma liderança de extrema-direita, Mariano Rajoy.
Apenas em 2014, uma parte dos “Indignados”, do 15M, se constituiu numa plataforma eleitoral, o Podemos, logo de cara, teve uma importantíssima vitória eleitoral. Ainda que pese a manutenção de um governo ainda mais traidor e que tem aplicado os mais duros ajustes contra os trabalhadores espanhóis.
Desde novembro de 2015, há um enorme impasse, com uma eleição geral sem vencedores, caiu o governo de Mariano Rajoy, mas ao mesmo tempo ninguém consegue dirigir uma coalização de governo, caminha-se para uma nova eleição sem resultados previsíveis.
Os ventos das manifestações também atingiram no fim de 2013 a Ucrânia, talvez o melhor laboratório e a mais visível ação das forças conservadoras que detonaram estes processos de revoltas, inclusive aqui no Brasil. A Praça Maiden, em Kiev, foi ocupada em novembro de 2013, por grupos que protestavam contra o governo eleito de Víktor Yanukóvytch. Liderados por grupos neofascistas e anti-Rússia, por três meses seguidos, em meio ao frio extremo, paralisaram a capital, entrando em conflito armado com a parte leste do país, culminando com a derrubada do presidente.
Logo a seguir, a Crimeia, se separou da Ucrânia, uma eleição nacional elegeu um presidente de Direita, o empresário bilionário, Petro Poroshenko. A coalizão de extrema-direita, que usa símbolos nazistas, tomou conta do país, entrando em guerra civil com o lado leste rebelde, que quer integração coma Rússia. O novo governo, ao invés de ampliar a democracia, que em tese era a razão dos protestos de Maiden, fez o oposto, fechou o parlamento e dirige o país com poder ditatorial. Todo este poder foi apoiado e recebeu suporte dos EUA/UE através da OTAN, inclusive, em meio aos protestos, figuras públicas dos EUA, como Mcain, além do diretor da CIA, estiveram em Kiev dando seu “apoio”.

Brasil Pós Jornadas de Junho de 2013

Esta onda de manifestações aportou no Brasil, nas famosas jornadas de junho de 2013, o que se iniciou com um protesto em São Paulo e Rio de Janeiro, contra aumento das passagens de ônibus, mas que se generalizou por todo o país, pois aCrise 2.0, também tinha chegado aqui, os exuberantes números da economia estavam minguando e a paciência contra o governo parece acabada, em particular nas classes médias das grandes cidades.
Os amplos protestos colocaram em xeque a capacidade do governo petista de se manter no poder, todas as “contas” passadas, como “mensalão”, como os acordos pela governabilidade (sem eles não se gere o país, o estado ou um município), a corrupção (ainda que mais combatida), as frustrações com pouco avanço na Democracia e participação popular. Este conjunto de coisas tinha sido postas de lado, até então, pela sensação de bonança econômica, mas quando os ventos da Crise 2.0 se tornam presentes, a impaciência e a revolta ganhou o combustível.
Naquela época, ainda intuí achando que o tal “gigante”, com uma cara conservadora, se materializaria num Joaquim “Batman” Barbosa, pela sua ação midiática e demagógica durante o julgamento do “Mensalão”, mas a figura histriônica não conseguiu reunir os elementos e os apoios necessários, pois o temem pela visão ditatorial, além de um racismo velado, na própria burguesia e classes médias. O candidato da oposição tradicional, Aécio Neves, não juntaria o perfil para ser o herdeiro das revoltas, longe disto.
Neste contexto, sobrou Marina e sua Rede, o Partido “antipartido”, em alguma medida, ela e seu grupo galvanizaram para si o desgaste do governo do PT, pois também não é vista tão distante dos projetos sociais e inclusivos, tão significativos dos últimos 12 anos, mas também não é comprometida com “tudo de errado que está aí”. A sua incapacidade de registrar um partido, o que é uma tarefa relativamente simples no Brasil, acabou inviabilizando sua candidatura. A adesão da Rede ao PSB, para resolver parcialmente o problema, foi revelador na estratégia de “nova política”.
As eleições do Brasil, em 2014, não trouxeram a “paz social” desejada, para que o país saísse das cordas, da estagnação econômica, ao contrário, se acirrou o processo de luta e de tremendo desgaste do governo de Dilma. A incapacidade de formar um governo forte e de unidade nacional, trouxe a chance de seu amplo questionamento. Forças golpistas passaram a agir abertamente, ainda em dezembro de 2014, já estavam nas ruas exigindo o “fim” de um governo não iniciado.
O ano de 2015 foi o ano em que se aprofundou a crise econômica, a paralisia foi comandada pela “República do Paraná”, cujo “presidente” ou “rei”, é o juiz de primeira instância, Sergio Moro. Contando com um poder midiático jamais visto, uma operação, a  “Lava jato”, foi transformada em redenção nacional, mesmo que custe milhões de empregos e recessão econômica, todo o setor de petróleo, cerca de 13% do PIB nacional foi duramente atingindo, provocando uma reação em cadeia, piorando ainda mais o desempenho do governo.

Cenários: Impeachment ou Eleições Gerais

O país é jogado, no início de 2016, na maior aventura política de sua história, um golpe está sendo gestado por Eduardo Cunha, o corrupto presidente da Câmara Federal, líder de uma bancada forte, o baixo clero, que aliado à oposição derrotada nas urnas, PSDB-DEM, busca um impeachment da Presidente Dilma Roussef, mesmo sem base legal. A sincronia entre Lava Jato, Moro, a apuração seletiva, contra o PT e o acharque público de Cunha, vai nos levar ao abismo.
Os cenário mais concreto, nessa quadrada conjuntural são de impeachment ou de Eleições gerais. A poucos dias de um impeachment comandado pelos cunhas da vida, ou de uma hipotética tese de eleições gerais no Brasil, não resta dúvidas, sob minha ótica, os caminhos que elas podem nos levar:
1) Impeachment com um Governo Temer – Fruto de um golpe institucional, tentaria reunir em torno de si, o fisiológico PMDB e os derrotados do PSDB/DEM num governo de crise de credibilidade, sustentado pela Globo, mas com uma imensa dívida com Cunha.
2) Caso haja eleição,  uma provável vitória de Marina, seria entrar diretamente no “Novo Estado”, uma tragédia para os trabalhadores, um grande feito para os grandes bancos internacionais, a parte dominante do Kapital. Quebraria os acordos de Mercosul, BRICS ou de qualquer política alternativa, ainda que dentro da lógica do capitalismo.
A plataforma da candidata Marina, tanto de 2014 e agora volta a defender, é bem clara: BC independente, revisão da CLT, questionamento de políticas públicas, mudança do Pré-sal (que inclusive dará mais dinheiro para Saúde e Educação). Onde esta pauta foi decidida? Era o que se pedia nas ruas em junho de 2013? Nas ruas em 2015 e 2016?
Marina, a melhor colocada em pesquisas recentes, a exemplo de Poroshenko, ou de Rajoy, representa a nova onda conservadora, de reação a qualquer avanço político, com uma base programática extremamente alinhada com os EUA, em particular com o “Novo Estado”, que denomino de Estado Gotham City. O kapital não admite mais intermediários não confiáveis para implantar seu projeto, sua necessidade de realizar o novo ciclo, iniciado imediatamente na explosão da Crise 2.0, pois ao mesmo tempo que um ciclo se fecha, sem a revolução social, outro se inicia, sendo coerente com o que Marx nos legou.
O que depreende-se dessas observações, é que há um centro organizador das revoltas e que deu a dinâmica e mantém os grupos e contatos em todos estes países, com muito apoio material e logístico. Segundo, o resultado prático é um programa conservador, de Direita, que se impõe pela força, sem debates, mascarado no discurso raso contra a corrupção, basta ver quem os comanda.
O Ultraliberalismo acaba servindo de ponte entre aparentes extremistas, de Esquerda e de Direita, a pauta comum tem como base central o questionamento da Democracia e da Política. O aparente desejo de mais participação popular não se provou prática, por exemplo, o que houve no Egito, Espanha e Ucrânia, agora se avizinha no Brasil.
Os signos destas manifestações, desde 2011, é um sopro extremamente conservador, os grupos de esquerda são extremamente minoritários, o que se reflete inclusive nos seus números eleitorais. O PT ficou no meio do caminho, agora parece acordar para realidade, terá tempo de virar esta onda?

A “caixa preta” dos privilégios no judiciário brasileiro


Ilustração: Daniel Graf e Alexandre Lucas

O clamor moralizador que tem mobilizado muitos no Brasil nestes últimos tempos, tem depositado suas energias preferencialmente sobre um único prisma, que é o da corrupção na política, restrita aos poderes legislativos e executivo. Outros espaços da política brasileira são pouco questionados e todo um conjunto de estruturas profundamente excludentes são completamente ignorados por este clamor seletivo. Um exemplo gritante disto é o judiciário brasileiro.

Uma verdadeira “caixa preta”, inacessível para a ampla maioria das pessoas, o judiciário, em seu conjunto, converteu-se em uma grande estrutura geradora de privilégios para poucos, com uma reduzida preocupação social, nenhuma participação democrática, transparência ou controle da sociedade.

Dos três poderes que estruturam o ordenamento institucional brasileiro, o judiciário é o único que não possui nenhuma abertura a participação e fiscalização da sociedade, não tendo de prestar contas a ninguém, afora a seus próprios pares. É curioso pensar que, em pleno século XXI, tenhamos no Brasil uma estrutura com tamanha abrangência na sociedade e que seja tão pouco transparente como o nosso judiciário. É justamente esta ausência de transparência que permite que muitos descalabros com dinheiro público sejam cometidos, sem que provoque uma reação popular maior.

Vamos dar alguns rápidos exemplos desta estrutura de privilégios abusivos do judiciário.


Pouca gente sabe, por exemplo, que o judiciário brasileiro é um dos mais caros do mundo. É o que mais gasta recursos públicos entre todos os países da América e da Europa. Levantamento do jornal Valor, apontou que o Brasil gasta 1,2% do PIB para a manutenção de sua justiça, comparando-se com outros países, temos números muito mais modestos. A Venezuela gasta 0,34; a Alemanha 0,32; Itália 0,19; os EUA 0,14 e a Argentina 0,13 do seu PIB, para ficarmos apenas em alguns casos. Números que demonstram o gigantismo do judiciário no Brasil, comparando-se com outras sociedades.

Outro exemplo gritante é o pagamento mensal automático de um adicional de mais de 4 mil reais de auxilio moradia para todos os magistrados brasileiros. Este valor é pago a parte do seus salários e é garantido independentemente de o magistrado ter ou não imóvel próprio na cidade onde trabalha. Além disso, essa verba não está sujeita ao IR e a contribuição previdenciária. Possivelmente muitos dos que lerão este texto não ganham este valor do benefício nem como ordenado, que dirá como "penduricalho" ao salário. Para a "casta" dos privilegiados do judiciário, isso não lhes causa nenhum problema de ordem moral.

O auxílio-moradia, no entanto, é apenas a ponta do iceberg dos privilégios.

Recentemente uma reportagem da revista Época (1) mostrou que juízes estaduais e promotores dos Ministérios Públicos dos estados criam todo tipo de subterfúgio para ganhar mais do que determina a Constituição. Hoje o teto é de R$33.763, mas os juízes e promotores engordam seus contracheques com ao menos 32 tipos de auxílios, gratificações, indenizações, verbas, ajudas de custo. Na teoria, os salários – chamados de subsídios básicos – das duas categorias variam de R$ 22 mil a R$ 30 mil. Os salários reais deles, no entanto, avançam o teto pela soma de gratificações, remunerações temporárias, verbas retroativas, vantagens, abonos de permanência e benefícios concedidos pelos próprios órgãos. É uma longa série de benefícios, alguns que se enquadram facilmente como regalias.

Pelo levantamento, a média de rendimentos de juízes e desembargadores nos estados é de R$ 41.802 mensais; a de promotores e procuradores de justiça, R$ 40.853. Os presidentes dos Tribunais de Justiça apresentam média ainda maior: quase R$ 60 mil (R$ 59.992). Os procuradores-gerais de justiça, chefes dos MPs, recebem também, em média, R$ 53.971. Fura-se o teto em 50 dos 54 órgãos pesquisados. Eles abrigam os funcionários públicos mais bem pagos do Brasil. Há salários reais que ultrapassam R$ 100 mil. O maior é de R$ 126 mil.

Além das verbas regulares muito acima da média de qualquer servidor público ou trabalhador da iniciativa privada, outra forma de angariar benesses se dá através de decisões indenizatórias nebulosas entre seus pares. O caso mais ostensivo é o do Tribunal de Justiça de São Paulo, o maior do país. Ali, 29 dos 352 desembargadores receberam mais de R$ 400 milhões em benefícios como férias atrasadas e gratificações. Apesar das pressões de colegas que não participaram do banquete, até agora não há explicação convincente para a distribuição de tais regalias.

Outro problema crônico do judiciário brasileiro, que nos permite afirmar que temos uma casta de privilegiados que dominam por completo esta estrutura é a prática corrente de nepotismos e compadrios na ocupação dos espaços, que formalmente deveriam ser públicos. Um exemplo desta situação pode se verificar no Rio de Janeiro, segundo o jornal Folha de S.Paulo, 16% dos integrantes do Judiciário no estado do Rio são parentes de outros membros desse poder. (2) Esta situação seguramente se reproduz em maior ou menor grau nos outros estados.

Outra questão polêmica e poucas vezes enfrentada, no âmbito da magistratura, é a venda de decisões e sentenças, as primeiras via liberação de indenizações milionárias por liminar ou tutela antecipada, principalmente contra bancos e empresas grandes. Sem uma fiscalização, contando com um forte corporativismo que acoberta toda e qualquer investigação sobre questões neste campo, o tema é tratado como inexistente, mesmo havendo inúmeros casos em que pesem tais suspeitas.

Esta total ausência de transparência junto a sociedade, converteu a carreira jurídica num verdadeiro eldorado para aqueles que buscam ganhos volumosos, criando-se uma verdadeira industria em seu entorno. Exemplo disto é a proliferação das faculdades de Direito no Brasil, que representam uma garantia de altos salários. Em 2010, o então conselheiro do CNJ Jefferson Kravchychyn descobriu que o país tinha mais cursos de Direito (1.240) do que todo o resto do planeta junto (1.100). O bacharel em Direito tem o maior rendimento por hora entre todos os trabalhadores com curso superior, segundo pesquisa de 2015 do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea).

Infelizmente, a atual conjuntura política brasileira não nos permite vislumbrar mudanças neste cenário. Desejo, no entanto, estar enganado...

(1) Juízes estaduais e promotores: eles ganham 23 vezes mais do que você: http://epoca.globo.com/tempo/noticia/2015/06/juizes-estaduais-e-promotores-eles-ganham-23-vezes-mais-do-que-voce.html
(2) Magistrados emplacam parentes no TJ-RJ: http://www1.folha.uol.com.br/poder/2013/04/1266496-magistrados-emplacam-parentes-no-tj-rj.shtml
no: http://www.blogdosuldomundo.net/2016/04/a-caixa-preta-dos-privilegios-do.html#more

As 7 maiores vergonhas da história do Brasil

Via Awebic
A pedido da Trip, a antropóloga Lilia Schwarcz e a historiadora Heloisa Starling, autoras do recém-lançado “Brasil: uma biografia“, fazem uma lista dos episódios mais vergonhosos da história nacional.
1. Genocídio da população indígena

Até os dias de hoje há controvérsia sobre a antiguidade dos povos do Novo Mundo. As estimativas mais tradicionais mencionam 12 mil anos, mas pesquisas recentes arriscam projetar de 30 mil a 35 mil anos. Sabe-se pouco dessa história indígena, e dos inúmeros povos que desapareceram em resultado do que agora chamamos eufemisticamente de “encontro” de sociedades. Um verdadeiro morticínio teve início naquele momento: uma população estimada na casa dos milhões em 1500 foi sendo reduzida aos poucos a cerca de 800 mil, que é a quantidade de índios que habitam o Brasil atualmente.

2. Sistema escravocrata

O Brasil recebeu 40% do total de africanos que compulsoriamente deixaram seu continente para trabalhar nas colônias agrícolas do continente americano, sob regime de escravidão, num total de cerca de 3,8 milhões imigrantes. Fomos o último país a abolir a escravidão mercantil no Ocidente (só o fazendo em 1888, e depois de muita pressão) e o resultado desse uso contínuo, por quatro séculos, e extensivo por todo o território foi a naturalização do sistema. Escravos eram abertamente leiloados, alugados, penhorados, segurados, torturados e assassinados.

3. Guerra do Paraguai

O Império brasileiro errou em cheio. Avaliou-se que a contenda internacional opondo, de um lado, Brasil, Uruguai e Argentina, e, de outro, o Paraguai seria breve e indolor. No entanto, a guerra – na época chamada de “açougue do Paraguai” ou de “tríplice infâmia” – durou cinco longos e doloridos anos: de 1865 a 1870. A consequência para o lado paraguaio não foi apenas a deposição de seu dirigente máximo, mas a destruição do próprio Estado nacional. Os números de mortes sofridos pelo país são até hoje controversos e oscilam entre 800 mil e 1,3 milhão habitantes. Quanto às estatísticas brasileiras, a relação de homens enviados varia de 100 a 140 mil.

4. Canudos

Em 1897, a República abriu guerra contra Canudos: uma comunidade sertaneja originada de um movimento sóciorreligioso liderado por Antônio Conselheiro. Canudos incomodou o governo da República e os grandes proprietários de terras, pois era uma nova maneira de viver no sertão. Em 1897, o arraial foi invadido por tropas militares, queimado a querosene e demolido com dinamite. A população foi dizimada. Em “Os Sertões”, publicado em 1902, Euclides da Cunha escreve: “Canudos não se rendeu. Caiu no dia 5, ao entardecer, quando caíram os seus últimos defensores, e todos morreram. Eram quatro apenas: um velho, dois homens feitos e uma criança, na frente dos quais rugiam raivosamente 5 mil soldados”.

5. Polícia política do Governo Vargas

Em 1933, Getúlio Vargas criou a Delegacia Especial de Segurança Política e Social (Desp). Para comandá-la, Vargas entronizou o capitão do Exército, Filinto Müller. Na condição de chefe de polícia, Müller não vacilou em mandar matar, torturar ou deixar apodrecer nos calabouços do Desp os suspeitos e adversários declarados do regime sem necessidade de comprovar prática efetiva de crime. Pró-nazista, sua delegacia manteve um intercâmbio, reconhecido pelo governo brasileiro, com a Gestapo – a polícia secreta de Hitler – que incluía troca de informações, técnicas e métodos de interrogatório.

6. Centros clandestinos de violação de direitos humanos

A ditadura militar instalou, a partir de 1970, centros clandestinos que serviram para executar os procedimentos de desaparecimento de corpos de opositores mortos sob a guarda do Estado – como a retirada de digitais e de arcadas dentárias, o esquartejamento e a queima de corpos em fogueiras de pneus. No Brasil governado pelos militares, a prática da tortura política e dos desaparecimentos forçados não foi fruto das ações incidentais de personalidades desequilibradas, e nessa constatação reside o escândalo e a dor.

7. Massacre do Carandiru

Mais conhecida como Carandiru, a Casa de Detenção de São Paulo abrigava mais de 7 mil detentos, em 1992 (governo de Luiz Antonio Fleury Filho)– a capacidade oficial era de 3.500 pessoas. No dia 2 de outubro, uma briga entre facções rivais de presidiários terminou num massacre: a tropa policial entrou no presídio utilizando armamento pesado e munição letal. 111 presos foram mortos e 110 feridos. O cenário era de horror. Passados 21 anos, somente em 2014, 73 policiais foram condenados – todos podem recorrer em liberdade.
Publicação original de Revista Trip.
No Awebic damos destaque para coisas importantes, por isso aqui está um pouco do passado brasileiro. É através do passado que aprendemos com nossos erros para sermos uma sociedade melhor.