sábado, 24 de outubro de 2009

Mais um plano............

E agora José Serra?:Fundo da Sabesp tem rombo de R$ 530 mi



O Sabesprev, fundo de pensão dos funcionários da Sabesp, a empresa de saneamento básico do Estado de São Paulo, não tem dinheiro para garantir a aposentadoria de seus mais de 20 mil assistidos, ativos e inativos. Mais exatamente, faltam R$ 530 milhões para que a fundação garanta a complementação de renda até a morte do último dos participantes, como diz a lei.

Aquele é o valor do déficit atuarial e equivale a quase metade do patrimônio líquido de R$ 1,1 bilhão do fundo. O problema não é de hoje, mas nunca houve consenso entre a patrocinadora e os participantes para equacioná-lo.

Oito anos atrás, eram R$ 16 milhões de déficit, que só cresceu até este ano quando a Secretaria de Previdência Complementar (SPC), que fiscaliza as fundações, ameaçou intervir caso não se encontre uma fórmula de equacionamento. No documento enviado à Sabesp e à Sabesprev, ao qual o Valor teve acesso através de entidades ligadas aos funcionários, a SPC diz, em outras palavras, que se nada for feito, a projeção é que o déficit atinja R$ 1 bilhão nos próximos cinco anos.

Cumprindo a determinação da SPC, a Sabesp enviou em 29 de setembro uma proposta para chegar ao equilíbrio atuarial. O presidente do Sabesprev, José Sylvio Xavier, disse que não pode divulgar a proposta antes que ela seja aprovada pela SPC, o que é esperado para o fim deste mês. Questionado, o presidente da SPC, Ricardo Pena Pinheiro, disse que não poderia comentar a proposta que está ainda em análise.

Fontes ligadas aos funcionários e que tiveram acesso à proposta, dizem que basicamente o déficit será dividido entre 48,1% para a patrocinadora e 51,9% para os participantes. Estes percentuais correspondem à contribuição de cada parte que é 2,1% para a empresa (em média sobre a folha de pagamentos) e 2,22% para os empregados.

Será oferecida aos participantes a migração dos atuais planos de Benefício Definido (BD) para outros de Contribuição Definida (CD). No novo plano, a patrocinadora manterá sua contribuição, porém os empregados perderão benefícios como reajuste anual, 13º salário, a garantia de renda vitalícia para o participante e a esposa e o seguro de vida e acidentes pessoais que dá cobertura em caso de morte e invalidez.

Os empregados terão um acréscimo de desconto e os aposentados, que não pagavam nada, passam a pagar. Os valores das novas contribuições ainda não foram divulgados.

Os ajustes não vão parar por aí. Além de estimular a migração para o CD, a Sabesprev está preparando uma revisão da meta atuarial, dos atuais 6% ao ano mais a variação da inflação medida pelo INPC, para algo entre 5% e 5,5%. A medida, que vai custar cerca de R$ 300 milhões, está sendo tomada também por outros fundos de pensão e responde à queda da taxa de juros, que tornou inviável o cumprimento das metas.

Nove entidades ligadas aos funcionários e aposentados da Sabesp formaram um Fórum para tentar negociar uma saída para o problema. Elas já tiveram reuniões com o presidente da empresa, Gesner de Oliveira, e levaram suas reivindicações. Mas até agora não tiveram resposta, afirmou Marcos Sergio Duarte, presidente do Sindicato dos Urbanitários da Baixada Santista, Litoral Sul e Vale do Ribeira.

Na lista de reivindicações, os representantes do Fórum de Entidades incluíram a demanda de que a Sabesp assuma o passivo integralmente; paridade na elevação da contribuição, independente da faixa salarial; e a inclusão de benefícios de risco e renda vitalícia também nos novos planos.

Consultada pela reportagem do Valor, a direção da Sabesp não quis dar entrevista. Mas respondeu, por escrito, através da assessoria de imprensa, que "de acordo com a Resolução CGPC (Conselho de Gestão da Previdência Complementar) número 26, de 29/9/2008" cabe a ela arcar com o equacionamento de 48,1% do déficit. Com isso deixa claro que não aceita a proposta de arcar com todo o prejuízo, e confirmou, ainda, a criação do CD, "como forma de evitar a formação de novos déficits no futuro".

O único ponto em que aparentemente há consenso entre as partes envolvidas é sobre as causas do déficit. "Esse plano foi mal formulado", disse o diretor de Assuntos Previdenciários da Associação dos Aposentados e Pensionistas da Sabesp (AAPS), Armando Silva Filho, repetindo o que, segundo ele, ouviu da própria direção da SPC.


O plano Sabesprev começou em 1991 com contribuição paritária de 1,5%, tanto da patrocinadora quanto dos funcionários. Segundo Marcos Duarte, na época a empresa se propôs a incluir os empregados desde 1971, o chamado "serviço passado", pagando a diferença necessária para equilibrar as contribuições aos benefícios futuros.

"Na época, a Sabesp deveria ter acrescentado 0,7% à sua contribuição (que ficaria então em 2,2%) para cobrir o serviço passado, mas isso não se concretizou", diz Duarte. Em 2001, quando o regime de previdência complementar foi regulamentado e os fundos de pensão foram obrigados a se ajustar, a empresa elevou a contribuição para 2,1%. Hoje se vê que não foi suficiente.

"A culpa (do desequilíbrio) não é nossa, é da Sabesp que engessou a contribuição dela em 2%, que é pouco", disse Armando Silva Filho, da AAPS, para quem houve "negligência e omissão" da diretoria da Sabesp e da Sabesprev. José Sylvio Xavier, presidente do Sabesprev, tem outra explicação: "O que aconteceu é que a expectativa de vida dos nossos participantes aumentou sete anos desde 1991 quando o plano foi montado".

Segundo Silva a proposta de saneamento do fundo de pensão é "muito ruim", principalmente para os aposentados. "O plano novo acaba com todos os benefícios e vira praticamente um fundo de investimentos. O risco passa a ser totalmente dos participantes. É muito preocupante", disse. Segundo ele, o Fórum de Entidades pretende entrar na Justiça para obrigar a Sabesp e o governo do Estado a cobrirem o déficit. -Valor Econômico



A gente percebe que a entrevista do Presidente Lula é um sucesso, quando todos procuram os holofotes da mídia para falar sobre Lula.Do baixo clero da política, passando pela CNBB, ontem, todos eles procuram a mídia.

senadora Marina Silva (PV-AC) classificou como uma "metáfora infeliz" a declaração do Presidente Lula sobre a necessidade de fazer alianças. A ex-ministra do Meio Ambiente criticou a aliança entre PT e PMDB. "Consolida a visão de política que não se alinha de forma programática, mas pragmática...Infeliz é a Marina, que virou fantoche da imprensa e oposição e toda essa ladainha sobre judas e farizeus. No fim, o "cara" tava certo, basta ver toda hipocrisia sobre o assunto.Não sei a Marina se faz de sonsa, ou se realmente ela é. Marina no PV, que está fazendo aliança com PSDB, DEM e PPS,e ainda se acha com moral de criticar alguém. Ah, faz favor né. Perdeu o senso de ridículo

Todos os politicos sabem que o Lula disse a verdade sobre o apoio dos partidos no governo.Vejam o PSDB: É unido ao DEM. O programa de governo dos tucanos e a idoneidade moral que eles acham ter mais que os outros não permitiriam jamais uma composição com o DEM. Ja estão correndo desesperadamente atraz do PMDB para apoia-los nas proximas eleições. Para os brasileiros mais esclarecidos,criticar o Lula é criticar quem rigorosamente está dizendo a verdade.Eu pergunto; Sem emoção,ele mentiu?


Na esteira da Mariana vem o serra


O governador de São Paulo, José Serra (PSDB), foi irônico ao comentar a entrevista do Presidente Lula.Disse que a entrevista mostra bem “como Lula é na forma e no conteúdo”.

Ué, mas o Montoro, Covas, Serra e Cia. não sairam do PMDB e criaram o PSDB porque queriam se livrar do domínio que o Quércia tinha sobre o partido?. O Quércia não era para eles o que havia de pior em termos de ética e prática política?. E agora fazem acordo com aquele que eles descreviam como a própria encarnação do diabo?. .Desse jeito, andando em companhia do capeta, será até paradoxal ouvirmos o Serra, o vampiro brasileiro, atribuir a escassez de votos que lhe está reservada para 2010 ao fato de que a vingança do eleitorado será maligna.


É por isso que a oposição está lascada. Em vez de se esforçar para montar uma estratégia visando o futuro do país, em preparação à campanha presidencial, gast todo seu tempo e energia em picuinhas e tempestades em copo d´água. Se o Lula está falando besteiras, como acredita o governador, o problema não é do Serra. Pelo menos Lula está trabalhando. Enquanto o PSDB e DEM fazem tanto alarde sobre o que ele falou ou não falou, os meses vão passando, e daqui a menos de um ano vão sofrer mais uma derrota estrondosa. E vão culpar todo mundo menos eles mesmos!(Comentário do leitor da Folha, lá no jornal).

E agora, ao social



Na festa de CartaCapital, destinada a premiar as Empresas Mais Admiradas no Brasil e a celebrar o aniversário da revista, o 15º, o presidente Lula não estava com a cadelinha dálmata, estava é com a macaca. Ou, se quiserem, estava inspirado, a mostrar como se cativa um auditório.

A dálmata, não se surpreendam, cabe no enredo. Entre afirmações de grande peso, ironias de notável sutileza e a evocação de episódios escolhidos para despertar a hilaridade embora bastante representativos, a cadelinha não arreda pé do passado de Lula porque, muito tempo atrás, uma jovem jornalista não entendeu como um metalúrgico pudesse hospedar em sua casinha de São Bernardo do Campo um bicho tão aristocrático. Por causa de situações deste gênero, explicou o presidente, ele perdeu ranço e rancor.

Quanto à macaca, diz respeito ao extraordinário talento de comunicador do presidente da República mais popular na história do Brasil. Capaz também de fazer valer seu carisma no estrangeiro para conquistar a admiração do mundo. O discurso pronunciado por Lula na noite de CartaCapital é um primor de graça autêntica e também como peça política.

No ano passado, outubro também, o muro do neoliberalismo ruíra, quase vinte anos depois da queda de outro, o muro do socialismo real. Ambos fizeram por merecer. A festa de 2008 foi marcada pela desorientação da plateia e até pelo desalento. Único ali, a manter uma desabrida tranquilidade, o presidente da República. Já ensaiava o que viria pouco tempo depois, o vaticínio da “marolinha”.

O tempo deu-lhe razão, em boa parte, e hoje o leva a acentuar como a situação atual- deste país protegido pela natureza mas conduzido por cidadãos capazes de manter “a cabeça erguida” (palavras dele) explica o favor global e encaminha-o para tornar-se a quinta potência econômica até 2016. Diante disso, não há como a assistência não estrugir em palmas. CartaCapital - espera que a consciência desta perspectiva tão próxima da realização empolgue a nação, a repelir a ação contrária de quem, por exemplo, gostaria de entregar o pré-sal à Shell ou à Esso.

Até parece que o Brasil do futuro está na iminência de virar o Brasil do presente, para o bem geral, inclusive dos maus brasileiros, incapazes de enxergar as suas próprias conveniências. Se assim for, se a potencialidade econômica se afirmar, que faltaria? Admitamos que as condições de vida dos mais pobres tenham melhorado, como afirma o presidente Lula, assim mesmo pouco na visão de CartaCapital. De todo modo, a questão central ainda pousa na péssima, injusta distribuição de renda. Para ser, de verdade, o País do Presente, o Brasil precisa enfrentar seu maior problema, de cuja solução depende o êxito de um capitalismo pós-enterro do neoliberalismo.

Duas semanas atrás, neste mesmo espaço, falava de um livro recém-publicado na Itália sobre Enrico Berlinguer, um dos últimos grandes líderes políticos ocidentais. Recebi, a par da manifestação de simpatia do presidente da Fundação Astrojildo Pereira, Caetano Pereira de Araújo, de presente dois livros que a entidade lançou à sombra da coleção “Brasil e Itália”: Por um Novo Reformismo, de Giuseppe Vacca, pensador validíssimo, e Democracia, um Valor Universal, coletânea de trechos de ensaios, artigos, discursos e entrevistas de Berlinguer.

Extraio desta segunda obra uma resposta do líder comunista a um entrevistador da Time Magazine, em junho de 1975. Soa à perfeição no Brasil de hoje. Pergunta o jornalista americano: “O que aconteceria se o Partido Comunista passasse a fazer parte do governo nacional?” Responde Berlinguer: “Antes de tudo, no terreno da política interna, haveria o início de importantes reformas sociais, como as da habitação, da escola, do urbanismo. Depois, pressionaríamos para um grande avanço da produção agrícola e industrial, levando adiante um processo de modernização tecnológica.”

“Em segundo lugar”, prossegue o entrevistado, “e isto é de vital importância, promoveríamos um saneamento moral da vida política, social e judiciária da Itália.” E ainda: “Trabalharíamos também para pôr fim ao amplo sistema de clientelismo, que é fonte de tanto desperdício. Existe um nexo entre criminalidade comum e desordem política e, enquanto não eliminarmos a corrupção, especialmente nas cúpulas, não podemos esperar por grandes mudanças na criminalidade...”

Tanto mais inspiradoras estas declarações a se considerar que Berlinguer conduziu o PCI para uma linha própria, independente de Moscou, conforme “as melhores tradições democráticas e patrióticas da Itália”.

A curva que assusta

Mauricio Dias
Há uma curva no caminho da pré-candidatura do tucano José Serra. Ela talvez seja um dos maiores fatores da imobilização política do governador paulista em relação à eleição presidencial de 2010, que tem levado seus aliados a certo desespero.

A curva mostra o comportamento longitudinal do eleitor em relação às candidaturas de José Serra e Dilma Rousseff.

“Esse comportamento em relação ao governador Serra apresenta uma base de 35% e, ao longo do tempo, sofreu uma variação positiva até o início de 2009. A partir daí, há uma tendência constante de queda”, aponta Marcus Figueiredo, responsável pelo trabalho.

Em junho de 2008, Serra alcançou 38,2% pela Sensus. Chegou a 42,8% no fim de janeiro de 2009 em sondagem de opinião feita pelo mesmo instituto.

A curva similar, em relação à candidatura da ministra Dilma Rousseff, aponta uma tendência sempre crescente.

Ser (candidato) ou não ser (candidato)? Eis a questão de Serra.

Essa curva era, até então, conhecida por poucos. Ela foi mapeada por Figueiredo, um especialista em pesquisas eleitorais. Professor do Iuperj, da Universidade Candido Mendes, no Rio de Janeiro, foi utilizada por ele uma metodologia, usada nos Estados Unidos, chamada Poll of Polls (Pesquisa das Pesquisas).

Figueiredo tomou como base o resultado das pesquisas pré-eleitorais que representam a opinião da sociedade em momentos variados. Figueiredo usou dados das pesquisas do Ibope e dos institutos Sensus e Datafolha, realizadas entre fevereiro de 2008 e setembro de 2009. A representatividade das amostras é compatível e o objeto da pergunta é semelhante (“Se a eleição fosse hoje, em quem o senhor votaria?”).

Segundo ele, a ideia de fazer a “pesquisa das pesquisas” tem, exatamente, o objetivo de pegar as diferenças apontadas entre as pesquisas rotineiras, que, como retratos, mostram o presente. A tendência dilui essas diferenças episódicas captadas pelos porcentuais de uma mesma pesquisa ou, eventualmente, de pesquisas de diferentes institutos feitas quase no mesmo momento.

A tendência no tempo longo livra as candidaturas de circunstâncias episódicas.

Serra teme a derrapagem projetada por essa curva. Certamente, o deputado Rodrigo Maia, presidente nacional do DEM, se preocupa muito com ela. Aliado principal do PSDB, Maia não esconde do eleitor suas angústias e tem forçado uma definição rápida. “A oposição está sem discurso, sem candidato. Estamos no pior dos mundos”, lamentou recentemente.

O gráfico da “pesquisa das pesquisas” aponta uma tendência, mas não assegura que a situação seja imutável. Marcus Figueiredo acredita, no entanto, que, “se o governador José Serra continuar escondido”, a tendência da curva continuará declinante e, em breve, poderá ser ultrapassado pela curva ascendente de Dilma Rousseff.

Banda Larga: necessidade nacional e ação estatal




A imprensa neoliberal todos os dias cobra que o Governo - para usar uma das expressões preferidas desta gente - “faça o seu dever de casa” e dote o país de infraestrutura necessária ao desenvolvimento econômico. Para isso, é preciso fazer pesados investimentos, é claro. O problema é que eles querem que o Governo faça tudo com seu (nosso) dinheiro: estradas, ferrovias, metrôs, linhas de transmissão de energia, etc . Mas que, em seguida, entregue logo para uma empresa privada operar.

Isso nem seria um problema, se a empresa remunerasse os investimentos público, cobrasse preços e tarifas justas e reinvestisse os lucros na conservação e expansão. Mas vocês sabem que não é assimque funciona e que os governos - federal, estaduais e municipais - quando não se torna dócil como um cordeirinho diante de seus concessionários, fica refém do poder destas empresas.


Mercado de banda larga no Brasil, 5° do mundo, nas mãos de poucos
Eu tenho falado muito aqui nesta questão da banda larga de qualidade universalizada no Brasil. E tentando mostrar a caríssima precariedade com que as concessionárias de telefonia prestam este serviço, sem o qual hoje, além de não haver cidadania, não pode haver desenvolvimernto econômico. Ontem, o insuspeito O Globo, em sua editoria de informática, publica dados que só confirmam o que se tem dito aqui.

Em lugar da matéria, porém, prefiro começar com um dos comentários postados, de um leitor que se assina Romero Schmidt:

- Na Alemanha, tenho banda larga (15 Megabytes por segundo) pagando 10 reais por mês, sem limites de tempo ou volume de conexão, incluindo telefonemas para telefone fixo e um cartão de celular com o mesmo.
Se no Brasil não oferecem o mesmo é porque as companhias se colocam de acordo para explorar os consumidores.

A matéria, cuja leitura recomendo a todos, diz, em resumo, o seguinte: o Brasil é o quinto maior usuário de internet, em números absolutos. Mas, narelação entre uso da internet por habitante, caímos para o 76° lugar. Um estudo da ONU coloca o Brasil entre os países mais deficitários em capacidade de comunicação de dados via web. O Brasil aparece na 45ª posição no estudo, atrás de dois dos outros três países que compõem o grupo dos Bric: Rússia está em 18º lugar e China na 43ª.

O resultado? Para a população, a impossibilidade de ter acesso aos serviços, à informação e ao entretenimento que a internet propicia. Nada mal para as empresas de televisão e telefonia, que perdem terreno e lucros por causa da internet no mundo inteiro. Para as empresas, assim como a falta de boas estradas as desestimula de se instalarem em determinado ponto, também a falta de infovias de qualidade atrasa, quando não inviabiliza, seu desenvolvimento e avanço técnico e tecnológico.

A necessidade de o Governo lançar seu plano de universalização do acesso de qualidade à internet é imensa. E não deve cair no canto de sereia das teles, que querem parceria neste plano. Como disse o Romero Schmidt, elas não querem pouco dinheiro de muitos. Prefere muito dinheiro de uma parcela, porque mesmo uma pequena parte do Brasil é tão grande que seus lucros são imensos. Vejam o que foi esta “banda larga” popular lançada em São Paulo por José Serra e a telefônica: mesmo sem contar os 30 reais do telefone que vendem “casado”, custa 150% a mais que a da Alemanha e tem uma velocidade 600 vezes menor.

E sem um tostão de impostos. Assim é fácil ser empresário.

Discutindo a metáfora

por Luiz Carlos Azenha

Nem parece que vivemos no Brasil, um país com problemas gravíssimos que demandam algum tipo de composição política para resolvê-los. Até recentemente, não fazer nada servia à elite econômica do país. Não fazer nada implicava em administrar as demandas sociais de forma a fazer o menor número possível de concessões à grande maioria dos brasileiros.

Lula não rompeu com essa lógica, embora tenha alargado as bases para as quais se espalharam os benefícios do dinheiro público. O presidente da República foi absorvido pela elite brasileira dentro de parâmetros bem definidos: mude, para que a gente mantenha nossos privilégios. Esses privilégios se perpetuam na confluência de interesses entre os donos de terra, de meios de comunicação e de mandatos federais, no Congresso.

A Globo fala mal de Sarney, aliado de Lula, mas não desfaz os negócios que tem com Sarney no Maranhão. A Globo fala mal de Collor, aliado de Lula, mas não desfaz os negócios que tem com a família Collor em Alagoas. São disputas políticas que não implicam em um rompimento do acordão das elites que tem permitido a elas manter seus privilégios no Brasil por tanto tempo.

A agenda de Lula deixou intocados esses privilégios. Não houve mudanças institucionais profundas como as que aconteceram na Venezuela, no Equador e na Bolívia, que levaram a uma recomposição social, política e econômica. É por isso que o presidente falou recentemente na necessidade de votar uma consolidação das leis sociais. O quadro de aumento do salário mínimo e de expansão dos programas sociais, para usar apenas dois exemplos, pode ser revertido com uma simples canetada pelo próximo ocupante do Planalto, se ele quiser.

A falsa polêmica sobre as declarações de Lula de que, se necessário, Jesus faria acordo com Judas em nome da governabilidade, não deixa de ser reveladora da estreiteza de nosso debate político. Querendo marcar pontos junto à opinião pública, opositores distorcem as declarações para dizer que Lula "fala com Cristo", cometeu algum tipo de heresia ou foi infeliz na metáfora.

Politicamente, Lula falou uma verdade incômoda para todos os progressistas e todos os candidatos à presidência da República que se apresentam como progressistas. Não dá para governar o Brasil sem alianças que impliquem na rendição prévia aos interesses da elite brasileira que descrevi acima. Os limites da mudança são dados antes mesmo de cada eleição presidencial.

E a sociedade brasileira, cada vez mais conectada e informada, tem pressa. Vivemos uma profunda crise social, da qual os meios não se dão conta por estarem unicamente interessados em noticiar para e em defesa da elite política e econômica. A crise sai nos jornais via noticiário policial: explosões de violência nos morros do Rio, confrontos nos trens de subúrbio cariocas, enfrentamentos entre moradores e a polícia em Heliópolis e outros bairros de São Paulo. A questão social sempre foi e continua sendo tratada essencialmente como um problema de polícia, no Brasil. A simples existência das polícias "militares" é uma demonstração clara disso.

Um aspecto pouco analisado da recente entrevista do presidente Lula diz respeito ao fato dela ter sido dada logo depois do fechamento da aliança PT-PMDB. Lula escolheu a Folha de S. Paulo, um jornal que tem entrada junto ao empresariado paulista. Em minha modestíssima opinião, o recado dele aos empresariado paulista foi claro:

Sou um realista político e jamais endossarei rupturas. É melhor mudar com Dilma do que embarcar em "aventuras". Vocês sabem muito bem que nem de esquerda eu sou.

À direita a oposição entendeu e tentou usar algumas opiniões e metáforas presidenciais para desqualificar o conteúdo da mensagem. À esquerda a mensagem de Lula foi entendida e causou desconforto por Lula ter prometido, indiretamente, que Dilma será mais do mesmo: um reformismo cauteloso que manterá intocados os interesses essenciais da elite brasileira.

Politicamente, a manobra de Lula é muito inteligente. Ele ocupa o centro político, incorpora a "moderação" diante dos "radicais" à esquerda e à direita. O único problema é saber se as demandas sociais, que se multiplicam junto com as tecnologias de informação, cabem dentro do velho molde de uma aliança entre o PTB e o PSD em pleno século 21.

Presidente da Sabesp admite que serviço da empresa é “inaceitável”

"Mea culpa"

Webdiário

Após o governador José Serra (PSDB) ter afirmado, em visita a Santana de Parnaíba, que a questão do saneamento é o "principal problema" dos municípios da região Oeste, o presidente da Sabesp, Gesner Oliveira, afirmou ontem que encara o quadro atual como "inaceitável".

A declaração foi feita um dia após o anúncio da criação da Frente de Prefeitos da Região Oeste contra a Sabesp, que une os prefeitos Emidio de Souza (PT-Osasco), Rubens Furlan (PMDB-Barueri), Silvinho Peccioli (DEM-Santana de Parnaíba), Sergio Ribeiro (PT-Carapicuíba), Ruth Banholzer (PT-Itapevi), José Carlos Alves "Bananinha" (PT-Pirapora do Bom Jesus) e Braz Paschoalin (PSDB-Jandira).

Gesner participou ontem da 1ª Conferência Municipal de Saneamento Básico, promovida pela prefeitura de Osasco para debater a democratização dos serviços de água e de esgoto na cidade. "Essa situação [do saneamento] é inaceitável e, por isso, estamos trabalhando para melhorá-la. Ainda há muito por fazer", admitiu o presidente durante a conferência.

Em entrevista coletiva, ele comentou as críticas dos prefeitos à má qualidade dos serviços prestados pela Sabesp e também falou sobre a possibilidade dos sete prefeitos da Frente romperem conjuntamente os contratos de concessão com a Sabesp, caso não sejam atendidos em suas reivindicações. "Respeito muito a opinião de todos os prefeitos. Vamos manter o diálogo e tenho certeza que chegaremos a um entendimento", afirmou. "Acompanhei o conjunto das manifestações e acho que é normal haver pleitos, expectativas e discussão", amenizou.

Embora os prefeitos da região tenham sido responsabilizados pelas ineficiências do sistema de saneamento local, em série de entrevistas realizada pela Rede Globo, Gesner disse que não é correto "procurar culpados" para os problemas, mas sim buscar a solução. Ele avaliou que houve "negligência de todos" na questão, o que inclui a própria Sabesp, as prefeituras, a sociedade e o governo do Estado. A Sabesp é a concessionária dos serviços e, logo, a responsável pela distribuição da água e pelos serviços de coleta e tratamento de esgoto.

"Não há disputa da Sabesp versus prefeituras. A empresa está do lado dos prefeitos, não dá pra colocar prefeito contra a Sabesp", contornou o presidente, que garantiu que vê "com muito otimismo" a criação da Frente de Prefeitos.

Compromissos assumidos
Gesner assegurou que vai participar da visita solicitada pela Frente à Estação de Tratamento de Esgoto de Barueri, que deve ser realizada nos próximos dias, com a presença de prefeitos, secretários municipais, vereadores e imprensa.

Além disso, ele anunciou que a Sabesp vai apresentar o relatório de sustentabilidade de 2009 em audiência pública, no dia 29 de outubro, às 8h30, no Circo-Escola São Remo (Butantã). Gesner também disse que conversou com o prefeito Emidio e colocou-se à disposição para participar de audiência pública na Câmara de Osasco.

O presidente falou que vai discutir com os prefeitos medidas que podem ser tomadas em conjunto para elevar o nível de adesão das ligações de esgoto e "atacar a questão do lixo". Já sobre a poluição do rio Tietê, ele disse que tem certeza que "os prefeitos estão aflitos pela mesma razão que nós [Sabesp] estamos aflitos".
Monopólio da água
Gesner rebateu as afirmações do prefeito Rubens Furlan, que considera as cidades da região "reféns da Sabesp", já que ela detém o "monopólio das águas" através do controle das represas e bacias. Para o presidente, não existe monopólio, pois existem empresas privadas que oferecem os mesmos serviços. "A Sabesp é uma empresa que compete e temos a consciência de que devemos prestar um bom serviço", respondeu.

Prefeito Emidio diz que redução da mortalidade infantil depende da Sabesp
Durante a abertura da 1ª Conferência Municipal de Saneamento Básico, realizada ontem no Centro Universitário Fieo, o prefeito Emidio destacou que é fundamental a aceleração do cronograma de obras da Sabesp para que a prefeitura possa atingir as metas do Projeto Osasco 50 Anos. Ele citou, por exemplo, que somente com a universalização dos serviços de saneamento será possível reduzir os índices de mortalidade infantil.

"Nos preocupa ver o cronograma só para 2018, pois é um tempo largo demais. Falo isso em nome do povo de Osasco e das milhares de crianças que têm o direito de viver, e não de morrer por brincar nos esgotos", frisou o prefeito, dirigindo-se ao presidente da Sabesp.

Emidio falou que é "inconcebível" o fato da zona Norte "praticamente inteira" não possuir cobertura e nem afastamento de esgoto, e destacou que os índices de tratamento da região são muito inferiores aos índices do restante do Estado. "A Sabesp não tem cumprido com as metas que ela mesma fixa, apesar de sua imensa capacidade para tomar empréstimos estrangeiros", alfinetou. "Espero que não precisemos esperar até o final do contrato de concessão [em 2029] para vermos os resultados dessa política", disparou.

Também participaram da abertura da Conferência, além de Gesner, o deputado estadual Marcos Martins (PT), o sociólogo Rodrigo Massati, o representante do Unifieo José Martins Filho e o coordenador de Combate às Enchentes Delcides Regatieri, organizador do evento.



Patrícia Maciel de Souza Pereira

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sexta-feira, 23 de outubro de 2009

" No Brasil, Jesus teria que se alinhar a Judas", diz Lula




O presidente Luiz Inácio Lula da Silva concedeu entrevista para o repórter especial da Folha, Kennedy Alencar. Leia abaixo íntegra da entrevista:

FOlha - É correto classificar de marolinha uma crise que gerou desemprego, redução de investimentos e derrubou o crescimento da economia de 5% ao ano para 1% em 2009 no cenário mais otimista?

LUIZ INÁCIO LULA DA SILVA - Foi correto. Temos que separar a crise em dois momentos. Até setembro de 2008, discutíamos a crise do subprime quando ainda não havia o problema dos bancos. Até esse momento, o Brasil sentiria muito pouco a crise por várias razões. A economia estava sólida. Havíamos diversificado nossas exportações. Os bancos brasileiros tinham maior solidez e havia maior controle do Banco Central. Quando veio o Lehman Brothers [quebra do banco americano de investimentos em setembro de 2008], aconteceram duas coisas graves. O dinheiro desapareceu. Uma empresa como a Petrobras passou a pegar empréstimos na Caixa que seria destinado a pequenas empresas brasileiras.

FOLHA - Ali não houve um tsunami?

LULA - As coisas não aconteceram aqui como em outras partes do mundo porque nós tomamos medidas imediatas. Liberamos R$ 100 bilhões do depósito compulsório para irrigar o sistema financeiro. Fizemos com que o Banco do Brasil e a Caixa agilizassem mais a liberação de crédito. Fizemos o Banco do Brasil comprar carteiras de bancos menores que estavam prejudicados. Fizemos o Banco do Brasil comprar a Nossa Caixa em São Paulo e comprar 50% do Banco Votorantin. Era preciso que os bancos públicos entrassem em outras fatias do mercado, em que não tinham expertise, como financiar carro usado.

Nos debates com empresários, a minha inconformidade é que houve no mês de novembro e dezembro uma parada brusca desnecessária de alguns setores da economia.

Em outubro de 2007, o sr. disse que tinha aprendido que era importante governar também para a burguesia, que possuía uma visão diferente de quando era dirigente sindical, pois tinha um lado claro. Como presidente, precisava governar para todos, pobres e ricos.

Disse também que a burguesia brasileira era a "burguesia que sempre foi, a burguesia que está sempre querendo mais". Falou ainda: "Da minha parte, não existe preconceito. Tenho consciência de que estão ganhando dinheiro no meu governo como nunca".

Durante a crise econômica internacional, o que o sr. achou do papel do empresariado brasileiro?

LULA - Alguns setores empresariais resolveram colocar o pé no breque de forma muita rápida, a começar do setor automobilístico, que seguia a orientação das matrizes, que estavam em situação muito delicada. Tinha um estoque razoável. Estavam numa situação privilegiada de produção e venda de carros. De repente, a indústria automobilística parou. Quando ela para, para uma cadeia produtiva que representa 24% do PIB industrial brasileiro. E outros setores que já tinham empréstimos assegurados com o BNDES pararam porque ninguém sabia o que ia acontecer.

Aí, fizemos desonerações, liberação de financiamentos, o Meirelles colocou dinheiro das reservas para facilitar nossas exportações. Depois, descobrimos outra coisa grave, os derivativos, feitos por empresas que não pareciam que faziam derivativos. Foi outro problema. Tivemos de conversar com empresa por empresa. Discutir como financiar, como evitar que algumas quebrassem, e colocamos o BNDES em ação.

FOLHA - No auge da crise, os bancos privados secaram o crédito. A Vale e a Embraer demitiram de imediato. Foi um comportamento à altura do país naquele momento?

LULA - Não foi. Foi precipitação do setor empresarial, que deveria ter tido tido a tranquilidade que o governo teve. Deveriam ter ouvido o pronunciamento de 22 de dezembro em que fui à TV contraditar a tese de que as pessoas não iam comprar com medo de perder o emprego. Fui dizer que iam perder emprego exatamente se não comprassem.

FOLHA - O sr. comprou algo?

LULA - Lógico. Comprei geladeira nova.

FOLHA - E a sua opinião hoje sobre a burguesia, pós-crise?

LULA - Não utilizo mais a palavra burguesia.

FOLHA - Sobre o grande capital nacional?

LULA - Tem setores diferenciados. Não pode colocar todo mundo no mesmo barco. Tem o setor automobilístico que é dinâmico, mas depende de orientação da matriz. Como a matriz, estava numa situação muito delicada, a orientação recebida aqui era para colocar o pé no breque. Tinha o setor siderúrgico, com 60% da produção para exportação, que, de repente, minguou. A Vale exportava quase tudo o que produz de minério. Na hora em que caiu a demanda da China, houve um breque. O que me deixou decepcionado é que as pessoas deveriam ter tido a paciência para ver o tamanho do buraco. Quando dizíamos que o Brasil seria o último a entrar na crise e o primeiro a sair, nós estávamos convencidos do potencial do Brasil e do mercado interno. Há anos venho dizendo: o problema do Brasil não é o custo final do carro, o problema é saber se a mensalidade que o trabalhador vai pagar cabe no seu holerite.

Hoje é um fato consagrado no mundo inteiro: o Brasil hoje é o país mais bem preparado e o que melhor enfrentou a crise.

FOLHA - O sr. vai prorrogar a isenção de IPI para a linha branca? Total ou parcialmente?

LULA - Essas coisas a gente não diz sim ou não com antecedência. Se eu disser agora que vai ser prorrogado, as pessoas que iam comprar agora deixam de comprar.

FOLHA - O sr. tem simpatia pela prorrogação?

LULA - Tanto que tenho simpatia que fiz a desoneração.

FOLHA - Com o dólar no patamar de R$ 1,70 e juros ainda altos na comparação com outros países, o sr. não teme viver uma crise cambial em 2010 ou deixar uma bomba-relógio para o sucessor?

LULA - Nunca trabalhei com juros altos tendo como parâmetro outros países.

FOLHA - Mas os juros no Brasil são altos, e o sr. reclama.

LULA - Sei. Mas trabalho na comparação com o que era. Em vez de ficar achando que a calça do outro é apertada, eu vejo a minha de manhã. O Brasil tem a menor taxa de juros de muitas décadas.

FOLHA - A taxa básica não poderia estar menor?

LULA - Poderia. Mas, descontada a inflação, temos 4%, 4,5% de juro real. Há muitas décadas o Brasil não tinha esse prazer. O problema hoje é o spread bancário, que ainda está alto, e o governo tem trabalhado para reduzir.

FOLHA - O governador de São Paulo, José Serra (PSDB), tem uma crítica...

LULA - Deixa eu falar do câmbio. Depois respondo à crítica do Serra, que é menos importante para mim, para você e para o povo brasileiro. O câmbio sempre foi uma preocupação nossa. Se um dia você for presidente da República e sentar naquela cadeira, vai entrar na sua sala uma turma reclamando que o dólar está baixo, porque ele é exportador e está perdendo. Quando sai, entra a turma dos compradores, importadores, que acham que o dólar está maravilhoso, que é preciso manter assim. Aí entra o ministro da Fazenda, o presidente do Banco Central e dizem que é maravilhoso o dólar baixo porque controla a inflação.

Agora, antes que aconteça, uma superentrada de dólares no Brasil, reduzindo muito o valor do dólar em relação ao real, criando problema na balança comercial, e com algumas empresas exportadores tendo problema, nós demos um sinal com o IOF [Imposto sobre Operações Financeiros, que passou a ser cobrado no ingresso de capitais]. Demos um sinal para ver se a gente equilibra.

FOLHA - Especialistas dizem que o IOF será inócuo?

LULA - Se for inócuo, mudamos. Há uma disputa. O setor produtivo totalmente favorável, e o financeiro totalmente contrário. Isso é importante, porque significa que o governo está no caminho do meio, e aí é mais fácil a gente acertar.

FOLHA - A crítica básica do Serra é a seguinte: o Banco Central jogou fora na crise um bilhete premiado, que seria a oportunidade de baixar mais os juros sem custo. Agora, a crise acabou, a taxa está alta, pode ter que aumentar e jogou fora o bilhete premiado?

LULA - Vivi os dois lados. Quando se é oposição, você acha, pensa, acredita. Quando é governo, faz ou não faz. Toma decisão. O Serra participou de um governo oito anos. Tiveram condições de tomar decisões e não tomaram. Obviamente, qualquer um que for presidente, tem o direito de tomar a posição que bem entender. É como jogador bater pênalti. Brincando todo mundo marca gol. Na hora do pega para capar, até pessoas como o Zico e o Sócrates perderam pênalti.

FOLHA - Uma crítica de especialistas e da oposição é o aumento dos gastos públicos no segundo mandato. Além da elevação temporária de gastos na crise, há despesas permanentes que pressionarão o caixa no futuro e tornarão mais difícil baixar os juros. O sr. estaria deixando uma herança maldita.

LULA - As contas do governo nunca estiveram tão boas na história deste país. A política anticíclica na crise fez com que o governo deixasse de arrecadar uma enormidade de dinheiro. Mas é o preço que a gente tem de pagar. Compare o que colocamos de dinheiro na crise, com desoneração, com o que os países ricos tiveram de colocar. Foram trilhões de dólares colocados para ajudar o sistema financeiro, coisa que não precisamos fazer.

FOLHA - Saiu barato?

LULA - Eu acho. Em setembro, recuperamos os empregos que perdemos na crise e muito mais. Vamos chegar a um milhão de empregos no final do ano. Veja o mundo desenvolvido.

FOLHA - Qual é a sua previsão de crescimento do PIB para este ano?

LULA - Positivo, entre 1% e 1% e pouco. Se não houvesse a brecada brusca entre dezembro e janeiro, poderíamos ter crescido 2,5%, 3% com certa tranquilidade. O importante é o sinal para 2010.

FOLHA - Aquela brecada do empresariado sacrificou crescimento econômico?

LULA - O empresário brasileiro foi vítima de uma circunstância. O pânico criado no mundo fez com que todo mundo acordasse de manhã achando que ia acabar o mundo. O pânico precipitou decisões de recuo de setores empresariais. Eu chamei empresários, disse que tínhamos de aproveitar a crise, que tínhamos dinheiro no BNDES, que as empresas com dinheiro em caixa tinham de fazer investimento agora porque, quando a crise acabasse, estaríamos preparados para ocupar outro patamar no mundo. O momento não é de medo, é de investir. Eu jamais demoraria o tanto que foi demorado nos Estados Unidos para salvar a GM.

FOLHA - Aécio Neves ataca o inchaço da máquina e diz que o sr. faz um governo para a companheirada. Como o sr. responde?

LULA - Tem duas concepções de ver o Brasil. Tem pessoas que governam o Brasil para o imaginário de uma pequena casta. E tem pessoas que governam pensando em envolver 190 milhões de brasileiros. Quebramos o preconceito de primeiro tem que enxugar a máquina, fazer o país crescer e, então, dividir. Vivi isso durante quatro décadas. Quando resolvemos fazer política social, dissemos que era possível crescer concomitantemente e criamos uma nova casta de consumidores que está ajudando a indústria e o comércio.

FOLHA - O sr. recuou no envio de um projeto para cobrar IR de poupança acima de R$ 50 mil e mandou normalizar a devolução da restituição do IR. A lógica eleitoral, com temor de desgaste, autoriza a conclusão de que o sr. não pretende tomar medidas impopulares até o final do governo?

LULA - (Risos). Não faça injustiça, querido. Não adiamos o envio do projeto de lei. Decidimos o que íamos fazer em março, por unanimidade. A oposição que imaginava pegar a poupança como cavalo de batalha, ficou sem discurso. Em vez de a Fazenda mandar em março, como era algo que só valeria para 2010, esperou para mandar agora.

FOLHA - Vai enviar ao Congresso?

LULA - Vai mandar. Obviamente, poderemos discutir outras bases. Vai mandar, vai mandar.

FOLHA - E sua ordem para normalizar o pagamento da restituição do IR?

LULA - Não havia nada de anormal. No Brasil, já tivemos momentos em que a devolução atrasou. No nosso governo, tivemos momentos em que adiantou.

FOLHA - O ministro da Fazenda disse que estava atrasado, e o sr. deu a ordem para acelerar.

LULA - Lógico, porque tem que pagar. Nós precisamos de consumo. Precisamos que o povo tenha dinheiro para comprar. Falei com o Guido [Mantega]: Guido, nós precisamos que o povo tenha dinheiro para comprar. O povo tem de ter o dinheiro em dezembro.

*

"No Brasil, Jesus teria de fazer aliança com Judas"

FOLHA - Por que o sr. escolheu Dilma como candidata, uma cristã nova no PT e pessoa que nunca disputou eleição, sem fazer uma discussão no partido e levar em conta os nomes de governadores, como Jaques Wagner (BA) e Marcelo Déda (SE), e de ministros, como Patrus Ananias (Desenvolvimento Social) e Tarso Genro (Justiça)?

LULA - Não estava em discussão quem era PT mais puro sangue, menos puro sangue. Era uma questão de viabilidade política. Dilma é a mais competente gerente que o Estado brasileiro já teve. A capacidade de trabalho da Dilma, a competência, o passado político e o presente, me faz garantir que a Dilma é uma excepcional candidata a presidente da República.

FOLHA - O sr. nunca havia sido gestor, era político, virou presidente e faz um governo bem avaliado. Seu argumento não é muito tucano, essa coisa de gerente.

LULA - Não é tucano, não. Além de extraordinária gestora, a Dilma é um extraordinário quadro político. Tem firmeza ideológica, tem compromisso, tem lealdade, sabe de que lado está.

FOLHA - O sr. a acha preparada para presidir o Brasil?

LULA - Muito preparada.

FOLHA - Já há faixas na rua dizendo que Dilma eleita equivale ao terceiro mandato de Lula.

LULA - É exatamente o contrário. Uma mulher que tem a personalidade que a Dilma tem. Conheço bem a personalidade dela. Isso vai exigir que eu tenha o bom senso de quando elegi o Jair Meneguelli presidente do sindicato de São Bernardo, o José Dirceu presidente do PT. Rei morto, rei posto. A Dilma no governo tem de criar a cara dela, o estilo dela, o jeito dela de governar.

FOLHA - Falando do estilo, ela é retrata por pessoas do governo como muito dura no trato pessoal, que falta habilidade política, que massacra algumas pessoas. Isso não é ruim para um presidente?

LULA - O Brasil já teve muitos governantes maleáveis, e não deram certo? Você tem de ser bom, afável, duro, em função de cada circunstância. Uma mulher por si já tem a necessidade de ser mais retraída, pelo preconceito que existe contra a mulher. A Dilma vai surpreender esse país. Quem pensa que a Dilma é uma mulher grosseira, é uma mulher dura, está errado. Na sua casa, se você for com uma gracinha para o lado de sua mulher, ela vai lhe dar um tranco. Se a conversa for séria, não vai dar. E a Dilma tem toda a clareza disso.

FOLHA - Dilma precisará refazer sua imagem, tomar um banho de loja, semelhante ao que o sr. fez em 2002?

LULA - (Risos) Por esse aspecto, não precisa. Não mudei minha cara. Comprei apenas um terno novo para 2002. Não é possível mudar a cara. A pessoa pode aprimorar. Em 2002, fizemos uma pesquisa em que 85% diziam que a reforma agrária tinha de ser pacífica. Levei mais de 15 dias para que minha boca pudesse proferir reforma agrária tranquila e pacífica. Essas mudanças têm de ter. Algumas que a gente fala, pensando que está agradando, não batem com o que povo pensa.

FOLHA - O sr. defende uma coalizão e uma disputa plebiscitária. Se a coalizão é tão importante, por que faz tanta questão que o candidato seja do PT e não de um partido aliado?

LULA - Porque seria inexplicável para grande parte da sociedade brasileira o maior partido de de esquerda do país, que tem o presidente da República atual, não ter um sucessor. Apenas por isso.

FOLHA - Fechou ontem a aliança ontem com o PMDB?

LULA - Patrocinei uma reunião de líderes do PT com o PMDB, que fizeram uma nota. Haverá um acordo nacional, e a chapa será PT-PMDB.

FOLHA - Michel Temer é o nome para vice?

LULA - Não posso dar palpite. Quem discute vice é o candidato a presidente.

FOLHA - O sr. ainda tem o desejo de que Ciro seja vice de Dilma e que o PMDB apoie?

LULA - Um presidente não tem desejo. Faz o que é possível.

FOLHA - É possível?

LULA - Na política, tudo pode acontecer. O Ciro tem todas as condições de ser candidato a presidente. Sou um homem feliz. Feliz desse país, que tem o Ciro, a Dilma, o Serra, o Aécio, a Marina, a Heloísa Helena. Nesse espectro, não tem ninguém de extrema-direita ou conservador ao extremo. Todos tem história. Não acho que é mérito meu, não. Fernando Henrique Cardoso tem importância nisso, pelo fato de ter feito comigo uma transição excepcional.

FOLHA - Se Ciro se mantiver emparelhado ou à frente de Dilma em março, quando o sr. e ele combinaram de tomar uma decisão final, que argumento o sr. pode usar para convencê-lo a desistir da Presidência e concorrer em São Paulo?

LULA - Não vou tentar convencê-lo.

FOLHA - O sr. patrocina a articulação para ele ser candidato a governador de São Paulo.

LULA - Não é verdade. Não patrocino. O Ciro pertence a um partido pelo qual tenho profundo respeito. O PSB tem os mesmos direitos do PT. Sou o único cidadão que não tem autoridade moral para pedir para alguém não ser candidato. Fui candidato a vida inteira. Só cheguei à Presidência porque teimei. Muita gente achava que eu tinha de desistir. Jamais farei isso [pedir para Ciro desistir].

FOLHA - Como o sr. explica ter um governo popular e a oposição liderar nas pesquisas sobre sucessão?

LULA - Ainda não temos candidatos

FOLHA - Os motivos? Recall?

LULA - Lógico que é recall. O fato de ter um candidato da oposição que é governador de São Paulo, já foi candidato a presidente, que já foi senador, que já foi ministro, tem uma cara muito conhecida no Brasil inteiro.

Obviamente, a transferência de voto não é como passe de mágica. Vamos trabalhar para que a gente possa transferir todo o prestígio angariado pelo governo e pelo presidente para a nossa candidatura.

FOLHA - O sr. diz que ainda não há candidatos. Mas todo dia a Dilma aparece com o sr. no noticiário, viajando. O presidente do Supremo Tribunal Federal, Gilmar Mendes, classificou de vale-tudo as viagens que viram comícios.

LULA - Você passa o tempo inteiro plantando a sua rocinha. É justo que, quando ela ficar no ponto de colher, você vá colher. Foi grande o sacrifício que fizemos para o Brasil voltar a investir em infraestrutura. A gente não tinha dinheiro. Se olhássemos o saldo de caixa do governo para fazer o PAC, a gente não teria feito. Foi uma decisão de faríamos e arrumaríamos dinheiro onde fosse necessário.

A Dilma trabalha das oito, nove da manhã às três da manhã. Quando era ministra das Minas e Energia, ela ficava, às vezes, três e meia da manhã, ficava comendo lanche com os assessores para fazer as coisas andar. Ninguém pode ser contra a Dilma ir às obras comigo. Até porque, se ela for candidata, a lei determina quem tem prazo em que ela não poderá mais ir. Até chegar lá, ela é governo. É um debate pequeno.

FOLHA - Mendes disse que o governo testa o limite da Justiça Eleitoral.

LULA - É um debate pequeno. Cada brasileiro, seja ele presidente da suprema corte ou o mais humilde, tem o direito de falar o que bem entender, mas tem uma lógica. Nós vamos continuar inaugurando obra. Tudo que a oposição quer é mostrar na TV tudo o que eu não fizer. O que eu fizer eu tenho obrigação de inaugurar, porque sei qual foi o sacrifício para chegar aonde chegamos.

FOLHA - O sr. teme uma chapa Serra-Aécio?

LULA - Não [com voz firme].

FOLHA - O sr. pediu a Aécio para não ser vice de Serra?

LULA - [Riso] Não, não.

FOLHA - O sr. não subestimou Marina, que deixou o PT para, segundo ela, construir uma nova utopia no PV?

LULA - Se ela acredita nisso, não sou que vou desmentir. Nunca subestimei a Marina, porque a adoro como pessoa humana. Tenho carinho por ela. Fomos militantes juntos por 30 anos. Ela me pediu demissão em janeiro do ano passado, eu não dei. Na medida em que quis sair do governo e do partido, é um direito dela. Só tenho que desejar sorte, que Deus ajude. É uma pessoa boa.

FOLHA - Por que o sr. não abandonou Sarney na crise do Senado?

LULA - Por uma razão muito simples. O PT teve candidato a presidente do Senado, derrotado [Tião Viana, do Acre]. Não entendi porque os mesmos que elegeram Sarney, um mês depois, queriam derrubá-lo. Coincidentemente, o vice não era uma pessoa [Marconi Perillo, do PSDB de Goiás] que a gente possa dizer que dá mais garantia ao Estado brasileiro do que o Sarney. A manutenção do Sarney era questão de segurança institucional. O Senado está calmo. Está funcionando. Qualquer cidadão pode perder a cabeça, um presidente da República não pode perder a cabeça.

FOLHA - Se Sarney caísse, acabaria sua sustentação política no Senado?

LULA - A queda do Sarney era o único espaço de poder que a oposição tinha. Aí, ao invés de governabilidade, iam querer fazer um inferno neste país. Foi correta a decisão de manter o Sarney no Senado.

FOLHA - Falando do seu papel como presidente da República, o sr. chegou a dizer que Sarney não poderia ser tratado como um cidadão comum. Não é incorreto numa democracia, onde ninguém está acima da lei? Um presidente falar isso não transmite mensagem ruim?

LULA - É verdade que ninguém está acima da lei, mas é importante que a gente não permita a execração das pessoas por conveniências eminentemente políticas. Sarney foi presidente. Os ex-presidentes precisam ser respeitados, porque foram instituições brasileiras. Não pode banalizar a figura de um ex-presidente. O que vem depois da negação da política é pior do que a gente tinha. O mundo está cheio de exemplos.

A negação do socialismo, feita pela Gorbatchov, deu quem? O que tomava vodca lá, o [Bóris] Iéltsin. A relação com a política tem de ser mais séria. Não adianta falar mal do Congresso Nacional, porque ele é a cara do que foi votado pelo povo. O importante é que a democracia garante que a cada 4 anos haja troca.

FOLHA - O sr. apoiou Sarney, reatou relações com Collor, é amigo do Renan Calheiros, do Jader Barbalho e recebeu o Delúbio Soares recentemente na Granja do Torto. Todos eles são acusados de práticas atrasadas na política e até de corrupção. Ao se aproximar dessas figuras, o presidente não transmite ideia de tolerância com desvios éticos?

LULA - O dia que você for acusado, justa ou injustamente, enquanto não for julgado, terá de ser tratado como cidadão normal. Não tenho relações de amizade, mas relações institucionais. As pessoas ganharam eleições e exercem seus mandatos.

FOLHA - O cidadão que admira o Lula e o vê abraçado com essas figuras...
LULA - O cidadão que admira o Lula tem de saber que essas pessoas foram eleitas democraticamente. E o eleitor dessas pessoas é tão bom quanto ele.

FOLHA - O sr. trabalhou tanto pela reabilitação política de Palocci. O episódio do caseiro não é insuperável do ponto de vista eleitoral para um candidato majoritário?

LULA - Estranho a malandragem da pergunta: "O sr. trabalhou pelo Palocci". Deixa eu lhe falar uma coisa, desejo que todos os que foram acusados, e acho que tem muita gente acusada injustamente, que todos sejam julgados. Palocci teve um veredicto. Não tem mais nenhuma pendência com a Justiça. Portanto, o Palocci pode ser o que ele quiser ser.

FOLHA - E [pendência] perante o eleitorado?

LULA - Aí terá de ser construído.

FOLHA - Ele pode ser candidato a governador de São Paulo?
LULA - Ele tem inteligência suficiente para saber se o momento é de ter uma candidatura ou não.

FOLHA - Qual é sua opinião?

LULA - Não tenho opinião. Se fizer a pergunta em março, terei opinião. Palocci pode reconstruir a vida dele. Durante os primeiros anos do meu governo, ele era considerado a pessoa mais respeitada no mundo empresarial, no mundo financeiro. Ele está quase perto de ser um gênio político e vai saber tomar a decisão.

FOLHA - Seu aliado Ciro Gomes diz que há "frouxidão moral" na hegemonia da aliança PT-PMDB, da qual o sr é o principal avalista. Sobre o encontro com o PMDB, disse: "Espero que o PMDB entregue o que prometeu. E espero que os argumentos dessa aliança sejam confessáveis publicamente". Como o sr. responde a essas críticas?

LULA - A aliança com o PMDB e os demais partidos permitiram uma governança muito tranquila. Tive a governança mais tranquila que FHC e Sarney. Se for confirmada a aliança com o PMDB, será feito um documento público explícito para saber qual são os compromissos assumidos. Pra mim, as coisas têm de ser explícitas.

FOLHA - E a frouxidão moral?

LULA - É um conceito do Ciro.

FOLHA - Não quer responder.

LULA - Estou respondendo. É uma opinião do Ciro.

FOLHA - Não o incomoda?

LULA - Não. O Ciro esteve no meu governo. A única que não tem aqui é frouxidão moral.

FOLHA - Ciro disse que o sr. e FHC foram tolerantes com o patrimonialismo para fazer aliança no Congresso. Ou seja, aceitaram a prática política de usar os bens públicos como privados. "No governo Lula, vi um pouco de novo a mesma coisa", ele disse em entrevista em fevereiro de 2008. Como responde a essa crítica?

LULA - Qualquer um que ganhar as eleições, pode ser o maior xiita deste país ou o maior direitista, ele não conseguirá montar o governo fora da realidade política. Entre o que se quer e o que se pode fazer, tem uma diferença do tamanho do oceano Atlântico. E o eleitor escolheu seus representantes. Quem ganhar a Presidência amanhã, terá de fazer quase a mesma composição, porque este é o espectro político brasileiro. Não é o espectro do Ciro, do Lula, do FHC, do Serra, da Dilma. Coloque tudo isso na frigideira e perceberá que são os ovos que a galinha botou. São com eles que terá de fazer o omelete.

FOLHA - Nunca se sentiu incomodado por ter feito alguma concessão?

LULA - Nunca me senti incomodado. Nunca fiz concessão política. Faço acordo. Uma forma de evitar a montagem do governo é ficar dizendo que vai encher de petista. O que a oposição quer dizer com isso. Era para deixar quem estava. O PSDB e o PFL (hoje DEM) queriam deixar nos cargos quem já estava lá. Quem vier para cá não montará governo fora da realidade política. Se Jesus Cristo viesse para cá, e Judas tivesse a votação num partido qualquer, Jesus teria de chamar Judas para fazer coalizão.

FOLHA - É isso que explica o sr. ter reatado com Collor, apesar do jogo baixo na campanha de 1989?

LULA - Minha relação com o Collor é a de um presidente da República com um senador de um partido que faz parte da base da base. Os senadores do PTB têm votado sistematicamente com o governo.

FOLHA - Do ponto de vista pessoal, não o incomoda? Não lhe dá aperto no peito?

LULA - Não tenho razão para carregar mágoa ou ressentimento. Quando o cidadão tem mágoa, só ele sofre. A pessoa que é a razão de ele ter mágoa vive muito bem, e só ele sofre. Quando se chega à Presidência da República, a responsabilidade nas suas costas é de tal envergadura que você não tem o direito de ser pequeno. Tem de ter as atitudes de chefe de Estado. Fico sempre olhando quando a Alemanha e a França resolveram criar a União Européia. A grandeza daqueles dirigentes políticos, ainda com o gosto de sangue da Segunda Guerra Mundial.

FOLHA - O sr. cobrou um esclarecimento da ex-secretária da Receita, Lina Vieira.

Ela achou a agenda e a data, 9 de outubro, em que teria se encontrado com Dilma e ouvido o pedido para acelerar as investigações da Receita sobre Sarney. A ministra e o governo não devem esclarecimentos que o sr. mesmo cobrou?
LULA - É fantástico. O engraçado é que quando se levanta uma tese, essa tese fica sendo martelada todo santo dia para ver se ela vinga. Ora, o governo mesmo disse que a Lina tinha vindo aqui em outubro. Isso foi nós que dissemos. Acho estranho tirar tantos dias de férias para depois encontrar sua agenda.

FOLHA - Não é preciso mais explicações da Dilma?

LULA - Não tenho dúvida nenhuma. Também não tenho dúvida de que a Lina também deve ser uma grande funcionária pública. Muitas vezes as pessoas são vítimas de uma palavra a mais ou a menos. Quando as pessoas viram vítimas de utilização política, quando fulano procura alguém, e ninguém fala diretamente, sempre alguém fala por eles, aprendi a não levar muito a sério.

FOLHA - O sr. acha que Lina está sendo usada?

LULA - A dona Lina é dona da sua consciência. A dona Dilma é dona da sua consciência.
p(star). *

"Papel da imprensa não é fiscalizar, é informar"

LULA - Não faz mal porque aprendi, ao longo da minha vida, cair e levantar, cair e levantar. A pesquisa de opinião pública é como medir a pressão.

FOLHA - Quando o Rio foi escolhido para sediar as Olimpíadas de 2016, o sr. disse que simbolizava a entrada do Brasil no primeiro mundo político e econômico. O episódio de derruba de um helicóptero no último sábado não mostra que aquele Rio vendido lá é fantasia e que seu discurso é irrealista?

LULA - Pelo contrário. Disse que o Brasil tinha conquistado sua cidadania internacional. E reafirmo. Foi um momento glorioso ter a maior votação que um país já teve na história das Olimpíadas. Não foram escondidos os problemas sociais do Rio.

FOLHA - O secretário da Segurança Pública do Rio, José Mariano Beltrame, diz que "o Rio precisa que o governo federal assuma a responsabilidade legal pelo combate à droga". Empurrou a responsabilidade para o governo federal.

LULA - O governador [Sérgio Cabral] contraditou o secretário. O secretário é uma figura da Polícia Federal muito respeitada, muito amigo do diretor-geral da PF, Luiz Fernando Corrêa. Em momentos de medo, de insegurança, as pessoas falam qualquer coisa. Converse com o governador para ver a parceria na área de segurança que estamos construindo.

FOLHA - O sr. assistiu ao filme "Lula, o filho do Brasil"?

LULA - Não. Estou sendo convidado. Quinhentas ofertas. Quero sentar com a minha família e ver o filme.

FOLHA - Com financiamento de grandes empresários e ajuda das centrais sindicais na distribuição, não é um instrumento de propaganda personalista?

LULA - Se isso prevalecer, não sei o que fazer. Vou entrar numa redoma de vidro, mandar cobrir e não apareço mais em lugar nenhum. Tem um livro sobre a minha vida que é pública. O cidadão resolve fazer um filme. A única condição que impus foi não ter dinheiro público, e eu não quero que fale do governo. Do governo, só quando acabar.

FOLHA - O sr. não teme a repercussão negativa entre os judeus do encontro com o presidente do Irã, Mahmoud Ahmadinejad?

LULA - Muito pelo contrário. Não estou preocupado com judeus nem com árabes. Estou preocupado com a relação do estado brasileiro com o estado iraniano. Temos uma relação comercial, queremos ter uma relação política, e eu disse ao presidente Barack Obama (EUA), ao presidente Nicolas Sarkozy (França) e à primeira-ministra Angela Merkel (Alemanha) que a gente a não vai trazer o Irã para boas causas se a gente ficar encurralando ele na parede. É preciso criar espaços para conversar.

FOLHA - Ações recentes da política externa na América Latina foram de contraponto a Washington. O Brasil tem de ser um contrapeso à força dos EUA na região?

LULA - Não quero ser um contraponto a Washington. Quando propus a criação do Conselho de Defesa e de combate ao narcotráfico, tinha duas coisas na cabeça. Nós precisamos nos transformar numa zona de paz. E, enquanto América do Sul, a gente assuma a responsabilidade de combater o narcotráfico. Porque aí vai permitir que os países consumidores cuidem dos seus consumidores.

FOLHA - Zelaya completou completou um mês na embaixada brasileira fazendo política interna. Não foi longe demais?

LULA - Só tem um exagero em Honduras. É o golpista.

FOLHA - O sr. diz que a imprensa internacional elogia o Brasil e a nacional puxa o Brasil para baixo. Nos EUA, o Obama apanha da imprensa, e é elogiado na imprensa internacional. Isso não acontece porque a imprensa nacional conhece o país melhor?

LULA - [Risos] Quisera Deus que fosse verdade. Estou convencido de que a imprensa nacional conhece melhor o país, até porque tem obrigação de conhecer. Mas, às vezes, vejo um comportamento de um setor da imprensa muito ideologizado. Sou amante da democracia e da liberdade de imprensa. A maior alegria que tenho é que os leitores, ouvintes e telespectadores são os únicos censuradores que admito nos meios de comunicação. Portanto, cada um paga pelo que faz.

FOLHA - Um dos papéis da imprensa é fiscalizar o poder. O sr. não está incomodado com a imprensa cumprindo o seu papel?

LULA - Não incomoda.

FOLHA - O sr. disse que tem azia quando lê jornais.

LULA - Como presidente, nunca fico incomodado. Não acho que o papel da imprensa é fiscalizar. O papel é informar.

FOLHA - A imprensa não tem de ser fiscal do poder?

LULA - Para ser fiscal, tem o Tribunal de Contas da União, a Corregedoria-Geral da República, tem um monte de coisas. A imprensa tem de ser o grande órgão informador da opinião pública. Essa informação pode ser de elogios ao governo, de denúncias sobre o governo, de outros assuntos. A única que peço a Deus é que a imprensa informe da maneira mais isenta possível, e as posições políticas sejam colocadas nos editoriais.

FOLHA - O sr. acha legítimo o governo interferir na gestão de uma empresa privada como o sr. faz em relação à Vale?

LULA - Não interferi na Vale.

FOLHA - Houve interferência pública.

LULA - É preciso parar com essa mania de entender que só o presidente da República tem responsabilidade com o Brasil. Os 190 milhões têm. E, mais ainda, os empresários têm. E aqueles que receberam benefício do governo têm mais ainda. O que eu disse ao companheiro Roger foi pedir para a Vale colocar todo o seu poder de investimento em investimentos internos. Não apenas na exploração de minério, mas também na transformação desses minérios em aço.

Os trabalhadores da Vale sabem do carinho que tenho por ela. Tenho feito esforço em vários países do mundo, ajudando a cavar espaço para que a Vale seja empresa multinacional. Agora, não pode acontecer, quando deu um sinal de crise, mandar tanta gente embora como mandou. O Roger já sabe que houve equívoco nisso.

FOLHA - Na fusão da Oi com a Brasil Telecom, o sr. mudou a regra para favorecer um negócio em andamento de um empresário que é seu amigo e contribui para suas campanhas, Sérgio Andrade. Foi um benefício do Estado a um grupo privado. Isso não ultrapassa o limite ético?

LULA - Vocês são engraçadíssimos. Temos uma agência reguladora.

FOLHA - Mas o sr. assinou um decreto mudando a regra.

LULA - A legislação brasileira permite que a agência faça a regulação que melhor atenda ao mercado brasileiro. Estou convencido de que foi correta a decisão do governo.

*

Lula elogia Dunga e diz quem tem vaga garantida na seleção

O presidente Lula diz ser "excepcional" o saldo de Dunga na seleção brasileira. Acha que o Corinthians não tem mais chance de ganhar o Campeonato Brasileiro. O título, crê, está em disputa entre Palmeiras, São Paulo, Atlético Mineiro e Flamengo, que vem "despontando".

Fala que Robinho "faz motocicleta" em campo. "Nem bicicleta é." Conta que aconselhou Ronaldo a se preparar para ser convocado. Recusou-se a escalar seus onze titulares, mas opinou sobre quem teria vaga garantida para a Copa de 2010 na África do Sul.

"Dunga ganhou o que a gente não imaginava que ele ia ganhar". Diz que o técnico foi "demonizado" como jogador em 1990, com "o fracasso da seleção" na Alemanha. Mas saiu como "herói" na Copa de 1994, nos Estados Unidos. "É casca de ferida."

Falou que, se a seleção jogar a Copa de 2010 com "o espírito" da Copa das Confederações, "já está bom". "Ganhar a Copa ou não, é consequência. Para o torcedor, o que é a gente quer, além de ganhar, é muita raça", disse.

Para ele, Luís Fabiano "está excepcional" e será titular. Os outros titulares seriam Júlio Cesar, Maicon, Lúcio, Júan, Felipe Melo, Gilberto Silva e Kaká.

Apesar da irregularidade, Lula levaria Robinho para a África do Sul: "Às vezes, o cara é convocado porque o técnico tem afinidade com as pessoas que cumprem as tarefas do técnico. E o Robinho é aquele moleque de explosão. Tem dia que a gente fica nervoso porque ele não faz nada. Tem dia que a gente vê ele fazer lá uma motocicleta, nem bicicleta é, e marcar um gol espetacular".

O presidente colocaria no grupo André Santos, Daniel Alves e Nilmar. "Se fosse técnico, levaria o Nilmar. Tenho de convocar 22 e só vou colocar 11 em campo. O Nilmar é um moleque de uma explosão extraordinária. Muito esperto, muito ligeiro", opina.

Conta que disse a Ronaldo para se preparar fisicamente para "ser convocado" e ser reserva de Luís Fabiano. "O Ronaldão é sempre o Ronaldão". Sobre Gilberto Silva, diz; "Sinto que é uma das figuras de confiança do Dunga".

*

PINGA FOGO

Vale, a maior empresa privada do país
A cara do Brasil lá fora.

Roger Agnelli, presidente da Vale
Grande executivo.

Eike Batista, o homem mais rico do Brasil
Grande executivo.

Dona Lindu, mãe
Junto com a Marisa são as duas melhores mulheres do mundo.

Sr. Aristides, pai
Tenho boa lembrança do meu pai. Quando era pequeno, tinha muita bronca, porque ele era muito severo. Depois que fiquei politizado, tenho compreensão do motivo de meu pai ser rude.

Frei Chico, irmão
Figura excepcional

Lurdes, primeira mulher, que já morreu
Extraordinária

Marisa Letícia, primeira-dama
Uma das responsáveis pelo que eu sou

José Alencar, vice-presidente
O melhor vice do mundo

José Sarney, presidente do Senado
Grande republicano

Mahmoud Ahmadinejad, presidente do Irã
Não conheço bem

Barack Obama, presidente dos EUA
Grande esperança. Um bem para os EUA e para o mundo

Michele Obama, primeira-dama dos EUA
Muito simpática

Nicolas Sarkozy, presidente da França
Surpreendentemente extraordinário.

Carla Bruni, primeira-dama da França
Sei que é muito bonita

Cristina Kirchnerr, presidente da Argentina
Grande presidente. Vai terminar fazendo grande governo

Michelle Bachelet, presidente do Chile
Muito competente

Angela Merkel, primeira-ministra
Figura séria. A Alemanha está em boas mãos

Lula
Sempre procuro me comportar com a maior humildade possível. Gosto de falar com o povo. Odeio intermediário com o povo. Esse negócio de gente falar por mim, eu não gosto. Por isso, falo muito.


Por: Helena™ .

Desemprego cai para 7,7% e tem menor nível desde dezembro

Eu gostaria que vocês prestassem atenção no título e na notícia do jornal O Estado de S.Paulo. Depois, façam uma compração com o título e a notícia do jornal Folha de S.Paulo:

O Estado de São Paulo:Desemprego cai para 7,7% e tem menor nível desde dezembro

A taxa de desemprego apurada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) nas seis principais regiões metropolitanas do País caiu para 7,7% em setembro, ante 8,1% em agosto, e atingiu o menor patamar desde dezembro (quando a taxa ficou em 6,8%). O resultado veio abaixo das estimativas dos analistas, que iam de 7,8% a 8,2%, com mediana de 8%.

Uma boa notícia trazida pela pesquisa é a continuidade no aumento do poder de compra dos trabalhadores, já que a renda média real aumentou, em setembro, em todas as bases de comparação, refletindo sobretudo o baixo patamar da inflação. Segundo o IBGE, o rendimento médio real dos trabalhadores subiu 0,6% na comparação mensal e 1,9% frente a setembro do ano passado, para R$ 1.346,70.

Na média de janeiro a setembro de 2009, a renda média real registra um aumento de 3,6% ante igual período do ano passado, resultado superior a variação de 3,2% na renda apurada de janeiro a setembro de 2008 ante igual período do ano anterior. Segundo Cimar, essa aceleração no aumento do rendimento real foi impulsionada especialmente pelo aumento do salário mínimo e o patamar mais baixo da inflação. Também no Estadão, você lê: Brasil tem maior alta de crédito externo entre países emergentes

O Brasil registrou o crescimento mais elevado de linhas de créditos internacionais entre todos os mercados emergentes, perdendo apenas para Cingapura, e o sétimo maior do mundo. A alta dos empréstimos externos foi de US$ 11,5 bilhões entre abril e junho e mostrou uma reviravolta em relação à queda de US$ 13 bilhões no primeiro trimestre do ano e US$ 21 bilhões nos últimos três meses de 2008. Quase metade do aumento dos empréstimos - US$ 5,7 bilhões - foi para indústrias fora do setor bancário. Esse mesmo segmento havia sofrido no último trimestre de 2008 uma queda de US$ 8,8 bilhões.

A mesma notícia vista de forma diferente


Veja como é a manchete e a mesma notícia na Folha:


Folha de S.Paulo:Emprego formal cai, mas renda do trabalhador é quase recorde.

Apesar de ter registrado a menor taxa de desemprego no ano --7,7% em setembro-- o mercado de trabalho brasileiro em 2009 vem perdendo qualidade em relação ao ano passado, com queda no nível de formalização e menor entrada de empregados com carteira assinada, segundo dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).O jornalista que escreveu a matéria estava muito pessimista né não?

Kupfer: Impactos do Bolsa Família

por José Paulo Kupfer.

O jornalista Fernando Dantas publicou no Estado de S. Paulo desta sexta-feira uma reportagem com os resultados de um estudo recente sobre os impactos do programa Bolsa Família na economia. A conclusão do trabalho é que, o acréscimo no valor dos benefícios pagos, entre 2005 e 2006, de RS 1,8 bilhão, resultou num crescimento adicional do PIB, no período, de R$ 43,1 bilhões. Resultou também em receitas tributárias adicionais de R$ 12,6 bilhões. “O ganho tributário”, escreveu Dantas, “é 70% maior do que o total de benefícios pagos pelo Bolsa Família em 2006, que foi de R$ 7,5 bilhões.

Esses cálculos foram feitos pelo economista Naercio Aquino Menezes Filho, coordenador do Centro de Políticas Públicas, do Instituto de Ensino e Pesquisa (Insper), o antigo Ibmec-São Paulo, que também é professor na Faculdade de Economia da USP, e por seu aluno na graduação do Insper, Paulo Henrique Landim Júnior. É de se notar que o Insper e Naercio filiam-se a correntes do pensamento econômico situadas a anos-luz de distância das teorias heterodoxas ou mais à esquerda e não têm nada de lulistas.

Não é novidade que programas bem focados de transferência de renda, como é o caso do Bolsa Família, produzem relevantes efeitos multiplicadores no conjunto da economia. Isso só não é verdade para os que não conseguem levantar o véu ideológico que tolda a visão sobre os programas de inclusão social, para os que resistem a repartir melhor a renda produzida ou para os cegos pelas paixões partidárias. Faltava, porém, uma medição quantitativa da dimensão do impacto econômico específico do programa Bolsa Família.

Pois bem, segundo as estimativas de Menezes e Landim, um aumento de 10% no repasse médio per capita do Bolsa Família leva a uma expansão de 0,6% do PIB, no ano em que ocorre o aumento e no seguinte. Em outras palavras, ou melhor, em outros números, cada R$ 0,04 do Bolsa Família aumenta o PIB em R$ 1.

Fica assim provado, com números, que o “assistencialismo” do Bolsa Família move profundamente a economia. Com a vantagem de que, como indicaram os cálculos de Menezes e Landim, o setor mais positivamente impactado é o da indústria – aquele em que os empregos são de mais qualidade. Enquanto no PIB agrícola cada 10% a mais nos repasses do Bolsa Família não apresenta impactos significativos, o efeito nos serviços é de 0,19% no PIB setorial. No PIB industrial, onde o impacto é maior, efeito multiplicador de cada 10% adicionais nos repasses do programa atinge expressivos 0,81%.

Uma tentativa leviana, mais ou menos recente, de confundir o Bolsa Família com programas de distribuição de cestas básicas, a partir de uma declaração crítica de um Lula ainda na Oposição, em relação à distribuição pontual de comida, tem sido largamente disseminada pela internet, via YouTube. Intelectuais de viés conservador utilizam o vídeo como gancho para sustentar suas retorcidas teorias anti-inclusão social e de preservação da renda em mãos de poucos. Com os dados agora disponíveis, o falatório reacionário fica apenas lamentavelmente ridículo.

quinta-feira, 22 de outubro de 2009

PSDB avisa que, Aécio e Serra vão para o meio do povo




O PSDB vai adotar a mesma estratégia que tanto critica nas viagens do Presidente Lula e Dilma Rousseff: levará Brasil afora os pré-candidatos tucanos para interagir com a população e conhecer os problemas sociais do país. Assim como Lula, para não ter problemas com a Justiça Eleitoral, o partido fingirá que não está em campanha.

Como resposta às críticas do DEM - o principal aliado para 2010 - sobre a passividade neste momento de pré-campanha, os tucanos elaboram uma agenda de viagens para os governadores Aécio Neves (Minas Gerais) e José Serra (São Paulo) fazerem corpo a corpo com a população e não falarem apenas para a parte politizada e filiada ao PSDB. A ideia é mostrar que os petistas não estão mais falando sozinhos.

A tarefa está sendo tocada pelo presidente nacional da legenda, senador Sérgio Guerra (PE). "Não adianta mais participar dos seminários regionais. A ideia não é só falar para os nossos (militantes), é interagir também com a população", disse Guerra. Ele ressalvou: "Mas com o cuidado de não fazer campanha". Aliás, toda cautela é pouca nessa questão. Até porque, com o DEM, o PSDB entrou no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) em protesto contra a recente excursão presidencial de três dias às obras no Rio São Francisco.

Fase de elaboração

As viagens, segundo Sérgio Guerra, não vão priorizar regiões do país - o Nordeste, por exemplo, onde Lula tem os maiores índices de popularidade. "A agenda não é geográfica, mas social", disse o presidente tucano. Ele não quis revelar por onde começará o giro popular tucano, anunciado depois que o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso recebeu Guerra, o senador Tasso Jereissati e o governador Aécio Neves para um jantar em sua residência, em São Paulo. "Ainda estamos em fase de elaboração (dos roteiros)", sustentou o presidente do partido.

Barulho sem otimismo

Enquanto sai em campanha eleitoral pelo Brasil a fora, a oposição faz mais uma tentativa de evitar que o Presidente Lula e Dilma Rousseff, continuem viajando pelo país . Para evitar que os governistas se beneficiem de armas de campanha que os tucanos querem utilizar há tempos, PSDB, DEM e PPS entraram com mais uma ação no Tribunal Superior Eleitoral (TSE). O documento afirma: as viagens do presidente pelo país são pretextos para divulgar a candidatura da ministra e para antecipar a campanha de 2010.

A nova ação é a sétima tentativa dos oposicionistas de frear as andanças da cúpula do atual governo pelo país com ações na Justiça. Apesar do barulho que costumam fazer a cada representação, os oposicionistas não estão otimistas. Quatro das sete ações apresentadas desde 2008 já foram negadas porque os ministros da Corte entenderam que não havia provas de que as viagens são realizadas sob pretexto eleitoral. As outras ainda estão sob análise.

Para o presidente do TSE, Carlos Ayres Britto, as decisões anteriores não querem dizer que a Corte tende a negar esse tipo de pedido. "O julgamento desfavorável evidencia inconsistência no preparo das representações. Se houver peças bem elaboradas, a tendência é que a Justiça Eleitoral atue mais de acordo com as expectativas."

Derrotas

Apesar da garantia do presidente do TSE de que o quadro de derrotas da oposição nas ações contra a atual cúpula do Executivo possa se modificar se houver ações mais consistentes, integrantes do DEM e do PSDB ainda tinham dúvidas ontem se a melhor estratégia era mesmo entrar com uma nova representação. Além dos pedidos já negados, pesou na avaliação dos parlamentares o fato de todos desejarem que o candidato tucano à presidência também participe de eventos com ares eleitorais.

Por isso, alguns acreditavam que o desfecho das críticas à viagem do Presidente Lula e da ministra Dilma Rousseff às obras de transposição do São Francisco ficaria restrito a um requerimento de informação protocolado ontem na Mesa da Câmara. O documento pedia detalhes à presidência da República sobre os gastos e as funções de cada integrante da comitiva presidencial na viagem, que durou três dias. "Vamos pedir informações. Isso é certo. A partir daí, veremos o que fazer. Não sei se a presidência da legenda está pensando em outra coisa", comentou o líder do DEM, Ronaldo Caiado (GO), no início da tarde.

O quadro e as perspectivas se modificaram quando deputados das duas legendas começaram a pressionar por uma posição mais radical, tendo em vista as últimas declarações do presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Gilmar Mendes, sobre a conotação política das andanças de Lula e Dilma.Com informações do Correio Braziliense

Resposta de Marco Aurélio

O assessor especial para Assuntos Internacionais da Presidência da República, Marco Aurélio Garcia, foi um dos mais veementes na resposta à Gilmar Mendes. Segundo Garcia, o presidente do STF deveria se resguardar e se manifestar apenas nos julgamentos que comanda.

- O presidente do STF, em geral, deve falar nos autos, não deve falar em outras ocasiões, na minha modestíssima opinião - disse Marco Aurélio.

Para o assessor, os governadores de São Paulo, José Serra, e de Minas Gerais, Aécio Neves, ambos do PSDB, também podem ser alvos de investigações da Justiça Eleitoral. - De qualquer maneira, se a gente for examinar a conduta de dois governadores em seus estados, o Serra, em São Paulo, e o Aécio, em Minas Gerais, essa conduta poderia ser perfeitamente qualificada como conduta que produz efeitos eleitorais.

Para o assessor especial da Presidência da República, todas as ações acabam por surtir efeitos políticos e eleitorais.

- É muito difícil, para quem conhece o presidente Lula, que ele passe discretamente fazendo uma inspeção pelo Rio São Francisco.

Se isso tem efeito eleitoral? Tem efeito. (Assim como) se o governo fizer uma bobagem qualquer, e às vezes faz, isso tem efeito eleitoral e negativo - ponderou Garcia.


do blog APL

Nossos neo liberais são mais neoliberais que os deles 2


Dos jornais brasileiros, não preciso falar, vocês viram. Alguns trataram uma mísera taxação de 2% nas aplicações de capital estrangeiro em especulação com juros ou com a bolsa como um confisco, uma monstruosidade. “Empresas perdem X bilhões em um dia”, “Investidores vão fugir”, atc, etc… Você já viu este “fim de mundo” antes e o mundo não acabou.

Já os jornais estrangeiros, especialmente os econômicos, não estavam nem aí. Ao contrário. Já cedo a BBC destacava em seu site a matéria do Financial Times, dizendo que o Brasil, com a entrada maciça de dólares, “estava sendo vítima de seu próprio sucesso” e dizia que até punham pouca fé que essa taxação pudesse acabar com a corrida por aplicações no Brasil.

Vejam só o texto da BBC:

“No artigo mais noticioso (do Financial Times), que ganha espaço na primeira página, afirma que, “se o governo está tentando conter o avanço estável do real em relação a outras moedas com a taxa de 2%, muitos estão céticos quanto à hipótese de dar certo”.

É que, diante das boas perspectivas para o país, a atração de capital externo tem crescido a passos largos. “O Brasil se tornou vítima de sua própria resistência à crise”, diz o correspondente do jornal em São Paulo.

No momento em que grande parte do mundo ainda sofre com os efeitos crônicos da recessão, o país “deu os ombros” para a crise e está “voltando rapidamente para um forte crescimento”, afirma o diário.

Como explicou um analista, citado em uma segunda matéria, com a taxa o governo brasileiro “está lutando contra todo o mercado”. “Todo mundo quer estar no Brasil neste momento”, disse, ao jornal.

Mas nossos editores e comentaristas, muito sabidos, preferiram descrever a beira do precipício. Este blog, que é também muito simplório, prefere repetir o que vem sendo escrito, toda hora: “eles não vão fugir de onde ganham muito dinheiro”.

Mas nossos ultra-extra-superneoliberais, campeões olímpicos da liberdade do capital não querem nem saber se continua sendo lucrativo (e muito) investir no Brasil. Importante, mesmo, é não cometer a heresia de cobrar impostos do capital. Imposto só é pra salário e pra consumidor, onde já se viu!

do blog de brizola Neto

Nossos neo liberais são mais neoliberais que os deles



Se há uma coisa em que o Brasil pode se gabar de ser líder mundial é em alienação das suas elites. O Governo Lula resguardou o pré-sal nas mãos da Petrobras, entre outras razões, para que a enorme cadeia de compras de equipamentos e serviços que ele demandará ficasse em mãos das empresas brasileiras, gerando riqueza e empregos aqui.

Bom, a lógica é que as empresas brasileiras vibrassem com a notícia, pois lhes garante mais encomendas, mais faturamento, mais crescimento (e, com ele, mais emprego). Mas a nossa Confederação Nacional da Indústria, ao contrário, reclama da medida e defende que a exploração seja aberta (leia-se, entregue aos estrangeiros) e que haja uma absoluta “liberdade” em matéria de política de compras porque, assim, as empresas brasileiras serão forçadas a ser mais competitivas.

Sabem, a gente é muito simplório e não consegue alcançar a elevação espiritual desta gente. Os fabricantes de máquinas, de equipamentos, de navios não querem a garantia de vender máquinas, equipamentos e navios, para a Petrobras. Deveriam incluir uma prova de neoliberalismo mental nas Olimpíadas, as elites dirigentes do empresariado brasileiro ganhariam o ouro, garantido.

Veja o apelo que aqueles “caipiras” atrasados que dirigem as siderúrgicas americanas dirigiram ao Congresso dos EUA para tentar evitar - sem sucesso - que se abrandassem as cláusulas do programa “Buy America”, lançado por Barack Obama para tentar tirar da crise a indústria americana:

“Um pacote de recuperação econômica com fortes cláusulas ‘Compre na América’ para projetos de investimento em infraestrutura fortalecerá a infraestrutura do nosso país, devolverá o emprego de milhões de trabalhadores americanos e ajudará a revitalizar o setor industrial doméstico - em total cumprimento com nossos acordos de comércio internacional” (carta enviada pelo Instituto Americano do Minério de Ferro e do Aço aos congressitas)

Hoje, o presidente da Petrobras, José Sérgio Gabrielli, teve que ficar gastando seu latim para dizer o óbvio: “” num navio, queremos ampliar o conteúdo nacional dos móveis, dos motores, dos equipamentos, do sistema de ancoragem, do sistema de radar, do sistema de geração elétrica. Tem que avançar na cadeia (produtiva). Essa é a ideia ”

A Petrobras quer comprar 30 sondas e 153 embarcações até 2013. E o presidente da estatal ainda tem que sair em palestras por aí perguntando: “ por que não fazer essa criação nova no Brasil? “.

Quem duvidar, leia aqui a matéria do Valor, de 21/10/09.

Ubatuba participa da 1ª Conferência Regional de Comunicação

Com a participação de mais de 50 pessoas, vindas de sete cidades, a 1ª Conferência Regional de Comunicação – Confecom Vale do Paraíba, Serra da Mantiqueira e Litoral Norte, sediada em Jacareí, definiu cerca de 20 propostas a serem apresentadas na etapa estadual e, posteriormente, na nacional. A Confecom contou com representantes de Jacareí, Taubaté, Ubatuba, Pindamonhangaba, São José dos Campos, Cachoeira Paulista e São Paulo.

Realizada no sábado, no auditório da Secretaria Municipal de Educação, a Confecom teve como tema geral “Comunicação: meios para a construção de direitos e de cidadania na era digital”. Após uma breve apresentação dos subtemas -- “Mídia e Educação”, “Mídias Comunitárias e Populares”, “Democratização da Comunicação” e “Controle Público” --, os participantes foram divididos em grupos para discutir e formular as propostas.

Entre os destaques, foi aprovada por unanimidade uma moção de repúdio ao governo estadual, por não ter convocado a Conferência – coube à Assembleia Legislativa fazer a convocação. “Os atuais governos do Estado e da capital demonstram total falta de compromisso para com a conferência nacional, convocada pelo presidente Lula”, comentou Ed Trawtmam, integrante da comissão organizadora da Confecom, por parte do Sindicato dos Jornalistas – Regional Vale do Paraíba.

O secretário de Comunicação da Prefeitura de Jacareí, José Donizeti Pires de Albuquerque, ressaltou a implantação do Jacareí Digital em sua explanação sobre democratização da comunicação. “Já iniciamos a democratização do acesso à internet e iremos dar início à expansão do serviço para mais regiões da cidade”, explicou o secretário -- o projeto Jacareí Digital também foi motivo de uma moção de congratulação aprovada na Confecom, com o intuito de que a iniciativa de Jacareí seja replicada em outros municípios. Para o presidente do Sindicato dos Jornalistas de São Paulo, José Augusto Camargo, este debate é fundamental para que o cidadão seja o agente da comunicação, e não o objeto.

Todas as propostas convergem, basicamente, para a elaboração de políticas públicas de comunicação. Referindo-se à Lei de Imprensa e à regulamentação da profissão de jornalismo, a estudante de Jornalismo da Unitau (Universidade de Taubaté), Júlia Martin da Cruz, comentou sobre a importância da discussão de se rever a legislação, que é originária da ditadura militar. “É importante que as leis sejam trazidas para a realidade de hoje, e também que os acadêmicos participem mais, porque seremos nós que viveremos a consequência dessa discussão.” Já a moradora do Jardim Paraíso, Avani Julia da Silva, destacou a importância da participação da comunidade nesse debate. “A gente fica por dentro de assuntos novos e tem mais informação para ajudar as outras pessoas”, explicou Avani.

“A Confecom é importante para abrir o debate sobre que tipo de comunicação o cidadão espera ter, e dessa forma levaremos essa discussão para a Conferência Nacional”, ressalta Elisabeth Carlos da Motta, de São José dos Campos. Ela ainda ressaltou que Jacareí é um exemplo de cidadania no Vale do Paraíba por conta da implantação da internet gratuita aos moradores. Para Adriano Sestaria, da Fundação João Paulo II de Cachoeira Paulista, a Confecom é uma oportunidade de a sociedade expor suas ideias sobre comunicação.

O evento foi realizado pela Comissão Pró-Conferência de Comunicação do Vale do Paraíba, Litoral Norte e Serra da Mantiqueira, com apoio da Prefeitura de Jacareí, Sindicato dos Jornalistas - Regional Vale do Paraíba e do Departamento de Comunicação da Unitau.

Vale destacar que um dos participantes da mesa de abertura, o professor da UNITAU, Marcelo Pimentel, foi aluno da EE. Deolindo de Oliveira Santos, fato este que nos dá muita satisfação por saber que ex-alunos de nossas escolas tem relevante participação em movimentos sociais como esse.

Rui Grilo – ragrilo@terra.com.br

A guerra em torno da banda larga

O Governo Lula prepara a democratização da Banda Larga no Brasil – e incomoda a Telefonica, a Oi e outros interesses.

por Virgilio Freire

O Presidente Lula está preocupado com o desastre em São Paulo da Banda Larga da Telefonica, o Speedy, e o péssimo serviço da outra grande operadora no resto do país, a Oi.

O Brasil tem 5,3 ligações de banda larga na internet para cada cem habitantes. A Argentina e o Chile têm 8,8. As leis do mercado fizeram com que o número de paulistas ligados à rede veloz (2,4 milhões) seja maior que o de todos os clientes das regiões Nordeste, Norte e Centro-Oeste (2 milhões). Metade dos municípios brasileiros está fora da rede.

O governo federal está determinado a levar a Banda Larga à população de mais baixa renda, além de implantar uma rede de acesso via Internet em todos os orgãos da Administração – é o que se chama de e-Gov, na linguagem técnica do setor.

O Secretário de Logística e Tecnologia da Informação do Ministério do Planejamento, Rogério Santanna, foi incumbido de coordenar o Comitê Gestor do Plano Nacional de Banda Larga, com um prazo de 35 dias para apresentar seu relatório ao Presidente da República, e servirá de base para as ações do governo federal nessa área.

Rogério SantannaO Ministério do Planejamento analisou a precária situação da Banda Larga fornecida pelas operadoras privadas, como a Telefonica, a Oi, a Embratel. Fez um levantamento do que hoje estão fazendo nesta área outros países, como a Finlândia, por exemplo, que acaba de instituir o direito de todos os seus cidadãos, a partir de julho de 2010, a uma Banda Larga de 1 MB/seg. (cerca de 18 vezes mais rápido do que a Internet discada).

Na Austrália o governo está investindo 43 Bilhões de dólares para implantar um Plano Nacional de Banda Larga, que irá fornecer conexão direta através de fibra ótica com velocidade de 100 Megabits/seg. a 90% dos lares australianos a partir de julho de 2010. Isso é 12 vezes mais rápido do que a maior velocidade hoje fornecida pela Telefonica em sua rede Speedy, de 8 Megabits/segundo.

Os outros 10% do mercado australiano serão atendidos por sistemas via rádio ou satélite com uma velocidade mínima de 12 Megabits/segundo. Esta empreitada irá criar 47.000 empregos na Austrália nos próximos oito anos.

Os trabalhos estão em ritmo acelerado, e o modelo adotado pelo Governo Australiano foi a criação de uma empresa estatal, com 51% de participação governamental, e 49% nas mãos de investidores privados. Desta forma, o governo australiano consegue assegurar que a prioridade da empresa será a democratização da Banda Larga, e não o interesse de grupos de investidores privados.

No Brasil, a Telefonica opera em São Paulo investindo o mínimo, a fim de dar o máximo de retorno aos investidores espanhóis. O mesmo ocorre com a Oi, de propriedade da construtora Andrade Gutierrez, e do Grupo Jereissati. Nesta última, as decisões são tomadas visando os interesses destes grupos e não em benefício dos clientes e usuários. Estas empresas são campeãs de reclamações no PROCON. Desrespeitam o usuário, não cumprem promessas, investem o mínimo, terceirizam tudo que podem a fim de reduzir custos, e com isso prestam serviços de péssima qualidade.

A tendência do nosso Ministério do Planejamento é adotar o modelo australiano, considerado como o mais avançado no mundo atualmente.

Poucos brasileiros sabem, mas a nossa estatal de Telecomunicações, a Telebrás, ainda existe, em estado de “hibernação”. Assim, basta reativá-la com investimentos públicos e privados, para que o governo federal tenha em mãos os meios de fazer algo similar à Austrália.

O secretário Rogério Santanna propõe que a reativada Telebrás passe a controlar redes de fibras óticas que hoje o governo já possui - uma extensão de 31.448 km de fibras, juntando a Eletronet, a rede da Petrobras e a da Eletrobrás. A abrangência prevista é de atendimento a 4.245 municípios (76% do total existente no país) em 23 estados mais o Distrito Federal, que somam uma população de 162 milhões de pessoas (ou 87% de todos os habitantes). Santanna calcula em R$ 1,1 bilhão os recursos necessários para ligar o backbone e fazer o backhaul (ligação até a sede dos municípios), mas esse valor sobe para R$ 3 bilhões, se o governo decidir fazer a última milha (acesso até a residência do usuário).

A “Nova Telebrás” irá fornecer meios para qualquer operadora, grande ou pequena, que deseje prestar serviços de Banda Larga, com isso implantando uma real competição no setor, já que as pequenas empresas poderão concorrer com as grandes - todas pagarão o mesmo pelo aluguel dos meios à empresa estatal. A concorrência irá melhorar os serviços, mesmo que isso implique em menores lucros para os grupos que hoje controlam estas operadoras.

Hoje os provedores de internet reclamam de falta de acesso ao backhaul (a espinha dorsal da Internet Mundial). O presidente da associação brasileira de provedores de internet - Abranet -, Eduardo Parajo, está confiante de que o Plano Nacional de Banda Larga a ser
lançado pelo governo federal irá estimular a oferta do backhaul para as pequenas empresas. "Não temos acesso ao backhaul que está sendo construído pelas incumbents", afirma Parajo.

Conforme o executivo, as concessionárias não vendem a sua capacidade ou estabelecem preços proibitivos. "Somos obrigados a procurar as redes das operadoras concorrentes, mas os preços também são muito altos", afirma.
Para o presidente da Abranet, o melhor seria que as redes de dados instaladas fossem abertas para os demais prestadores de serviços.

O anúncio do Plano de Banda Larga do Ministério do Planejamento imediatamente provocou reações vigorosas por parte das atuais operadoras de Telecom e de Banda Larga - Oi, Telefonica, Embratel.

Luiz Eduardo Falco, presidente da Oi, foi crítico em relação à possibilidade de uma rede estatal de telecomunicações concorrente à rede das teles. "É preciso entender o enunciado dessa discussão. Quais os objetivos?", questionou o executivo. Durante sua palestra na Futurecom (evento que aconteceu na semana passada em São Paulo), Falco ironizou: "Tem gente que até hoje não acredita que o sistema de telecomunicações foi privatizado, mas foi".

Otávio Marques de Azevedo, presidente da Andrade Gutierrez, uma das acionistas controladoras da Oi, considera a idéia de se criar uma estatal para cuidar de banda larga, "um retrocesso sem sentido".

A oposição das empresas que atualmente dominam o mercado de Telecom e obtém altos lucros com a prestação de maus serviços é esperável. O que não era esperado foi a atitude destemperada e hostil do atual Ministro das Comunicações, Hélio Costa, ao plano do governo Lula – do qual faz parte, embora Helio Costa não seja do PT e sim do PMDB.

helio_costaO Ministro levantou-se durante a reunião do Comitê Gestor do Plano Nacional de Banda Larga e declarou que o Ministério se retirava da reunião, em protesto por discordar da proposta de utilizar uma empresa estatal. Segundo ele, as atuais operadoras Telefonica e Oi é que devem prestar os serviços de Banda Larga. Além de se retirar da reunião, convocou a Oi, a Telefonica, e a Embratel, a elaborar um plano alternativo a ser apresentado ao Presidente Lula.

Segundo ele, "Rogério Santanna não é porta-voz desse grupo. Quem estiver falando em nome desse grupo não está falando pelo grupo, está dando opiniões pessoais. O grupo técnico não pode ficar dando entrevistas, não pode ficar falando à imprensa, não pode ficar dando informações que não estão concluídas. A palavra final é dos ministros", disparou.

"Ao contrário do que um grupo está pensando, que pode fazer sozinho, eu estou achando, e digo abertamente, que é impossível fazer sozinho. E se tem um grupo que vai tocar isso sem a participação dos empresários, eu prefiro apresentar o meu projeto em separado", afirmou o ministro Hélio Costa nesta quinta-feira, 8/10, depois de uma reunião com os presidentes das operadoras, em seu gabinete, em Brasília, em que pediu que os empresários construam uma proposta de contribuição no plano, que deverá ser apresentada em até 30 dias.

Costa também discorda dos números apresentados. "Vamos precisar, evidentemente, da infraestrutura das próprias empresas, de todos os recursos que elas possam ter. São necessários enormes investimentos, que imaginamos que nos próximos dois anos, eles podem chegar a R$ 10 bilhões, para podermos ter um plano nacional de banda larga", calcula o ministro, sustentando, assim, ser “absolutamente impossível” fazer um plano de banda larga sem as empresas.

Essas, por sinal, demonstraram muita satisfação no convite feito pelo ministro. "Vamos procurar trabalhar em conjunto, que é exatamente a proposta que nós tínhamos feito lá no Guarujá, colocar a banda larga como prioridade nacional, ter um conjunto de ações mais concretas que passam por desoneração da oferta, licenças, espectro", diz o presidente da Telefônica, Antônio Carlos Valente, que também lidera a Telebrasil, associação que reúne as grandes Teles.

O ex-presidente da ANATEL, Renato Guerreiro, juntou-se aos críticos da proposta do governo Lula. Atualmente dono da Guerreiro Consult, que presta serviços às grandes operadoras de Telecom, como Oi e Telefonica, Guerreiro fez parte da equipe do Ministro Sérgio Motta, durante o governo de Fernando Henrique Cardoso, responsável pela privatização das Telecomunicações no Brasil. Para o ex-presidente da Anatel, as discussões até agora estão superestimando a banda larga. "Está se dando uma importância desmedida para a banda larga porque ela é uma simples infraestrutura", ponderou Guerreiro em entrevista durante o evento Futurecom.

Ele criticou o foco da ala do governo que defende a entrada do governo como gestor de uma rede pública de banda larga. "Acho que o foco na infraestrutura é distorcido, atrasado. É desvirtuar um recurso, uma inteligência do governo para uma atividade que já é feita pela iniciativa privada", argumentou.

Segundo Guerreiro, “Santanna fala como dono da verdade, confunde os fatos e se comporta como se tivesse dado grande contribuição às telecomunicações deste País. Eu o respeitaria muito mais se ele tivesse feito um décimo do que já fiz pelo setor."

Além dele, o ex- Ministro Juarez Quadros, que ocupou o cargo também durante o governo de Fernando Henrique Cardoso, minimizou o alvo na banda larga. Para Quadros, "com um simples telefone, muitas coisas são possíveis", ressaltando os efeitos da universalização do STFC que ampliou a oferta de linhas fixas. Na visão do ex-ministro, a cobertura existente de banda larga é bastante consistente e é preciso encarar que o "pobre coitado" que mora em pequenas localidades não tem necessidade de uma ultra banda larga. "Será que falta infraestrutura? Eu acho que não. Mais de 50% dos municípios brasileiros já têm condições de acesso à banda larga", afirmou.

Quadros fez uma franca defesa do caminho sugerido pelo ministro Hélio Costa para o Plano Nacional de Banda Larga, onde a parceria com as teles e o estímulo ao aumento dos serviços de governo eletrônico são o alvo. "Eu espero que o atual ministro das Comunicações consiga puxar para si o que é sua atribuição constitucional e contar com o prestígio do presidente Lula", comentou Quadros.

Respondendo às críticas de Guerreiro e Quadros, o Secretário do Ministério do Planejamento, Rogério Santanna, comentou: "Eu fiquei impressionado com o que ouvi aqui dos órfãos da telefonia. Eu confesso que esperava mais", provocou o secretário. "Quem diz isso não entende o mundo em que estamos vivendo hoje", complementou, rebatendo as declarações de que tem sido dada uma importância desmedida para a banda larga. Para Santanna, é essencial uma ampliação da banda larga para as classes mais baixas.

Como você pode ver, há no momento uma grande discussão sobre o assunto, com posições políticas que devem ser entendidas. Quem provavelmente irá ganhar a discussão? No meu entender, será o Ministério do Planejamento e o Secretário Rogério Santanna.

Apoio totalmente a posição deste último, e explico minha previsão de que suas idéias irão prevalecer.

Paulo BernardoRogério Santanna é o homem forte do Ministério do Planejamento. Goza de toda a confiança do Ministro Paulo Bernardo. Talvez você não conheça Paulo Bernardo, que mantém uma atuação ministerial ativa, porém discreta junto à imprensa.

Ele é membro do PT, Funcionário do Banco do Brasil, entrou na política pelo sindicalismo. Foi deputado federal pelo Paraná (1991-1995 e 1995-1999) e secretário de Fazenda do Estado de Mato Grosso do Sul (de janeiro de 1999 a dezembro de 2000). Foi novamente eleito deputado federal em 2002, com 72.831 votos. Será o substituto da Ministra Dilma Roussef na Casa Civil quando ela tiver de se desincompatibilizar a fim de concorrer nas eleições presidenciais de 2010. Decisão do próprio presidente Lula.

Logo, Paulo Bernardo e Rogério Santanna são pessoas em quem Lula confia. E ouve.

Por outro lado, o Ministro Hélio Costa está no governo por indicação de seu partido, o PMDB de José Sarney. Costa foi repórter e executivo da TV Globo durante a Ditadura Militar, entre 1968 e 1984. Não goza da confiança do Presidente, e apenas ocupa uma vaga da quota do PMDB no Governo. Não é respeitado no setor de Telecomunicações, que o vê como porta-voz da Globo e das operadoras privadas de Telecom como a Oi e a Telefonica.

Portanto, apesar da grita e dos protestos do PSDB e dos responsáveis pela privatização fracassada feita por FHC, provávelmente irão prevalecer o bom senso e os interesses da sociedade, e a Telebrás será reativada.

Para benefício dos cidadãos e dos usuários de Banda Larga no país.