quinta-feira, 21 de dezembro de 2017

Corporações vorazes



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É verdade. O grande problema do Brasil são as corporações. Elas querem tudo, nada cedem e comportam-se com voracidade. Agem em bloco.  Parasitam tudo. Só pensam nos próprios interesses. Condicionam governos, pressionam a mídia, paralisam setores inteiros quando seus privilégios são ameaçados. Afetam decisivamente as políticas públicas. Controlam “de forma estruturada e hierárquica uma cadeia produtiva” gerando “um grande poder econômico, político e cultural”. Desequilibram a democracia. As corporações mandam em nós. Manipuladas por muito poucos, representam o “principal núcleo de poder”. Sugam tudo e todos. Não perdoam, devoram.

Os governos estão reféns das corporações.
O economista Ladislau Dowbor, professor da PUC-SP, no seu livro “A era do capital improdutivo”, assina as frases citadas entre aspas acima. Ele mostra, com base em pesquisas recentes, que menos de 1% das empresas globais controla cerca de 40% do mercado internacional. As corporações mais vorazes são as empresariais. Apenas 737 players (corporações adoram essa palavra) controlam cerca de 80% do capital de todas as empresas mundiais. Corporações empresariais financiam campanhas políticas para impor reformas trabalhistas e previdenciárias. Nos Estados Unidos, desde 2010, elas foram liberadas para gastar mais com política. É assim que mandam no mundo e em nós.
Dowbor revela o que está em jogo: “Quando há milhões de empresas, há concorrência real. Ninguém consegue ‘fazer’ o mercado ditar os preços e muito menos ditar o uso dos recursos públicos”. Quando as corporações empresariais dominam tudo, até o mercado se dobra. Os governos viram fantoches. O eleitor não passa de um iludido: “Nesta articulação em rede, com um número tão diminuto de pessoas no topo, não há nada que não se resolva no campo de golfe no fim de semana”. Os dados são do ETH (Instituto Federal Suíço de Pesquisas Tecnológicas). A corporação empresarial financia políticos e patrocina a mídia para centrar fogo nos sindicatos e nos funcionários públicos.
O corporativismo que asfixia, contudo, matando quase toda possibilidade de eliminação da desigualdade global, é o empresarial. Dowbor dá o caminho interpretativo: “O resultado é uma dupla dinâmica de intervenção organizada para a proteção dos interesses sistêmicos, resultando em corporativismo poderoso, e o caos que trava qualquer organização sistêmica racional. O gigante corporativo, que abraça muito mais recursos do que sua capacidade de gestão, é demasiado fechado e articulado para ser regulado por mecanismos de mercado, e poderoso demais para ser regulado por governos eleitos”. As corporações financeiras impedem investimentos no setor produtivo. Vivem numa bolha. Compram consciências e vendem distorções simplistas.
Precisamos lembrar todos os dias: as corporações nos ameaçam.
Elas não pensam em bem-estar social. Preocupam-se exclusivamente com seus lucros. Algumas operam mais nos computadores, lidando com transferências e apostas virtuais, do que com realidades palpáveis e produtivas. Outras investem em desregulamentação e precarização quando lhes é fundamental. Compram leis e legisladores. Vendem fake-news, compram consciências.
Cuidado com as corporações!

Distribuição de riqueza, só com catástrofe


Recentemente, foram divulgados estudos que mostram que é falsa a ideia de que houve distribuição de renda na última década no Brasil.
 
Um dos que já sabiam disso é Pedro Herculano de Souza, pesquisador do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada. Em entrevista concedida ao portal EPSJV/Fiocruz, ele afirmou:

O período em que fomos menos desiguais foi entre 1942 e 1963, quando o 1% mais rico chegou a abocanhar ‘apenas’ 17% da renda total. Isso foi uma exceção, já que ao longo desses anos o centésimo mais rico deteve entre 20% e 25% de todos os rendimentos brasileiros fatia que, desde 2006, está na casa dos 23%...

Mas a entrevista tem outra passagem interessante:

É importante lembrar que a maior parte do mundo era muito desigual nos séculos 18 e 19. Os países onde realmente a coisa mudou relativamente em pouco tempo foram aqueles que passaram por catástrofes muito grandes. Notadamente, a Primeira Guerra Mundial, a grande depressão de 1929 e a Segunda Guerra mudaram radicalmente a distribuição de renda em vários países ricos. Países que, no início do século 20, não eram tão diferentes do Brasil mas que, depois da Segunda Guerra, já eram completamente diferentes.

Nosso grande desafio seria inventar um jeito pacífico, tranquilo, sem catástrofe, de sermos o primeiro país a sair desse nível de desigualdade e chegar a um nível civilizado. Eu não conheço exemplos assim. Em geral, acontece alguma coisa muito errada que obriga uma distribuição de perdas. A necessidade acaba forçando regras que impõem uma redistribuição e um conjunto de políticas que nasce junto.

Assim caminha a humanidade. Sob o capitalismo.

Uma distribuição de renda que interessa aos ricos


Causou certo barulho a divulgação de um estudo publicado no início de setembro pelo World Wealth Income Database, instituto dirigido por Thomas Piketty. Suas conclusões negam a ideia de que houve queda na desigualdade de renda no Brasil nas últimas décadas.

Segundo o levantamento, atualmente o 1% mais rico concentra 28% da renda nacional, equivalendo a um crescimento de 3% desde 2001. Além disso, de 2003 a 2008, o 0,1% mais rico da população se apropriou de 68% do crescimento da renda.

Mas o fato é que a pesquisa só reforça estudos anteriores feitos por brasileiros. Principalmente, por pesquisadores do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada. E todos contornam um problema metodológico que mascarava toda essa concentração de riqueza.

Os levantamentos anteriores utilizavam apenas dados das pesquisas domiciliares do IBGE. E os atuais usam informações de declarações de Imposto de Renda, que até pouco tempo atrás não estavam disponíveis.

Os números da Receita Federal não se limitam aos rendimentos, mas revelam também o tamanho do patrimônio, dariqueza. Quando se olha para eles, fica claro que houve redistribuição de renda, sim. Mas só entre os trabalhadores da faixa intermediária de renda para os de patamar inferior.

Os imensos ganhos de capital da minoria bilionária que atua no País ficavam escondidos por essa cortina de fumaça estatística. Acomodado a esta situação, um projeto político que logo seria tratado com enorme ingratidão por quem mais se beneficiou dela.

Petistas e lulistas dirão que a divulgação de informações como essas “faz o jogo da direita”. Deveriam admitir que muitos deles é que vêm fazendo este jogo há anos
https://pilulas-diarias.blogspot.com.br/2017/09/uma-distribuicao-de-renda-que-interessa.html
 

Para entender o apoio popular a Lula


Em geral as pesquisas tratam do 1% mais rico e dos 99% da população, como se os 99% fossem pobres do mesmo modo, e não são.

Estas palavras são de Tereza Campello, coordenadora do relatório “Faces da desigualdade no Brasil. Um olhar sobre os que ficam para trás”. Por isso, diz ela, o estudo escolheu “abordar a situação dos 5% e dos 20% mais pobres”, concentrando-se na população de negros do Brasil. “Eles são os últimos a receber o conjunto de bens, serviços e direitos; são sempre deixados para trás”, afirma. 

Um exemplo: em 2002, existiam 75,9 milhões de pessoas negras com acesso à energia elétrica, contra 91 milhões de brancos, só que a população de pretos e pardos é maior do que a população de brancos. Esse número aumentou de 75,9 milhões para 109 milhões, ou seja, aproximadamente mais 30 milhões de pessoas negras passaram a ter energia elétrica.

Mais dados: em 2002, entre os negros havia somente 5,7 milhões de chefes de família que tinham ensino fundamental completo. Em 2015, passaram a ser 17 milhões. No mesmo período, quase 40 milhões de negros passaram a ter acesso à água de qualidade no Brasil.

Na entrevista em que aparecem essas informações, Tereza cita muitos outras. A pesquisadora não esconde que utiliza os dados para defender os governos petistas. Nem deveria. Eles estão aí e explicam boa parte da grande aprovação popular a Lula.

Esses números não tornam obrigatório apoiar o projeto petista. Nem deslegitima quem, muito corretamente, o combate pela esquerda. Mas nos obriga a atentar para eles, sob pena de não entendermos nada.
http://pilulas-diarias.blogspot.com.br/2017/12/para-entender-o-apoio-popular-lula.html