sábado, 4 de fevereiro de 2012

Para breve, máquina de ler pensamentos



Ser capaz de ler os pensamentos de alguém é uma ideia que faz oscilar entre a curiosidade e o medo. Um grupo de cientistas norte-americanos deu mais um passo neste sentido e conseguiu identificar as palavras em que algumas pessoas estavam a pensar. O objectivo era ajudar os doentes impedidos de comunicar a expressar-se.
O estudo (ver PDF, em inglês), desenvolvido pela Universidade de Berkeley, na Califórnia, acaba de ser publicado na revista científica PLoS Biology e explica que os investigadores conseguiram reconstruir algumas palavras em que os participantes estavam a pensar, a partir das ondas cerebrais emitidas.
A equipa conseguiu decifrar a actividade eléctrica de uma zona do cérebro associada à audição humana e à linguagem que se chama circunvolução temporal superior (STG, na sigla em inglês). Ao analisarem os padrões de actividade da STG os investigadores conseguiram reconstruir algumas das palavras que os participantes estavam a ouvir numa conversa normal.

“Esta investigação baseia-se nos sons que uma pessoa ouve realmente”, esclareceu o autor principal, Brian N. Pasley, investigador da Universidade de Berkeley. Pasley clarificou que o objectivo principal do estudo foi explorar como funciona o cérebro humano, sobretudo em termos de codificação da fala, para determinar que aspectos da linguagem são mais importantes para a compreensão. “Em algum momento, o cérebro tem de extrair a informação auditiva e mapeá-la numa palavra, já que podemos entender a linguagem e as palavras, independentemente de como soam”, acrescentou.

Segundo o investigador, “existem provas de que a percepção e a imaginação podem ser muito semelhantes no cérebro”, pelo que se o doente entende a relação entre o som e o que chega ao cérebro é, pois, possível “sintetizar o som real em que a pessoa está a pensar ou simplesmente escrever as palavras com algum tipo de dispositivo que sirva de interface”.

As palavras foram reconstruídas com a ajuda de um modelo computorizado baseado em algoritmos e deram continuação a um estudo publicado no ano passado, no qual os participantes que tinham eléctrodos colocados directamente no cérebro foram capazes de mover o cursor do rato num computador pensando apenas em sons de vogais. Para a investigação agora publicada o grupo recorreu a ressonâncias magnéticas funcionais, um exame médico capaz de mostrar o fluxo sanguíneo no cérebro e centrou-se na STG pela sua grande importância tanto na recepção como na elaboração de linguagem.
A equipa monitorizou as ondas da actividade cerebral de 15 doentes submetidos a cirurgias para a epilepsia ou para remoção de tumores, ao mesmo tempo que passava uma gravação áudio com vários intervenientes a dizerem frases ou simples palavras. Com a ajuda de um modelo computorizado a equipa conseguiu perceber que zonas do cérebro eram activadas em cada momento e com que intensidade. De seguida foram ditas várias palavras aos doentes que tinham de escolher algumas em que deveriam pensar e os investigadores foram capazes de descobrir quais. E foram ainda mais longe: conseguiram mesmo reconstruir algumas palavras, transformando as ondas cerebrais em som.
“Este estudo é muito importante para os doentes que têm danos nos mecanismos da fala na sequência de um acidente cerebrovascular” ou de outras doenças, exemplificou, por seu lado, Robert Knight, outro dos autores do estudo e professor de Psicologia e Neurociências na mesma universidade. Knight salientou, também, que este trabalho traz desenvolvimentos tanto ao nível do conhecimento de como funciona o cérebro como eventuais futuros benefícios para pessoas com perturbações no discurso.
Os autores acreditam que, no futuro, este tipo de técnica pode ser disseminada nos hospitais para facilitar a comunicação com doentes cujas capacidades de comunicação estão limitadas. No entanto, alertam que a investigação ainda está numa fase muito prematura e que são necessários muitos mais estudos e melhorias até se chegar a uma técnica que possa ser implementada na realidade.
Fonte: Público
Algo a fazer lembrar o Relatório Minoritário, obra homónima de Philip K. Dick.

Somos Catalisadores de Nossas Vidas!

Seja por culpa da monotonia, da solidão, de um emprego sem perspectivas, da situação de moradia, de alguns quilos a mais... há dias em que nos pegamos desesperados por mudança. Num clique mental, o que parecia um quadro acertado, distanciava-se do que a alma aspirava. O que fazer?

Uma das revelações mais libertadoras - e devastadoras - fixa-se na realização de que o nosso presente é fruto das pequenas escolhas que fizemos - ou deixamos de fazer -  no passado. O dia em que negou aquele beijo; A festa em que exagerou; A briga que não deu para se retratar; Um esquecimento qualquer; Uma postura nova adotada; É neste jogo de minúcias que nossas vidas vão se formando. Sim, somos nós os catalisadores de nossas existências. 
So, my true nature is to be a catalyst?
 - Joan of Arcadia
A grande magia de ser um catalisador está na variedade de reações possíveis alterando-se as situações. Uma modificação de hábito, como por exemplo a de acordar mais cedo, pode criar a cadeia de ações e reflexos necessárias para que o objetivo do espírito torne-se concreto. Caso a atitude tomada resultou em um desfortúnio, deixe de temer! O catalisador não é consumido durante o processo.

Comigo foi assim, no conforto de uma decisão que há tempos sentia brotar e calava. Cansei de lamentar as dores que me infligi no uso desenfreado de meu livre arbítrio. Nestes poucos meses em que busco por uma vida mais saudável, percebo o reflexo de minhas escolhas no cotidiano. Mudando a energia das variáveis recaí em um presente inesperado. Assim como no filme Mais Estranho que a Ficção, estou vivendo em esperança gloriosa de quem age para salvar a si mesmo.


Assuma seu papel de catalisador e 
Transmute-se!

No blog catalisadores por natureza

sexta-feira, 3 de fevereiro de 2012

A História da Água Engarrafada



Aldeia gaulesa

O indefeso consumidor



"Até quando, ó Catilina, abusarás da nossa paciência? Por quanto tempo ainda há-de zombar de nós essa tua loucura? A que extremos se há-de precipitar a tua audácia sem freio? (...) Não vês que a tua conspiração a têm já dominada todos estes que a conhecem? (...) Oh tempos, oh costumes!"
(Cícero, "Catilinárias")

O Procon paulista soltou uma nota para esclarecer os consumidores sobre essa confusão toda causada pelos supermercados, que resolveram não embalar mais os produtos que vendem, e assim aumentar seus lucros, com o pretexto de "salvar" o mundo.
Diz a nota, depois de um blá-blá-blá sobre consumo "sustentável e consciente", que "no caso da campanha realizada nos supermercados, que visa a substituição de sacolas plásticas comuns por biodegradáveis, o Procon-SP esclarece que a par da informação prévia e adequada acerca de eventual cobrança e, ainda, do devido e contínuo esclarecimento e conscientização da população quanto a tais procedimentos, os estabelecimentos devem oferecer uma alternativa gratuita para que os consumidores possam finalizar sua compra de forma adequada, devendo essa medida ser adotada pelo tempo necessário à desagregação natural do hábito de consumo".
E continua: "É importante destacar que, na ausência de opção gratuita para que o consumidor possa concluir sua compra, fruindo de maneira adequada o serviço, o estabelecimento deverá fornecer gratuitamente a sacola biodegradável, respeitando assim os ditames do Código de Defesa do Consumidor (CDC)."
Parece incrível, mas é verdade: um órgão que deveria defender o consumidor, num caso flagrante de abuso aos seus direitos, fica no muro. Ora, a tal "alternativa gratuita" às sacolinhas de plástico, todos sabem, nada mais é que aquelas caixas de papelão imundas que embalam as mercadorias que os supermercados compram e que antes eram jogadas fora.
Com essa saída, o Procon acha que agradou tanto aos consumidores quanto aos supermercados. Agiu, isso sim, de forma a atender aos desejos dos empresários, que nunca estiveram, não estão, e nunca estarão preocupados com "consumo sustentável e consciente", com direitos do consumidor ou qualquer outra coisa que prejudique o seu faturamento.
É como a conhecida a fábula do escorpião e do sapo: o escorpião ferroa o sapo que lhe dava carona para atravessar o rio, selando a sorte de ambos, com a justificativa de que não podia deixar de fazer aquilo porque aquela era a sua natureza. Com os supermercados ocorre o mesmo: eles não vão nunca deixar de levar vantagem sobre o consumidor porque isso está no seu DNA.
E assim, sem amparo de ninguém, bombardeado por uma propaganda incessante, o cidadão comum vai se acostumando a ser cada vez mais espoliado, mais explorado, mais feito de trouxa.
Crônicas do Motta 

Folha e Veja terão espaço na TV Cultura: parceria com os tucanos agora é oficial


A “Folha” já pediu, em editorial, o fechamento da TV Brasil (http://www.cartamaior.com.br/templates/materiaMostrar.cfm?materia_id=16102) - emissora pública criada pelo governo federal. O motivo alegado pelo jornal: audiência baixa. “Os vícios de origem e o retumbante fracasso de audiência recomendam que a TV seja fechada -antes que se desperdice mais dinheiro do contribuinte.”

A mesma “Folha” anuncia agora - de forma discreta, diga-se – uma curiosa “parceria” com a TV Cultura de São Paulo – emissora igualmente pública, mantida principalmente com dinheiro do contribuinte paulista.

Tenho orgulho de ter trabalhado na TV Cultura nos anos 90, à época sob a presidência do ótimo Roberto Muylaert. Mas o fato é que a Cultura também não tem uma audiência maravilhosa. Nos últimos anos, os índices só caíram. Mas aí a “Folha” não vê problema. Ao contrário, torna-se aliada da TV.

Sobre a parceria entre “Folha” e TV Cultura, você pode ver mais detalhes aqui: (http://portalimprensa.uol.com.br/noticias/brasil/46962/tv+cultura+convida+veiculos+impressos+para+compor+sua+programacao).

O mais curioso é que a parceria se estenderá também à “Veja”, a revista mais vendida do país.

A “Veja”, como se sabe, gosta de escrever Estado com “e” minúsculo, para reafirmar seu ódio ao poder público. Ódio? Coisa nenhuma. A Abril adora vender revistas para o governo. E agora, vejam só, também terá seu quinhãozinho na emissora controlada pelos tucanos paulistas.

O “programa” da “Veja” deve ir ao ar às terças. O da “Folha”, aos domingos.

A notícia sobre o novo programa da revista mais vendida pode ser lida abaixo, em reportagem do site “Comunique-se”…

Recentemente, o “Estadão” chamou a oposição às falas (http://www.rodrigovianna.com.br/outras-palavras/estadao-assume-que-e-partido-politico.html), pedindo – em editorial – unidade e combatividade para barrar o PT em São Paulo. Alckmin parece ter escutado.

A TV Cultura transforma-se numa tricheira, a organizar o que sobrou da oposição: “Veja”, “Folha”… E dizem que o “Estadão” também terá seu programinha por lá.

Faz sentido.

Como disse um leitor, no tuiter:
@RobertoToledo59 (https://twitter.com/#!/RobertoToledo59). Estão apenas oficializando a parceria.

Trata-se de um movimento importante: estão preparando a trincheira pra defender a terra bandeirante da horda vermelha… Afinal, se o PT ganhar a capital esse ano, o Palácio dos Bandeirantes será o último bastião do tucanato paulista e de seus (deles) aliados na velha mídia.

Perguntinha tola desse escrevinhador: “Folha” e “Veja” vão pagar para usar o espaço da emissora pública? Ou será tudo na faixa?

Em entrevista ao Portal Imprensa, o editor da “Folha” deixou claro qual o objetivo da parceria: “trará a possibilidade de a marca Folha alcançar seu público no maior número possível de mídias. O jornal continua firme no propósito de levar seu conteúdo de qualidade a um número diversificado de plataformas, e chegar à TV parece um passo natural”.

Muito natural! Tá tudo em casa, eu diria.

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Anderson Scardoelli, do site Comunique-se

A partir de março, um novo jornalístico ocupará a grade de programação da TV Cultura. Em parceria com a revista de maior circulação no País, a emissora da Fundação Padre Anchieta vai transmitir o ‘Veja na TV’. A atração irá ao ar durante as noites de terça-feira, após o ‘Jornal da Cultura’.

Além da TV, o programa será exibido ao mesmo tempo na Veja.com. Porém, quem acompanhar o ‘Veja na TV’ pela internet terá um diferencial assim que cada edição chegar ao fim: participar do chat com o jornalista Augusto Nunes, que estará à frente do projeto que marca a parceria entre a Cultura e a publicação da Editora Abril.

O projeto representa o retorno de Nunes à TV Cultura. Ele foi entrevistador do ‘Roda Viva’ de julho de 2010 a agosto de 2011, época em que a atração foi comandada por Marília Gabriela. De 1987 a 1989, o programa criado há 20 anos foi apresentado pelo jornalista, que atualmente mantém uma coluna (http://veja.abril.com.br/blog/augusto-nunes/) na Veja.com.

Por enquanto, nenhum profissional foi contratado para participar do novo programa. O ‘Veja na TV’ será produzido integralmente pela equipe das versões impressa e online da Veja. Os temas abordados pela atração serão política, economia e demais assuntos que aparecerão na mídia no decorrer da semana em que determinada edição será exibida.

‘Veja na TV’ contará com matérias especiais, comentários, debates e entrevistas. O programa será gravado no estúdio da Veja, localizado na sede da Editora Abril, em São Paulo. O estúdio é o mesmo em que Nunes comanda o ‘Veja Entrevista’  (http://veja.abril.com.br/blog/augusto-nunes/secao/videos-veja-entrevista/), que é publicado quinzenalmente na Veja.com.

Só Brasil paga salário a vereador

Do Rufano Bombo:
Exatos 181 países fazem parte da ONU. Em um só se paga salário a vereadores ou a pessoas que exercem funções equivalentes. Adivinhe… A única invenção brasileira reconhecida em fóruns internacionais é a duplicata mercantil. Data da época em que Dom João VI transferiu para o Rio a sede do império português. Nem o avião é, apesar do proclamado pioneirismo de Santos Dumont. Pois a segunda invenção à espera de reconhecimento universal é o vereador pago. O vereador pago é como a jabuticaba, uma fruta genuinamente nacional.Em raros dos outros 180 países, paga-se simbólica quantia aos conselheiros municipais. Eles se reúnem em local cedido pela administração do lugar. Oferecem lá suas idéias e vão para casa.
 No Brasil, até 1977, somente os vereadores de capitais recebiam salários. Para fazer média com os políticos depois de ter fechado o Congresso, o general-presidente Ernesto Geisel estendeu o benefício aos demais vereadores. Nos 5.561 municípios havia um total de 60.267 vereadores até 2004. A Justiça Eleitoral passou a faca em mais de oito mil vagas. O Congresso ameaçou aprovar uma Proposta de Emenda à Constituição que fixava em 57.295 o número de vereadores. Recuou e o número ficou em 50.653. Poderia ser o dobro disso desde que pouco ou nada custassem aos nossos bolsos.Sabe quanto eles custam? Algo como R$ 4,8 bilhões anuais.
Rudá Ricci, em seu blog

Desigualdade no Brasil diminuiu, afirma novo relatório da ONU!

Desigualdade no Brasil diminuiu, afirma novo relatório da ONU - do Vermelho

O Brasil foi lembrado no novo relatório “Pessoas Resilientes, Planeta Resiliente” preparado pelo Painel de Alto Nível sobre Sustentabilidade Global das Nações Unidas pela queda nos índices de desigualdade. O Painel, que teve entre seus integrantes a Ministra do Meio Ambiente brasileira, Izabella Teixeira, afirma também que o país reduziu o desmatamento e apresentou bons índices de energia limpa.

O relatório do Painel de Alto Nível é uma preparação para a Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável (Rio+20) no Brasil em junho de 2012.

Enquanto a desigualdade entre ricos e pobres aumentou na maioria dos países, o Brasil junto com a Turquia foram lembrados pelas Nações Unidas como países que seguiram caminhos contrários a essa tendência nos últimos dez anos.

O país, assim como a Indonésia, também foi elogiado pela “redução substancial” dos índices de perdas de vegetação. Quanto a energia, a ONU elogiou o rápido progresso de fontes renováveis no Brasil, que corresponde a mais de 80% de sua fonte de energia.

O relatório ressalta que o Brasil, através do programa federal Bolsa Verde, está planejando beneficiar cerca de 73 mil famílias de extrema pobreza que se comprometem com a conservação ambiental das áreas de moradia e trabalho. Esse programa inclui pagamentos trimestrais, capacitação de manejo florestal e está inserido no Plano Brasil Sem Miséria.

Alguns dos dados mundiais preocupantes do relatório são: a inflação nos preços dos alimentos; o aumento em 20 milhões de pessoas que passam fome; o desmatamento médio anual de 5,2 milhões de hectares no mundo; e o crescimento de 38% da emissão anual de gás carbônico entre 1990 e 2009. Além disso, 884 milhões de pessoas ainda não têm acesso à água e 2,6 bilhões estão sem serviços de saneamento básico.

Copresidido pela presidente finlandês Tarja Halonen e pelo presidente sul-africano Jacob Zuma, o Painel lançou seu relatório final com 56 recomendações para colocar em prática o desenvolvimento sustentável e integrá-lo às políticas econômicas o mais rápido possível.

Os 22 membros do Painel de Alto Nível sobre Sustentabilidade Global incluiu chefes e ex-chefes de Estado, ministros e representantes do setor privado e da sociedade civil.

Ban Ki-moon, ao receber o relatório do Painel, afirmou que o desenvolvimento sustentável é uma prioridade para seu segundo mandato. “Precisamos traçar um novo rumo, mais sustentável para o futuro, que fortalece a igualdade e o crescimento econômico ao mesmo tempo em que protege o nosso planeta”.

Fonte: ONU Brasil 

quinta-feira, 2 de fevereiro de 2012

Arcebispo denuncia corrupção no Vaticano e é transferido


arcebispo Carlo Maria Vigano
O arcebispo Carlo Maria Vigano, secretário-geral do Vaticano até 2011, denunciou no ano passado, em cartas enviadas ao papa Bento XVI, a "corrupção" e a desordem observadas na administração do menor Estado do mundo, informaram meios de comunicação italianos. O Papa nomeou Vigano como núncio apostólico nos Estados Unidos em agosto de 2011, uma promoção interpretada como um castigo para o prelado, conhecido pelo rigor na gestão do Vaticano durante dois anos.
Os jornais Corriere della Sera e Libero publicaram extratos das cartas ao Papa. "Minha transferência (para os Estados Unidos) servirá para desanimar os que acreditaram que seria possível limpar o Vaticano de numerosos casos de corrupção e desvios de verba, escreveu Vigano. Numa das cartas, deu a entender que outros cardeais "conheciam bem a situação", reprovando seus predecessores, mas também os banqueiros italianos que fazem parte do Comitê de Finanças e Gestão, que teriam privilegiado "os próprios interesses".
Em dezembro passado, segundo suas acusações, uma operação financeira desastrada causou uma perda de US$ 2,5 milhões. Vigano introduziu cortes drásticos no orçamento, como o da administração dos jardins do Vaticano e o do tradicional presépio de Natal, que em 2009 ficou em 550.000 euros, reduzidos depois para 200.000 euros. O saneamento promovido por Vigano permitiu ao Vaticano sair de um déficit de 8 milhões de euros, em 2009, a um lucro de 34,4 milhões de euros, em 2010.
Não deixe de ver também: É muita hipocrisia e escárnio!

no Com textolivre

Traço ideológico


Segundo informa o newsletter Jornalistas&Cia, a TV Cultura vai, novamente, mudar a sua grade e desta vez incluirá entre seus programas o "Folha na TV" ou "Folha na Cultura" - o nome não está definido -, em parceria com a Folha de S. Paulo.
Nada contra o fato de a Folha querer expandir suas atividades ou contra a nova tentativa da Cultura de sair do limbo em que se encontra.
Acho, porém, que uma TV pública não pode misturar as coisas.
A Folha de S. Paulo é uma empresa comercial que se dedica a vender notícias. Seu principal produto é o jornal que edita e que tanto sucesso faz entre uma camada do público paulista.
Por mais que seu marketing venda uma imagem de independência, é claro que, como toda empresa, a Folha tem muitos interesses, pois vive, essencialmente, da propaganda, dos anúncios, da verba publicitária.
Já uma TV pública é outra coisa - ou deveria ser. Não pode se atrelar a empresas, nem a grupos políticos/partidários ou quaisquer outros tipos de negócios.
Existe para ser um contraponto à televisão comercial que infesta os lares brasileiros de porcarias, sempre em busca da audiência que possa proporcionar mais publicidade, mais lucro.
A finalidade da TV pública é outra, é levar ao público algo diverso dos BBBs e novelas e Anas Marias Bragas ou Faustões que poluem a telinha, é manter uma programação educativa, e nunca pensar em lucro ou audiência.
O caso da TV Cultura é sério. Ela simplesmente, por culpa exclusiva dos governos tucanos que se sucederam em São Paulo, desvirtuou-se de seus propósitos e virou tão somente uma ferramenta para ser usada pelos donos do poder.
Ao mesmo tempo em que isso ocorria, passou por um processo de asfixia econômica, recebendo cada vez menos recursos de quem tem obrigação de mantê-la - ou à fundação da qual faz parte -, ou seja, o governo paulista.
Sem dinheiro, teve de recorrer às empresas privadas para subsistir. E deu no que deu: sem uma programação de qualidade, sem investir em sua parte técnica, sem criatividade, acabou na vala comum em que se encontram as outras emissoras.
Tornou-se irrelevante sob qualquer aspecto - cultural, educativo ou comercial.
E assim, de tentativa em tentativa, de erro em erro, a Cultura segue sua trajetória rumo à irrelevância.
Depois de levar a Folha para sua grade de programação, quem sabe não pode chamar o "missionário" R.R. Soares para conversar sobre um programa evangélico?
Se o problema da Cultura é dinheiro, ele seria resolvido facilmente.
Crônicas do Motta

quarta-feira, 1 de fevereiro de 2012

Por que as mulheres odeiam os homens

Pois saibam os estimados milhares e milhares de leitores que, muito frequentemente, leitoras me pedem para falar sobre um assunto que essa coluna se orgulha em ignorar por completo, ou seja, homens. Homens? Homens, para esse neto da minha avó Jovita se localizam mais ou menos entre jogos de beisebol, torneios de golfe e novelas do SBT. Nada mais previsível, óbvio e sem graça. Mas, no esforço de agradar, selecionei, entre os milhares de e-mails com perguntas de leitoras ávidas por conhecimento, uma carta, que passo a responder aqui, agora.



Amiga,
Permita que eu me dirija assim, com uma certa intimidade. Em primeiro lugar, permita que eu responda a questão central, mesmo que não formulada no seu mail: Não, ele não quer ser seu amigo. Pior, ele não quer ser sua amiga. Pronto. Vamos às suas perguntas:

1 - Os homens são mesmo frios e insensíveis como parecem ser?
Amiga! Nada mais equivocado. Os homens não são nada insensíveis, tanto que nas horas vagas fazem coisas como compor a Nona de Beethoven, pintar girassóis e construir a Notre Dame. Eles apenas são seres práticos. Se acharem que a noite foi ótima, mas vocês não foram feitos para caminharem juntos pela vida, não vão ligar no outro dia. Mas isso não é frieza e sim, economia. Somos mais insensíveis somente no sentido em que conseguimos lidar melhor com rejeições. Assim, de certa maneira, podemos nos considerar vencedores, por sermos melhor adaptados a sobreviver nessa selva de desencantos que é a vida amorosa de todos nós.

2- Os homens são mesmo vira-latas?
Amiga, amiga. De onde você tirou essa idéia? Os homens são fidelíssimos, especialmente a si mesmos. O que você precisa compreender é que há aproximadamente 65 mil anos, dizem, um vulcão explodiu em Sumatra e sobraram pouquíssimos humanos sobre a Terra. O lado bom é que não teríamos coisas como axé, o templo da Legião da Boa Vontade ou a culinária inglesa. Por outro lado o universo ficaria sem ninguém que pudesse contemplar as estrelas e saber que ele existe. Portanto, os homens se sentiram no dever cívico de renovar a população da Terra, com enorme sacrifício pessoal. Mas, assim que a Groenlândia parar de degelar, prometemos fazer uma cerquinha e nunca, nunca mais pular pro outro lado.

3 - Os homens fantasiam durante o sexo com a gente?
Não, amiga. Durante o sexo, enquanto as mulheres estão ali, olhando e pensando que a lâmpada do teto precisa de uma limpeza, ou que o carpete merece ser trocado, ou que a parede ficaria melhor com um tom mais claro, ou ainda no vizinho barriga de tanquinho do 307, o homem reflete única e exclusivamente no quanto ama e idolatra a sua parceira, e se concentra em adiar ao máximo o seu orgasmo pra não apanhar depois.

4 - Os homens não gostam de ser casados?
Amicíssima, os homens adoram o casamento! O problema está no atual modelo de matrimonio. O casamento deveria ser, na verdade, deveria ser a união entre um homem, uma mulher e a melhor amiga dela. Isso, além das possibilidades pra lá de interessantes, estabilizaria a relação. As mulheres passariam a ter alguém com quem compartilhar Weltanschauungen, suas visões de mundo, e ainda resolver todas as dúvidas na escolha da combinação de roupa e sapatos, em vez de simplesmente ter um cara chato reclamando do atraso para ir ao cinema.

5 - O que os homens querem quando nos convidam para sair?
Bom, essa é fácil. Ele não quer ser seu amigo. Aliás, por que iria querer? Para amigos, ele já tem os seus amigos homens.

Quando recebe um convite, você provavelmente reúne uma junta formada por cinco amigas que avaliam a música que tocava no carro dele e você escutou pelo celular; a frase que estava postada no facebook dele hoje e o tom de voz que ele usou para dizer "tudo bem, passo pra pegar você às nove". Acredito que mesmo assim vocês não cheguem a qualquer conclusão útil sobre o que afinal ele estava pensando nessa hora, não é? Isso, no entanto, tem uma resposta simples: ele não estava pensando em nada. Você, sim. Agora, se tudo que você quer com o coitado é um jantar e amizade, faça a melhor coisa pelos dois e diga que adoraria mas vai ficar doente às nove em ponto, quem sabe outra vez. O mundo, ao menos o mundo masculino, agradece.

6 - Os homens não entendem as mulheres.
Ao contrário, amiga, entendemos muito bem. Sabemos que sempre devemos achar ótimo quando ela aparece com alguma coisa radicalmente diferente na aparência e que a gente nem tinha notado. Sempre devemos dizer "não quando ela pergunta se engordou e sempre devemos dizer "Quem?"quando ela pergunta se a moça gostosa que passou por ali é atraente. Na verdade, o que sabemos é o que Lacan nos ensinou: "as mulheres demandam muito, só quem nem sempre o que demandam é o que elas desejam de verdade. Mas ai de nós, se não atendermos ao que pedem". Como vê, entendemos, e muito, as mulheres.

7 - As mulheres são mesmo superiores aos homens?
Claro que sim. Todos sabem disso. Homens, amiga , tinham que ir lá fora da caverna enfrentar bichos bem mais de verdade do que os dos sonhos que deviam ter à noite. O confronto diário entre fantasia e realidade mostrou aos homens que a realidade era bem mais palpável, que era uma boa idéia balizar a vida por ela, e que se a gente não o fizesse, o tigre mais próximo o faria. E assim, nos tornamos práticos, simples e inferiores, satisfeitos apenas por chegar em casa e dormir logo depois da novela.

8 - Os homens são mesmo tão bobos quanto parecem?
Hummm, não. Nós não somos exatamente bobos, mas, sim, bem-humorados. E se existe uma coisa que irrita profundamente as mulheres é esse nosso bom humor constante, algo que elas simplesmente não compreendem. O nosso natural bom humor é resultado da experiência milenar de sairmos da toca sem saber se iríamos voltar, de ter que ir para a guerra enfrentar inimigos ferozes e, pior, mal-cheirosos, e, ao sobreviver, podermos voltar para o quentinho do lar e o colo da amada. Isso, mais uma cerveja razoável e o Gremão na tevê se tornou o nosso paradigma de felicidade, e se existe uma coisa que nos diferencia, é que os homens sabem quando é a hora de parar de buscar a felicidade por todo canto, e nos tornarmos felizes com a que temos. Daí o nosso bom humor.

9 - Por que, quando nos apaixonamos, nos entregamos de corpo e alma, e os homens, não?
Estimada amiga, na verdade, o problema é que os homens, por não prestarem atenção durante as aulas de catecismo, nunca chegam a compreender muito bem o conceito de alma. Mas com relação a "corpo" até que a gente tende a mandar bem, em termos de compreender o conceito, quero dizer.

10 - Afinal, os homens gostam das mulheres?
Amiga, amiga!! Os homens adoram as mulheres. O problema é que as mulheres odeiam os homens. Elas detestam a injustiça de terem que viver sabendo que os homens têm ao seu lado deusas, seres enfeitiçados e enfeitizadores, criaturas que trazem dentro de si uma divindade celta e ainda por cima, de troco, Gaia, a grande mãe terrestre, tão maravilhosas que não cabem em si mesmas. E que elas, por sua vez, não têm nada mais a esperar da vida do que terem para namorados, caras, ficantes, maridos possíveis, a nós, nada menos do que nós, homens. Isso, por ser tão desigual, deve ser insuportável, e para maior ironia, por conta de um Criador masculino, ao menos no senso de humor, não há alternativa. Isso, amiga, acima de todas as outras coisas, dói, e não tem jeito.

Ufa, que trabalho você me deu, amiga. Espero ter atendido as suas dúvidas e aliviado as suas angústias.
Feito isso, anuncio a todos os milhares de leitores que vou até Caracas na semana que vem, para dar um curso de criação literária e ir preso, por conta de umas coisas que eu talvez tenha escrito sobre o governo Chavez e que podem ser interpretadas como uma crítica. Foi ótimo ter conhecido a todos e aguardo os seus mails de apoio, para o caso de a temporada ser longa.

Abraços,
Marcelo

Marcelo Carneiro da Cunha é escritor e jornalista. Escreveu o argumento do curta-metragem "O Branco", premiado em Berlim e outros importantes festivais. Entre outros, publicou o livro de contos "Simples" e o romance "O Nosso Juiz", pela editora Record. Acaba de escrever o romance "Depois do Sexo", que foi publicado em junho pela Record. Dois longas-metragens estão sendo produzidos a partir de seus romances "Insônia" e "Antes que o Mundo Acabe", publicados pela editora Projeto.

Lições cubanas para a saúde do povo brasileiro

Há razões objetivas para a carga permanente dos meios de comunicação conservadores contra Cuba. Afinal, trata-se de um país onde o prioritário não é atender aos interesses do grande capital predador, que sustenta esses meios de comunicação. Meios que, com o poder quase monopolístico que têm em todos os recantos do mundo dito ocidental cristão, estabelecem como critério de liberdade, não a dos indivíduos, mas, o das corporações privadas das quais são cúmplices.
A experiência vivida por médicos brasileiros em visita a Cuba, mostrando como opera o sistema de saúde num regime, não por acaso se mantendo incólume nos propósitos de solidariedade e fraternidade social, a despeito de todo o isolamento político e econômico que se tenta lhe impor, é mais uma que comprova o que já havia sido mostrado por Miachel Moore em um de seus documentários. Não me ocorre o nome, mas é aquele que trata da recuperação dos bombeiros adoecidos com os gases e poeira da queda das Torres Gêmeas, quando de suas tarefas de resgate de vítimas. Estavam abandonados pelo privatismo securitário americano, e encontraram sua cura nos hospitais cubanos.
Segue o relato da experiência dos médicos brasileiros que que foram a Cuba com a missão de conhecer dados e detalhes sobre o sistema de saúde - universal e gratuito - num regime socialista, que me foi enviado pelo sempre atento Ronald Barata

Médica e deputada da Assembleia
Nacional do Poder Popular, Rebeca Gonzáles,
explica funcionamento do Policlínico Docente
Capdevila, em Boyeros, Cuba. (Foto: Mara Vieira)

Em novembro de 2011, um grupo de 11 médicos brasileiros – dos estados de Pernambuco, Bahia, Paraíba e Minas Gerais – foi conhecer em Cuba o Sistema Nacional de Saúde. Todos eram médicos da “atenção primária” no Sistema Único de Saúde (SUS) e levaram à Ilha uma questão central: o que se pode aprender com o povo cubano para garantia do direito à saúde no Brasil?

Por que Cuba

Uma pequena ilha, com cerca de 11 milhões de habitantes e um território um pouco maior que o estado de Pernambuco. Nos últimos anos, em meio a crises de qualidade e sustentação financeira dos serviços de saúde em todo o mundo, Cuba tornou-se uma referência.
E os resultados objetivos justificam a admiração pela saúde em Cuba. Antes da Revolução, o povo cubano vivia menos de 60 anos, 60 a cada 1.000 crianças morriam até um ano de idade e havia apenas 6 mil médicos no país, 56% dos quais viviam em Havana. Para agravar a situação, metade deles saiu do país após a Revolução Democrática e Popular de 1959.
Hoje a expectativa de vida média é 78 anos. A mortalidade infantil é de 4,5 crianças para cada 1.000 nascidos vivos e a mortalidade materna é 30 a cada 100 mil gestações. Foram erradicadas do país a poliomielite em 1962, a difteria em 1979, o sarampo em 1993 e a rubéola em 1995. As doenças que mais matam em Cuba são enfermidades cardiovasculares, tumores malignos e doenças vasculares cerebrais, um padrão típico de países desenvolvidos.
Uma pediatra negra atende o filho de uma professora
universitária e neto de médica aposentada em um
Consultório Médico de Família, em Boyeros,
Cuba. São acompanhados por um estudante
de medicina procedente da zona rural
da Bolívia. (Foto: Vitor Santana)

A saúde em Cuba

O Sistema Nacional de Saúde em Cuba é universal, integral, gratuito, regionalizado e ao alcance de todos os cidadãos sem discriminações religiosas, políticas, por raça ou etnia. O dever do estado na garantia do direito à saúde está definido na Constituição da República. O sistema é orientado e coordenado pela base – como costumam se referir à atenção primária. E Cuba investe 18% de seu Produto Interno Bruto em saúde pública (no Brasil, essa cifra é de 3,4%).
O direito às creches é universal em Cuba, serviço cujo impacto positivo na saúde de uma criança já está comprovado por evidências científicas. Os chamados Círculos Infantis são serviços providos pelo estado e garantem que as crianças pré-escolares sejam cuidadas durante as horas de trabalho dos pais. O acompanhamento do crescimento e desenvolvimento das crianças menores de um ano é feito por médicos de família em trabalho conjunto com pediatras, que vão às unidades básicas de saúde uma vez por semana. O calendário vacinal compreende 12 agentes patológicos, dentre elas a vacina desenvolvida em Cuba contra a bactéria meningocócica B.
A violência social, que adoece famílias no Brasil, é insignificante em Cuba. Tráfico de drogas, assassinatos, conflitos entre facções rivais, mortalidade elevada de jovens por causas externas e disputa entre Estado e grupos paramilitares são temas conhecidos por meio de filmes e histórias brasileiras. As gestantes fazem em média 12 consultas de pré-natal, entre avaliações do médico de família e do obstetra, e todas fazem pelo menos uma ultrassonografia. Os cubanos desenvolveram um serviço chamado Hogar Materno no qual gestantes com risco são acompanhadas todos os dias ou internadas para controle de fatores que podem levar a um mau desfecho gestacional, como baixo peso, anemia, problemas familiares ou longa distância geográfica da maternidade. Além disso, as mulheres que não desejam concluir uma gestação podem interrompê-la com assistência de um serviço de saúde conforme orientação com a equipe médica.
A saúde dos idosos é prioridade em Cuba. Em diversos serviços públicos, como escolas e academias populares, são organizados Círculos de Abuelos, onde os idosos fazem exercícios físicos, atividades cognitivas e convivência social. Os idosos sadios que ficam sós enquanto seus familiares trabalham podem ser acompanhados pela Casa de Abuelos, onde fazem trabalhos manuais, horta comunitária, exercício físico e atividades lúdicas sob supervisão de terapeutas ocupacionais e educadores físicos. Já famílias com idosos dependentes e acamados contam com o apoio do estado que oferece um cuidador domiciliar diariamente ou recorrem aos Hogares de Ancianos, equivalentes às instituições de longa permanência no Brasil (conhecidas como asilos), com a diferença de que em Cuba são um direito social garantido pelo estado.
Atualmente, Cuba conta com 72,5 mil médicos, sendo que 36 mil deles atuam na atenção primária e 26 mil são especialistas em medicina geral e integral (a especialidade equivalente no Brasil, chamada medicina de família e comunidade, conta com 1.500 especialistas de um universo de 31.500 médicos que trabalham no Programa Saúde da Família). E não faltam bons médicos nos postos de saúde ou regiões rurais de difícil acesso. Um médico e uma enfermeira de família compõem um consultório de família, equivalente a uma equipe de saúde da família no Brasil. São profissionais que vivem nas próprias comunidades em que trabalham e são responsáveis por, no máximo, 1.500 pessoas. Um grupo de até 20 consultórios tem referência em um policlínico, onde se encontram diversas especialidades médicas, outros profissionais de saúde, exames complementares e vacinação.
As práticas de medicina popular e tradicional foram incorporadas aos consultórios de médico e enfermeira da família e aos policlínicos. E graças ao desenvolvimento de pesquisas médicas autônomas, Cuba cria tecnologias próprias, como a medicação chamada Heberprot-P para feridas crônicas em pacientes com diabetes melitus que está sendo exportada para outros países. Como se não bastasse, um princípio cubano é a solidariedade: há 17 mil médicos e 23 mil outros trabalhadores da saúde em missões internacionais em 74 países.
Idosos de uma Casa de Abuelos cantam a Canção
“Hasta siempre comandante Che Guevara”
para receber médicos brasileiros. (Foto: Mara Vieira)

São apenas alguns exemplos. Poderíamos citar também os serviços hospitalares descentralizados, os transplantes de órgãos e as tecnologias modernas de diagnóstico e tratamentos disponíveis, apesar do bloqueio norte-americano que impede, por exemplo, o uso de um medicamento para tratamento da leucemia em crianças que não respondem a quimioterápicos usuais.
Mas existem desafios. Cuba enfrenta hoje o tema do tabagismo, hábito cultural e fonte de divisas importante para a economia nacional, diretamente relacionado às causas maiores de mortalidade. Além disso, é fundamental valorizar a moeda nacional e o salário dos trabalhadores, inclusive dos profissionais de saúde. O estímulo aos trabalhos por conta própria e a luta contra o bloqueio norte-americano são medidas nesse sentido.
Lições para o povo brasileiro
Não há fórmulas prontas. O processo histórico de construção de uma sociedade e um sistema de saúde têm singularidades e particularidades. O povo cubano, inclusive, destacou-se na história por não aceitar imposição de modelos e construir suas mudanças com soberania. Mas há lições importantes para os que desejam o direito à saúde para o povo brasileiro.
No Brasil, também tivemos conquistas populares no setor saúde com as lutas pela construção do SUS. Ao longo de seus 23 anos, conseguimos aumentar a expectativa de vida para 73,1 anos e reduzir a mortalidade infantil para 21,17 por 1.000 crianças nascidas vivas (vale lembrar as disparidades regionais, a ponto de Alagoas ter uma mortalidade infantil de 46 por 1.000). Resultados modestos se comparados aos cubanos. Nossos desafios são muitos.
Nessa vivência em Cuba, ficamos emocionados e inquietos ao lembrar das famílias que cuidamos e muitas vezes sofrem e adoecem por problemas que em Cuba foram superados há 50 anos. No Brasil, e não em Cuba, ainda existe baixa cobertura de serviços de atenção primária, carência de médicos em áreas remotas e periferias urbanas, concentração de médicos em setores privados de saúde, financiamento insuficiente.

E aprendemos com o povo cubano duas lições centrais: saúde se conquista com a garantia de outros direitos sociais e somente a vontade política garante saúde como um direito de todos e dever do Estado.

Na sociedade brasileira, o direito à saúde somente será garantido com reformas estruturais: educação pública e de qualidade em todos os níveis, rede de proteção e assistência social ampla e eficiente, moradias saudáveis, alimentos acessíveis e sem agrotóxicos, melhores condições de trabalho e bons salários para todos os trabalhadores.

Por isso, são fundamentais a ação dos movimentos populares, estudantis e sindicais no Brasil para fortalecer a atenção primária e o SUS, lutar contra as privatizações na saúde, banir o uso de agrotóxicos e fazer avançar as transformações profundas da sociedade brasileira. E façamos a nossa opção soberana por um projeto popular para o Brasil.

Bruno Abreu Gomes – Pedralva
Cuba, 3 de dezembro de 2011
Dia Latino-Americano da Medicina

no Luta que segue