terça-feira, 6 de dezembro de 2016

Por uma obscenidade de esquerda
















Dois artigos publicados na Folha, em 04/12, pediam paciência e humildade diante das recentes manifestações de rua em defesa da Lava-Jato.

Antônio Prata dizia ser “impossível conversar com quem defende a ditadura, a tortura, a homofobia. Mas ao lado desses, hoje, estarão seu primo, seu tio, seu sogro e uma multidão de pessoas decentes...”. Se virarmos as costas a eles, afirma ele, como evitar um “Bolsonaro em 2018”?. 

Rodrigo Nunes vai por caminho parecido:

A identidade de esquerda parece cobrar um preço cada vez mais alto de entrada: os requisitos práticos e teóricos são cada vez mais exigentes, e seu não cumprimento pode implicar não a tentativa de persuasão, mas o fechamento de qualquer via de diálogo.  

Os dois articulistas estão falando sobre a penosa, mas necessária, convivência com um senso comum impregnado de valores retrógados e revoltantes. Realmente, não é fácil ouvir obscenidades como a defesa da tortura, da homofobia, do racismo... 

O sentido da palavra “obsceno” refere-se ao que deve ficar escondido, fora de cena. De forma alguma, aceitamos tortura, homofobia, racismo. Mas combater tais valores com ofensas é continuar no mesmo registro de obscenidades. 

A defesa da livre orientação sexual ou de tratamento digno para criminosos, por exemplo, é obscena para a extrema-direita. Sem problema. Gostamos de escandalizá-la com esta nossa obscenidade e nos orgulhamos dela. Mas se a abandonarmos para trazer à cena principal nossa arrogância e hostilidade, aqueles que queremos convencer só ouvirão os fascistas.

Como diz Nunes em seu artigo, acolher os medos e anseios das pessoas pode ser um “ponto de partida para uma obscenidade de esquerda”.

No:http://pilulas-diarias.blogspot.com.br/2016/12/por-uma-obscenidade-de-esquerda.html

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