quinta-feira, 31 de janeiro de 2013

A disputa pela sucessão de Dilma e Alckmin



  
Sobre a guerra de posição no interior do PSDB, envolvendo paulistas e mineiros, sinto que é mais uma ofensiva (ou ataque defensivo) dos paulistas que um conflito aberto entre duas forças

Rudá Ricci, Brasil 257

A disputa pela sucessão de Dilma já está em ponto de ebulição. O fator principal é o "pêndulo" Eduardo Campos, mas também a movimentação dos partidos da base aliada do governo federal.

Em São Paulo, as especulações também aumentam gradativamente, mas num nível muito inferior ao ponto de aquecimento da disputa federal. Possivelmente, em função da fome da imprensa local, que é a mesma que está no topo do ranking da grande imprensa nacional.

Isto explica a ausência de especulações públicas sobre a sucessão em outros Estados, como aqui em MG.

Reproduzo, abaixo, as projeções de Gaudêncio Torquato a respeito da sucessão de Dilma e Alckmin, publicadas no último Porandubas Políticas. Vou comentá-las, mas antes, darei meus pitacos em relação à sucessão de Antonio Anastasia, já que a imprensa local pouco faz neste sentido.

Sobre MG:
A situação não é nada confortável para Aécio e apoiadores. Já comentei o temor dos partidos aliados perderem cargos comissionados que alimentam sua existência. As dificuldades para encontrar um nome forte e confiável à sucessão de Anastasia são muitas. O nome mais apreciado, no momento, é do presidente da Assembléia Legislativa. Também é citado o nome do prefeito Marcio Lacerda, com o inconveniente dele ser do PSB, o que poderá diminuir sobremaneira o espaço de Aécio num futuro governo estadual (caso Lacerda vença o pleito) já que a possibilidade de candidatura avulsa de Eduardo Campos (ou aliança com Dilma) em 2014 acabará por amarrar Lacerda. Sem governo estadual e na possibilidade de perder a eleição federal, o destino de Aécio começa a ganhar contornos de alto risco político.”

Sobre as notas, abaixo, do Porandubas Políticas:
Gaudêncio destaca a guerra de posição no interior do PSDB, envolvendo paulistas e mineiros. Sinto que é mais uma ofensiva (ou ataque defensivo) dos paulistas que um conflito aberto entre duas forças. Em outras palavras, os tucanos mineiros parecem passivos. É fato que um ataque aberto diminuiria ainda mais o brilho do verniz de Aécio Neves, mas a movimentação de Alckmin e Serra, ao final, podem provocar estrago semelhante. Tem a ver com cultura e estilo opostos. Mas também tem relação com poder econômico e paternidade do PSDB.
Gaudêncio percebe, ainda, ausência de proposta substantiva entre aecistas, incluindo seu cacique maior. Problema de toda oposição, eu acrescentaria.
Ao final das notas que reproduzo a seguir, Gaudêncio detalha um cenário em que há espaço para uma terceira força em 2014. Sua análise se concentra em São Paulo. Mas percebo que esta possibilidade ganha força a cada eleição, país afora. O sistema partidário está absolutamente desgastado e o que segura as aparências são os esquemas perversos de alianças que percorrem o Palácio do Planalto até os municípios, os programas de transferência de renda e a festa (com sabor de desforra, de um lado, e de confirmação de poder, de outro) que ainda envolve todo período eleitoral no Brasil. Esta festa é uma das expressões da tradição política brasileira, algo grupal, de origem coronelística, envolvendo toda "entourage" (coronel, cabos, apoiadores desavisados e incautos etc). É verdade que, a levar em consideração o crescente número de abstenção e votos nulos e brancos das últimas eleições, esta "brincadeira juvenil" pode estar perdendo sua atração.
Vamos aos pitacos de Gaudêncio Torquato:
A campanha está nas ruas
No Brasil, o terreno da política é sempre movediço. Há buracos aqui e ali, entrâncias e reentrâncias para entrada e saída dos atores políticos. O remelexo é constante. Idas e vindas, articulações e desarticulações ocorrem ao sabor das circunstâncias. Por isso mesmo, a campanha de 2014 ganha as ruas. A presidente Dilma, em pronunciamento em rede de TV, anuncia redução do custo da energia elétrica para os consumidores e empresas, em claro posicionamento eleitoreiro. A bandeira da luz mais barata é popular. Na esteira da insinuação da presidente, o governador de PE, Eduardo Campos, do PSB, volta às manchetes e primeiras páginas de revista. O líder do PSB, Beto Albuquerque, anuncia : depois do pronunciamento de Dilma, não há mais como esconder a candidatura de Campos.
Já os tucanos...
Enquanto isso, os tucanos fazem sua Convenção partidária, forma de revitalizar o ânimo das bases. José Serra reaparece na cena com seu primeiro discurso após perder a prefeitura de SP para o petista Fernando Haddad. E o que fazem os partidários do governador Geraldo Alckmin ? Lançam Serra na esfera da candidatura à presidência em 2014. Contra Aécio. Quer dizer, SP contra Minas. Nada de café com leite. Café de um lado, leite de outro. Aécio, por sua vez, abre o bico e descreve o travamento da gestão federal. Seu discurso é mero diagnóstico. Carece de propostas substantivas.
Cadê o projeto Brasil ?
Aliás, essa é a questão que bate na floresta tucana. Onde está o Projeto para o Brasil ? O que o país poderia esperar dos tucanos além de bicadas? As oposições estão travadas no âmbito do discurso. Falar por falar, denunciar por denunciar não leva a nada. Fernando Henrique apóia Aécio. Alckmin apoiaria Serra. Claro, até para poder tirá-lo de sua rota, que é a reeleição ao governo de SP em 2014.
Divisão de poder
Em política, tudo é possível. Inclusive, a entrega da prefeitura da Capital e do governo do Estado a um mesmo partido. Mas isso é algo bastante difícil. O eleitor tende a repartir o poder. Entrega a capital para ser administrada por um partido e o Estado por outro. Por isso, este consultor acha complicada a operação/intenção de Lula de eleger o ministro Padilha, da Saúde, como governador do Estado. Parece mais viável um candidato de outro partido, que não o PT. Esta agremiação, aliás, divide o eleitorado. Uma parte a ela se engaja, outra toma distância. A rejeição ao PT continua alta em SP. Mas o partido, sem dúvida, tem condições de jogar seu candidato no segundo turno.
Corrosão de material
Diante disso, surge a questão : quer dizer que é mais fácil para o PSDB ganhar o governo de SP ? Em tese, sim. Mas há um fator complicador. É aquilo que o marketing político batiza de "corrosão de material". São 20 anos de poder tucano no Estado de SP. Tempo considerado limítrofe para se constatar os primeiros sinais de desgaste da identidade. Explico : Identidade é a coluna vertebral do ator político, seja ele pessoa jurídica, um governo, seja ele pessoa física, o governador Geraldo Alckmin, por exemplo. Identidade é a soma do discurso, ações, propostas, ideários, atitudes, forma de governar, ao lado do plano estético - visual do governo, gestos pessoais, etc. Depois de muito tempo, essa composição vai ganhando tons de cinza ou de amarelo desbotado. O discurso fica velho. O eleitor quer distinguir um novo colorido na paisagem.
O jeito Alckmin de governar
Geraldo Alckmin é, como diz a linguagem dos setores médios, um gentleman. Educado, pessoa de fino trato, cordial, ou, para usar outra imagem, o perfil do sogro ideal. Ao contrário de Mario Covas, um perfil rompante, destemido, que exibia autoridade na fala e nos gestos. Covas era conhecido pela coragem de enfrentar todos os obstáculos. Partiu para cima de um grupo que o apupava na entrada da Escola Caetano de Campos. Alckmin, ao contrário, tem jeito de que é incapaz de matar uma mosca. O estilo é a pessoa, já diziam os clássicos da literatura. Pinço a observação para a política. A identidade do governo de SP leva muito dos traços pessoais de Alckmin. Suave, maneiroso, sem um tronco firme (uma coluna vertebral) que possa identificar a administração. Esse é o busílis, o entrave, que dificultará a reeleição de Alckmin.
Alternativas
O PMDB deverá fechar posição em torno de Paulo Skaf, presidente da FIESP. Trata-se de um perfil conhecido pelo ativismo e empreendedorismo. Skaf foi reeleito por unanimidade para a maior Federação de Indústrias do país. Mudou a feição da casa, transformando-a em foro de debates diários. Ali se vêem ministros, ex-ministros, grandes economistas e analistas da cena brasileira. Lidera ele grandes causas, como o barateamento do custo da energia, uma campanha da FIESP. Portanto, se for o candidato do PMDB e dispuser de um bom espaço de TV, poderá ser o meio termo entre o continuísmo tucano e o oposicionismo petista, que já ocupa o terreno municipal. Há, ainda, o nome do ex-prefeito Kassab. Trata-se de um grande articulador. Mas terá ele de quebrar grandes resistências a seu nome e redesenhar os costados da imagem. Além disso, sobraria para ele a disputa ao Senado. Também uma chance.
E Suplicy ?
Pois é, em 2014, haverá apenas uma vaga em disputa para o Senado. Eduardo Suplicy, o eterno senador petista, continuará a ter preferência ? Na visão deste consultor, trata-se de um perfil que também atravessa o corredor onde estão os materiais corroídos pelo tempo. Suplicy toparia ser candidato a deputado ? Minha impressão é de que o PT vai desviá-lo da Câmara Alta (Senado) e candidatá-lo à Câmara Baixa (Câmara dos Deputados).

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