No universo masculino da política institucional, a presidente Dilma Rousseff completou um time inteiro de futebol no primeiro escalão do governo federal – ela e mais dez ministras – ao nomear Gleisi Hoffmann para a Casa Civil e Ideli Salvatti para as Relações Institucionais. Os homens tratam de se acostumar com a presença delas, mas adjetivam: são duronas, belas, tratores......
Os beijos fazem parte dos cumprimentos em eventos oficiais, que passaram a ter palanques ainda mais equilibrados. Ao lado de Dilma sempre estão os presidentes do legislativo federal, Marco Maia (Câmara) e José Sarney (Senado), e agora, Gleisi, Ideli ou Miriam Belchior (Planejamento e Gestão). Nos minutos depois dos discursos em solenidades no Palácio do Planalto é um beijo nelas, ou mesmo dois, e um aperto de mão neles. Não raro as ministras também encerram suas falas mandando beijos. “Um beijo a todos”, finalizou Ideli em seu discurso de posse na última segunda.
Os homens da política nacional não estão dispensando referências às mulheres do governo quando usam os microfones. Nos bastidores, normalmente algum deixa escapar alguma brincadeira. O presidente do Senado, José Sarney, disse na última semana que “o negócio é os homens começarem a usar saia” para voltar a ocupar espaços importantes. Outro peemedebista brincalhão foi o senador gaúcho Pedro Simon, que disse aos senadores do PMDB que se juntassem para formar uma comissão de minorias e reivindicar mais espaços na política.
O deputado federal Carlos Alberto Leréia (PSDB-GO) disse essa semana em sessão na Câmara Federal que “os homens não estão com a bola toda”. Se estivessem, complementou, estariam à frente dos espaços de sustentação do governo, onde estão Ideli e Gleisi.
Não deixa de ser verdade o que fala do deputado tucano. Na avaliação do líder do PT na Câmara Federal, Paulo Teixeira, há uma mudança de paradigmas na política brasileira, iniciada ainda durante o governo Lula. “Ele (Lula) escolheu a Dilma (Rousseff) para assumir a Casa Civil e depois a bancou como candidata a presidente. Hoje uma mulher ocupa o principal posto do país, a Presidência da República”, ilustra, em conversa com o Sul21. Na avaliação do deputado, as nomeações de Dilma fortalecem esta mudança. “E um processo de mudança sempre encontra resistências. É normal. Terá os que apoiam e os que rejeitarão esta participação feminina”, ponderou.
Firmeza não é atributo masculino
Dentro desta faixa de pessoas que ainda não estão acostumadas com um governo tão feminino, estão aqueles que imprimem nas ministras de Dilma um estereótipo. Esta semana os principais jornais buscaram senadores, ex-governadores e ex-colegas das novas ministras (Ideli e Gleisi) para justificar que as mulheres indicadas por Dilma são “duronas” ou “tratores”. O mesmo já havia ocorrido quando da posse da primeira mulher presidente do Brasil.
Alguns assessores mais próximos, que dividem o cotidiano bem próximo de Ideli Salvatti, disseram ao Sul21 que ela é exigente e que dispensa bajulações. “Eu não preciso dizer onde ela tem que estar ou como tem que se portar. Ela sempre me diz: ‘eu sei o que devo fazer’”, conta uma assessora.
Professora e ex-colega de Ideli no magistério catarinense, Miriam Lúcia Hoffmann conhece a atual ministra desde a década de 70, quando militavam no movimento sindical. “Ela sempre respondeu às exigências da nossa categoria quando ela foi líder sindical. Ela é muito competente. Posso dizer que ela é firme nas suas decisões, mas, não dura”, afirma.
Em sala de aula, conta a amiga, Ideli sempre dialogou com os alunos e soube expressar suas ideias no grupo de professores. “Ela é uma pessoa muito competente, tem convicção nas suas decisões, é diferente de ser durona. É um equivoco dizer que mulher só tem desenvoltura na política tem porque é rude”, critica. “Isso é a sociedade machista que ainda vivemos. A política revela que todo bom macho é que pode ocupar espaços de poder. Não, as mulheres do governo Dilma, e mesmo ela, só estão onde estão por habilidade política, não são quadros técnicos”, defende.
Para o líder do governo na Câmara Federal, o deputado Cândido Vacarezza, a presença das mulheres no governo “não muda em nada” a relação entre o executivo e o legislativo. Segundo ele, “tecnicamente é a mesma coisa. Tem mulheres mais duronas na política, assim como tem homens mais durões”. Na avaliação do líder governista, a participação de mulheres no governo estimula a participação de mais mulheres nos partidos e o interesse delas pela política.
Opinião positiva também tem o deputado Paulo Teixeira. “A linguagem feminina é muito mais direta. Além de que, para a sociedade brasileira, o símbolo é de um governo pedagógico. As pessoas entendem melhor as coisas”, disse. Segundo ele, a indicação de Ideli e Gleisi não foi meramente um cumprimento de cotas, mas a escolha por uma relação de confiança política entre elas e a Dilma. “Além da competência que elas tem”, falou.
A bela e as feras
No caso da nova ministra-chefe da Casa Civil, Gleisi Hoffmann, a aparência física lhe rendeu o título de “bela”, que terá que lidar com as “feras” do Congresso Nacional. “São estereótipos machistas que querem boicotar a participação das mulheres na política. Querem dizer que pessoas bem sucedidas não podem ser mulheres. Mas, a autoridade é um atributo de todos”, diz o deputado Paulo Teixeira.Leia mais.
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