segunda-feira, 15 de agosto de 2011

Presidentes em Números


Saíram, nos últimos dias, três pesquisas de opinião sobre o governo Dilma. Com suas dessemelhanças, todas são comparáveis. E pintam um retrato parecido, no qual ressalta a boa avaliação que dele faz a maioria da população.
A mais recente é do Ibope e é a segunda do instituto a ser divulgada este ano. Antes, havia sido publicada uma pesquisa da Vox Populi e a terceira que o Datafolha realizou em 2011.
Segundo os dados do Ibope, a soma dos que acham “ótimo” e “bom” o governo caiu de 56% para 48%, entre março e o final de julho. Considerando a margem de erro admitida, é uma diferença real, mesmo que não muito grande.
Não por outra razão, foi a que teve maior repercussão na mídia e a única a respeito da qual a própria Dilma foi instada a falar. Como era de esperar, manifestou-se de maneira protocolar, dizendo que via a queda “com naturalidade”...
É assim mesmo que deveria vê-la. Aliás, foi apenas na comparação da mais recente com a anterior do Ibope que se verificou uma diminuição significativa. De acordo com os outros institutos, a avaliação do governo tem permanecido estável desde o início do ano.
Olhando o conjunto das pesquisas disponíveis, o que se nota é que os resultados do Ibope relativos a março eram mais altos que a média. Nenhuma outra feita no período chegava a números como os seus, acima dos 55 pontos percentuais. Naquele mesmo mês, o Datafolha, por exemplo, apontava 47%.
Ou seja, a queda no Ibope decorre mais do ponto de partida que de chegada, pois os números de sua pesquisa de julho são idênticos ao dos outros institutos. Tanto ele, quanto o Datafolha, mostraram os mesmos 48% agora.
Não podemos, portanto, falar em tendência de queda na avaliação do governo, pelo menos por enquanto. A crer nas pesquisas, o que temos é uma aprovação elevada e estável.
Para discutir em que o governo Dilma se parece e se diferencia dos anteriores em suas relações com a opinião pública, podemos considerar pesquisas feitas em momentos semelhantes do passado. Fazendo isso, podemos também tirar algumas conclusões sobre o que torna popular (ou impopular) um governo.
Como os dados do Datafolha são os mais facilmente encontráveis pelos interessados, vamos nos basear neles. Estão disponíveis para Dilma e seus quatro antecessores mais próximos.
Aos três meses, em junho de 1990, Collor tinha 36% de avaliações positivas, e permaneceu igual aos seis, quando alcançou 34%. Sobre seu governo, só há outros dados para quando completou o primeiro ano, mas essa é outra história (nessa altura, só 23% o aprovavam).
Itamar, também três meses depois de ter tomado posse, em dezembro de 1992, tinha 34% e foi a 36% em fevereiro do ano seguinte, cinco meses mais tarde. Caiu, a partir de então, de maneira expressiva, alcançando apenas 24% sete meses depois, em março de 1993.
Em março de 1995, com três meses de governo, Fernando Henrique estava um pouco melhor que os dois, chegando a 39%. Em junho, foi a 40% e a 42% em setembro.
Lula começou acima disso e assim permaneceu. Em abril de 2003, alcançava 43%, 42% em junho e 45% em agosto. Para ele e FHC, faz pouco sentido discutir como estavam no começo de seus segundos mandatos.
De acordo com o Datafolha, Dilma sempre teve números melhores que todos: 47% em março, 49% em junho e 48% agora.
Comparando os cinco, o que mais chama atenção é a solidez da imagem dos presidentes ao longo dos primeiros meses. As oscilações são, salvo para Itamar (não custa lembrar, o único que não foi diretamente eleito), irrelevantes. Começando um pouco acima ou abaixo dos outros, todos, a rigor, não se moveram.
Tão interessante quanto isso é ver que essa solidez independe, ao que parece, da agenda e do desempenho de cada um.
Collor tinha acabado de decretar o confisco da poupança e tirado o dinheiro da circulação, traumatizando o país. Fernando Henrique pilotava o Plano Real, e celebrava que um quilo de frango custava menos que uma moedinha. Aos três meses, empatavam, um com 36% e o outro 39%.
Disso tudo, uma lição: o compromisso do eleitor com o eleito parece mais forte que qualquer outra coisa. É com base nele que começa um governo.
Marcos Coimbra, sociólogo e presidente do Instituto Vox Populi.

Nenhum comentário:

Postar um comentário