Em sua carta de demissão do Ministério da Agricultura, Wagner Rossi denuncia a onda de escândalos que se abateu sobre ele. É um documento para se ler e refletir:
Durante semanas foi exposto a denúncias diárias. Seu rosto tornou-se capa da Veja, com retoques para que parecesse um desses vilões de filmes de Batman.
Segundo a carta, auxiliares dele foram procurados por repórteres com propostas típicas do estilo Murdoch: seriam poupados de denúncias se topassem denunciar o chefe. Em nenhum momento foi-lhe dado direito de resposta.
Ficaram expostos família, filhos, amigos. Seus netos passaram a ser discriminados na escola. Enquanto não pedisse demissão, não cessaria esse suplício.
Ele atribui a campanha a José Serra, segundo ele único político capaz de utilizar a revista "Veja" e a "Folha" para esses ataques. A intenção seria política: destruir a aliança com o PMDB que garante a tranquilidade política do governo Dilma Rousseff.
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Nesses festivais de denúncias, jamais há a intenção de resolver problemas estruturais, eliminar vazamentos, corrigir desvios. Alguns veículos dependem fundamentalmente de denúncias para obter sobrevida editorial, intimidar adversários. Interessa passar a ideia de que a corrupção é endêmica, existe por toda a parte e que os veículos são os guardiões da moralidade.
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O caminho para se corrigir desvios existe e é frequentemente deixado de lado porque não rende matérias e foge ao objetivo de usar as denúncias politicamente.
O primeiro passo é identificar os setores vulneráveis, aqueles em que é mais pulverizada a distribuição de recursos. Fazem parte dessas áreas críticas a Funasa, o DNIT, a Conab, os convênios públicos. Recentemente, o jornal "O Globo" publicou boa matéria sobre essas áreas críticas.
O segundo passo é mudar os processos internos desses órgãos, parametrizando – isto é, definindo parâmetros para cada processo, seja a assinatura de um contrato, um convênio ou a compra de um produto.
A partir daí, informatizam-se os processos e passa-se a ter controle sobre a situação, identificando responsáveis por liberações, comparando preços, mapeando o fluxo de liberação dentro de cada ministério.
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Assim que assumiu o governo, Dilma encomendou ao empresário Jorge Gerdau um trabalho visando a parametrização dos processos na Funasa. A constituição da Câmara de Gestão tem por objetivo a identificação dessas áreas críticas.
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Ontem palestrei em um Seminário da Secretaria de Finanças de Fortaleza. O Secretário Alexandre Cialdini é presidente da Associação dos Secretários de Finanças de Capitais. Recentemente, recebeu relatório do Banco Mundial considerando que o Brasil como um todo – governos federal, estaduais e municipais – tem um dos modelos mais transparentes de informações do setor público.
Agora, tem que se avançar na implantação de procedimentos nas áreas críticas das administrações públicas em geral. E, principalmente, tem que se montar na sociedade civil observatórios capazes de trabalhar esses dados e produzir alertas.
Com isso se acabará com a indústria da corrupção – uma praga que beneficia apenas corrompidos, corruptores e denunciadores.
Luiz Nassif
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