Para quem está estranhando os “conselhos” do jornalista Ricardo Noblat ao candidato José Serra, reproduzo um artigo dele, de 2002, ainda no Correio Braziliense, onde dizia como deveria o então candidato tucano à sucessão de Fernando Henrique Cardoso agir na campanha eleitoral contra Lula. Os grijos são meus.
“Goste-se ou não do que está fazendo José Serra no segundo turno, ele está fazendo tudo certinho, tudo de acordo com apuradas análises de pesquisas de intenção de voto e as leis universais do marketing político. Um candidato na situação dele e que acha só ter essa chance de se eleger presidente da República, tem de fato de deixar os escrúpulos de lado e partir para cima do adversário. Mais ainda se está a anos-luz de distância dele na preferência dos eleitores.
Serra tem de provocar Lula, sim, para debates. Tem que fazer isso diariamente. E tem que usar a Regina Duarte, sim, para assustar as pessoas insinuando que uma possível eleição de Lula trará de volta a inflação e desestabilizará o país. O próprio Serra terá de insistir na comparação do Brasil de Lula com a Venezuela de Hugo Chaves (sic), sem se importar com o fato de que presidente algum na América do Sul deu mais força a Chaves do que Fernando Henrique Cardoso.
O candidato do governo tem de passar ao largo dos problemas deixados por Fernando Henrique ao seu sucessor e se concentrar naqueles que a administração do PT enfrenta em diversas capitais como Porto Alegre, São Paulo e Recife. Falar dos problemas que Fernando Henrique não conseguiu resolver em oito anos é tarefa de Lula. A tarefa de Serra é falar dos problemas que os aliados de Lula não resolveram, não estão sabendo resolver ou são incompetentes para resolver.
A essa altura, Serra parece pouco se lixar até mesmo para eventuais problemas que ele possa estar criando e que complicarão ainda mais o desfecho do governo de Fernando Henrique. E ele está criando, sim. Ou agravando os problemas atuais. Pela delicadeza do cenário econômico interno e externo, é perigoso um candidato acenar com o caos na hipótese de vitória de outro. O perigo cresce se o profeta do caos tem o apoio do governo, da maioria dos empresários e dos investidores internacionais.
Foi por ter-se dado conta do risco embutido no recente discurso de Serra que Fernando Henrique se apressou em dizer que as instituições do país são sólidas. E que o país não sairá dos trilhos ganhe quem ganhar. Quer dizer: mesmo que Lula ganhe, Fernando Henrique não antevê o caos que Serra diz se esconder logo ali na esquina. A poucos dias da nova eleição, foi Serra e não Lula quem se tornou uma ameaça ao plano de Fernando Henrique de promover uma pacífica transição do poder.”
É preciso comentar? o original pode ser acessado pelo link:http://oglobo.globo.com/pais/noblat/publicacoesdonoblat.asp
By: Tijolaço
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