sábado, 11 de setembro de 2010

Em 2002, Noblat já dizia a Serra: às favas com escrúpulos

Para quem está estranhando os “conselhos” do jornalista Ricardo Noblat ao candidato José Serra, reproduzo um artigo dele, de 2002, ainda no Correio Braziliense, onde dizia como deveria o então candidato tucano à sucessão de Fernando Henrique Cardoso agir na campanha eleitoral contra Lula. Os grijos são meus.
“Goste-se ou não do que está fazendo José Serra no segundo turno, ele está fazendo tudo certinho, tudo de acordo com apuradas análises de pesquisas de intenção de voto e as leis universais do marketing político. Um candidato na situação dele e que acha só ter essa chance de se eleger presidente da República, tem de fato de deixar os escrúpulos de lado e partir para cima do adversário. Mais ainda se está a anos-luz de distância dele na preferência dos eleitores.
Serra tem de provocar Lula, sim, para debates. Tem que fazer isso diariamente. E tem que usar a Regina Duarte, sim, para assustar as pessoas insinuando que uma possível eleição de Lula trará de volta a inflação e desestabilizará o país. O próprio Serra terá de insistir na comparação do Brasil de Lula com a Venezuela de Hugo Chaves (sic), sem se importar com o fato de que presidente algum na América do Sul deu mais força a Chaves do que Fernando Henrique Cardoso.
O candidato do governo tem de passar ao largo dos problemas deixados por Fernando Henrique ao seu sucessor e se concentrar naqueles que a administração do PT enfrenta em diversas capitais como Porto Alegre, São Paulo e Recife. Falar dos problemas que Fernando Henrique não conseguiu resolver em oito anos é tarefa de Lula. A tarefa de Serra é falar dos problemas que os aliados de Lula não resolveram, não estão sabendo resolver ou são incompetentes para resolver.
A essa altura, Serra parece pouco se lixar até mesmo para eventuais problemas que ele possa estar criando e que complicarão ainda mais o desfecho do governo de Fernando Henrique. E ele está criando, sim. Ou agravando os problemas atuais. Pela delicadeza do cenário econômico interno e externo, é perigoso um candidato acenar com o caos na hipótese de vitória de outro. O perigo cresce se o profeta do caos tem o apoio do governo, da maioria dos empresários e dos investidores internacionais.
Foi por ter-se dado conta do risco embutido no recente discurso de Serra que Fernando Henrique se apressou em dizer que as instituições do país são sólidas. E que o país não sairá dos trilhos ganhe quem ganhar. Quer dizer: mesmo que Lula ganhe, Fernando Henrique não antevê o caos que Serra diz se esconder logo ali na esquina. A poucos dias da nova eleição, foi Serra e não Lula quem se tornou uma ameaça ao plano de Fernando Henrique de promover uma pacífica transição do poder.”
É preciso comentar? o original pode ser acessado pelo link:http://oglobo.globo.com/pais/noblat/publicacoesdonoblat.asp

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