Emir Sader
Lula viveu uma crise similar a esta – mesmo se de proporções muito menores – em 2005. Do fantasma do impeachment e das pressões para renunciar a um segundo mandato, saiu por cima e se tornou o presidente mais popular da história brasileira.
Lula se deu conta de que de um labirinto – aceitar as denúncias ou denunciar a intencionalidade da oposição – se sai por cima, rompendo com os círculos viciosos. Naquele momento também o mesmo personagem central desta – um dos centrais daquela – não queria sair, Lula teve de promover sua saída e substituiu-o não por um seguidor dele, mas por alguém que, junto a outros – entre eles centralmente Dilma –, recompôs sua equipe, apoiou-se na solidariedade popular e saiu da crise muito mais forte. Aprender com a crise é condição para não repeti-la e para sair mais fortes.....
O governo Dilma tem essa oportunidade. Recebeu e aprimora o eixo fundamental do sucesso do governo Lula: o modelo econômico e social. Formou uma equipe mais homogênea, que cuida e desenvolve esse eixo central para consolidá-lo e projetá-lo para o futuro.
A crise não veio daí. Veio de não ter tirado lições da crise de 2005 em relação a fragilidades na equipe, que permite uma nova ofensiva da mídia opositora, explorando essas fragilidades, mesmo em um marco inquestionavelmente mais favorável ao governo. Recompor a equipe nos pontos em que se revelou débil, retomar o debate e a coordenação política para enfrentar os desdobramentos da aprovação do Código Florestal na Câmara e enfrentar outros problemas pendentes, é o caminho para superar a crise e o governo sair mais forte.
Isso permitirá abrir caminho para voltar a mobilizar os setores que mais são afetados pela crise: a militância de esquerda, os movimentos sociais, a juventude, os artistas e intelectuais – mais sensíveis aos problemas que o governo enfrenta. Retomar uma coordenação política consciente desses problemas, manter uma presença do discurso do governo presente e forte em relação aos problemas a enfrentar, aliando flexibilidade com consciência clara dos objetivos estratégicos centrais. E não voltar a incorrer nos erros que levaram a desgastes desnecessários do governo – desnecessários e superáveis –, porque não provêm das políticas centrais do governo, mas da escolha da equipe e incapacidade, até aqui, de enfrentar grandes debates, de qual o Código Florestal é um deles.
O governo Lula soube sair da crise, tornando-se mais forte. Isso faz parte da herança recebida. O governo deve tirar as lições daquela experiência, se quiser repetir o caminho virtuoso pelo qual Lula saiu da crise pelas escolhas fundamentais que fez naquele momento. Seu governo nunca mais foi o mesmo. O da Dilma pode retomar, de sua maneira, a mesma forma de sair do círculo vicioso da crise para se tornar mais forte.
Carta Maior, via limpinho e cheiroso
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