quinta-feira, 26 de maio de 2011

Palocci: À mulher de César, não basta ser honesta...



No fim de semana, a Folha de São Paulo publicou matéria demonstrando o grande crescimento dos bens pessoais do ex deputado federal e atual chefe da Casa Civil, Antonio Palocci. Entre 2006 e 2010, o patrimônio do ministro foi de R$375 mil para R$7,5 milhões, através da Consultoria Projeto, que ele montou com a sua esposa Margareth.

Com a publicação da matéria, a imprensa correu atrás dos envolvidos, para repercutir e tentar esclarecer o crescimento patrimonial de Palocci. O Ministro se recusou a detalhar a natureza de suas consultorias ou os clientes envolvidos, e o Planalto, pela palavra do Secretário Geral da Presidência, Gilberto Carvalho, considera o assunto encerrado.

Tendo em vista a conturbada relação do Governo Lula com a imprensa, que o perseguiu implacavelmente durante os seus oito anos de presidência (e ainda o persegue), talvez fosse o caso de o Planalto refletir melhor sobre essa sua postura de não se preocupar em explicar nada para a imprensa. Senão, vejamos:.....

desde o mensalão, em 2005 (sei que o caso não ocorreu como a imprensa noticiou, de deputados receberem mesadas para votar com o governo, mas o fato é que no mínimo ocorreu caixa 2 de campanha ali naquele caso, o que também é crime), o fato é que o PT deixou de ter o monopólio sobre a moral e a ética na política. Se antes de ganhar a presidência, essa era a imagem que boa parte da população tinha do Partido dos Trabalhadores, isso esfarelou no escândalo dos Correios e caiu por terra de vez no mensalão. Desta forma, o PT passou a ser visto como mais um partido, igual aos outros, que utiliza das mesmas armas para chegar ao poder. O que é bom, pois deixa muito claro que no nosso atual sistema político, não há brechas para a ingenuidade.

Assim, a imprensa dedica boa parte de seu tempo e energias para encontrar escândalos ligados ao governo federal, pois sabemos que essa grande imprensa é aliada dos partidos que hoje estão na oposição (que o diga a Judith Brito). Vieram os aloprados, muitas invenções, assassinatos de reputação, desembocando no caso Erenice, em meio à campanha do ano passado. De início, com as juras de inocência da então ministra, o Planalto bancou a sua permanência no cargo. Mas por fim, se verificou que Erenice abusara de suas funções, e ela foi defenestrada do cargo.

Todo esse nariz de cera é para analisar o que hoje ocorre com o ministro Palocci. Não me parece bom negócio essa arrogância do Planalto, em não dar explicações públicas sobre o caso. Ainda que a justiça proteja o sigilo fiscal e bancário de todos os cidadãos, o caso é que Palocci já esteve encrencado em caso semelhante, quando vazou os dados fiscais do caseiro Francenildo de seu gabinete, há alguns anos. Vendo o papel da imprensa em sua cobertura política, chegamos em duas direções:

- Palocci é visto por muitos como um "mercadista" dentro do governo, ou seja, alguém que defende os interesses dos rentistas dentro da atual administração, o que vai de encontro aos interesses dos grupos oligárquicos brasileiros e internacionais, do qual a grande imprensa bem representa os seus interesses. E se a grande imprensa veio pra cima do Palocci com tanta gana, é de se esperar que tenha alguma prova de que o Ministro da Casa Civil enriqueceu de alguma forma ilícita, e que portanto vale a pena queimar um dos "seus" pra dar uma enfraquecida no governo Dilma.

- talvez Palocci não seja esse mercadista que o Paulo Henrique Amorim tanto fala, e a imprensa resolveu fustigá-lo com um traque, uma biribinha, só pra causar um pouco de constrangimento ao Governo. Sendo assim, o caso vai ter mais alguns dias de sobrevida, a oposição vai espernear pra tentar convocá-lo a se explicar no Congresso e a mídia vai manchetear mais um pouquinho.

Cada uma das opções contém um risco. A grande mídia pode ter alguma prova de que a evolução patrimonial de Palocci não foi totalmente honesta, e trazer a tona a qualquer momento, o que causaria grandes estragos ao governo, que o bancou, ou pode ser só um traque mesmo, a consultoria dele era legal e legítima e ele recebeu o justo pelos serviços prestados.

Mas já era hora de o governo aprender que apanhar calado dá prejuízos sim. A grande mídia pode estar em decadência, mas ainda forma opinião de bastante gente. Se durante dias e dias ela coloca manchetes de que os membros do PT enriquecem de forma estranha, quem só passa pela banca de jornal e nem sabe da existência da blogosfera, pode acabar comprando a idéia de que o PT está aí só pra roubar mesmo. E aí, na época de eleições, pra tirar esse tipo de percepção das pessoas é extremamente complicado.

Não adianta a gente aqui nos blogs berrar e espernear, que a grande mídia é hipócrita, faz denúncias seletivas, não mostra os descalabros das administrações tucanas. Isso já tem que ser contado pelos partidos de esquerda, faz parte do jogo. Tentamos fazer a nossa parte e desmascarar isso. Mas fica difícil lutar contra Golias, quando o próprio governo não se põe a enfrentá-lo.

Olhando pelo lado político, era muito mais interessante o Palocci vir a público e mostrar que suas consultorias foram legítimas e ele ganhou a grana que merecia. Mata o escândalo pela raiz. Ao tergiversar, deixa todo um campo aberto pra mídia e oposição avançarem, mesmo que sem provas, só na base da elocubração e insinuação. E quando ele solta uma nota e se compara a antigos ministros que tiveram o mesmo caminho, apenas reforça a opinião de que o PT é igual aos outros. Então, depois que o estrago estiver feito, nada de chorar pelo leite derramado.

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