sexta-feira, 8 de outubro de 2010

Sindicato divulga nota sobre demissão de Maria Rita Kehl

“A liberdade de imprensa varia de um observador para outro dependendo do enfoque de quem observa. Essa frase, vagamente adaptada de um enunciado da teoria da relatividade de Albert Einstein, é a única forma de explicar a posição adotada pelos grandes jornais quando o assunto é liberdade de expressão.
Brincadeiras à parte, podemos enumerar vários casos onde o discurso de guardião da liberdade de imprensa é, na prática, atirado na lata de lixo pela grande mídia. A atitude do jornal Estado de S. Paulo, de demitir Maria Rita Kehl, colaboradora do jornal, por ter emitido opiniões sobre as eleições presidenciais em curso, fugindo dos assuntos relacionados à psicanálise que é a sua especialidade, é o último capítulo dessa tragicomédia. A própria autora declarou ter sido demitida por “delito de opinião”.
Dias antes, a Folha de S.Paulo conseguido tirar do ar, através de liminar, o site Falha de S. Paulo, um espaço de humor que satirizava a posição política do jornal da Barão de Limeira, que era produzido pelo jornalista Lino Bocchini. A quase demissão de Heródoto Barbeiro, do programa Roda Viva, da TV Cultura, após ter questionado o candidato do PSDB, José Serra, sobre o preço cobrado pelos pedágios no estado é outro exemplo da condenável posição assumida pelas empresas de comunicação quando seus interesses imediatos são contestados.
Esses exemplos são suficientes para demonstrar o quanto o Sindicato dos Jornalistas de São Paulo estava correto ao sediar o ato em “Defesa da liberdade de imprensa e contra o golpismo midiático”. O contraditório da situação é que o encontro, que lotou o auditório Vladimir Herzog e se espalhou pela rua em frente à sede do Sindicato, foi acusado, por aqueles que agora impedem a manifestação de todas essas vozes, de defender a censura.
Quem clama pelo direito de resposta, pela transparência dos mecanismos de outorga das empresas de rádio e TV, para que o contraditório apareça nas matérias jornalísticas, contra o monopólio da mídia, em defesa de uma rede pública de comunicação e pela regulamentação da profissão de jornalista, luta em defesa da liberdade de expressão e cidadania são os Sindicato dos Jornalistas de todo o país, a Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj) e diversas entidades da sociedade civil que acreditam que a comunicação não é apenas um privilégio de classes exercido pelos empresários da comunicação.
Quando os movimentos sociais questionam os limites do poder das grandes empresas de comunicação, querem apenas o cumprimento do direito de receber informações com qualidade e verem os direitos sociais preservados. Não se pretende calá-los, mas apenas que proporcionem espaço para o contraditório ou para aqueles que não comungam somente de seu ideário, em geral, neoliberal e afeito ao mundo dos negócios.
Aqueles que, por intermédio quaisquer meios, procuram calar a voz do cidadão ou do profissional de comunicação, como foi realizado com Maria Rita Khel, Lino Bocchini ou com o próprio Heródoto Barbeiro, não pode ter a desfaçatez de acusar de “censores” os que lutam pela liberdade de opinião. Estamos diante de uma inversão de valores muito perigosa. A liberdade de imprensa é um bem público e não uma mera fantasia dos negociantes da informação”.
José Augusto Camargo é secretário geral da Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj) e presidente do Sindicato dos Jornalistas no Estado de São Paulo

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