“A liberdade de imprensa varia de um observador para outro dependendo do enfoque de quem observa. Essa frase, vagamente adaptada de um enunciado da teoria da relatividade de Albert Einstein, é a única forma de explicar a posição adotada pelos grandes jornais quando o assunto é liberdade de expressão.
Brincadeiras à parte, podemos enumerar vários casos onde o discurso de guardião da liberdade de imprensa é, na prática, atirado na lata de lixo pela grande mídia. A atitude do jornal Estado de S. Paulo, de demitir Maria Rita Kehl, colaboradora do jornal, por ter emitido opiniões sobre as eleições presidenciais em curso, fugindo dos assuntos relacionados à psicanálise que é a sua especialidade, é o último capítulo dessa tragicomédia. A própria autora declarou ter sido demitida por “delito de opinião”.
Dias antes, a Folha de S.Paulo conseguido tirar do ar, através de liminar, o site Falha de S. Paulo, um espaço de humor que satirizava a posição política do jornal da Barão de Limeira, que era produzido pelo jornalista Lino Bocchini. A quase demissão de Heródoto Barbeiro, do programa Roda Viva, da TV Cultura, após ter questionado o candidato do PSDB, José Serra, sobre o preço cobrado pelos pedágios no estado é outro exemplo da condenável posição assumida pelas empresas de comunicação quando seus interesses imediatos são contestados.
Esses exemplos são suficientes para demonstrar o quanto o Sindicato dos Jornalistas de São Paulo estava correto ao sediar o ato em “Defesa da liberdade de imprensa e contra o golpismo midiático”. O contraditório da situação é que o encontro, que lotou o auditório Vladimir Herzog e se espalhou pela rua em frente à sede do Sindicato, foi acusado, por aqueles que agora impedem a manifestação de todas essas vozes, de defender a censura.
Quem clama pelo direito de resposta, pela transparência dos mecanismos de outorga das empresas de rádio e TV, para que o contraditório apareça nas matérias jornalísticas, contra o monopólio da mídia, em defesa de uma rede pública de comunicação e pela regulamentação da profissão de jornalista, luta em defesa da liberdade de expressão e cidadania são os Sindicato dos Jornalistas de todo o país, a Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj) e diversas entidades da sociedade civil que acreditam que a comunicação não é apenas um privilégio de classes exercido pelos empresários da comunicação.
Quando os movimentos sociais questionam os limites do poder das grandes empresas de comunicação, querem apenas o cumprimento do direito de receber informações com qualidade e verem os direitos sociais preservados. Não se pretende calá-los, mas apenas que proporcionem espaço para o contraditório ou para aqueles que não comungam somente de seu ideário, em geral, neoliberal e afeito ao mundo dos negócios.
Aqueles que, por intermédio quaisquer meios, procuram calar a voz do cidadão ou do profissional de comunicação, como foi realizado com Maria Rita Khel, Lino Bocchini ou com o próprio Heródoto Barbeiro, não pode ter a desfaçatez de acusar de “censores” os que lutam pela liberdade de opinião. Estamos diante de uma inversão de valores muito perigosa. A liberdade de imprensa é um bem público e não uma mera fantasia dos negociantes da informação”.
José Augusto Camargo é secretário geral da Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj) e presidente do Sindicato dos Jornalistas no Estado de São Paulo
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