terça-feira, 5 de outubro de 2010

Os abestados


Tiririca talvez seja a síntese do que foi esta eleição.
O palhaço analfabeto que driblou a legislação eleitoral e conquistou uma cadeira na Câmara dos Deputados com mais de 1 milhão de votos resume boa porção da alma brasileira: essa legião de "abestados" folgazões, ignorantes de seu papel de cidadãos, náufragos inconscientes dessa travessia que o país ousa fazer rumo à modernidade.
É sintomático também que o fenômeno Tiririca tenha explodido em São Paulo, a tal locomotiva do progresso do país, cujo lema, o non ducor duco, põe de joelhos todos os outros entes federativos, subjuga pela força bruta quem deveria tratar como igual.
Só que desta vez, o palhaço analfabeto, que zomba do cargo que almeja, que faz troça dos valores republicanos, que ofende seus eleitores, não só revelou os segredos mais íntimos e sujos da tradicional família que o acolheu, como foi recompensado por ela: São Paulo é isso, esse imenso mar de preconceito, de desigualdades, de ódio de classes, de fúria capitalista, bradou Francisco Everardo Oliveira Silva por detrás de sua máscara mal-feita de clown terceiro-mundista.
É isso. Tiririca um dia se olhou no espelho e viu refletida não a sua imagem, mas 1 milhão de pedacinhos coloridos de chita que formavam um rosto, uma face, um sorriso de palhaço.
E aí ele compreendeu que tinha achado seu lugar neste mundo.
crônicas do motta

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