terça-feira, 12 de outubro de 2010

A razão contra a emoção


Por mil motivos julgo que estamos vivendo processo eleitoral de um tipo inédito ao menos em nosso país. E quem está pautando esse processo é um conclave que envolve o PSDB, o Democratas, as Organizações Globo, o Grupo Folha e a Editora Abril (revista Veja), além de alguns outros veículos menores que lhes seguem a linha de atuação.
A estratégia tucano-midiática, de repente, tornou-se clara como o dia para mim. E é diabolicamente “inteligente”. Partiu de uma aposta que a direita fez de que o brasileiro é um povo estúpido, preconceituoso e sobejamente irracional.
Foi criada uma onda de difamação que tenta exacerbar o que há de pior em nossa sociedade em termos de arrogância e preconceito. Essa onda, agora, também se mostra produto da intenção de desequilibrar emocionalmente a Dilma Rousseff, aos seus aliados e à militância petista.
A afronta se une à censura midiática para produzir indignação até que esta seja manifestada de forma destemperada e impensada pelos alvos da aliança conservadora. A mídia, agora, chega ao ponto de jogar na arena até uma fraude escandalosamente evidente sobre uma relação homossexual que Dilma teria mantido.
É uma farsa evidente. Está sendo investigada, inclusive. E até a mídia admite que é uma farsa, ao noticiá-la. Contudo, dá publicidade porque assim pode fazer alguns pensarem que “onde há fumaça, há fogo”.
O objetivo é de, mais uma vez, sobrepor a emoção à razão. Não só de Dilma e de seus aliados, mas também da militância, para que entre no jogo sujo, para que seja tentada a usar a lei de talião – olho por olho, dente por dente.
A população, por sua vez, está sendo convidada a pensar com o lado intolerante e preconceituoso que nos ameaça a todos os que caminhamos por este vale de lágrimas. A não usar a cabeça para pensar em como melhorou a vida no Brasil. E a cometer o suicídio de colocar de volta no poder um grupo político que espoliou a nação durante boa parte do século XX.
Mas há como combater com facilidade uma estratégia como essa.
Enquanto escrevo, assisto ao início do programa do PSDB da noite. Está passando aquela cena dos quadros dos presidentes Fernando Collor, Itamar Franco, Fernando Henrique Cardoso e Lula. A propaganda prega o medo de que Dilma seja um novo Collor.
Quero, mais uma vez, insistir com a campanha do PT: é preciso trazer a peça da campanha de Serra a presidente de 2002 em que Regina Duarte faz o discurso do medo, que guarda toda a relação com o discurso do mesmo Serra em 2010. Ao assisti-la, o Brasil se dará conta do que estão tentando fazer.
Não tenho interlocução com o governo. Não tenho interlocução com o PT. Não tenho interlocução com a campanha de Dilma. Poderia ter essa interlocução, aliás, mas não quero. Evito proximidade com políticos porque desejo ser independente.
Mas sei que vários políticos ou militantes com acesso ao PT, à campanha de Dilma e até ao próprio presidente Lula lêem este blog. É por isso que quero pedir a essas pessoas que levem a eles não só a sugestão sobre o discurso do medo de Regina Duarte, mas o fato de que a campanha do PT precisa lembrar melhor à sociedade o que foram os anos FHC.
Onde está aquela conta de luz da época do apagão de FHC em que vinha a mensagem de que quem ultrapassasse a cota estabelecida no racionamento teria a energia cortada? Onde estão as notícias dos jornais sobre o eterno problema da dívida externa e da falta de dólares no país, entre outras que fariam as pessoas se lembrarem do que era o Brasil quando Serra esteve no poder?
Por outro lado, a campanha de Dilma e o próprio PT precisam entender que a mídia levará essa estratégia de afrontar os adversários de Serra até o impensável. Não duvido nada de que nos jornais dos próximos dias difundam a “acusação” de lesbianismo a Dilma. Dirão que é falsa, mas irão expor o assunto para que alguns fiquem em dúvida.
A mídia se apresenta como uma espécie de juíza da eleição, com autoridade para dizer quem está certo e quem está errado e para acusar um dos lados sob o argumento de que aquele lado é culpado de alguma coisa.
Dá para vencer um jogo em que o juiz é ladrão? Dá. O futebol e as campanhas de Lula em 2002 e, sobretudo, em 2006 mostram que é possível. Contudo, temos que ter em mente que realmente Dilma não é Lula e que a população está sendo apresentada só agora a ela. E é nesse ponto que a difamação ganha impulso: na ignorância e no medo do desconhecido.
Penso, portanto, que tudo ficará mais difícil se Dilma, seu partido, seus aliados e o próprio presidente Lula não enfrentarem a imprensa tucana. As propagandas de um e de outro candidato dirão o que quiserem, mas a mídia dará razão a Serra de uma forma ou de outra.
Neste momento em que vou terminando o texto, a repórter do Jornal Nacional que cobriu a visita que Dilma fez nesta segunda-feira à basílica de Nossa Senhora da Aparecida ironiza o fato dando entonação à voz ao falar sobre a “religiosidade” da candidata.
Como lutar contra isso sem lutar, sem criticar, sem denunciar o partidarismo, a tendenciosidade e a manipulação?
A campanha de Dilma reagiu, a candidata reagiu no debate da Band, a propaganda eleitoral na TV está atacando Serra, mas ainda é pouco. A mídia continuará desequilibrando a disputa em favor de Serra. Resta saber se será possível vencer a eleição com tal desvantagem…
Enfim, um fato acima de todos os outros: o grande desafio à campanha de Dilma será o de sobrepor a razão à emoção. E não só na mente coletiva, mas na dos protagonistas da campanha do PT. Razão para não se deixar descontrolar pela afronta, pelo jogo baixo, pelas calúnias dolorosas que estamos vendo, principalmente.
Este é um momento de grande reflexão. O Brasil está sendo ameaçado pela possibilidade de vir a ser governado por um grupo político-econômico-midiático que tratará, acima de tudo, de fatiar e vender o pré-sal. É nisso que eles estão de olho. A grande oportunidade para este povo deixar a pobreza e a miséria está sob uma ameaça poderosíssima.
Tomara que alguém da campanha de Dilma leia este texto. Para o bem deste país, tomará que me escutem.
Eduardo Guimarães

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