Alberto Dines, Observatório da Imprensa
“O ministro Franklin Martins, em declarações enviadas da Europa, levantou uma excelente questão ao afirmar que a imprensa brasileira "é livre, o que não quer dizer que é boa".
Com o poder de síntese de um experimentado jornalista, hoje convertido a contragosto em observador da mídia, o ministro conseguiu, em poucas palavras, compactar uma questão fundamental: a inexistência do clássico aparato censório é suficiente para colocar o selo de qualidade na imprensa de determinada sociedade?
Dito de outra forma: se os censores trocaram os uniformes militares para vestir a toga ou a batina ou o blazer corporativo, isso é suficiente para garantir que a imprensa é livre?
A dialética nos obriga a buscar o corolário: se a imprensa funciona livre de pressões ou de constrangimentos, ipso facto é boa porque é diversificada, plural.
Terceiro elemento
A grande verdade é que a nossa imprensa não é nem livre nem boa. Este é o maior mérito da provocação de Franklin Martins. Nossa imprensa foi duramente ameaçada pelo chefe do poder Executivo antes do primeiro turno e, aparentemente em represália, adotou algumas vezes um comportamento libertino.
Agora, no início da segunda volta, agarra-se histérica e farisaicamente à questão do aborto, esquecida do perigo de alimentar o fanatismo religioso, o clericalismo e o seu natural desaguadouro – o Estado teocrático, qualquer que seja a religião que o controle.
A liberdade e a qualidade da imprensa se sobrepõem e se associam quando um jornal como o centenário Estado de S.Paulo afasta uma colaboradora – a psicanalista Maria Rita Kehl – porque ousou divergir das suas premissas políticas. Se o jornal abre mão de um dos seus mais importantes atributos – o equilíbrio de conteúdo –, deixa de respeitar a liberdade e os paradigmas que o qualificam.
A verdade é que faltou ao ministro um terceiro elemento para compor a sua equação: a quantidade. Nossa imprensa não é livre, não é boa e está sendo tragicamente reduzida.”
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