Pronto, a campanha foi tomada pelo maniqueísmo. O bem está de um lado e o mal do outro. É assim que nossa civilização "ergue e destrói coisas belas". No caso da candidatura situacionista, por exemplo, passou a ser excelente expediente, porque quem ficou no papel de lobo mau foi a oposição. E por não ter discurso, e nem projeto capaz de se contrapor ao modelo desenvolvimentista, que privilegia a redução das desigualdades, agregou em torno de si grupos considerados radicais e extremados. Não por acaso a pregação moralista atingiu minorias GLBT e mulheres que praticaram aborto. E isso foi só um aperitivo. O que eles talvez não saibam é: a tolerância é uma marca registrada da nossa sociedade. Discursos preconceituosos e discriminatórios não colam, ainda que venham embalados por imagens e circunstâncias que possam despertar nossos medos inconscientes. De agora em diante, para uma campanha, basta explorar bem a condição de vítima e, para a outra, tentar criar uma sequência de fatos aterrorizantes e constrangedores, o bastante para desagregar e desmobilizar a militância. Acho que o "mal" está em ligeira desvantagem. Mas, por enquanto, no primeiro dia de horário eleitoral na TV, o que vimos à tarde foram dois programas quase iguais um ao outro. Quem me chamou a atenção foi a jornalista Márcia Cunha. Eles abriaram com imagens aéreas numa edição rápida, colavaram cenas de campanha e cortaram para um escritório cenográfico onde o candidato falou sobre seus planos, enquanto uma câmera (grua) passeava lentamente. Aí veio o narrador detelhando as propostas. Esta amostra me permite fazer a seguinte afirmação: um programa de TV passou a ser o genérico do outro. Pode ser que o eleitor distraído caia nesse golpe. Afinal, eleitor distraído e golpistas não faltam no mercado!
doladodelá
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