quinta-feira, 23 de setembro de 2010

Datafolha, tracking e a teoria da pedra no lago



Tudo bem que a queda de Dilma e a subida de Serra e de Marina na pesquisa Datafolha divulgada pelo Jornal Nacional ficaram dentro da margem de erro. E que, pelo histórico recente do instituto e de seus controladores, não seria heresia nenhuma dizer que podem ter usado essa margem para inflar o tucano e a sua laranja verde e deprimirem a petista de forma a ver se o eleitorado pega no tranco. Contudo, vejo indícios de que pode não ser bem isso.
Antes que alguém se desespere ou fique nervoso comigo, um alerta: o segundo pior inimigo de alguém numa disputa eleitoral é se recusar a enxergar os fatos, e o primeiro é ter medo. Em uma campanha como esta, se a artilharia de um lado funciona, mesmo que ainda dentro do suportável, a reação tem que ser, pelo menos, tão pesada quanto o ataque.
Dito isso, vamos a uma hipótese que ninguém considerará agradável, mas que é mais do que possível de se materializar. E se ao menos os adversários de Dilma tiverem crescido de fato?

Ora, convenhamos que o tracking IG/Band/Vox Populi (modalidade de sondagem da opinião do eleitorado que, pelo que dizem, é capaz de antecipar movimentos nas pesquisas de campo) mostrou, sim, queda de Dilma depois da eclosão do caso Erenice. Ela chegou a ter 32 pontos de vantagem sobre Serra e 21 sobre os adversários.  Hoje, tem 27 pontos sobre o tucano e 17 sobre a soma dele com Marina.
A última pesquisa Vox Populi, se não detectou queda de Dilma (51% a 24%), revelou que, entre a classe média, houve reação às pesquisas; reação essa então compensada pelos setores mais pobres e menos instruídos, que aumentaram suas intenções de voto na petista. Todavia, a pesquisa foi fechada no dia 14. E outras pesquisas também detectaram tênue movimento na classe média de abandono da candidatura do governo.
A dar como bom o tracking e seu poder de prever o futuro, descobriremos que o que houve foi uma oscilação. A linha do gráfico da pesquisa diária faz movimentos suaves e chegou, até, a mostrar oscilação favorável a Dilma, nesta semana. Daí a hipótese de que o Datafolha tenha realmente captado alguma coisa na linha do que acaba de divulgar.
Como, a esta altura, haverá entusiastas da candidatura do PT preocupados, vamos nos lembrar de dois fatos que poderão lhes atenuar o temor e conter um pouco a euforia dos entusiastas assumidos e enrustidos das candidaturas de oposição, sobretudo na imprensa golpista.
O primeiro fato pró-Dilma é o de que a diferença de 7 pontos que o Datafolha diz que ela tem agora sobre a soma dos adversários decai de um patamar de 12 pontos e essa diferença, pelo menos antes da suposta queda da petista, era a menor entre todos os institutos. Os números reais, portanto, podem ser muito mais folgados para ela, o que lhe renderia muita gordura para queimar em um tempo extremamente curto que falta para 3 de outubro.
O segundo fator de alento aos petistas e de frustração para tucanos é o de que o Datafolha tem uma metodologia marcadamente ineficiente para apurar o voto dos setores mais humildes e residentes em regiões mais afastadas, fato esse que me foi reconhecido pelo próprio diretor do instituto quando conversei com ele em evento de sua empresa há alguns dias – e que noticiei aqui.
Vale explicar, ainda, que o Datafolha colhe as suas entrevistas no que chama de “ponto de fluxo”, ou seja, em locais de maior movimento nas microrregiões em que faz seu campo, contando com que nesses locais eventualmente encontrará os oriundos de regiões mais afastadas que fatalmente têm que vir aos “centros” mais próximos.
A qualquer momento deveremos ter uma pesquisa Vox Populi que servirá de tira-teima, sempre lembrando que esse instituto é o que tem acertado mais neste ano, tendo antecipado o que veio a ocorrer com as intenções de voto bem antes dos outros três grandes concorrentes – Datafolha, Ibope e Sensus.
Mas e se Dilma realmente andou perdendo votos em nível mais expressivo? O Datafolha exibido na edição do Jornal Nacional que foi ao ar antes de este blogueiro começar a escrever combina à perfeição com a boa e velha teoria da pedra no lago, segundo a qual campanhas denuncistas pela mídia atingem primeiro os mais informados e depois vão se propagando para as margens desse lago opinativo da sociedade, onde, por essa tese, chafurdariam os ditos “incultos” e “desinformados”.
Nesse caso, penso que está mais do que na hora de o PT começar a estudar uma reação consistente, na qual seriam dados ao público argumentos que têm sido sonegados pela mídia e que o partido de Dilma e a sua campanha não têm dado porque envergam a estratégia de não fazerem marola tão perto de liquidarem a fatura.
Faltou combinar com os russos, que têm meios inesgotáveis de fazer a marola que o PT não quer ver ocorrer. Fatos como o de que não há prova nenhuma das acusações tucano-midiáticas, de que a mídia tem uma aliança ferrenha com Serra e que está trabalhando para ele e a indução de recall mais profundo no eleitorado do que foi a era FHC podem ter que ser colocados no horário eleitoral.
Para ser sincero, diante da possibilidade, para mim tremendamente nefasta, de Serra se eleger, e da vontade que tenho de ver a verdade ser dita com grande destaque na cara de gente que considero que está ultrapassando todos os limites aceitáveis e inaceitáveis que logro conceber, surpreendo-me dividido. Se liquidar logo a fatura seria bom para o país, não desmascarar essa imprensa golpista irá me deixar um travo na boca.
blog da cidadania

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