segunda-feira, 20 de setembro de 2010

Colunistas da Veja celebram sua vitória pessoal...em 2006

Sei que geralmente reservo o bloguinho no domingo para coisas leves. Mas quem pode dizer que isso não é leve? É imperdível: Diogo Mainardi e Reinaldo Azevedo batem papo às vésperas do primeiro turno das eleições de 2006 (ouça aqui). “Olha, eu tô achando que tá batendo na trave mas vai ter segundo turno”, comemora tio Rei. Diogo é o otimismo em forma de gente: “Morreu, tadinho do Lula, já era, acabou”.
Grandes analistas políticos que são, os dois símbolos daimparcialidade da Veja vociferam: “A metade [do país] que não ganha esmola não quer saber de esmola”. Isso mostra por que é legítimo pensar que, numa volta do PSDB ao poder, benefícios responsáveis por tirarem milhões de pessoas da miséria, como o Bolsa Família, não seriam mantidos (e porque, afinal, a história de “Foi FHC que começou o Bolsa Família!” soa tão falsa. Ou alguém diria que a mídia, os partidos de oposição, e os eleitores desses partidossão a favor do Bolsa Família?). 
“A verdade é que Lula está sendo eleito pela clientela da miséria”, diz tio Rei com aquela voz melodiosa que lhe possibilita se candidatar a ser o próximo Boris Casoy da TV brasileira. Nessas eleições de 2010, o próprio tio se revoltou quando um jornalista perguntou a seu candidato se Serra acabaria com o Bolsa Família. “Que injúria!”, bradou o colunista da Veja. “Isso é terrorismo eleitoral! Como os petralhas podem descer tanto?!”. É incrível: passam anos falando de “clientela da miséria”, de eleitores analfabetos que vendem seu voto por esmola, de maior programa de compra de votos do mundo, mas, nas eleições, vira terrorismo eleitoral supor que Serra vai impedir essa tramoia nefasta de continuar existindo. Pelo contrário: é nessas horas que ele jura que vai dobrar o Bolsa Família! E eles querem que alguém acredite?


Sempre feliz, Diogo segue inabalável no seu otimismo: “O que a gente sabe é que no segundo turno, depois de um mês de apurações, a eleição acabou, já era, Lula e o projeto golpista dele foram pro brejo. Acabou a eleição, a gente se livrou dessa gente”. O que havia acontecido para despertar a chama da esperança nos dois BFFs (best friends forever)? O escândalo dos aloprados, em que gente ligada ao PT foi pega tentando comprar um dossiê.
Veja achou que isso seria suficiente pra apagar a popularidade de Lula, visto pelo povo, esse ingênuo inconveniente, como o maior presidente que o país já teve. Hoje Reinaldão tenta fazer grudar um novo escândalo, como o da Receita, sem sucesso. Mas em 2006 eles estavam eufóricos. “E se for assim é quase uma vitória pessoal sua e minha, hein?”, interrompe tio Rei, com a modéstia que lhe é peculiar.
Eles também discutem se devem começar a falar mal do Alckmin naquele momento ou só depois do segundo turno. Tio Rei recomenda que só depois, por uma questão de “estratégia”, ou talvez dê pra chamar de Efeito Ricúpero. Ricúpero foi o ministro da Fazenda pró-FHC que disse em 1994, sem saber que o microfone estava ligado: “Eu não tenho escrúpulos, o que é bom a gente fatura, o que é ruim a gente esconde”. A diferença de Ricúpero com os colunistas da Veja é que eles sabem que o microfone está ligado, e ainda assim não se encabulam em revelar a “estratégia”. E aquilo que eu vivo dizendo, a direita não tem paixão política a favor de alguma coisa, apenas contra. Como sintetiza tio Rei: “a vitória não é a vitória do Alckmin, a vitória é a derrota do Lula”.
Os dois concordam: “O Lula é um mal pro país, o petismo é um mal pro país, o país precisa começar a cuidar de seus problemas”. Problemas que, pelo visto, não incluem a miséria ou o desemprego, detalhes tão pequenos que foram esquecidos pelos governos passados, aqueles que a dupla dinâmica apoia.
No final do bate-papo, como se fosse um bonus track da falta de compreensão do que seja o país, os dois revoltam-se que o PSDB “vai dar moleza” e não vai cassar os direitos políticos ou mandar pra cadeia o Lula. “Não dá pra partir pro acordão agora não”, dizem eles, como se os tucanos já tivessem vencido. “Eu tenho só um mês pra começar a encher a paciência desses caras, porque depois eles são história”, prega Diogo, acertando, mais uma vez, o diagnóstico certeiro que faz sobre o Brasil. É, Lula e o PT seriam história, e ninguém nunca mais falaria deles (só os delegados das cadeias, talvez?).
E pega tão mal pro patrocinador também, não? O Sul América é o que, banco e seguradora? Pois é. Fica a pergunta: vocês comprariam um seguro de um patrocinador da Veja?
E aí, no segundo turno, Alckmin entrou pra história como o único candidato no mundo a ter menos votos que no primeiro turno. Queria saber: isso também pode ser visto como uma vitória pessoal de vocês, Dioguito e tio Rei?
By: Lola Aronocich

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