Nesses últimos anos o que mais se viu no noticiário econômico foram reclamações sobre a cotação do real, que, para 120% dos tais analistas que abundam nas páginas dos jornalões ou declamam sem parar uma bem ensaiada narrativa aos microfones radiofônicos e televisivos, iria, como a saúva dos tempos antigos, acabar com o Brasil.
O tal "câmbio", palavra à qual os dicionários dedicam várias definições, foi acusado de tudo: vilão da gloriosa indústria nacional, devorador de empregos, assassino das esperanças de se construir nestas terras onde tudo o que se planta dá o Éden idealizado nos sonhos de patriotas de toda estirpe.
Pois bem, como num passe de mágica, devido a razões que nem os mais doutos praticantes da "ciência" econômica sabem explicar, mas certamente tem como uma das causas o apetite incomensurável de umas centenas de tubarões que vagam pelo mundo incessantemente, à caça do lucro mais fácil, o real, em poucos dias, perdeu a cor que o deixava parecido com os primos do Norte, foi acometido por uma anemia profunda e, coitado, quedou-se miudinho no seu canto, pequenino e quase sem valor.
Chamados a explicar o fenômeno, os nossos bravos "analistas" ainda não conseguiram produzir nada mais que uma algaravia incompreensível, como se tivessem sido chamados a desvendar o mais profundo dos mistérios da vida e do universo.
O máximo que o cacarejar infindável desses charlatões consegue é complicar ainda mais uma situação bastante complexa, cuja compreensão exige de quem se dispõe a resolver o enigma componentes que faltam à grande maioria dos estudiosos, como, por exemplo, honestidade intelectual, desprendimento ideológico e rigor científico. Achar tais pessoas, convenhamos, é tarefa para alguém com a disposição de um Diógenes, o Cínico, que com sua lanterna, assustava a antiga Atenas à procura de um homem honesto...
Não se sabe por quanto tempo, ainda, o real se mostrará murcho como está nesses últimos dias. De qualquer forma, o seu encolhimento serviu para mostrar que, antes de qualquer valor que possa ter, ele é mesmo o protagonista de uma outra guerra, não a comercial que se trava entre os países à conquista de mercados lucrativos, mas sim de um confronto muito mais mesquinho em suas ambições, a disputa política-partidária, que não envolve generais astuciosos e sim homenzinhos dissimulados e desprezíveis.
Cronicas do Mota
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