É sempre necessário conhecer o que pensam os cidadãos sobre os temas em debate no meio político. A opinião pública pode não ser a dimensão fundamental na democracia, mas é uma das mais importantes.
Suas preocupações e prioridades coincidem, muitas vezes, com as dos políticos e da imprensa. Em outras, no entanto, não são as mesmas.
A corrupção, por exemplo. Deve ter sido a palavra mais usada no Congresso e na mídia nos últimos meses.
A temporada começou com as denúncias contra Palocci e não se encerrou. Pelo contrário. Outros ministros caíram, dezenas de funcionários foram demitidos.
Os partidos de oposição, como é natural, se aproveitaram desses casos para focar o discurso. Seria ilógico que desperdiçassem a oportunidade, apesar do telhado de vidro e de saberem, no íntimo, que enfrentariam dificuldades parecidas às de Dilma, se tivessem vencido a eleição....
A mídia oposicionista avaliou que esse era um flanco a explorar no ataque a seu inimigo figadal, o “lulopetismo”. Deu-lhe, portanto, farta cobertura (mas, como sempre, sem dedicar uma linha a quem corrompe).
Ao longo do mês, um terceiro elemento (não separado dos anteriores) entrou em cena. A partir do 7 de Setembro, foram tentadas algumas manifestações de protesto civil contra a corrupção, das quais a maior ocorreu em Brasília. Todas foram modestas.
A mais recente, que aconteceu esta semana no Rio de Janeiro, chegou a ser patética, apesar do espaço que sua preparação recebeu nos veículos do maior grupo de comunicação da cidade (e do país) e da simpatia com que foi tratada. Só faltou convocar a população, explicitamente, a participar do evento.
Apenas 2,5 mil pessoas apareceram, entre manifestantes - a maioria motivada por outras questões - e a turma que costuma circular no centro das grandes cidades. Alguns empunhavam as velhas vassouras do pior udenismo.
Nada de semelhante às manifestações de massa em outros países. Do mundo árabe à Europa, passando pelo Chile e chegando aos Estados Unidos, grandes e entusiasmados protestos, especialmente de jovens, tornaram-se parte decisiva do processo político.
Uma das razões que explicam a baixa adesão popular aos protestos anticorrupção no Brasil é o lugar que o tema possui na hierarquia dos problemas nacionais. Ele está longe de ser prioritário para a vasta maioria da população.
Em pesquisa realizada há dois meses pela Vox Populi, foi pedido aos entrevistados que dissessem quais os três principais problemas do país (em pergunta espontânea, i.e. sem exibir lista). Como mais grave, a corrupção foi citada por 5% dos ouvidos e ficou em sexto lugar.
Agregando as repostas de quem a colocou como um dos três mais relevantes, permaneceu na mesma posição.
Esses 5% podem ser comparados aos 38% que escolheram a saúde, aos 20% que citaram a segurança, aos 12% que responderam educação, aos 11% que mencionaram o desemprego e aos 5% que falaram em pobreza ou fome. Ou seja, não é uma preocupação central para muita gente.
Não se está aqui dizendo que seja pouco importante. As pessoas se preocupam com a corrupção e acham que é indispensável coibi-la.
Mas não consideram que o problema tenha se agravado ultimamente. Aliás, todas as pesquisas mostram que, quando se pedem comparações entre os governos do PT e do PSDB, a maioria acha que era mais sério antes da vitória de Lula.
Perguntadas sobre qual partido “tem políticos mais desonestos ”, as pessoas tendem a dizer “todos” (30%) ou (o que é parecido) não saber qual (36%). PT, PMDB e PSDB empatam, cada um com cerca de 8%, entre os que mencionam algum.
A corrupção não é, portanto, um tema que esteja pegando fogo na opinião pública. E não há, hoje, “culpados” claros por ela (como houve no passado, quando chegou a levar milhões de caras pintadas às ruas).
O mais importante, contudo, é que a grande maioria da população aprova o governo e confia na sua atuação. As pessoas acreditam que a corrupção é um dos muitos problemas que o país tem e que estão sendo enfrentados por Dilma.
É por que a opinião pública pensa assim que a “indignação” mobiliza tão pouca gente. Apesar dos esforços em contrário de alguns (poderosos).
Marcos Coimbra, sociólogo e presidente do Instituto Vox Populi
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