Sem dúvidas estamos vivendo na época dos indignados. Mundo afora e em diferentes idiomas, esta palavra se converteu na bandeira dos protestos políticos, sindicais, juvenis e sociais. Mas a novidade é que, agora, os indignados começam a se expressar também no glamoroso mundo do futebol.
Mas o fato importante é que esta mudança, para pior, não passou despercebida e começa a ser contestada...
Em vários países e regiões, setores que gostam de futebol, refletindo o desejo de transparência, de mudança e de rejeição à corrupção, e como uma expressão, ainda que minúscula e distorcida, das importantes manifestações ocorridas recentemente no mundo, começam a demonstrar sua indignação.
A primeira manifestação ocorreu durante a eleição das sedes para os Mundiais de 2018 e 2022, quando alguns dos máximos dirigentes da FIFA foram flagrados vendendo seus votos para favorecer a Rússia e o Qatar, eleitas em detrimento da Inglaterra. Principal prejudicada, a inventora do futebol ameaçou se desfiliar da máxima entidade e, pressionada pela opinião pública, seus políticos chegaram a tratar do tema no próprio Parlamento Britânico, onde foram ventiladas uma série de denuncias contra dirigentes, dentre eles, o presidente da CBF Ricardo Teixeira e seu ex-sogro João Havelange, ex-chefe da FIFA durante 25 anos.
Também a eleição para presidente da FIFA foi um vexame. Um dos postulantes ao cargo, o asiático Mohamed Bin Hammam, foi banido por corrupção, deixando o caminho livre para a perpetuação de Joseph Blatter, outro corrupto, acusado pelo jornalista britânico Andrew Jennings, autor do livro "Jogo sujo: O Mundo Secreto da FIFA", de negociatas com a família do ditador líbio Gaddafi. Tão escandalosa foi a eleição de Blatter, que o primeiro-ministro da Inglaterra David Gordon qualificou a mesma como "uma farsa" e expressou que a instituição "nunca tinha estado num nível tão baixo". Claro que, o governante só tentava dar uma resposta à torcida inglesa, depois de fracassar no seu intento por sediar a copa de 2018, já que, na Inglaterra, importantes clubes estão nas mãos das máfias russas que lavam dinheiro mediante milionárias contratações.
Mas a rebelião excede os interesses conjunturais de Gordon. O ex-jogador alemão Karl-Heinz Rummenigge, presidente da Associação de Clubes Europeus, criticou Joseph Blatter e pediu uma revolução contra a corrupção na FIFA: "Não aceito mais que sejamos liderados por pessoas que não são sérias e limpas..." [] "Blatter diz que está a lutar contra a corrupção, mas a verdade é que ninguém acredita no que ele diz. Não estou optimista com o futuro do futebol, porque eles acreditam que o sistema que aí está é perfeito. O futebol é uma máquina de dinheiro, Mundial após Mundial. E, para eles, isso é o mais importante, mais do que ter uma gestão séria e limpa", explicou o ex-craque alemão.
Teixeira e Grondona com os dias contados?
Se na Europa a coisa começa a fervilhar, não é diferente deste lado do océano. Muitas vozes se levantam contra estes dois sinistros personagens que, faz décadas, mandam na CBF e na AFA, representantes do futebol do Brasil e da Argentina, as duas maiores escolas de futebol do mundo.
Grondona, ou "don Julio", como é chamado ao melhor estilo de don Corleone, é vice-presidente Executivo da FIFA e presidente da AFA (Associação do Futebol Argentino) há 32 anos. Este recorde de permanência no cargo, que, na eleição de outubro, pretende alongar por mais quatro anos, foi conquistado mediante a armação de uma máquina mafiosa, da qual se beneficiou economicamente, e da proteção dos governos de turno, à sombra dos quais nunca teve que enfrentar investigações. Por isso, não é casual ver-lo em fotos ao lado do genocida general Videla, que o nomeou presidente da AFA em 79, em plena ditadura militar, como, atualmente, com a presidenta Cristina Kirchner, cujo governo lhe financia grande parte dos torneios, já que se utiliza do popular esporte como parte de seu marqueting político.
Mas a estrela de Grondona também começa a declinar. Uma recente pesquisa nacional acaba de demonstrar que 98% dos torcedores (hinchas) argentinos são contra que don Julio continue à frente da AFA. Como parte dessa oposição, os indignados do futebol argentino preparam uma marcha de torcidas, em frente à sede da entidade, sob o lema: "Chau Grondona" ("Vai embora Grondona"). Preocupado por sua popularidade, o governo K, que preparava junto à AFA um projeto de torneio para devolver River à Primeira Divisão no tapetão, depois dessa pesquisa, rapidamente tomou distância do cartola e engavetou o projeto.
O Fora Teixeira também já deixou de ser uma bandeira pessoal do jornalista Juka Kfuri para começar a ser levantada por vários setores amantes do futebol. Com mais de 20 anos à frente da CBF, a biografia de RT está recheada de denúncias de corrupção e de CPIs. Mas, ao igual que seu vizinho Grondona, Teixeira sabe melhor que ninguém que, para não ser incomodado, a fórmula mágica é ser amigo dos que governam, afinal tão corruptos quanto ele.
Por ocasião da escolha do Brasil como país sede da Copa do Mundo de 2014, 12 governadores foram à Europa a convite de Ricardo Teixeira. Na volta, junto à bancada da bola, eleita com financiamento da CBF, influenciaram para impedir a instalação da CPMI do Corinthians/MSI. Sob o argumento de que a CPI poderia influenciar na escolha da sede, conseguiram que 71 parlamentares mudassem de opinião e retirassem seu nome, impedindo a investigação de uma negociata que incluia Teixeira.
É tanta corrupção que fica difícil ocultar. Depois de denuncia da BBC de que Teixeira e outros dirigentes da FIFA tinham recebido milionárias propinas da ISL, empresa de marketing da entidade, os dirigentes se viram obrigados a fazer um acordo com a justiça suiça, país sede da FIFA, para devolver a dinheirama recebida e se livrar dos processos. Em 1996 a CBF, que até então apresentava lucros en seus balanços anuais, fechou um acordo com a Nike por U$ 160 milhões e, curiosamente, desde esse momento começõu a ter prejuizos. Aí apareceram empréstimos de origem duvidosa, com juros muito acima do mercado. Descobriu-se que empresas suas e de seus "amigos" eram as que faziam as transações irregulares dos empréstimos.
2014: A Copa da corrupção
Depois de todas que Teixeira aprontou, o governo Lula lhe cedeu o comando da organização da Copa do Mundo 2014. É a prova de que o governo joga com as mesmas cartas que o cartola e, junto a importantes setores de empresários, estão se esfregando as mãos pelos negócios que farão com o evento esportivo. Se não fosse essa cumplicidade, Teixeira não duraria nem um minuto no comando depois de suas debochadas declarações à revista Piauí: "Em 2014, posso fazer a maldade que for. A maldade mais elástica, mais impensável, mais maquiavélica. Não dar credencial, proibir acesso, mudar horário de jogo. E sabe o que vai acontecer? Nada. Sabe por quê? Por que eu saio em 2015. E aí, acabou"
O apoio a Teixeira por parte do poder político se consolidou durante o governo Lula e com a nomeação do Brasil como sede da Copa do Mundo 2014. Nessa empreitada, o governo, de fato, associous-se a Ricardo Teixeira, que à frente da CBF e do COL (Comitê Organizador Local) será o principal executivo de um evento de investimentos e patrocínios milionários. Não é casual que a TAM, patrocinadora oficial da seleção brasileira, tenha-lhe "presenteado" com um jato como agradecimento pelos serviços prestados, ou melhor, pelos "contratos assinados".
Por isso, o governo, que começou falando que não iria investir um tostão na Copa, porque isso seria o papel da iniciativa privada, a pouco andar mudou o discurso e de forma direta ou indireta, via BNDES, já está empenhando bilhões em obras de duvidoso retorno. Além do que, até o chute inicial do primeiro jogo, vários milhões irão pingando aqui e acolá. Segundo o Portal da Transparência, o ministro dos Esportes Orlando Silva (PCdoB), acaba de assinar um contrato milionário com a Calandra Soluções, empresa que oferecerá: "Serviços de implantação da solução de gestão de informações participação colaborativa que será adotada para acompanhamento e controle do Plano Diretor da Copa". Você não entendeu? Não importa, é disso que se trata.
Por sua vez, o governador do estado e o prefeito do Rio de Janeiro, acabam de antecipar um brinde a seus parceiros dos próximos anos. Deram à Globo R$ 30 milhões para organizar a festa do sorteio das eliminatórias, evento de pouca importância que na África do Sul 2010 custou U$ 2 milhões e que, além do mais, deveria ter sido financiado pela própria FIFA, dona do evento, que ganha rios de dinheiro sem aportar nada a não ser exigências ao país organizador. Também as empresas multinacionais que financiam a entidade deveriam ter aportado para o evento, mas nada gastaram.
Nem precisaram, porque os governos estadual e municipal do Rio, que negam aumento de salário para os professores, ofereceram-se prestamente para botar o dinheiro no cofre da Globo.
Este mesmo governo que esculacha os bombeiros, se ajoelha frente a esses cartolas corruptos. Joseph Blatter e Jerome Volker, que vieram ao Brasil para a realização do "sorteio dos grupos das eliminatórias", além de receber a chave de ouro da cidade das mãos das deslumbradas autoridades, foram recebidos com honras de Presidente de dar inveja até à própria Dilma. Os cartolas da FIFA foram conduzidos pela cidade em carros oficiais e acompanhados permanentemente por um grupo de batedores, deferência que o cerimonial oficial oferece somente aos chefes de estado.
As denuncias contra os altos dirigentes do futebol se espalham pelo mundo. A organização da Copa do Mundo, antes de começar, já oferece provas da existência de corrupção, de superfaturamento e de grandes negócios para os cartolas, os políticos e os grupos de empresários que irão efetuar as obras.
Mas, diferente de outras épocas, começa a haver um movimento contra esses desmandos. Em nosso país, o Fora Teixeira ganhou dezenas de sites e milhares de participantes que interatuam na internet.
Esses protestos não podem ficar só no campo virtual, devem se incorporar às manifestações de rua que começam a despontar. Uma rebelião organizada, pode desmascarar e banir dirigentes corruptos, exigir condenações, confisco de bens e a devolução dos dinheiros roubados.
Somente assim será possível fazer com que essa festa tão popular e bonita chamada futebol tenha por protagonistas os esportistas e a paixão dos torcedores, e não a podridão da corrupção e da roubalheira.
Para tanto, como em qualquer luta, será necessário que o mundo do futebol comece a mobilizar seus indignados.
A primeira manifestação ocorreu durante a eleição das sedes para os Mundiais de 2018 e 2022, quando alguns dos máximos dirigentes da FIFA foram flagrados vendendo seus votos para favorecer a Rússia e o Qatar, eleitas em detrimento da Inglaterra. Principal prejudicada, a inventora do futebol ameaçou se desfiliar da máxima entidade e, pressionada pela opinião pública, seus políticos chegaram a tratar do tema no próprio Parlamento Britânico, onde foram ventiladas uma série de denuncias contra dirigentes, dentre eles, o presidente da CBF Ricardo Teixeira e seu ex-sogro João Havelange, ex-chefe da FIFA durante 25 anos.
Teixeira e Grondona com os dias contados?
Mas a estrela de Grondona também começa a declinar. Uma recente pesquisa nacional acaba de demonstrar que 98% dos torcedores (hinchas) argentinos são contra que don Julio continue à frente da AFA. Como parte dessa oposição, os indignados do futebol argentino preparam uma marcha de torcidas, em frente à sede da entidade, sob o lema: "Chau Grondona" ("Vai embora Grondona"). Preocupado por sua popularidade, o governo K, que preparava junto à AFA um projeto de torneio para devolver River à Primeira Divisão no tapetão, depois dessa pesquisa, rapidamente tomou distância do cartola e engavetou o projeto.
O Fora Teixeira também já deixou de ser uma bandeira pessoal do jornalista Juka Kfuri para começar a ser levantada por vários setores amantes do futebol. Com mais de 20 anos à frente da CBF, a biografia de RT está recheada de denúncias de corrupção e de CPIs. Mas, ao igual que seu vizinho Grondona, Teixeira sabe melhor que ninguém que, para não ser incomodado, a fórmula mágica é ser amigo dos que governam, afinal tão corruptos quanto ele.
Por ocasião da escolha do Brasil como país sede da Copa do Mundo de 2014, 12 governadores foram à Europa a convite de Ricardo Teixeira. Na volta, junto à bancada da bola, eleita com financiamento da CBF, influenciaram para impedir a instalação da CPMI do Corinthians/MSI. Sob o argumento de que a CPI poderia influenciar na escolha da sede, conseguiram que 71 parlamentares mudassem de opinião e retirassem seu nome, impedindo a investigação de uma negociata que incluia Teixeira.
É tanta corrupção que fica difícil ocultar. Depois de denuncia da BBC de que Teixeira e outros dirigentes da FIFA tinham recebido milionárias propinas da ISL, empresa de marketing da entidade, os dirigentes se viram obrigados a fazer um acordo com a justiça suiça, país sede da FIFA, para devolver a dinheirama recebida e se livrar dos processos. Em 1996 a CBF, que até então apresentava lucros en seus balanços anuais, fechou um acordo com a Nike por U$ 160 milhões e, curiosamente, desde esse momento começõu a ter prejuizos. Aí apareceram empréstimos de origem duvidosa, com juros muito acima do mercado. Descobriu-se que empresas suas e de seus "amigos" eram as que faziam as transações irregulares dos empréstimos.
2014: A Copa da corrupção
Depois de todas que Teixeira aprontou, o governo Lula lhe cedeu o comando da organização da Copa do Mundo 2014. É a prova de que o governo joga com as mesmas cartas que o cartola e, junto a importantes setores de empresários, estão se esfregando as mãos pelos negócios que farão com o evento esportivo. Se não fosse essa cumplicidade, Teixeira não duraria nem um minuto no comando depois de suas debochadas declarações à revista Piauí: "Em 2014, posso fazer a maldade que for. A maldade mais elástica, mais impensável, mais maquiavélica. Não dar credencial, proibir acesso, mudar horário de jogo. E sabe o que vai acontecer? Nada. Sabe por quê? Por que eu saio em 2015. E aí, acabou"
O apoio a Teixeira por parte do poder político se consolidou durante o governo Lula e com a nomeação do Brasil como sede da Copa do Mundo 2014. Nessa empreitada, o governo, de fato, associous-se a Ricardo Teixeira, que à frente da CBF e do COL (Comitê Organizador Local) será o principal executivo de um evento de investimentos e patrocínios milionários. Não é casual que a TAM, patrocinadora oficial da seleção brasileira, tenha-lhe "presenteado" com um jato como agradecimento pelos serviços prestados, ou melhor, pelos "contratos assinados".
Por isso, o governo, que começou falando que não iria investir um tostão na Copa, porque isso seria o papel da iniciativa privada, a pouco andar mudou o discurso e de forma direta ou indireta, via BNDES, já está empenhando bilhões em obras de duvidoso retorno. Além do que, até o chute inicial do primeiro jogo, vários milhões irão pingando aqui e acolá. Segundo o Portal da Transparência, o ministro dos Esportes Orlando Silva (PCdoB), acaba de assinar um contrato milionário com a Calandra Soluções, empresa que oferecerá: "Serviços de implantação da solução de gestão de informações participação colaborativa que será adotada para acompanhamento e controle do Plano Diretor da Copa". Você não entendeu? Não importa, é disso que se trata.
Por sua vez, o governador do estado e o prefeito do Rio de Janeiro, acabam de antecipar um brinde a seus parceiros dos próximos anos. Deram à Globo R$ 30 milhões para organizar a festa do sorteio das eliminatórias, evento de pouca importância que na África do Sul 2010 custou U$ 2 milhões e que, além do mais, deveria ter sido financiado pela própria FIFA, dona do evento, que ganha rios de dinheiro sem aportar nada a não ser exigências ao país organizador. Também as empresas multinacionais que financiam a entidade deveriam ter aportado para o evento, mas nada gastaram.
Nem precisaram, porque os governos estadual e municipal do Rio, que negam aumento de salário para os professores, ofereceram-se prestamente para botar o dinheiro no cofre da Globo.
Este mesmo governo que esculacha os bombeiros, se ajoelha frente a esses cartolas corruptos. Joseph Blatter e Jerome Volker, que vieram ao Brasil para a realização do "sorteio dos grupos das eliminatórias", além de receber a chave de ouro da cidade das mãos das deslumbradas autoridades, foram recebidos com honras de Presidente de dar inveja até à própria Dilma. Os cartolas da FIFA foram conduzidos pela cidade em carros oficiais e acompanhados permanentemente por um grupo de batedores, deferência que o cerimonial oficial oferece somente aos chefes de estado.
As denuncias contra os altos dirigentes do futebol se espalham pelo mundo. A organização da Copa do Mundo, antes de começar, já oferece provas da existência de corrupção, de superfaturamento e de grandes negócios para os cartolas, os políticos e os grupos de empresários que irão efetuar as obras.
Mas, diferente de outras épocas, começa a haver um movimento contra esses desmandos. Em nosso país, o Fora Teixeira ganhou dezenas de sites e milhares de participantes que interatuam na internet.
Esses protestos não podem ficar só no campo virtual, devem se incorporar às manifestações de rua que começam a despontar. Uma rebelião organizada, pode desmascarar e banir dirigentes corruptos, exigir condenações, confisco de bens e a devolução dos dinheiros roubados.
Somente assim será possível fazer com que essa festa tão popular e bonita chamada futebol tenha por protagonistas os esportistas e a paixão dos torcedores, e não a podridão da corrupção e da roubalheira.
Para tanto, como em qualquer luta, será necessário que o mundo do futebol comece a mobilizar seus indignados.
Ousar lutar, ousar vencer
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