Em 27 de fevereiro de 1933, quatro dos mais poderosos homens da Alemanha estavam reunidos em dois jantares distintos. No seleto Herrenklub, o vice-chanceler Franz von Papen divertia-se com o presidente Paul von Hindenburg. Enquanto isso, na casa de Josef Goebbels, o recém-nomeado chanceler Adolf Hitler fora convidado para um jantar íntimo.
“De repente”, contou mais tarde Goebbels em seu diário, “recebemos uma telefonema do Dr. Hanfstaengl: O Reichstag está em chamas!”. Goebbels, a princípio, não acreditou, mas o jantar do Herrenklub ficava a poucos metros do Reichstag. “Subitamente”, escreveu Papen mais tarde, ”notamos um brilho vermelho nas janelas e ouvimos gritos na rua. Hindenburg e eu pudemos ver o edifício do parlamento alemão pegando fogo”.
Depois de várias ligações telefônicas, Goebbels e Hitler saíram correndo “a 100 quilômetros por hora pela Chaussee Charlottenburger, em direção ao local do crime”. Goering já estava no local. Transpirando e bufando, quase apoplético, gritava: “Este é um crime comunista contra o novo governo! Isto é o princípio da revolução comunista. Não devemos esperar um minuto. Não teremos piedade. Todo militante comunista deve ser morto onde for encontrado, todo deputado comunista deve ser enforcado nesta mesma noite”.
Do palácio do presidente do Reichstag, uma passagem subterrânea, construída para a canalização do sistema de aquecimento central, levava ao edifício. Através desse túnel, Karl Ernst, líder das SA (Sturmabteilung) em Berlim dirigiu naquela noite um pequeno destacamento das tropas de assalto, espalharam gasolina e substâncias químicas de autocombustão e regressaram rapidamente ao palácio. Um comunista holandês, piromaníaco, Marinus van der Lubbe, havia penetrado no imenso edifício às escuras, riscando alguns fósforos. Fora preso pelas S.A. poucos dias antes por ter se gabado num bar que tentaria incendiar o Reichstag.
A coincidência parece incrível, mas indícios posteriores provam que isto realmente aconteceu. Ficou provado no subseqüente julgamento em Leipzig que o holandês não possuía os meios necessários para atear rapidamente fogo em tão imenso edifício. Segundo o testemunho de técnicos no julgamento, o fogo foi ateado com considerável quantidade de gasolina e substâncias químicas. Um homem só não poderia tê-lo iniciado.
Van der Lubbe foi preso no local. Ernst Torgler, líder parlamentar comunista, apresentou-se no dia seguinte à polícia depois de Goering tê-lo acusado. Poucos dias depois, Georgi Dimitroff, um comunista búlgaro que mais tarde tornou-se primeiro-ministro de seu país, e dois outros comunistas búlgaros, foram presos. O julgamento dos búlgaros pela Suprema Corte de Leipzig converteu-se em um revés para os nazistas e sobretudo para Goering. Dimitroff, atuando em causa própria, transformou Goering num bobalhão com suas múltiplas perguntas. Irritado, gritou para o búlgaro: “Fora daqui, seu miserável!”
Torgler e os 3 búlgaros foram absolvidos. O líder alemão foi colocado sob custódia até sua morte. Van der Lubbe foi julgado culpado e decapitado.
Liberdades civis
No dia posterior ao incêndio, Hitler persuadiu o presidente Hindenburg a assinar um decreto “pela Proteção do Povo e do Estado”, apresentado como “medida defensiva contra os atos de violência dos comunistas”, suspendendo as sete seções da Constituição que garantiam as liberdades individuais e civis.
Dessa forma, com um só golpe, Hitler foi capaz não apenas de manipular legalmente seus adversários, como prendê-los, ao tornar oficial a ameaça comunista, levando milhares de cidadãos da classe média e do campo a um estado de pânico, medo de que se não votassem nos nazistas nas eleições da semana seguinte, os bolcheviques assumiriam o poder.
Foi a primeira experiência que os alemães tiveram do terror nazista. Caminhões carregados de S.A. rangiam pelas ruas da Alemanha, invadindo residências, arrebanhando vítimas, carregando-as para quartéis onde eram espancadas e torturadas. A imprensa e os comícios políticos dos comunistas foram suprimidos. Os jornais social-democratas e muitos periódicos liberais suspensos e os comícios dos partidos democráticos proibidos ou interrompidos.
*Com informações do livro Ascensão e Queda do III Reich (William Shirer).
Max Altman
Com a colaboração de Maurício Porto
By: OperaMundi
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