Petistas, lulistas, dilmistas de esquerda e direita ou de quaisquer outras tendências, regozijam-se. Inclusive os nem uma coisa ou outra, tão somente acometidos por incontrolável rejeição ao candidato do PSDB. Esses se consideram vingados da prepotência, pela antipatia à arrogância.
Outros, por aversão às mentiras. Alguns pela ineficácia nas gestões, pela incompetência. Há os indispostos com a legenda, indignados com as ações do partido nas representações legislativas na Câmara ou no Senado, no executivo de municípios e estados. Muitos teimam em se reportar ao desastrado governo FHC e, vários, às ligações diretas e indiretas com a truculência da ditadura.
Há quem também confira aos esquemas de corrupções montados por aliados e correligionários, outros às manobras e armações, às calunias, e tudo o mais.
Mas uma análise mais profunda do eleitor brasileiro sobre si mesmo, esclareceria com mais precisão quanto se é injusto ao apontar José Serra ou apenas o PSDB como exclusivos responsáveis pela derrota antecipada.
Se o eleitor brasileiro se observasse melhor, se procurasse entender um pouco mais de suas próprias reações, certamente descobriria que José Serra já perdeu as eleições de 2010 desde quando ainda sequer era candidato.
Então Serra talvez até torcesse pelo Lula, influenciado pela mesma crença de seu mentor, o Henrique Cardoso, de que o operário não teria condições de fazer um bom governo, gerando a oportunidade para que assumissem a presidência do país à qual se sucederiam entre si por muitas gestões.
Daquela vez quase acertaram, pois embora Lula não fosse eleito, Collor de Melo realizou seus anseios. Mas mesmo sem perceberem, foi ali que Serra começou a perder.
Para ser mais exato, já começara a perder a eleição de 2010 em 1984 quando a Mídia brasileira negou aos seus leitores e espectadores a divulgação da multidão que ocupava as ruas, avenidas e praças do país. Insensível à evidência de que aqueles que então defendiam o direito de serem reconhecidos como cidadãos capazes de discernimento do presente e planejamento do futuro, constituíam o público que justifica a existência dos meios de comunicação de massa.
Negaram a massa e foi onde a Mídia começou o processo da acachapante derrota antecipada do filho de imigrante: José Chirico Serra.
Psicólogos sabem não ser um momento de negação a uma criança ou adolescente que a fará desenvolver alguma aversão ou trauma, mas hipnotizadores atestam que mesmo quando aparentemente não importantes, tais acontecimentos ficam gravados no subconsciente das pessoas por todas suas vidas. Ainda mais numa situação de comoção como a na época vivida pelos brasileiros, após 2 décadas de uma ditadura sangrenta e tanto defendida pela Mídia por realizações de dúbios benefícios e que a população do país teve de arcar com uma crescente dívida externa, expressa em progressiva inflação e decadência de condições de vida ao longo de duas décadas.
Mas, apesar de então vociferar em uníssono: “Fora Globo que o povo não é bobo!”, o eleitor superou o trauma de ser enganado e, ainda ao final daquela década, voltou a acreditar na Mídia quando esta construiu e apresentou um bonito embrulho chamado Collor de Melo.
Pedagogos alertam para o perigo de se recorrer permanentemente às falsas promessas, pois muito difícil reconstruir a credibilidade perdida. No entanto, além da decepção com o embrulho vazio, atemorizado diuturnamente pelo bicho papão insuflado pelos militares, castrando-lhe os anseios de consumo alimentados pela Mídia, o eleitor confiou no estilo circunspecto de intelectual, distinto do jeitão de herói de matinê do antecessor candidato da Mídia.
Enquanto a coisa parecia ter dado certo, até que os meios de comunicação se recolheram a função que lhes compete sem promover condicionamentos, posto que a classe média, a princípio, parecia medianamente satisfeita. Mas foi só o intelectual se comprovar mero colecionador de fórmulas e frases de efeito negativo, para jornalistas, cronistas e editores tentarem justificá-lo encobrindo erros evidentes e gritantes. Até naufrágio de Plataforma Marítima passou a ser algo muito natural e corriqueiro, pequeno prejuízo sem motivo algum de alarde, apesar da morte de mais de uma dezena de trabalhadores.
Daí pra frente ficou difícil, afinal o eleitor não é nenhuma criança e sabe quando a casa está caindo por mais que a Mídia tente convencer que “é assim mesmo. Telhado só atrapalha. Ar fresco do relento é mais agradável...”
Mas então, desempregado, sem crédito e no escuro do apagão, o eleitor brasileiro cansou e não deu mais ouvidos a desafinação histérica da imprensa. Ocorreu uma inversão de papéis, como se o paciente passasse a tratar das crises maníaco/depressiva do médico delirante.
Qualquer analista sabe que a melhor terapia é estimular a autoconfiança, transmitir segurança. Pois a Mídia fez o contrário: ameaçou, difundiu o medo, a insegurança. Em verdade nem o profissional de comunicação é um terapeuta nem o eleitor um paciente, mas um comunicador tem de ter noção das similaridades entre as relações dos meios de comunicação com o público e do psicólogo com aqueles aos quais deve ajudar ao conhecimento da própria realidade. Dessa forma é que se promove a constituição de pessoas e sociedades sadias, resolvidas, capazes de superar eventuais dificuldades.
A Mídia brasileira, ao invés de estimular a autoestima, fez o que pôde para incutir a autodepreciação, a depressão, o complexo de inferioridade. Por incompetência profissional ou interesses inconfessos, falhou ainda mais do que quando construiu o antigo invólucro vazio. Naquela ocasião também se apelou para a desconstrução da imagem do adversário, o que apesar de pouco recomendável não deixa de ser tática de marketing; mas, dessa vez, talvez por receio de repetir a falha do candidato próprio, concentraram apenas em degradação imagética, esquecendo-se de oferecer ao eleitor algo melhor do que quem apontavam como péssimo.
Jung explica bem sobre a refirmação de um arquétipo a que se pretende destruir sem correlata construção de outro que preencha o vácuo das carências e ansiedades da imaginação humana. Mas a Mídia preferiu errar duplamente, revelando-se exclusivamente especializada em promoção de destruição, sem capacidade de construção de coisa alguma além de falácias.
Pior do que um médico canastrão é uma equipe de médicos canastrões a confirmarem mútuas imperícias e incapacidades e assim as maiores empresas de comunicação do Brasil se conformaram, à compreensão do eleitor, em corporação mal intencionada com o país e o seu povo, sem nada de honesto e crível a apontar, ou apontando apenas o que seja nocivo, deletério. Como qualquer aliciador ao vício e maus costumes.
A relação entre a Mídia e seus leitores e espectadores se tornou ainda mais crítica com o sucesso do segundo governo Lula, contradizendo todas as previsões apocalípticas. Oportuno momento para o profissional medianamente perspicaz e inteligente reconquistar a confiança de seu público num caso ou do paciente no análogo, reconhecendo a falibilidade do método utilizado e sugerindo um novo caminho, uma nova conduta terapêutica em busca de maior aproximação à compreensão sadia da realidade.
Poderiam até ter reutilizado a hipocrisia à qual tanto recorrem, aproveitando para, ao tempo em que fingissem algum entusiasmo pelas conquistas do país, desenvolver alguém ou algo razoavelmente verossímil para mais adiante, próximo às eleições, tentar sombrear a popularidade do governo Lula. Mas caíram na pior estupidez que pode cometer um meio de comunicação ou um psicanalista, tentando negar a realidade, buscando omitir e minimizar a repercussão mundial de incontestáveis méritos e surpreendentes resultados, apesar da crise financeira mundial.
Conclusão: atônito, quem deveria ser o paciente assusta-se com os surtos esquizofrênicos da Mídia, sem condições de compreender do que sofre a louca a se escandalizar com o que foi corriqueiro em governos anteriores e desconsiderar fatos nacionais anunciados como espetaculares pelas principais publicações do mundo. Algo assim como pendurar à parede um diagnóstico de insanidade mental com moldura de diploma.
Imprevidente, foi a esses malucos que o PSDB confiou toda sua articulação política. Desde a eleição de Fernando Henrique e apesar da morte de Mário Covas, o PSDB não se preocupou em construir uma liderança ou fazer de um integrante de seu quadro uma personalidade com algum espectro político. Ao longo das duas gestões do governo Lula os tucanos apenas se ocuparam em estimular o denuncismo, as ilações, produções de factoides que justificassem CPIs. Tentavam cavar desconfianças no eleitor ou reação das Forças Armadas para um golpe escorado no vazio do aparente, da cogitação não fundamentada.
Dessa forma, confundiram-se ao ponto de ser impossível ao eleitor distinguir quem é a extensão do outro: se a Mídia do PSDB, ou vice-versa. Quando uma Folha de São Paulo reproduz montagem em programas gráficos de foto ou documento, ou a revista Veja reporta conversas de celulares e reuniões que anuncia de portas fechadas; entende-se que mentirosos e falsários sejam todos, compondo uma única quadrilha.
Pra piorar, incitam um reduzido mas estoico exército de zumbis em permanente bad trip que pela internet distribuem inconsistências e absurdos delirantes. Até documentos de corporações de espionagem internacional sobre a eminência de um golpe para Lula se perpetuar no poder! Seja o que for forjado, desde que corresponda aos delírios de suas paranoias, para eles é comprovação do inconteste e não há necessidade alguma de qualquer confirmação. Se receberem foto do Taj Mahal com alguma legenda que indique ter sido o presente de aniversário do Presidente à Dona Mariza, farão circular com prazer orgástico de masturbação compulsiva.
Um hospício! E muitos, para não serem confundidos com tamanha demência, por mera vergonha acabam engrossando a intenção de votos em Dilma Rousseff, mesmo que ainda há alguns meses pensassem na possibilidade de votar em José Serra.
Grande parte da surpreendente ascensão em intenções de votos da primeira mulher a presidir o Brasil, sem dúvida se deve a transferência do histórico índice de popularidade do Presidente. Mas mesmo os que jamais votariam em Lula por preconceitos sócio/regionalistas, e tampouco são afetados pelos programas sociais do governo, ou pelo igualmente inédito ritmo de desenvolvimento do país, nem mesmo pelas inúmeras obras de infraestrutura nos interiores e periferias dos grandes centros; se tornam decididos eleitores de Dilma Rousseff com forte rejeição ao José Serra produzida pela desinteligência do que circula pela internet ou se edita na Mídia.
O amadurecimento do eleitor e do povo brasileiro não mais permite que a confunda ficha de internação de alienista com diploma de especialização de psiquiatra, e quem vem sendo apontado como mentalmente descompensado é o candidato mal construído, mal orientado e mal conduzido pela história dos meios de comunicação do Brasil, ao ponto de achaques como no link abaixo demonstrado, além de demissões sumárias por motivos fúteis e outros atos inerentes à insegurança de infantes mimados.
Por agora se anuncia que após o término do horário eleitoral gratuito, sem tempo para desmentidos, a Mídia irá disparar uma bala de prata para impedir a vitória de Dilma Rousseff no primeiro turno.
No macarrônico farwest em que a Mídia brasileira tem transformado as disputas eleitorais, isso já se tornou um chavão que no momento se repete com a acusação ao filho da Ministra da Casa Civil por indicar os serviços regulares de uma empresa especializada a uma companhia estatal, como se tal fato pudesse superar recorrentes recordes mensais em criação de empregos formais ou aumento de poder aquisitivo da população em geral ou se confundir às falências fraudulentas de tradicionais instituições financeiras promovidas por familiares de FHC e as associações entre filhas de políticos do PSDB as de afamados golpistas e contrabandistas.
A única novidade é que os solitários a desaparecerem no horizonte do deserto sob o letreiro “The End”, são os bandidos. Pois o “mocinho” na versão nacional tem por companhia 80% da população do país. Além disso, agora a história terá uma heroína, ao invés de outro inexpressivo John Wayne.
Coitado do Serra! Depois de desperdiçar toda a munição no próprio pé, ser derrubado pela misericórdia de um tiro de culatra é mesmo de traumatizar o mais cruel dos pistoleiros.
Raul Longo
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