terça-feira, 9 de fevereiro de 2010

Por que FHC não se cala







Mais uma vez ele veio a público e trouxe de volta as lembranças daqueles anos de penúria que ainda fazem os brasileiros estremecerem. FHC, em artigo publicado no Estadão deste domingo, diz que não tem medo de comparar sua gestão com a de Lula.

O que importa ao país, no entanto, não é a versão dele dos fatos, mas por que o ex-presidente continua se fazendo lembrar por essa maioria avassaladora da sociedade que discorda dele e que comprovadamente acha que o atual governo é muito melhor do que o seu.

Pesquisa CNT/Sensus divulgada em 23 de dezembro do ano passado revelou que 76% dos brasileiros acham que os sete anos do governo Lula são melhores do que os oito anos do governo FHC. A pesquisa ocorreu entre os dias 16 e 20 de novembro e entrevistou 2 mil pessoas, com margem de erro de 3%.

Já FHC, em seu artigo, elenca supostos êxitos de sua administração dos quais a sociedade desdenha de forma tão decidida em pesquisa de opinião e em duas eleições presidenciais.

Surge, assim, uma questão: por que o ex-presidente não se cala e pendura as chuteiras? A cada vez que se manifesta, joga seu governo desastroso sobre os ombros de seu sucessor não só como ideólogo, mas como ídolo de ricaços, de artistas, de acadêmicos e de empresários (sobretudo de mídia) do Sul e do Sudeste.

Esse herdeiro de FHC é o governador José Serra. Ele e o ex-chefe (de quem foi ministro em dois ministérios distintos, o do Planejamento e o da Saúde) continuam sendo a antítese de Lula, e para sorte do governador muitos não se lembram disso.

Aliás, sobre a imagem de Serra no imaginário popular boa parte dos que dizem que poderão votar nele para presidente acham que é o candidato de Lula, conforme detectou pesquisa Vox Populi divulgada no fim de janeiro.

Em quadro tão adverso, FHC não se cala por que?

Vaidade, por exemplo. Acredito que o ex-presidente, que carregou durante a vida de acadêmico um orgulho intelectual imenso e uma visão meio Bóris “escala do trabalho” Casoy da realidade, preferiria a morte a reconhecer que um operário sem curso superior pudesse suplantar a nata da sociedade.

Deve-se entender também, nesse contexto, a fidelidade de Serra ao ex-chefe. Ele tampouco pode aceitar que um governo do qual foi ministro em duas pastas distintas, e por ter sido um dos seus principais artífices, seja considerado tão inferior ao governo do operário.

No caso de Serra, não se trata nem de orgulho. Tendo integrado um governo que a sociedade considera em tão larga escala que fracassou, fica difícil pedir que o povo o escolha presidente em lugar de uma integrante de um governo que quase todos consideram que está sendo muito melhor.

FHC não se cala sobretudo porque ainda não se deu conta de quão duro foi o período da história em que governou o Brasil. E Serra, mesmo rezando para o ex-chefe se calar, acha que tevês, rádios, jornais e revistas poderão fazer com que seja esquecido o sofrimento de parcela tão expressiva da sociedade naquela época.

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