sexta-feira, 12 de fevereiro de 2010

FHC pede votos para Serra em Miami; como ele pode ajudar a eleger Dilma



por Luiz Carlos Azenha

O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso retomou uma velha tradição: a de fazer campanha fora do Brasil. Mais exatamente, em Miami.

Deu entrevista a um colunista do Miami Herald, Andres Oppenheimer, que por falta de melhor definição, é uma toupeira, sem que com isso eu pretenda ofender o animal.

Oppenheimer é autor de um livro, "Salvando as Américas: O perigoso declínio da América Latina e o que os Estados Unidos precisam fazer" que é uma vasta coleção de asneiras e lugares-comuns de fazer corar mesmo os neocons. Parte do livro é dedicada a comparar a América Latina, por exemplo, com a Irlanda, apontada por Oppenheimer como um "exemplo" a ser seguido. Para "atrapalhar" a comparação de Oppenheimer, a Irlanda faliu.

Mas vamos ao que o colunista norte-americano escreveu:

THE OPPENHEIMER REPORT

Eleição brasileira vai oferecer um contraste definitivo

por ANDRES OPPENHEIMER, no Miami Herald


Com a candidata presidencial apoiada pelo governo Dilma Roussef subindo nas pesquisas, alguns de seus críticos mais importantes estão levantando o espectro de que o maior país da América do Sul vai se mover para mais próximo da esquerda radical se ela vencer as eleições de outubro.

O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, o arquiteto da recuperação econômica do Brasil e uma das vozes mais respeitadas da oposição, certamente pensa assim. Em uma entrevista esta semana, ele me disse que Roussef é mais "dogmática", "autoritária" e mais próxima da esquerda radical da Venezuela que o presidente-em-fim-de-mandato Luiz Inácio Lula da Silva.

Roussef, uma economista e ex-ativista da guerrilha, é chefe da Casa Civil de Lula desde 2005. Em meses recentes, Lula a levou através do país para inaugurar projetos públicos com ele, na expectativa de que a taxa de popularidade de 80% e o esperado crescimento de 5% do PIB este ano beneficiem sua candidata.

Uma pesquisa recente da firma brasileira Sensus mostra que o apoio a Roussef aumentou para 22% e os pesquisadores acreditam que vá continuar subindo junto com o reconhecimento do nome dela. O principal oponente, governador do estado de São Paulo e ex-prefeito José Serra, tem 32% dos votos. Nenhum dos dois declarou oficialmente sua candidatura.

DIFICULDADE PARA VENCER

Ela vai vencer?, perguntei a Cardoso, que apóia Serra.

"Acho que ela terá dificuldades. Ela vai melhorar nas pesquisas porque o presidente Lula acelerou o início da campanha, a oposição ainda não escolheu oficialmente um candidato e ela assim está ganhando visibilidade na mídia. Mas eu penso que, no fim do dia, quando as pessoas forem votar e olharem qual o candidato que inspira maior confiança, as coisas vão mudar".

Porque?, perguntei

"Dilma Rouseff ainda não tem qualquer experiência de liderança. Ela nunca foi eleita para nada. Ela não foi governadora, nem prefeita, nem nada. É difícil pensar que as pessoas colocariam confiança em alguém que é uma autoridade, não um líder, enquanto no outro campo você tem líderes comprovados".

Ela seria gerenciada pelo Lula?

"Eu não sei se alguém que ascende ao poder é passível de ser gerenciado. Não diria isso. Também, por causa de suas características pessoais. Ela é muito dura, uma pessoa autoritária".

O governo dela seria mais próximo da esquerda radical que o de Lula?

"Ela é mais próxima do Partido dos Trabalhadores. O Lula tem maior independência do partido. Ele transcendeu o partido. Lula é um negociador talentoso, um ex-sindicalista. Ele não é um homem de confronto; ele é um negociador. Ele tem a capacidade de mudar de ideia... Eu não penso que Dilma faria isso, porque ela é mais -- talvez isso seja um pouco duro - dogmática. Ela tem uma visão ultrapassada... favorecendo uma maior interferência do estado na economia".

A Dilma seria mais próxima do esquerdista radical da Venezuela, presidente Hugo Chávez?

"Provavelmente. De qualquer forma, você precisa considerar que as instituições do país são fortes e que as pessoas no poder não podem fazer tudo o que querem. Ela pode querer, mas a liderança de outros grupos políticos, a existência da imprensa livre, de companhias fortes, universidades, etc. tudo isso trabalha como contrapeso. Mas, tendo dito isso, o coração de Dilma é mais próximo da esquerda".

GRÃO DE SAL

Minha opinião: A corrida presidencial do Brasil está em pleno andamento e precisamos considerar o que dizem os dois lados com um grão de sal.

A estratégia eleitoral de Serra -- até agora anunciada por Cardoso, enquanto Serra se poupa -- será de pintar Roussef como uma candidata inexperiente e radical que levaria o Brasil para mais perto do caos econômico no estilo da Venezuela. A estratégia de Roussef será pintar Serra como um político velho cujo governo cortaria programas sociais e seria insensível com os mais pobres.

Na verdade, Roussef terá de buscar o centro se ela quiser vencer. O seu Partido dos Trabalhadores perdeu em 1989, 1994 e 1998 com plataformas esquerdistas radicais, antes de Lula buscar o centro em 2002. E Serra não é um freak livre mercadista -- ele é melhor conhecido no Brasil por enfrentar as companhias farmacêuticas quando foi ministro da Saúde e por criar uma indústria de drogas genéricas para os pobres.

Mais importante, como Cardoso reconheceu, o Brasil tem um forte sistema de equilíbrio que tornaria difícil para qualquer presidente destruir os ganhos econômicos do país nos últimos 15 anos. Apesar da política externa repulsiva de Lula -- o abraço dele nas piores ditaduras do mundo -- o Brasil provavelmente vai continuar como um modelo de comportamento econômico responsável e de redução de pobreza na América Latina.

Nota do Viomundo: Se foi mais do que uma mera entrevista, de um capricho pessoal de FHC para atender à sua própria vaidade, certamente é a estratégia eleitoral mais estúpida que já testemunhei. Se o PSDB tentar "amedrontar" a população com o espectro de Dilma, a chavista, o presidente Lula pode simplesmente lembrar aos eleitores que foi assim, também, com ele. O paradoxo diante do qual os tucanos se encontram é resultado do fato de que eles precisam convencer os eleitores de que é preciso mudar um time que está ganhando inserindo nele um jogador que promete desmontar o time. Faz muito mais sentido para os eleitores ver Serra como uma ameaça do que Dilma.

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