Nesta semana, uma grande marca internacional foi flagrada usando trabalho escravo na confecção de suas roupas que estampam vitrines de shoppings caros e luxuosos no Brasil e no mundo.
Para os mais chatos, me retifico: condições análogas à escravidão, já que os trabalhadores modernos não são submetidos à chibata, ao pelourinho. Mas esqueçamos o tecnicismo, o fato é que existe no Brasil trabalho escravo, seja em fazendas longes dos grandes centros urbanos ou em fábricas no centro de São Paulo.
Por “análogas à escravidão” se entendem cerceamento de liberdade do trabalhador, condições insalubres no local de trabalho, jornadas de trabalho muito mais longas que o permitido por lei, e, claro, nenhuma garantia trabalhista, como férias, décimo-terceiro, descanso semanal etc…
O caso dessa grande confecção não é único, e muito menos o último, como afirma Vivian Whiteman, editora de moda da Folha de S. Paulo. Chama mais atenção apenas por se tratar de uma marca famosa, mas os casos de escravidão em confecções em São Paulo são bastante conhecidos e divulgados. (O jornalistaLeonardo Sakamoto, por exemplo, tem se dedicado bastante a esta questão. Há, inclusive, uma lista suja do trabalho escravo.)
Em geral, a mão de obra escrava, ou análoga, aqui se utiliza de imigrantes que vêm de países vizinhos como Bolívia, Peru e Paraguai. Tentam fugir de duras condições de vida e caem nessa armadilha. Na Amazônia e Centro-Oeste, principais centros de trabalho escravo, mas não os únicos, são migrantes brasileiros, em especial do Nordeste, que chegam seduzidos por promessas de renda. Só conseguem sair dessa condição por atos de sorte e bravura.
Como um colega de Yahoo! me chamou a atenção, temos e devemos rechaçar toda e qualquer empresa que empregue trabalho escravo (quantas sobrarão? poderemos comer carne, açucar ou soja sem financiar essas empresas?), mas não podemos apenas individualizar a questão, e achar que são fatos isolados. É comum, é espraiado, e se baseia na lógica do lucro absoluto, desregulamentado.
Já escrevi aqui neste espaço sobre o China e seu überkapitalismus, e continuo achando que esse é o novo movimento do capitalismo. O fim do Welfare State, o fim das esperanças e da crença na meritocracia (as atuais revoltas pelo mundo têm que significar algo). Enquanto a desregulamentação completa não chega, o paraíso liberal sonhado pelos Tea Party do mundo, algumas empresas de vanguarda se adiantam a ela.
É liberdade completa do mercado, do consumo. Mas é apenas para alguns, porque esta precisa, justamente, do seu contrário para poder se realizar, precisa de “trabalho irregular”, em condições análogas à escravidão. Até porque seria muito feio chamar esse trabalho de escravidão, palavra que não cabe no mundo livre!
Nenhum comentário:
Postar um comentário