quinta-feira, 25 de agosto de 2011

A fé segundo Oscar Niemeyer

Aos 103 anos e lúcido, arquiteto lança no Rio de Janeiro um livro que tem entre os destaques os monumentos religiosos projetados por ele. Apesar de ser ateu, o mestre é referência na concepção de templos 

Thalita Lins 
Thaís Jesus, na Igrejinha da 307/308 Sul: "Quando entro aqui, sinto paz"Thaís Jesus, na Igrejinha da 307/308 Sul:
O arquiteto Oscar Niemeyer é uma daquelas personalidades que não misturam as convicções pessoais com os compromissos de trabalho. Ateu, ele é autor de dezenas de projetos que incluem catedrais, igrejas e capelas construídas em Brasília, Belo Horizonte, Rio de Janeiro e até no exterior, em países como Argélia e Alemanha. Somente na capital da República, o carioca de Laranjeiras projetou sete monumentos: Capela Nossa Senhora da Alvorada, Igreja Nossa Senhora de Fátima, Capela do Palácio do Jaburu, Igreja Apostólica Ortodoxa Antioquino de Brasília, Catedral Santa Maria dos Militares Rainha da Paz, Capela do Anexo IV da Câmara dos Deputados e Catedral Metropolitana de Brasília. Esta última é famosa no mundo inteiro e tornou-se um dos cartões-postais da cidade e do Brasil....
 As sete belezas do maior nome da arquitetura brasileira estarão presentes no livro As igrejas de Oscar Niemeyer com outras criações de mesma magnitude, entre elas composições que não chegaram a sair dos croquis. O lançamento da publicação está marcado para hoje, na Galeria Anna Maria Niemeyer, no Rio de Janeiro. O livro reúne imagens em cores das construções, projeções, esboços e relatos da vida do arquiteto expostos por ele mesmo. Na obra, Oscar Niemeyer conta, aos 103 anos de idade, como aceitou dar vida a edificações voltadas para cultos sagrados.
 Além do livro, também será lançada a décima edição da revista Nosso Caminho. Desta vez, o trabalho presta uma homenagem ao arquiteto João Filgueiras Lima, o Lelé. Respeitado profissional, Lelé trabalhou com Niemeyer em Brasília, onde desenvolveu produtos construídos com materiais pré-moldados. A edição conta ainda com a divulgação da parceria de Niemeyer com o mineiro Gustavo Pena, batizado de Encontro das águas.
Em entrevista ao Correio, Niemeyer destacou a sua intenção ao publicar um livro contendo apenas criações arquitetônicas religiosas, falou sobre os comentários de ser o ateu mais religioso do Brasil e adiantou quais serão seus próximos trabalhos (leia Seis perguntas para).
OriginalidadePara o professor do Departamento de Arquitetura da Universidade de Brasília (UnB) José Carlos Coutinho, o título do livro de Niemeyer, por si só, já é surpreendente. “A surpresa é que, mesmo sendo ateu, comunista e materialista, ele ainda assim é pai de vários monumentos dotados de espiritualidade. Sinal de que a própria Igreja se rende ao que ele projeta. Niemeyer é um criador autêntico e ele se orgulha dessa originalidade”, acredita o docente.
O traço de Niemeyer também impressiona quem não é especialista em arquitetura. “Não sei explicar como ele consegue fazer obras voltadas à religião. Só pode ser uma coisa divina. Tudo que ele desenhou tem um sentimento dele”, acredita a auxiliar de serviços gerais Thaís Miranda Jesus, 30 anos. Moradora da Ceilândia, ela costuma frequentar a Catedral Santa Maria dos Militares (Rainha da Paz), no Eixo Monumental. “Assim como ele (Oscar), eu não tenho religião, mas quando entro aqui, sinto paz”, resume.
Assim como Thaís, a vendedora Josyleide Pereira Santos, 39 anos, diz sentir-se em casa quando entra na Igreja Nossa Senhora de Fátima, mais conhecida como Igrejinha, construída na 307/308 Sul. “Não há diferença alguma se ela foi feita por um religioso ou um descrente em religião. O que importa é que a igreja traz uma sensação de tranquilidade, foi muito benfeita e tem um certo requinte. Eu acho que ela tem um design diferente”, descreveu a moradora de Sobradinho. Desenhado por Niemeyer, o espaço ganhou formas que, de longe, já identificam a autoria da obra. “Os traços dele são marcantes, não tem como errar ao dizer de quem é a obra”, afirma o auxiliar administrativo Fernando Andrade, 27 anos.
Fernando Andrade, na Catedral:
Fernando Andrade, na Catedral: "Os traços são marcantes, não tem como errar ao dizer de quem é a obra"

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