Em hospital de Sorocaba, aluno de medicina conduz atendimento
Na porta do pronto-socorro do CHS (Conjunto Hospitalar de Sorocaba), o repórter é parado por duas mulheres. "Pelo amor de Deus, moço, o senhor é médico? Precisamos de ajuda", suplica a vendedora Vanessa Camargo.....
O pai delas é um homem de 63 anos que está no complexo "de 12 para 13 dias", um paciente terminal de câncer, que teve seu quadro complicado, segundo elas, por falta tratamento adequado. "É duro ver o pai da gente morrendo por falta de atendimento", completa Vanessa.
É nesse complexo que, segundo a polícia e o Ministério Público, um grupo de 50 funcionários criou um esquema que desviou quase R$ 2 milhões dos cofres públicos.
O esquema consistia principalmente em fraudar plantões: os profissionais não apareciam para trabalhar, mas recebiam pelo serviço.
Um dos suspeitos é o ex-secretário estadual de Esportes Jorge Pagura. Ele deixou o cargo nesta semana, após o caso se tornar público. Pagura nega as acusações.
Numa operação policial na semana passada, 12 pessoas foram presas suspeitas de participar do esquema. Todas já foram liberadas.
Esse caso também levou o governo paulista a anunciar uma auditoriaem todos os hospitais da rede estadual.
SUCATA
A família de Vanessa conta que vem convivendo com a rotina de um complexo de estrutura sucateada, com falta de funcionários e até de higiene. "Dois banheiros do segundo andar estavam entupidos. É um nojo", diz ela.
Nessa falta de estrutura estão, segundo os familiares, desde número insuficiente de macas até mangueiras de oxigênio remendadas.
Ambulâncias chegam a esperar estacionadas, com pacientes dentro, até que uma maca seja desocupada, segundo funcionários de ambulâncias e do hospital.
Os servidores dizem que falta até colchonete para macas e que têm de improvisar com cobertores dobrados. "O problema é quando esfria e não tem cobertor", diz um.
A reportagem conversou com parentes de outros pacientes, que confirmam a versão de Vanessa. Dizem também que parte dos atendimentos nas internações é feita por alunos de medicina, ou por residentes, e que os médicos supervisores "passam de manhã e vão embora".
Funcionários e enfermeiros, que pediram anonimato, afirmam que os atendimentos emergenciais são praticamente feitos por alunos. "São eles que tocam isso aqui nos plantões. Quando há um problema, ligam para o médico e ele vem aqui", afirma outro.
Ontem, parte dos atendimentos era feita, segundo a Folhapresenciou, por um jovem com jaleco do 5º ano de medicina. A reportagem não conseguiu observar se todo o procedimento era feito sem supervisão de profissional.
Para não haver fiscalização dos próprios servidores, contam, não existe escala de quem está de plantão.
Da redação, com informações da Folha.
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