O site de encontros Ohhtel, um "facilitador" de encontros para quem procura sexo fora do casamento, está anunciando um recorde mundial de inscritos na sua versão brasileira: após 37 dias no ar no país, o Ohhtel já tem 190 mil membros. Mas o serviço é pequeno perto de outro gigante da área. Desembarcou no Brasil o site Ashley Madison, que tem mais de 11 milhões de usuários pelo mundo e em apenas 10 dias no Brasil teve mais de 53 mil inscritos.
O dono do site Ashley Madison, Noel Biderman, resume bem quem procura este tipo de serviço: “Para os homens, a motivação é sexo. Ou eles não estão transando com suas mulheres, ou não estão tendo o sexo que gostariam. Para mulheres é um pouco mais complicado. Elas se sentem sozinhas. Depois de anos de casadas, não são mais cortejadas e o cara não percebe quando elas mudam o cabelo. Mulheres toleram falta de sexo por muito mais tempo que os homens, mas não toleram solidão.”. O próprio dono do site, contudo, é casado há 8 anos, tem filhos e garante ser fiel.....
Todos esses sites dizem lutar pela família. Segundo eles, maridos e esposas amam seus respectivos cônjuges, mas precisam de uma aventura nova para se sentirem revigorados ou, simplesmente, para experimentarem algo diferente e sair da monotonia. Não tenho dúvida que muitas famílias são mantidas assim, realmente, mas... a que preço?
Um exemplo muito prático de um problema resultante deste fenômeno recente pode ser encontrado numa ampla pesquisa realizada pelo Ministério da Saúde com mais de 8.000 pessoas. Constatou-se que 21% dos homens mantinham relações extraconjugais, enquanto este índice é de 11% entre as mulheres. Mas o pior está por vir. A maioria dos casados que buscaram outras parceiras não usaram preservativo em todas as relações. No grupo dos traidores, 57% dos homens dispensaram a camisinha e esse índice sobe para alarmantes 75% entre as mulheres infiéis.
Neste cenário, constatou-se que mais de 60% dos novos casos de AIDS entre mulheres, são de mulheres com parceiro fixo que pegam a doença do traidor que não usou camisinha. Num outro estudo, constatou-se que em 2000, a faixa etária “de 50 anos ou mais” correspondia a 8% dos novos casos femininos registrados no Brasil. Em 2009, dados parciais divulgados em novembro pelo Programa Nacional de DST/Aids mostraram que a parcela cresceu para 15%. Isso para não falar nas DST’s trazidas criminosamente para a cama de um parceiro(a).
Não bastasse as doenças, os donos destes sites se esquecem que, às vezes, a traição é descoberta. E o resultado disso pode ser um casamento infeliz (principalmente para a pessoa traída) e o esfacelamento da família. Para além disso, há questões de risco de vida. Traídos, principalmente homens, muitas vezes se vingam matando quem traiu. O que era para ser “legal”, “salvação do casamento” e que pode começar num site destes, pode terminar num funeral com órfãos e muita tristeza. Os noticiários policiais abundam de casos assim.
Penso que insatisfações no matrimônio ou qualquer relação duradoura podem ocorrer. Mas quem disse que a solução é trair, fazer as coisas pelas costas, enganar o outro? Não. Esse definitivamente não é o jeito certo. Pode ser até aquele comportamento tolerado (e incentivado) pela sociedade, mas passa longe dos valores que constroem um mundo melhor. Se um casamento precisa de uma traição para se sustentar, então não é mais um casamento.
Espero que fique claro que não estamos aqui discutindo se o casamento em si é bom ou não, se monogamia é de natureza natural ou moral, nem nada. Estamos falando que traição, um dos mais execráveis atos nas mais diversas culturas, faz mal para um relacionamento, traz transtornos psicológicos, doenças e pode até levar a morte.
O ideal, quando realmente se gosta do outro, é a conversa franca. Se o casamento não se sustenta mais, talvez seja hora de terminar da melhor maneira ou, no mínimo, ter a honestidade dos hedonistas: te amo, mas quero sexo com outro(a). Até porque muitas pessoas, principalmente mulheres, consideram pior o fato de serem enganadas do que a traição em si.
Já para aqueles que não conseguem ver ou rabo de saia, ou aquelas que não conseguem ficar de perna fechada, o melhor seria se manter solteiro(a). O que não vale é iludir uma pessoa, jurando fidelidade, amor e paixão exclusivos e presenteá-la com uma doença incurável. Ou ainda enganar uma pessoa que realmente ama você, que fica ao seu lado literalmente na doença e na pobreza enquanto você, por sua vez, devota seus sentimentos para outrem. É triste. A pessoa traída sente-se humilhada, sozinha, desamparada. Como construir uma vida ao lado de quem mente para você?
Certamente, o diálogo aberto, o reconhecimento de que algo vai mal, ou de que algo acabou, ou que precisa melhorar, a honestidade pura e simples, enfim, pode salvar vidas. No mínimo, pode libertar para que cada pessoa recomece uma nova fase em sua vida. Algo que pode ser bom para todas as partes. Não acho, portanto, que os donos deste site podem dizer que salvam casamentos. Acho que eles prolongam uma relação fadada à infelicidade e são potenciais catalisadores de problemas muito piores. Não se tira algo bom de um ato tão desumano como uma traição.
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