quarta-feira, 12 de outubro de 2011

Occupy Wall Street: os motivos



Após produzir e reproduzir matérias jornalísticas sobre os protestos que a partir do centro financeiro dos Estados Unidos, em Nova York, se espalharam de costa a costa (segundo dados atualizados do site Occupy Together  o movimento já ocupou 1.051 cidades) fui atrás do pessoal do ramo em busca de dados e avaliações que nos informem sobre as razões que tem levado a essa onda de protestos, que genericamente se posicionam contra o capitalismo americano em sua fase neoliberal e sua característica mais explícita, o domínio das grandes corporações....
Já no slogan repetido pelos manifestantes, “99% contra 1%” é possível detectar uma das motivações  da sanha protestante de cidadãos norte americanos, os índices de concentração de renda e de propriedade acelerados nestes tempos de livre atuação das grandes instituições bancárias alicerçada nos princípios neoliberais e estimulada pela busca do lucro máximo em detrimento da legalidade, da moralidade e da ética, o espírito do greed.
Segundo informa o jornalista Antonio Luiz M.C.Costa, editor de internacional de Carta Capital, as estatísticas oficiais revelam que a concentração de renda e riqueza nos EUA tem crescido. Seu Índice de Gini de concentração de renda, 0.469, é mais alto que o de qualquer outro país desenvolvido “e de muitos supostos paraísos de novos-ricos, inclusive China, Índia e Russia.” Quanto ao Índice de Gini de concentração de propriedade, escreve o jornalista, “chegou a um espantoso 0,865 em 2009.”
Se no geral a situação piorou, no particular os problemas parecem maiores, pois rasgam a própria  pele do contribuinte, que por conta da quebra dos bancos está pendurado numa hipoteca impagável, sem onde morar , desempregado (o desemprego juvenil passa dos 20%) e sem amparo em caso de doença, uma vez que a privatização da saúde a tornou restrita a pessoas empregadas e com renda mais elevada (50 milhões de pessoas não tem qualquer – boa ou ruim – cobertura médica). E mais, sem perspectiva de futuro.
Para David Graeber, do jornal britânico Guardian, os jovens que protestam em Wall Street vieram para resgatar o futuro. A maioria, descobri, é da classe trabalhadora ou de origem modesta, meninos e meninas que fizeram tudo o que foi recomendado a eles: estudaram, entraram na faculdade, e agora não apenas estão sendo punidos, mas humilhados — diante da perspectiva de serem tratados como zeros à esquerda, moralmente reprovados.
Tudo o que havia sido dito a nós nas décadas anteriores provou-se mentira. Os mercados não eram auto-reguláveis; os criadores de instrumentos financeiros não eram gênios infalíveis; e as dívidas não tinham de ser verdadeiramente pagas — na verdade, o dinheiro em si mostrou-se um instrumento político, trilhões de dólares podendo ser inventados durante a noite quando os bancos centrais ou governos assim quisessem. Mesmo a [revista britânica] Economist deu manchetes como “Capitalismo: Foi uma boa ideia?”.
E acrescente-se, a crise trouxe à tona as relações podres entre as corporações e os políticos. “A cumplicidade entre grandes empresas, bancos e governos é a marca registrada do capitalismo americano”, revela o economista Luiz Gonzaga Belluzzo. Uma cumplicidade que ficou explícita quando  o governo Obama, em 2009/10 decidiu injetar bilhões de dólares (dinheiro público) para salvar os  bancos e garantir os ganhos de seus altos executivos em detrimento de qualquer  ajuda aos cidadãos arruinados.
Para o cineasta John Wellington Ennis, realizador do documentário Pay 2 Play,   uma arrasadora obra sobre as relações corruptas entre empresas e políticos,nos EUA, “os eleitos pagam os apoiadores com frouxa supervisão, contratos sem licitação e até mesmo aceitam patrocinar projetos de lei escritos pelos doadores.” No perfeito veredito do economista Belluzzo, “é simples: o capitalismo à americana atropelou a democracia dos 
 fundadores.”

Nenhum comentário:

Postar um comentário