Se a incerteza da ligação entre eventos meteorológicos extremos como enchentes, secas e furacões com as mudanças climáticas é uma desculpa para você não acreditar no aquecimento global, é melhor arranjar outro argumento para ser cético. Pesquisas publicadas no último ano indicam que em alguns casos há sim relação entre estes fenômenos pontuais e as alterações climáticas. Agora, os cientistas procuram descobrir se é possível então prever tais eventos, e quais deles são consequência das ações humanas e quais não são.
Para fazer a correlação, os estudiosos observam ferramentas de estatística e modelos climáticos, que nos últimos anos foram muito aperfeiçoados graças às evoluções tecnológicas, que permitiram um estudo muito mais detalhado do clima, embora ainda difícil. “A atribuição de extremos [climáticos] é difícil – mas não é impossível”, declarou Gavin Schmidt, cientista do Instituto Goddard de Estudos Espaciais da NASA...
Para se ter uma ideia, um dos sistemas desenvolvidos, criado pelo grupo Atribuição de Eventos Relacionados ao Clima (ACE), pode avaliar a influência das mudanças climáticas sobre eventos meteorológicos quase tão rapidamente como eles acontecem, ou mesmo antes de sua ocorrência. “A ideia é olhar uma vez por mês mais ou menos as probabilidades de mudança”, afirmou Peter Stott, cientista climático e líder do grupo ACE.
Com essas tecnologias, estudos como os que analisaram a grande enchente que aconteceu no Reino Unido em 2000 e aschuvas intensas ocorridas no Hemisfério Norte na segunda metade do século XX conseguiram detectar uma relação entre fenômenos climáticos extremos e as mudanças climáticas. Já outros, como o que observou a grande onda de calor que ocorreu na Rússia em 2010, descobriram que o fenômeno não foi causado pelo aquecimento global.
Na pesquisa britânica, liderada pelo cientista Pardeep Pall, da Universidade de Oxford, foram geradas simulações do clima da Inglaterra e de Gales durante o outono de 2000. Algumas das simulações incluíam gases do efeito estufa (GEEs) gerados pelos humanos, e outras não. Então os pesquisadores criaram um modelo de precipitação nas simulações e descobriram que em 66% das amostras, as emissões aumentavam o risco de enchentes em mais de 90%.
O estudo canadense do pesquisador Seung-Ki Min, da Divisão de Pesquisa Climáticas do Ministério do Meio Ambiente, usou um método semelhante. A equipe do cientista analisou os níveis de precipitação atuais e os comparou com simulações de seis modelos climáticos diferentes, alguns com e outros sem GEEs. O grupo descobriu que padrões de precipitação extremos não combinavam com os ciclos naturais, mas sim com os que continham GEEs.
No entanto, os estudiosos ressaltam que é necessário lembrar que esses modelos não valem para qualquer evento climático extremo, e que funcionam melhor com uns do que com outros. “Ainda precisamos entender quais tipos de eventos climáticos podemos atribuir com confiança e para quais os modelos ainda não são bons o suficiente”, explicou Stott.
Ele esclarece, por exemplo, que fenômenos nos quais há mudanças de temperatura são mais facilmente relacionáveis às mudanças climáticas do que eventos ligados à precipitação como enchentes e secas, já que nestes ainda há o fator da influência humana sobre os locais onde ocorrem os incidentes. Outra limitação dos modelos é a questão espacial, já que nem sempre é possível representar um fenômeno climático de grandes proporções.
Por isso, alguns cientistas ainda são céticos em relação a estes modelos, e mesmo os que os utilizam são cautelosos com as ferramentas, enfatizando que ainda há muitos aperfeiçoamentos tecnológicos a serem feitos. “Há espaço para fazer um trabalho muito melhor”, reflete Schmidt.
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