“Apesar de 80% dos brasileiros serem contra as modificações no Código Florestal, a maioria dos deputados votaram a favor da aprovação das mudanças
Roberto Malvezzi (Gogó), Brasil de Fato
Uma pesquisa do jornal Folha de S. Paulo demonstrou que 80% dos brasileiros são contra as modificações no Código Florestal propostas pelo deputado Aldo Rebelo. Mas no dia da votação, exatamente 410 deputados votaram a favor das mudanças e apenas 63 votaram contra.
Como explicar tamanha inversão? É que o Congresso em geral representa a sociedade, mas de ponta cabeça. Ali, uma minoria de ruralistas que compõem a sociedade brasileira, por força de sua grana transformada em voto, transforma-se em maioria. A pobre agricultura familiar, embora numericamente represente a esmagadora maioria dos agricultores, precisa pinçar algum parlamentar que ao menos se interesse por sua causa.
É preciso somar aos ruralistas todos aqueles deputados que um dia foram de oposição, que o são na hora de pedir o voto, mas que se elegem com as burras cheias de dinheiro do agronegócio. Na hora “h” seu voto também vai para os interesses de seus padrinhos, mesmo que tenham sido eleitos com os votos do povo. Aí estão também os setores industriais, da mídia e do sistema financeiro, embora nesse caso haja muita divisão na sociedade real, não naquela representação inversa do Congresso. É óbvio que até a Globo e a Folha de S. Paulo demarcaram uma distância inteligente de mudanças tão obtusas. Mas a Bandeirantes defendeu até o último dia o voto dos interesses explícitos dos ruralistas.
Assim, essas minorias na sociedade tornam-se maioria no Congresso, votam contra os interesses do povo, apenas para se livrarem de suas multas ambientais, para garantir o direito de desmatar os últimos resquícios de nossas florestas.
Seria interessante perceber que não é só nesse caso que ali se defendem os interesses corporativos. Assim o é com todas as reformas estruturais de que o país precisa e que nunca acontecem.
Lutamos muito para readquirir o direito do voto. Conseguimos. Mas vivemos permanentemente traídos. Talvez seja melhor ter um Congresso traidor que viver sob uma ditadura total, mas é bom não depositarmos nessas instituições a nossa confiança. Nada substitui a democracia direta.”
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