quarta-feira, 29 de junho de 2011

Guerra antidrogas, plano perverso




Sexta-feira passada, 17 de junho, completaram-se 40 anos da declarada “guerra contra as drogas” encabeçada por Richard Nixon para combater “o inimigo público número um dos Estados Unidos que é o uso das drogas”. Desde então, até a presente data, somente como balanço, a maldita guerra redundou num fracasso em que nenhum dos objetivos foi alcançado.

Pelo contrário, milhões de homens e mulheres foram vítimas – “danos colaterais” – de tal decisão. Tanto pela oferta de opiáceos quanto pelo consumo que aumentou (ver Maniobra Del Poder, 3 de junho, onde se abordou o tema a partir do “informe da Comissão Global de Políticas de Drogas, junho de 2011”, e se fala das consequências “devastadoras para indivíduos e sociedades ao redor do mundo”, contra o qual se recomenda: “São necessárias reformas urgentes e fundamentais nas políticas de controle de drogas nacionais e mundiais” até alcançar um negócio de 320 bilhões de dólares, ou seja, 1% de todo o comércio mundial.

Segundo dados da ONU, de 1988 a 2008 o uso de drogas aumentou em 34,5%; a cocaína, em 27%; a maconha, em 8,5%. Somente este ano, entre 20 e 25 milhões de cidadãos estadunidenses usaram alguma droga ilícita, 10 milhões a mais que em 1970, e cada dia se somam 8 mil à conta fatal. Outro dado indica que os EUA destinam cerca de 15 bilhões para a “guerra contra as drogas”, mas cálculos conservadores afirmam que a cifra chega aos 40 bilhões.

Contudo, entre as máscaras oficiais, nos EUA se destaca a postura do czar antidrogas, Gil Kerlikowske, que diz preferir não usar o termo “guerra”, “porque não estamos em guerra contra nossa própria gente”. Mas nos EUA as cadeias estão cheias de jovens – quase 40 milhões – relacionados com drogas, que não precisamente são delinquentes, mas cometeram delitos não violentos por drogas. Por isso, “para afroestadunidenses e latinos, a guerra contra as drogas se percebe bem mais como uma guerra contra eles, contra a juventude negra. Com o aprisionamento como arma mais empregada nesta ‘guerra’”.

Fora isso, “as cifras comprovam: os Estados Unidos são o país com mais presos no mundo, com somente 5% da população mundial, têm 25% do total dos prisioneiros no planeta – aproximadamente 2,3 milhões, comparando com 300 mil em 1972... O ruidoso aumento da população encarcerada se deve em grande medida ao aumento na detenção de pessoas que cometeram delitos relacionados à drogas – em 1980 eram 41 mil destes, agora há mais de 500 mil (um aumento de 2.000%)”. (Dados do La Jornada, 17/junho/2011)”......
As evidências indicam que há 40 anos se trata da guerra mais custosa em termos bélicos e recursos, sobretudo contra a população. “De fato, já é uma das guerras mais caras, mais destrutivas e mais longas na história” dos EUA. E promete ser eterna se não houver uma mudança de paradigma sobre a maneira como esta sociedade aborda este problema. As sociedades estadunidenses e mundial apresentam um grande retrocesso em relação a este problema [sem falar no México e na Colômbia!], idealizado por Nixon, mas seguido pelos governos sucessivos dos EUA, que usaram a prisão contra o protesto social e o de inconformismo contra o status quo.

O linguista Noam Chomsky afirma que a guerra anti narco é uma invenção para limitar as liberdades. Antes, em 24 de dezembro de 2009, ele havia dito em entrevista ao diário mexicano que “A guerra às drogas se iniciou nos Estados Unidos como parte de uma ofensiva conservadora contra a revolução cultural e a oposição à invasão do Vietnã”. E reitera agora o mesmo linguista, crítico do império de seu país: “A guerra contra as drogas que assola vários países da América Latina, entre os quais se encontra o México, tem velhos antecedentes. Revitalizada por Nixon, foi um esforço para superar os efeitos da guerra do Vietnã nos Estados Unidos”.
Quando o governo gringo quis se livrar à força da síndrome da derrota do Vietnã, em finais dos anos 1960, os jovens saíram para protestar nas ruas em franca oposição às políticas violentas dos Estados Unidos. Por isso a guerra levou, disse Chomsky, “a uma importante revolução cultural nos anos 1960, que civilizou o país: direitos da mulher, direitos civis, ou seja, democratizou o território, atemorizando as elites. A última coisa que desejavam era a democracia, os direitos da população etecetera, e assim lançaram uma enorme contraofensiva.”

Nesta contraofensiva se encontra o governo de Felipe Calderón no México. Seguindo cegamente [esta é outra tese explicativa do porquê este governo do PAN não muda a estratégia claramente falida de sua declarada guerra contra o narcotráfico cujos saldos são detestados tão somente pelos mais de 40 mil mortos; à parte as milhares de famílias desintegradas pela falta do pai, do irmão, outro familiar próximo, carentes de apoio econômico, psicológico, educativo, médico etecetera] as políticas falidas do outro lado como alinhamento neoliberal, dos EUA, seguem colhendo a derrota.

Em outras palavras, a conciliação dos governos do PAN com os políticos e as políticas dos EUA não lhes servem para nada. Mas não entendem. Uma guerra que nesse país se mostrou falida ao longo de 40 anos, teve como fim restringir os protestos sociais por que se lançou contra a população, encarcerou milhares de jovens e não suprimiu o suculento negócio que; pelo contrário, cresceu em todas as ordens. Uma guerra que no México, há tão somente quatro anos, plantou o terror, não encarcerou os jovens, mas, de maneira pior, se desfaz deles porque caem, vítimas das balas de narcotraficantes que cada vez estão mais fortalecidos, e que, sobretudo, multiplicam o negócio.

A que interesses serve a guerra contra as drogas? Seguramente àqueles barões do dinheiro, das finanças internacionais, que saem absolutamente beneficiados e lavam as mãos a cada dia. Quer dizer, em última instância a supracitada “guerra” parece mais o saldo de um plano perverso contra a sociedade do que uma estratégia para controlá-lo.

Publicado em Alainet. Foto por http://www.flickr.com/photos/61149571@N02/.

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