quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

Israel teme o futuro


Para quem ainda tinha alguma dúvida sobre o papel que Israel exerce no Oriente Médio, uma reportagem publicada pelo jornal "Haaretz" é bem esclarecedora. Segundo a publicação, Israel teria enviado uma mensagem confidencial aos Estados Unidos e aos países europeus solicitando que apoiem a estabilidade do regime do presidente egípcio, Hosni Mubarak, no contexto da onda de protestos.
Nessa mensagem, os responsáveis israelenses teriam ressaltado que a manutenção da estabilidade do regime no Egito é do "interesse do Ocidente" e de "todo o Oriente Médio" e "por esse motivo, é preciso frear as críticas públicas ao presidente Hosni Mubarak". Uma emissora de rádio militar que comentou essa informação estima que tal iniciativa constitua uma crítica à posição dos EUA e dos países europeus, de se distanciarem do regime de Mubarak. Os dirigentes israelenses preferiram não assumir qualquer posição em relação à onda de manifestações no Egito. Por ordem do primeiro-ministro Benjamin Netanyahu, os ministros de Estado israelenses se abstiveram de fazer qualquer declaração sobre a situação no Egito.
A crise egípcia expõe, como nunca, as relações políticas na região. Além de fornecedor de gás natural para Israel, o Egito é um importante parceiro de Tel Aviv no bloqueio dos territórios palestinos – para desagrado do mundo árabe. O Egito também foi o primeiro país árabe a assinar, em 1979, um acordo de paz com Israel. Em troca, Tel Aviv devolveu todos os territórios egípcios conquistados pelo Exército israelense na guerra de 1967.
Os palestinos na Faixa de Gaza, por outro lado, acompanham com interesse especial o desenrolar dos acontecimentos no Egito. Tendo em vista a política de isolamento praticada pelo presidente Hosni Mubarak em relação à região dominada pelo radical islâmico Hamas, uma troca de poder no país vizinho seria bem recebida. "Todos em Gaza esperam por uma mudança, pois o Egito é o pulmão pelo qual respiramos", disse um membro do Hamas no domingo. Da mesma forma como Israel, desde que o Hamas assumiu o poder, em 2007, o Egito bloqueou completamente a Faixa de Gaza, com seus 1,5 milhão de habitantes.
Através de centenas de túneis cavados ao longo dos 15 quilômetros de fronteira entre a Faixa de Gaza e o Egito, o contrabando representa uma importante fonte de abastecimento para Gaza. Contrariando as expectativas por uma abertura das fronteiras, no entanto, os palestinos da Faixa de Gaza foram isolados ainda mais em consequência dos recentes acontecimentos no Egito.
Há 30 anos no poder, o presidente egípcio, Hosni Mubarak, é considerado um dos parceiros mais importantes dos Estados Unidos no Oriente Médio, assim como um apoio estável aos esforços de paz com Israel. Analistas israelenses criticaram duramente a reação dos EUA em relação às manifestações no Egito. Em Israel, se teria criado a impressão de que o presidente Barack Obama e a secretária de Estado, Hillary Clinton, deixaram Mubarak "cair como uma batata quente".
Um funcionário do governo israelense afirmou que "os americanos e os europeus se deixam influenciar pela opinião pública e não têm em vista seus próprios interesses". No domingo, o presidente americano, Barack Obama, apelou para uma "transição regular" no Cairo. Até agora, todavia, Washington não exigiu a renúncia de Mubarak. A chefe da diplomacia da União Europeia, Catherine Ashton, exigiu que Mubarak iniciasse negociações imediatas com a oposição.
Durante dezenas de anos o Ocidente pouco fez para mudar a situação no Oriente Médio, já que o Egito e outros países islâmicos com regimes totalitários serviram para sustentar seus interesses e os de Israel na região. Se Mubarak cair, certamente levará consigo uma etapa da história recente. O futuro, todavia, se ainda é incerto, traz em si muitas esperanças. (Com informações da Deutsch Welle)
Crônicas do Motta

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