sexta-feira, 16 de julho de 2010

O "por fora"




O repórter ou apresentador ganha visibilidade nos telejornais da emissora. O salário é uma porcaria, mas o reconhecimento público é inebriante. Aí ele, deslumbrado, procura o diretor e diz: - Preciso ganhar mais. O diretor responde que o orçamento está apertado e propõe o afago, "libera" o profissional para fazer "mídia training". 
Assim, no horário de folga, o jornalista pode complementar a renda preparando executivos para falar para a TV. Alguns se dedicam tanto a isso que chegam a ganhar mais "por fora" do que na firma, o que cria um problemão. Ele passa a fazer corpo mole no trabalho, sobrecarregando produtores e editores e, indiretamente, a própria emissora. É o que podemos chamar de "economia burra". 
Toda empresa ou instituição treina diretores e porta-vozes para se relacionar "bem" com os repórteres, cujo estereótipo é de ser arrogante e defender interesses dos "fracos e oprimidos". Quem faz o meio de campo são as assessorias de imprensa. A equipe (repórter e cinegrafista) chega à empresa, monta um "set" e simula entrevistas e situações de crise, para ver como o "aluno" se comporta. Com o tempo, é natural, nasce uma cumplicidade entre aluno e professor, que vai interferir muito em coberturas futuras, infelizmente. 
Todos conhecem esse desvio ético, mas passam a se valer do expediente sem constrangimento. Dou um exemplo. O repórter de economia é convidado a treinar economistas de grandes corretoras e consultorias. Quando há algum debate a respeito de tributos, juros, câmbio, política monetária, quem são os analistas de mercado que ele vai procurar? É a lógica perversa do capital, que aqui se manifesta cristalinamente.
Por isso, a cobertura econômica dos telejornais é tão tendenciosa e imparcial. A notícia parte de fontes oficiais (o governo), mas é interpretada por profissionias que têm todo o interesse em obter lucro para o seu negócio.
Já os repórteres e apresentadores que aceitam isso... Oras, eles deixaram de ser jornalistas, são agora estrelas, celebridades. 
By: DoLaDoDeLá, via Com textolivre

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