segunda-feira, 3 de maio de 2010

A velha cantiga de FHC



 


É óbvio, também, que foi ele quem impôs o primeiro domingo de cada mês para ser publicado. Não é possível que todos os jornais para os quais ele escreve uma vez por mês escolhessem coincidentemente a mesma data.
Mas não é só aí que reside a homogeneidade dessas manifestações por escrito do tucano. É, sobretudo, no conteúdo. Há cerca de sete anos que FHC escreve todo mês a mesma coisa, tentando, de forma interminável, vender uma tese que o Brasil já se recusou a comprar repetidas vezes, seja em eleições, seja na avaliação que faz do governo do ex-presidente, seja na que faz do governo de seu sucessor.
A finalidade desses escritos mensais – e invariavelmente vastamente repercutidos por uma imprensa servil ao cacique político paulista – é a de tentar convencer a alguém de que tudo de bom que está acontecendo no Brasil é mérito do governo de oito anos anterior e de que tudo de ruim que persiste é demérito do atual governo, o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que terá a mesma duração.
Mais uma vez, por exemplo, FHC repete, entre outras auto-atribuições de feitos memoráveis e responsáveis pela atual bonança econômica, a cantilena de que os bancos brasileiros não tiveram problemas durante a recente crise econômica internacional porque são sólidos devido ao seu governo ter feito o Proer.
Dá vontade de rir. O Proer (Programa de Estímulo à Reestruturação e ao Fortalecimento do Sistema Financeiro) foi feito porque os bancos tiveram difuculdades com o “fim” da Inflação – que retornaria ao longo do governo tucano. Sem a receita gerada por aquele “imposto inflacionário”, ou seja, por uma ciranda financeira calcada em mini desvalorizações diárias da moeda, a banca tupiniquim entrou em crise de abstinência.
O Proer simplesmente serviu para isso, para resolver um problema causado pela intempestividade eleitoral com que o Plano Real foi adotado, que, como se tornaria norma no governo FHC, obedeceu ao calendário eleitoral.
O Plano Real deveria ter sido lançado após um programa igual ao Proer, o qual prepararia o sistema financeiro para o baque que sofreria ao ter que se acostumar a ganhar um volume menos indecente de dinheiro e em espaços de tempo mais decentes. Mas 1994 era ano eleitoral e o plano econômico era a única possibilidade de barrar a segunda tentativa de Lula de se eleger presidente.
O Proer vigorou entre o fim de 1995 e meados de 2001 para consertar um problema específico, causado, em grande parte, por quem implantou tal programa. Não tem nenhuma relação com a economia hoje simplesmente porque de lá para cá decorreram cerca de nove anos, durante os quais o que fez os bancos ganharem dinheiro e se solidificarem foi a adoção de regras estritas deste governo que impediram que os banqueiros fizessem suas diabruras suicidas.
Tão intragável quanto essa reiterada conversa fiada do impopular ex-presidente, reprovada por nada mais, nada menos do que por 76% dos brasileiros, é a conversa dele sobre metas de inflação e lei de responsabilidade fiscal serem méritos seus, quando, na verdade, foram imposições do FMI durante as auditorias mensais que a instituição vinha fazer da economia brasileira à época em que FHC governava.
Mas o que causa engulhos mesmo é o séquito de bajuladores da imprensa aliada do PSDB que nos próximos dias tratará de tentar obter êxito onde o bibelô dos chefes desse séquito irá falhar mais uma vez. Assim, essa velha cantiga que os jornais publicam hoje será repetida intensamente e à exaustão por mais uma semana, no mínimo. Depois, voltará ao ritmo normal e mais lento de repetições diárias nessa mesma imprensa.
A despeito disso, FHC continuará repudiado pela sociedade, que se nega a acreditar no discurso dele e de seus jornais, revistas, rádios, TVs e portais de internet, como vem demonstrando a cada pesquisa de opinião e a cada eleição presidencial nos últimos quase oito anos. Por mais que FHC, seu partido e sua imprensa entoem essa velha cantiga sem parar, o povo se recusa a ouvi-la. 


 Escrito por Eduardo Guimarães 

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