quarta-feira, 24 de novembro de 2010

Analista vê manifestações extremistas de direita no país como reação a mudanças sociais

João Peres, Rede Brasil Atual

“Maria do Socorro Sousa Braga, cientista política da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), acredita que falta clareza por parte dos partidos de direita a respeito de suas reais posições. Na avaliação da professora, embora as eleições tenham mostrado que há segmentos da sociedade dispostos a votar em uma sigla abertamente conservadora, levantar essa bandeira tem um preço: perder os eleitores de outros perfis.

Ela aponta que as manifestações de conservadorismo vistas durante e após a campanha – envolvendo declarações antinordestinos, contra a união civil homoafetiva etc. – decorrem de transformações ligadas à vivência democrática do país, bem como a mudanças sociais, relacionadas à redução da pobreza e à ascensão social.

Após o pleito, o DEM, enfraquecido, adotou novamente a ideia de reorganização, na qual poderia acabar buscando, de maneira aberta, temas sensíveis a segmentos religiosos e moralmente conservadores. Historicamente, o partido empunha de maneira clara as bandeiras econômicas e políticas da direita, mas evita, como política geral, entrar em outras searas conservadoras. Agora, poderá fazer uma opção diferente.

Rede Brasil Atual - Há espaço na política brasileira para um partido abertamente de direita?

Maria do Socorro Sousa Braga - Esses partidos já existem, o que ocorre é que não se assumem, não têm um programa. Quando se compara com os Estados Unidos, o eleitorado lá tem uma percepção muito clara de quem são os republicanos e quem são os democratas. No Brasil, os partidos de direita acabam não dando essa face pública desse programa.

O espaço está ocupado. Se a gente olhar no espectro político-ideológico, esses partidos seriam o DEM, o PP e outras siglas menores. Inclusive existe uma alta fragmentação, maior que na esquerda. O que poderia ocorrer é a união de setores desses partidos para a formação de um terceiro. Se a gente olhar como o DEM saiu enfraquecido dessa eleição, a tese é viável, pode ocorrer a médio prazo.

Rede Brasil Atual - O PSDB acabou ocupando esse espaço nas eleições? Se ocupou, permanecerá neste espaço?

Maria do Socorro Sousa Braga - Não foi de agora. O PSDB tem a estratégia de se unir com o DEM desde 1994, então acabou sendo o porta-voz da tendência neoliberal, que vinhacrescendo em outros países. É quem acaba comprando essa tese de uma maneira mais forte, uma tese obviamente relacionada aos partidos de direita.
Não diria que houve maior entrada do PSDB na direita. Se a gente pegar a campanha em si, o retrocesso foi geral, um debate relacionado a questões morais e religiosas. Não se pode considerar que o PSDB entrou num espaço mais à direita. Serra foi se modificando, mas era de um setor mais à esquerda do partido.”
Entrevista Completa, ::Aqui::

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