Grande imprensa é um conceito que pode abrigar desde os maiores e mais eminentes jornais e revistas, pelo lado do jornalismo impresso, até televisões, rádios e portais de internet, pela via eletrônica – e essa imprensa está “se achando”. Na noite do dia 3 e no dia seguinte houve sensação de que jornalistas experimentavam orgasmos múltiplos e muito mal dissimulados.
Com efeito, a cúpula da grande imprensa, exclusivamente tucana, está toda cheia de si por ter conseguido levar a eleição presidencial para o segundo turno e por ter logrado o feito de ressuscitar o então moribundo José Serra – político medíocre que, a despeito da farta ajuda recebida até da Justiça Eleitoral, não deslancha a contento.
Neste segundo turno, porém, descobriu-se que uma imprensa não tão grande, mas que tampouco é pequena, inverteu a lógica de todas as outras eleições do pós-redemocratização. Em 2010, pela primeira vez há dissensão digna de nota entre as tevês abertas, os portais de internet e, ao menos, entre as revistas semanais, na falta dos grandes periódicos diários.
Pelo lado tucano, as indefectíveis televisões Globo, SBT, Gazeta e Cultura, além de rádios como a CBN e de jornais como Folha de São Paulo, O Estado de São Paulo e O Globo, culminando com as revistas Veja e Época e com os portais de internet UOL e G1.
E há um lado que poderia ser considerado a salvação da lavoura pelo menos neste momento eleitoral. Os portais Terra e, em alguma medida, o IG, ou as televisões Bandeirantes e Record, ou as revistas IstoÉ e Carta Capital estão dando o outro lado da moeda, o que, neste momento, ao menos rompe o consenso antipetista da grande imprensa.
Contudo, o que está acontecendo é que está se materializando uma situação minuciosamente simbolizada pela imagem que encima este texto. A justaposição das capas da penúltima edição da Veja e da última edição da revista IstoÉ constitui uma bofetada na face escandalizada do povo brasileiro.
Explico: a imprensa e a Justiça Eleitoral não deveriam servir para produzir material para as campanhas políticas e sim para explicarem o processo eleitoral ao público e para lhe oferecerem exclusivamente fatos inquestionáveis que lhe possam servir de bússola no processo de escolha de candidatos.
As condenações in limine geradas pelas matérias jornalísticas tanto contra o PT de Dilma Rousseff quanto contra o PSDB de José Serra e os respectivos governos federal e de São Paulo violam um dos princípios fundamentais do Estado Democrático de Direito, a presunção da inocência. São aberrações jurídicas que produzem condenações independentemente de apuração e decisão da Justiça.
A imprensa, assim, torna-se braços, pernas e línguas de grupos políticos e induz a sociedade a comportamento de manada, a ímpeto linchador, a intolerância, a ódio e, pasme-se, até a fundamentalismo religioso de um tipo que tem produzido conflitos sangrentos pelo mundo afora.
A imprensa partidarizada já produziu aberrações como as vitórias de Fernando Collor de Mello em 1989, a de Paulo Maluf para prefeito de São Paulo em 1992 – vencendo Luiza Erundina com a ajuda da imprensa local – e a de Fernando Henrique Cardoso em 1998, quando venceu Lula valendo-se da imprensa, que escondeu da população que o país estava quebrado sob a administração tucana.
Todavia, ver duas grandes revistas de circulação nacional produzirem as mesmas capas, mudando apenas as cores e as caras dos políticos que atacam para beneficiar os que apóiam, mostra que o direito humano a informação ponderada, objetiva, responsável e republicana está sendo pisoteado por empresários gananciosos que certamente devem estar se beneficiando até financeiramente pelo serviço de desinformação que prestam.
Só posso lamentar o nível que a imprensa brasileira imprimiu a esta campanha eleitoral. Um país pujante como o Brasil, com todas as perspectivas que se descortinam ante seu povo, jogou fora este momento de reflexão e de busca do melhor caminho para discutir dogmas religiosos medievais e qual partido é supostamente o mais corrupto.
A imprensa partidarizada que temos hoje no Brasil é uma ameaça à democracia tanto quanto uma Justiça Eleitoral igualmente partidarizada que abriga luta intestina entre juízes e procuradores igualmente partidarizados, elevados à Suprema Corte Eleitoral e ao Ministério Público Eleitoral pela influência que os partidos exercem sobre essas instituições.
By: Blog da Cidadania, via com texto
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