sexta-feira, 9 de julho de 2010

9 de Julho



Sexta-feira feriado estadual em São Paulo: foi em 9 de julho de 1932 que os paulistas pegaram em armas contra a ditadura de Getúlio Vargas.
A desigualdade de forças era acentuada, com 35 mil legalistas confrontando 100 mil defensores da tirania - aos quais, claro, não foi explicado o verdadeiro papel que desempenhavam.
Exortaram-nos a lutar contra o
separatismo paulista e outras invencionices, explorando o preconceito que os estados mais pobres nutriam em relação a São Paulo, o mais industrializado do País. Em tempo de guerra, mentira como terra.
A esquerda também não associou-se à chamada Revolução Constitucionalista, por considerá-la uma mera disputa de poder econômico entre setores da burguesia. Para os discípulos de Stalin, direitos constitucionais não passavam de perfumaria.
O certo é que a liberdade nunca deu muito ibope no Brasil. Não fosse uma lei que facultou a criação de feriados estaduais, nem mesmo em São Paulo seria reverenciado esse episódio da eterna luta contra o despotismo, que move os melhores seres humanos através dos tempos. Restariam apenas as comemorações melancólicas dos velhinhos remanescentes de 1932.
Pior: os feriados com menos clima de feriado em São Paulo são os da deflagração da Revolução Constitucionalista, o da morte de Tiradentes e o Dia da Consciência Negra, três que têm conteúdo político libertário. As pessoas só se lembram deles como oportunidade para uma esticada até o litoral.
Há quem diga que faltou por aqui uma revolução burguesa. Não chegamos ao capitalismo mediante um enfrentamento com o feudalismo, mas sim com o lento deslocamento da primazia para o pólo mais avançado da economia, sem que o atraso fosse combatido. Os estágios diferentes de desenvolvimento ficaram superpostos e amalgamados.
Ou seja, conciliaram-se os interesses com a partilha de territórios, à maneira dos gangstêres: o capitalismo vicejou no Sul e os resquícios feudais sobreviveram no Norte -- tanto que o último coronel da política brasileira continua ocupando (e conspurcando) a presidência do Senado e, volta e meia, pipocam no noticiário casos de escravidão ainda flagrados no Brasil, em pleno século XXI!
Nem sequer a independência política conquistamos pela via altaneira de um Bolivar, mas sim trocando de amo e senhor: subjugamo-nos economicamente à Inglaterra, que tratou de dissuadir Portugal de qualquer tentativa de restabelecer o jugo colonial. Tiradentes deve ter revirado na cova.
Então, 1932 nada significa para a grande maioria dos brasileiros.
Idem a Força Expedicionária Brasileira, quando nossos compatriotas morreram nos campos de batalha da Europa para ajudarem a dar um fim ao nazifascismo.
E a resistência à ditadura militar de 1964/85 só é reverenciada por alguns contingentes mais esclarecidos da classe média, incluindo formadores de opinião.
A obtusidade dos militares comprometidos com os genocídios e atrocidades dos anos de chumbo, paradoxalmente, ajuda a manter aqueles episódios deprimentes no noticiário: se disponibilizassem todas as informações e indicassem onde estão os cadáveres sonegados às famílias, reconhecendo seus crimes e pedindo civilizadamente desculpas, a tendência seria o gradual esquecimento.
Isto é o Brasil, que aos dignos, aos justos e aos idealistas sempre traiu...

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